Capítulo 13 - O Segundo Casebre
A noite se acomodou ali. Embora com a primeira chegada da noite em meio aquele caos que se iniciava, aquela escuridão, sabendo que estavam sob ataque alienígena a esta altura, amedrontava qualquer ser humano que neste exato momento se refugiava, seja lá em suas casas, abrigados em parentes, espalhados nas estradas, florestas...
O inferno nas mentes conturbadoras daqueles, parecia renascer em Terra, e a Lua assistia aquilo lealmente, toda a desgraça e ainda distribuía seu frescor após a chuva escaldante.
O frio penetrante agora assolava a floresta que arrodeava aquele casebre. Não era típico daqueles arredores de Montgomery. Possuía trilhas, além de áreas preservadas, se sobrevivessem a tudo que estavam passando, fugir por uma dessas trilhas seria a opção mais viável nos pensamentos de Norton.
No entanto, naquele momento, encolhido entre o cheiro úmido que a floresta exalava após a chuva expelir o odor por toda extensão, com Yallow envolvida em sua proteção, catou tal arma ensaguentada, com o medo que pudesse usá-la a seu favor.
A música estranhamente tocada, agora tinha acabado. Apenas estática, seguindo até o amanhecer.
Ninguém se moveu de seus lugares por toda a madrugada. Norton não pregou os olhos, Yallow sim. Aguentou apreensiva, mas como uma criança, o cansaço, fez a pequena debruçar no peitoral do pai.
Norton percebia que Eduard se incomodava vez ou outra de baixo da cama, pelos mexidos que dava.
E assim seguiu a madrugada para quem estava no casebre. Lenta, angustiante e temerosa. Passaria mais algum tempo ali, Norton e os demais, num completo transe, se não percebessem a luminosidade espessa por de baixo da porta. A luz vinda da janela do corredor, a mesma que Norton usou para vomitar.
Rodopiou seus olhos para onde vinha a luz e suspeitou que teria amanhecido, e estava certo.
- Você acha que amanheceu? - Eduard surgia, em partes do corpo amostra por lado de fora da escuridão que era ali em baixo.
- Eu acho que sim – respondeu Norton, agachado, ainda dentro do banheiro.
- Será que... - sussurrou Eduard com sua voz rouca.
Queria perguntar se Eles ainda estavam por ali. A este momento em pleno amanhecer, queria saber como ficara o padre lá em baixo e Michelly no quarto ao lado.
- Eu não sei... - suspirou Norton, cansado.
A noite em claro não lhe ajudou em nada.
Apenas lhe criava expectativas e planos para tirar sua filha dali. Imaginando as trilhas, talvez seguisse para a esquerda encontraria uma. Era costumado ter algumas nas proximidades dos lagos.
Aos poucos, acordou Yallow, e direcionou-se a porta. Eduard vinha logo atrás.
Girou a maçaneta e a claridade adentrou por completo. O corredor vazio como deixaram noite passada, agora poderiam enxergar os quadros espalhados nele. Mas aquilo não interessava para Norton, não. O apagar de luzes noite passada, no outro casebre lhe perturbava. Caminhou cautelosamente até a janela, e o casebre pode ser visto nitidamente.
Por alguns segundos a encarou. Correu seus olhares pelos céus, e ele estava limpo.
- Venham, vocês precisam ouvir isto! - um grito vindo do andar de baixo fez Norton arregalar os olhos, enquanto Eduard virava sua cabeça rapidamente para as escadas. Era a voz do padre – Venham!
" - ... a-alguém pra escutar o que estou falando? - o que era apenas estática incontrolável, soou uma voz masculina do rádio que tocara Rolling's Stones noite passada. O chiado não saiu, mas tinha alguém falando naquele exato momento - ... eu acredito que não. Mas alguém nessa merda de mundo tem que está escutando, tem que estar... se este sinal cair...
- Oh Kanel, olha lá, olha lá! - sussurrou um outro homem.
