Capítulo 8 | [Tudo menos um bom dia]-parte 1
🔶 24 de janeiro de 2149
🔸 Segunda-feira | 07:15
Trey não sabia há quanto tempo ele estava apoiado na pia do banheiro, a encarando intensamente.
Cinco ou dez minutos.
Meia hora ou duas horas.
A noite inteira.
A madrugada passou em um piscar de olhos e o início do cantar dos pássaros começava a preencher o silêncio angustiante.
Na visão dele, ele tinha um motivo bastante plausível para essa privação de sono.
Eles vão me expulsar.
Sabia que tinha errado novamente, o que Miguel falou só era uma versão mais "amigável" do que o seu pai conversou com o mais velho. Trey não devia ter ido até lá, não devia ter aceitado a aposta. Deveria ter ficado em casa, longe de qualquer confusão e da possibilidade de quase matar o seu irmão, de novo.
Em outras palavras, longe de pessoas, longe de problemas.
O que eu faço agora? Tem como eu fazer alguma coisa ainda ou já está tudo certo?
Passa as mãos no cabelo, frustrado.
Mas Miguel disse "em breve" de uma forma muito longa. Eu poderia deduzir isso para algo que irá demorar meses? Ou até mesmo eu completar dezoito?
Um pouco de esperança desperta dentro dele.
Isso! Se isso fosse acontecer, meu pai já teria vindo falar comigo! E minha mãe mal parece saber de algo.
Mas... Isso não quer dizer que eu posso ficar à vontade até lá, eu tenho que dar o meu melhor.
Fazer algo útil e de valor.
E... Ainda tem o... Incidente.
Ele não havia só ficado a madrugada inteira acordado por conta da sua preocupação de ser expulso, mas também pelo puro medo de acordar rodeado por guardas, prontos para matá-lo no momento em que ele abrisse os olhos. Ao menos se ele ficasse acordado, ele poderia atrair atenção e deixar sua família fora disso.
Ele inspira fundo e expira, olhando para seu reflexo no espelho pela primeira vez naquela madrugada.
Deplorável, essa era uma boa definição para ele no momento, olhos levemente avermelhados, olheiras tão profundas que pensou ter um buraco embaixo dos seus olhos e pele tão pálida quanto a de um cadáver.
"Mas eu farei questão de
expor os dois."
Relembra aquela fala, definitivamente, um dos momentos em que não tem muito orgulho de si e que receberia bastante reprovação da sua família, mas ele estava aterrorizado do que ela poderia fazer, ele não tinha outra escolha. Porém, a expressão da humana mudando para puro terror não saía da sua mente, quase conseguia sentir de novo seu estômago se revirando aquela hora, uma sensação de arrependimento circulando pelo seu sistema.
Por que eu ainda tô pensando nisso? Ela já deve até ter esquecido...
Trey passa a mão no rosto e, quando seus olhos se encontram novamente com o seu reflexo, ele já estava normal.
Que horas são?
Desaba, exausto, na cama e pega seu celular.
07:30
Trey ficaria espantado se aquela fosse a primeira vez.
Ele se levanta para se trocar, escolhendo uma combinação de roupas pretas para combinar com seu humor desolado do dia. Se sentando na cama, com uma mão apoiada no queixo de forma pensativa, ele olha para a lista de números no seu celular.
Com agora uma nova adição, o número da Lara.
Após entender que nenhum guarda tinha vindo até a sua casa e seu pai tinha ido direto para o quarto, só confirmava que Lara tinha mantido a sua promessa.
Outro suspiro sai de sua boca ao relembrar o desastre da noite interior.
O roteiro já estava pronto. Ele ia falar "Oh, não, metamorfos!" e ia ficar assustado, mas após explicações ia prometer que não tinha problema com os filhotes e ia guardar segredo.
Tudo estava se desenrolando perfeitamente.
Mas aquele infectado TINHA que estragar tudo.
E o pior: o que ele conseguia fazer sobre isso? Chamar as autoridades?
Nem ele e nem Lara conseguiriam fazer isso sem terem que incluir que estão envolvidos com metamorfos.