... é isso que eu quero compartilhar com vocês. Não me perguntem como consegui transmitir isso... e eu to enrolando muito, mas a verdade é que eu estou vendo vários deles, milhares deles. A chuva escaldante estava me camuflando, mas meus binóculos não enganam hoje pela manhã, estou vendo dois... não, três... quatro... dez?! Entrando pela rachadura da parede do que era uma empresa... Ahh Old Slite do meu interesse! - havia animação na voz de Mário Kanel. A alguns metros daquele quintal, a vista era privilegiada diante ao globo alaranjado deixado naquela manhã por uma das máquinas alienígena.
Só o que o segundo homem, conhecido como Brandon sentia era arrepios subirem suas costas. O primeiro pigarreou em algumas tosses abafadas antes de continuar:
- Eles estão em fileiras... e tem umas drogas de bandoleiras penduradas com alguma coisa almejada nela. Estão todos entrando na empresa agora! O que é que eles querem lá? Eu sabia que tinha algum mistério nessa empresa, mas nunca achei pra tanto e... UOU! Tem uma... nave deles grudando na lateral da empresa, ten...ten..."
Estática.
Norton com Yallow nos braços, de costas para o último degrau da escada, estava de pé, engolindo cada palavras que o rádio transmitia, assim como o padre, em pé a frente da poltrona e Eduard encostado na estante e era ali que o rádio estava.
Empoeirado, parecia que nunca alguém havia tirado ele dali. Os ruídos intensificou, parecia sair mais alguma coisa... e por fim, a banda Rolling's Stones repetiu a canção.
- Mas que droga! - contrariado, Eduard pegou o rádio, batendo-o na finalidade de fazê-lo funcionar.
- O sinal caiu... - diz o padre, roubando toda atenção – ontem mesmo, o primeiro ato D'Eles.
- Como sabe disso? - indagou desta vez, Eduard.
O padre envolveu suas mãos, cruzando-as em sua frente. Seu rosto inexpressivo, criava um certo incomodo.
- Está claro meu amigo, acredito que todos nós tentamos entrar em contato a fim de saber sobre as notícias em tempo real. Rádio, internet...
Só deixava Eduard mais confuso. Aquilo fazia sentido. Tentou inúmeras vezes o rádio de seu trailer, onde o retorno eram ruídos. Os olhares perplexos de Norton lançavam do rádio para o padre, que gesticulando, continuou:
- ... podem olhar agora seus celulares, TV's, o sinal caiu – explicava – a profecia se cumprindo – sussurrou para si, descendo o rosto, visando seus pés.
Norton fez o que o padre pediu, puxou o celular do bolso e ele não ligava. Sempre que podia, apertava os botões do celular, em vão. Mas se de fato o sinal caiu, como presenciou ainda em casa pela TV e em seguida no rádio da camionete, qual motivo explicaria os celulares pararem assim do nada? Não era apenas o sinal?
- Pelo visto não caiu – descordou Eduard apontando para o rádio.
- Não completamente... - diz o padre - ... nossa reação demorará pra entender...
- Entender o que? - impaciente, Eduard disparou rapidamente a pergunta.
- Entender que estamos interferindo em sei lá o que Eles conseguiram fazer para derrubar o sinal – quem fala desta vez é Norton.
Saindo da frente da poltrona, o padre caminhou para janela mais próxima da porta de entrada e parou ali, encarando o pouco que via do lado de fora.
- A profecia diz que lutaremos contra Eles até... - suspirou ele, olhando brevemente para sua bíblia jogada no canto da poltrona - ... entendermos que não é assim que tem que ser feito.
- Hãm?! - indagou Eduard, tentando decifrar que loucura era o que o padre falava.
- SÃO SEIS ATOS QUE ELES FARÃO NA TERRA! - vociferou o padre, soltando cada palavra da boca com tamanha importância – o primeiro já foi...
- O que? - perguntou retoricamente, Eduard – ah não cara, você é louco!