Mas o que ele — ou eles? — ganha fazendo isso? Colocando duas pessoas envolvidas com metamorfos contra a parede? Por que não fazer um massacre agora com os humanos, já que eles estão dentro da cidade?
O que eles estão esperando?!
O silêncio do seu quarto diz muita coisa, mas ele toma uma decisão, duas cabeças pensam melhor que uma e a humana poderia ser útil.
Inicia a ligação e, rapidamente, ela atende.
— Um pouco cedo demais, não? — Lara atende com uma voz cansada.
Trey arregala os olhos. — Ah! Verdade, vou ligar outra hor-
— Espera! Pode falar, eu já estava acordada.
Ele tira o dedo do botão de desligar e coloca no ouvido de novo. — Acho que precisamos esclarecer... Algumas coisas.
Escuta-a suspirar do outro lado.
— Sim, eu quero dormir em paz, tendo certeza de que um metamorfo não vai me matar após eu ter descoberto o segredo dele.
Ah, parece que ela não dormiu também.
— Entendo. Nós vamos nos encontrar que horas e aonde?
— De preferência na minha casa, às 14:00, eu vou te buscar no centro da praça, tá?
Na casa dela?
Estranho, mas é melhor que ficar ao ar livre e ter chances de se encontrar com o metamorfo.
— Tá.
🌑🌓🌕🌗🌑
A manhã tinha sido como qualquer outra, os quatro tomando café da manhã juntos.
Porém, algumas coisas eram notáveis: seu pai enfiado nos papéis, sua mãe olhando com suspeitas para seu pai e Miguel estranhamente pensativo. Mas nada, além disso, pois ele também estava muito focado na comida em cima da mesa e no encontro de mais tarde.
Eventualmente, o horário de ir para a praça chega. Ele deu uma desculpa de trabalho escolar para sua mãe e saiu o mais rápido possível, antes que ela pudesse fazer alguma pergunta.
A primeira coisa que ele nota na praça é que estava mais vazia do que o normal, tirando os quinze soldados rodeando a área.
Neste espaço, não tão acolhedor no momento, cercado por construções de um estilo clássico, perdido no tempo, os canteiros de flores são o verdadeiro "espetáculo" de cores e aromas para o seu tédio.
Rosas, especialmente vermelhas, margaridas e girassóis, se misturavam em perfeita harmonia, exibindo uma variedade de plantas e arbustos que complementam a paisagem com seu verde, trazendo um toque à praça que ele não sabia definir muito bem. Talvez "vida" fosse uma alternativa.
Trey sabia que os jardins eram meticulosamente cuidados, principalmente pela senhora Akemi, uma das únicas pessoas da cidade quem ele mais trocou palavras.
Ao redor da praça, se encontravam edifícios de arquitetura clássica, com fachadas adornadas por detalhes delicados. Havia uma sorveteria com seu letreiro retrô e imensa coleção de sorvetes, enquanto uma padaria próxima oferecia uma variedade imensa de doces e salgados. Trey se sente tentado a usar seu olfato para sentir o aroma dos alimentos depois de tanto tempo, mas descarta essa ideia.
Bem próximo, também havia uma livraria antiga, com suas estantes repletas de obras literárias de vários lugares do mundo. Já havia perdido as contas das vezes em que tinha sido arrastado até lá, sendo obrigado a ficar horas ouvindo Miguel recontar a história da Primeira e da Segunda Guerra Mundial.
Era um tanto decepcionante que eles estavam no ano 2149 e as coisas não pareciam tão distantes da época em que "o mundo mudou".
Foi em 1990 ou 1980 que os metamorfos vieram para a Terra?
Caramba! Miguel repetiu isso uma centena de vezes e eu não lembro!
Enquanto de um lado havia celulares um pouco mais avançados que antigamente, não servindo apenas para ligações e jogar o "joguinho da cobra", de outro lado havia armamentos a base de laser, com um conteúdo tão potente que era capaz de matar metamorfos, seres que podem se regenerar de ferimentos em um piscar de olhos.
É claro que tudo que envolvesse combater e se proteger de metamorfos seria avançado...