- Fale o que quiser de mim. Mas há algo por aqui que não fizeram com que eles não atacasse este casebre... - desta vez o padre encarou Norton, ainda paralisado em frente a escada, desceu os olhos para a garota e voltou a brechar pelas cortinas – Eles estavam por aqui. A noite toda.
O arrepio gélido assustou os homens. Suspeitariam olhar para atrás apenas para verificar se algo não estaria ali na espreita, apenas pelas palavras ditas pelo padre. Passaram a noite e não invadiram?
- Eu presenciei tudo – continuou contando o padre. A voz rouca, dava breves tosses – não consegui me mover da poltrona, mas as luzes... elas invadiram tudo que era buraco desta sala. Não ouve barulho algum, mesmo depois da música tocar no rádio. Eles deixaram isto...
O padre referia-se ao que estava no lado exterior do casebre.
Eduard, curioso, passou na frente de Norton e puxou com mais força aquela parte da cortina.
- Eles já foram – sussurrou o padre, vagando sua visão por toda extensão que a janela proporcionava.
Todo os pinheiros, carvalhos e moitas que rodeavam o casebre até a beirada do riacho, cobertos por camadas viscosas. A deformação dessas camadas criava imagens análoga a extensas ligas, grudas umas nas outras, envolvendo a floresta em volta daquele casebre e as próprias extremidades das paredes dela.
Norton se aproximou e pode ver com clareza.
Era bizarro aquilo que estava entrelaçado a tudo que tinha relevo la fora.
- Disse que eles não estão mais aqui? - incrédulo, Eduard perguntou.
- Não mais... - o modo como o padre falava, sua voz aveludada, outrora rouca, transmitia aquela estanha sensatez, mesmo que os assuntos que ele dizia fossem os mais macabros.
A tensidade pairava por todo o cômodo. Os ombros de Norton agora pesado, desceu sua filha, segurando-a pela mão. Seu corpo parecia partir ao meio. Em sua busca visual entre os troncos das árvores, avistou sua camionete. Ela não estava coberta por aquela camada viscosa.
- Vamos Yallow – disse Norton, direcionando-se para a porta.
- Aonde vai? - perguntou o padre.
- Eu não sei – respondeu Norton convicto de suas atitudes. Abriu a porta – mas não continuarei aqui. Não vou testar a sorte outra vez.
- Mas...?
- Eu não vou colocar a vida da minha filha em risco padre!
Norton passou pela porta, parando no alpendre. Suas mãos rapidamente foram aos céus, escondendo seus olhos da claridade periférica.
Seus olhos estavam sendo preparados involuntariamente para percepção e agilidade, caso o pior aparecesse. O ser humano era assim, se jogar uma pessoa num vão sem brecha alguma, apenas a presença da escuridão, com o tempo a pessoa se adaptará a escuridão, sendo perceptível ao ponto de encontrar rachaduras naquelas paredes.
Mas os ouvidos de Norton não estavam. Não quando ouviu dois disparos onde a sensação mais cruel era que vinha de suas costas. Congelou antes mesmo que pudesse sair do alpendre.
O grito agudo de Yallow soou, ainda segurando a mão do pai.
- Mais que merda foi esta? - berrou Eduard, agachando-se próximo a porta.
Norton fez o mesmo, puxando sua filha para baixo.
Outro disparo ecoou pela floresta. Desta vez Norton e Eduard pareceram distinguir de onde vinha. Norton principalmente. Se seu aguço estiver sendo verdadeiro, aquele disparo vinha do outro casebre.
- Um rifle?! - encarou, Eduard.
- Socorro! - surgia um pedido de socorro do fundo do casebre – alguém!!
A voz era de uma mulher. Seria ela quem apagou aquela luz que Norton havia visto?
Com o medo constante, receoso por Eles possivelmente terem voltado, Norton não soube o que fazer. Olhou para os céus e não via aquela carcaça vista no centro de Montgomery. Se fosse alguma criatura que havia descido para examinar ou seja lá que porra seria.