Apenas algumas lojas comerciais estavam abertas, com um ou outro civil comprando alguma coisa e voltando rapidamente para suas casas. Além de duas senhoras que estavam fofocando bem baixo em uma das lojas.
Ele usa sua audição melhorada e começa a escutar o assunto alheio.
— Ei, Patrícia, você ouviu o que falaram sobre os ataques? — A mulher de blusa amarela fala.
— O quê? O que falaram? — A mulher, um pouco mais nova que a outra, pergunta ansiosa.
— Eles falaram que os ataques estão sendo organizados e tão falando que é tudo culpa do prefeito! — Responde de forma acusatória.
— Esse povo inventa cada história... — A outra fala desacreditada.
— É sério! Você num viu? Quatro ataques nos quatro cantos e mais um no leste.
E sabe mais? Tão falando que tinha um guarda infectado há meses!
— Eu vi isso, inacreditável! — Outra mulher se junta. — Espero que eles tenham inspecionado bem os guardas que foram atacados.
— Isso é mais que obrigação deles! — A de blusa amarela esbraveja.
— Minha nossa senhora — a mais nova fecha aterrorizada os olhos —, não quero nem pensar na possibilidade de um deles ter conseguido entrar na cidade.
As outras duas ficam quietas, vendo que nem elas tinham pensado nisso.
— Menina! Não fale uma bobagem dessas! — O tom irritado da de amarelo se ameniza aos poucos. — Você tá segura aqui, nós estamos. Eu já falei para você parar de ler esses livros sobre lá fora, tá deixando sua imaginação muito fértil!
Hmmm, ignorância é realmente uma benção.
Ele cansa da fofoca e olha ao redor mais uma vez por Lara, mas avista algo peculiar.
Um garoto, sentado em um dos bancos espalhados pelo centro, aparentemente no auge dos seus quinze anos, usando um aparelho que parecia um computador, só que bem fino e portátil. Ele estava de fone, ouvindo alguma música em um tocador de fitas, podia escutar um estilo de música bastante barulhenta e com frases "dramáticas" demais em inglês.
Outro ponto a se notar eram as vestimentas, uma camisa de manga longa listrada e uma bermuda, ambas com o material de gore-tex.
Ele clica em uma tecla e sorri com satisfação, se espreguiçando até o limite possível para um humano, e, no processo, percebendo de imediato, Trey o encarando intensamente. O garoto leva um susto, quase derrubando a máquina que estava no seu colo. O metamorfo disfarça e olha para outro lugar.
Eu fiquei encarando demais?
Quando olha para o garoto de novo, ele já tinha sumido. Trey suspira.
Miguel provavelmente falaria algo como "não se encara as pessoas, Trey!" ou "era melhor ter ido lá falar com ele se você estava curioso".
Ele ri, imaginando com clareza a cena. Até as pontas do seu sorriso cederem um pouco, se transformando em uma expressão amarga.
Ele falaria, se não estivesse estudando por aí escondido com seus amigos...
— Oi!
Olha na direção da voz e vê a humana à sua frente, acenando.
— Oi... — Imita o gesto dela.
— Perdão pela demora, estava resolvendo uns assuntos no hospital... Vamos?
🌑🌓🌕🌗🌑
Enquanto Lara direcionava ele pela casa e até a sala, o som de duas crianças conversando chama sua atenção.
Lara não parecia feliz com isso. — Já volto.
É nítido os passos dela atingindo o piso rapidamente em um tom estressado.
Trey aproveita esse tempo para olhar ao redor da sala e procurar por qualquer sinal de aquilo ser uma armadilha.
A primeira coisa que chama a sua atenção é uma grande pintura de paisagem campestre, emoldurada por uma moldura de madeira escura e elegante. Nem sequer sabia que pinturas poderiam ser uma opção de decoração.
O garoto se senta no sofá vinho escuro, que contrastava com o carpete claro do chão.
Sua visão se dirige para outros cantos e, na parede oposta, uma estante de madeira escura abrigava mais livros de história, de anatomia e de enfermagem, além de uma aparente coleção de livros sobre a França e suas regiões. Em uma das prateleiras, havia um conjunto de miniaturas de monumentos que ele desconhecia, parecendo um deles ser uma torre triangular.