Puxou tal arma escondida no fundo das costas, entre a calça jeans, e seu instinto justo e um clamor de uma pessoa pedindo ajuda, caminhou pelos cantos da casa, pisando no gramado. Não poderia deixar de ajudar aquela mulher e não soltaria Yallow de forma alguma.
Encontrando o segundo casebre, escondido totalmente pelo primeiro, apontou a pistola.
Encontrou uma mulher ajoelhada, uma mais jovem parecia consolá-la, enquanto a mais nova descia aos prantos lá de dentro.
Sentindo a presença do homem, a mulher arqueou as costas, levando o rifle preciso para o alto, mirando-o.
- Não atire, por favor! - gritou Norton – eu escutei seu pedido de ajuda, eu estava aqui.
Apontou.
- Resgate? - perguntou ela, sem mover o braço esticado com a arma.
- Ah... é... não.
Os olhos azuis da mulher, fixados em Norton, desceu e viu Yallow, escondidas atrás do rapaz. Ela entendeu:
- Desculpas – disse a mulher, descendo a arma.
- Está bem?
- Eu quero sair daqui – respondeu ela.
Norton olhou para trás e percebeu que Eduard aparecia cautelosamente. O olhar preocupado da mulher, ficaram tensos quando viram o homem mais atrás de Norton.
- O que... não, ele está comigo! - apressou-se Norton em explicar.
Comigo. Era estranho falar aquela palavra, dava a sensação que estivesse em grupo. Mesmo assim mantéu a palavra.
- Passaram a noite no casebre de minha mãe? - perguntou ela.
Confuso, Norton demorou para entender. Por fim, raciocinou logicamente que os casebres eram da mulher e seus parentes.
Ele apenas assentiu.
- papai... - sussurrou Yallow. Seu rosto denunciava o medo de estar ali.
- Filha, vai ficar tudo bem – respondeu Norton, olhando pra ela – vamos sair daqui.
Não pode deixar de escutar. A mulher, com apoio de suas filhas, levantou-se, abraçou a mais nova e direcionou-se para Norton.
- Pra aonde estão indo?
- Eu não sei... - respondeu Norton cheio de dúvidas - ... pra longe daqui.
- Posso ir com vocês? - dava pra sentir o embargo na voz da mulher. Seu rosto transmitia temor.
Suas roupas desleixadas, embora fosse bela.
Mas Norton não queria direcionar elas. Não queria direcionar ninguém. Não saberia o rumo a ser tomado, cuidaria de sua filha apenas e era esta sua preocupação maior. Não poderia direcionar o destino de cada um daqueles, seria apenas frustrações.
- Eu lhe disse que eu não sei pra onde devo ir – explicou ele – pegarei uma dessas trilhas, seguirei.
- Eu irei...
Como se a vida pós-primeiro ataque resumisse em apenas gritos e pavores, Norton e os demais puderam ouvir. Vinha do casebre da frente e desta vez era uma voz conhecida para Eduard.
Michelly Michaels.
Sem palavras, nada, apenas gritou, desesperada.
A mulher puxou suas filhas para mais perto, Eduard correu pelo caminho que fizeram para chegar no fundo do casebre e paralisou assim que viu:
Infelizmente ele enxergou. A criatura dona de outro Mundo, metros a mais do que o pobre padre, que estava em pé, estático, no alpendre. Tal aberração encarava veementemente, os braços esguios, escuros como a escuridão assim como todo o corpo concurvado. Não movia nada contra o velho, parecia querer de alguma forma conectar-se com ele.
Norton apareceu em seguida com a arma soltando a breve fumaça de um disparo.
A criatura desabou no chão sem chances para fuga ou ataque. O olhar de repúdio ao também saber que Yallow assistira aquilo. Se seus olhos não acreditava que via a aberração que controlava as máquinas que destruíam o mundo, imaginou-se da pequena Yallow.
Com o susto, o padre se joga para trás, apoiando de qualquer jeito no piso com poucas camadas viscosas.
- Por-por que fez isto? - perguntou ele, arregalando os olhos.
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