Mas nada que parecesse fora do normal.
Lara ressurge no corredor ao lado de uma garota e um garoto, ambos de pele clara e cabelos pretos, falando com eles alguma coisa em uma língua que ele não compreendia. Logo em seguida, eles são dispensados para o andar de cima.
Ele fica por alguns instantes sozinho na sala, olhando mais uma vez ao seu redor. Um espaço que queria pertencer a um lugar que não existia mais.
Uma sensação de ser observado vem à tona, o fazendo olhar de reflexo para um ponto vazio na sala. Ele estava prestes a transformar a sua visão, até Lara se aproximar dele.
— Pode vir. — Lara o interrompe, um receio em sua voz.
Hm, estranho.
Ela começa a guiá-lo até as escadas, sempre olhando para trás de tempos em tempos, com um olhar desconfiado.
— Eu contei para o Jack sobre o que aconteceu. E sobre você.
— Ah, deixa eu ver, ele não levou isso de boa. — Fala de forma sarcástica, observando com certa inveja as fotos em família na parede.
— Exato.
Que surpresa...
— Eu não tô pronto! E se, e se ele tentar algo?! Você e o Bruno conseguem impedir? — A voz de Jack ecoa alta e clara do andar de cima, apenas alguns passos de ter um ataque de pânico.
— Ele parecia ser normal... — A voz do irmão de Lara quase não é ouvida de tão baixa.
— É um metamorfo, bobo! É claro que eles vão parecer ser algo que não são! — A sua irmã retruca.
— Esperamos que sim, Jack. — Uma voz tímida chama a sua atenção, era a metamorfo de ontem.
Os dois atravessam o corredor e param em frente a uma porta aberta.
O quarto parecia ser um ambiente de estudos, ou um escritório, com várias prateleiras de livros e alguns pufes espalhados mais para o lado esquerdo, onde as crianças e Jack estavam.
Lara limpa a garganta, chamando a atenção de todos no quarto e fixando diversos olhares nele.
— Oi...? — Fala sua primeira palavra, perdido em meio à "audiência".
Jack prende a respiração, olhos azuis arregalados e dedos entrelaçados firmemente no tecido do seu enorme casaco.
As crianças, encostadas bem no canto do quarto, ficam mais atentas, mas não atingem nem um pingo de ansiedade de Jack.
Já a filhote, que estava à frente das miniaturas de humanos, como se tivesse os protegendo, o olha com algo que parecia ser uma mistura de curiosidade e desconfiança. Seus enormes olhos atípicos o observam de cima a baixo.
Trey olha de novo para a figura de Jack, que tremia como se ele fosse atacar a qualquer momento, seu coração batendo tão forte que ele poderia saber de olhos fechados onde Jack estava só pela vibração.
Se Miguel estivesse aqui, ele tentaria fazer alguma coisa... Falar algo que pudesse acalmar o humano.
Uma pequena lembrança da sua manhã invade seus pensamentos: "Fazer algo útil e de valor."
Hmm, tá.
Eu acho que eu posso falar algo também. Não deve ser tão difícil!
— Não se preocupe, se eu quisesse te matar, eu já teria feito! — Oferece um sorriso para Jack.
O garoto tinha ficado tão pálido que parecia que ia desmaiar de novo.
— O que você quer dizer com isso?! — Lara pergunta indignada, ainda tentando manter sua postura calma.
— Eu tava... Tentando acalmar ele?— Sorri sem jeito.
Miguel faz parecer isso MUITO mais fácil.
— Você é idiota. — Alguém fala ao seu lado.
Trey se vira, se deparando com o filhote de ontem, tirando sua "capa de invisibilidade".
Aha! Eu sabia que tinha sentido ele!
O pequeno o encarava com uma mistura de impaciência e curiosidade, e um medo quase imperceptível.
— O quê?! — Trey questiona incrédulo.
— De onde você veio? Você não parece viver aqui. — O metamorfo fica encarando Trey com seus grandes olhos pretos, enquanto andava ao redor dele. Pela postura ereta dele, já conseguia deduzir que o ombro do filhote estava curado.
— Mas é claro que eu sou daqui, eu vivi quase a minha vida toda aqui! — Fecha a boca antes que pudesse deixar escapar algo mais privado.
— Como? — Lara pergunta, pensativa. — Como você conseguiu se esconder por tanto tempo?
Trey a olha, sabendo muito bem que aquele assunto seria longo e repleto de perguntas.
— Eu vou falar, mas antes quero saber dos dois. Eles não são daqui, isso eu tenho certeza, eu teria sentido antes.
Lara começa a mexer na sua trança, dando um olhar significativo para os filhotes, que se entreolham cheios de incertezas.
— Você realmente acha que está em posição de exigir algo? — Ela fala em um tom sério.
— Não, mas nem você. — Sua resposta sai mais dura do que ele gostaria, aumentando ainda mais a tensão no cômodo.
Lara suspira. — Certo, fique à vontade para se sentar, acho que ficaremos um tempo aqui. — Aponta para um assento, que parecia uma grande almofada.
Afunda no coxim, ainda sentindo os olhos de todos observarem cada movimento seu.
— Já era tarde da noite, eu estava colocando meus irmãos para dormir — ela olha para os dois, que assistiam com atenção à história, no fundo do quarto — e então eu vi algo estranho, alguns dos brinquedos deles pareciam ter sido mexidos.
— Eu senti que tinha algo de errado e fui investigar, nisso eu acabei achando esses dois, invisíveis, no armário. — Mari parece ficar envergonhada com o fato.
— Depois de algumas discordâncias, eles conseguiram me convencer de que não estavam aqui para machucar ninguém.
— E o que eles estavam fazendo aqui? — Ele questiona, intrigado.
— Não, agora é você. — Bruno retruca. — Você disse que morou quase toda a sua vida aqui. Como?
Esse moleque...
— Minha mãe é uma cientista e meu pai é um guarda, eles sabem o que fazer para evitar que eu seja pego.
— Então... — Lara cerra as sobrancelhas, pensativa. — Eles não são metamorfos, são apenas humanos. Isso vale para o Miguel também?
— Aham.
Os olhos da garota se arregalam por meros segundos, sua expressão se dissolvendo aos poucos em receio.
— Sua vez agora. Por que vocês estão aqui? — Seus olhos se dirigem aos filhotes.
— Procurando ajuda. — Lara responde por eles.
Trey levanta uma sobrancelha. — Ajuda para o quê?
— Um lugar para ficar. — Mari responde.
O que isso significa?
Por que eles só dão respostas rasas?!
Alguns segundos de silêncio se passam até Lara fazer a sua pergunta. Ela encara Trey por mais alguns segundos e coleta toda sua confiança para fazer sua pergunta. — Qual é o seu nome?
Trey, e todos os outros, olham com estranheza para ela.
— Lara? — Jack pergunta baixo.
— Você disse que nem sempre morou aqui, que nem sempre morou em uma cidade.
Trey cruza os braços. — Sim, porque eu morei em uma — tenta se relembrar das anotações —, em uma colônia nos outros anos.
Lara fica surpresa, como se tivesse acertado sua dedução. — Mas nos seus dados consta que você mora desde o seu nascimento em uma cidadela, com exceção de alguns meses que você passou em uma colônia quando tinha sete anos.
Droga, como eu esqueci disso?! Eu não acredito que anotei errado!
Espera, como ELA sabe disso?!
Ele finca os dedos no tecido do casaco e solta uma risada nervosa. — Isso! Eu era muito novo, então não lembro direito...
O tom de Lara se endurece. — Seus pais podem até ter as profissões certas para justificar alguns hábitos estranhos, mas eu duvido que falsificação desse tipo de informação, como colocar alguém totalmente novo no sistema, seja uma delas. E você, sinceramente, é um péssimo mentiroso.
Ele desvia o olhar, encarando os outros no quarto, que assistiam, confusos, à cena que se desenrolava. — Onde você quer chegar com isso? — Trey pergunta, impaciente.
— Eu estou dizendo que havia um Oliver antes... O real. O humano que foi substituído por um metamorfo.
O ambiente fica tenso, todos focando no rosto ansioso de Trey.
— Qual é o seu verdadeiro nome?
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