Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 3 | [Como nos velhos tempos]-parte 3

Trey pisca diversas vezes, se ajustando ao cenário ao seu redor.

Estava sentado no chão, encostado em uma árvore, assistindo às chamas douradas consumirem com entusiasmo a carne quase morta da criatura, que se apagavam aos poucos em algumas árvores e arbustos, deixando para trás o véu de fumaça que cobria agora os restos do corpo do metamorfo.

O que foi... Isso? Quem era aquele?

Apenas o som de carne queimando permanece em sua mente, até se lembrar de quem ele realmente deveria estar se questionando: Miguel.

— Por que isso não sai? — A voz, levemente irritada, do maior responde ao seu questionamento.

Ele estava sentado logo ao seu lado, usando um graveto para mexer em alguma coisa na sua mão.

— O que aconteceu? — Trey vai até ele.

— Que bom que você acordou! Eu tô precisando da sua ajuda...

Trey vê o rosto dele, antes uma mistura de rosado e bronzeado, agora sem cor nenhuma, apenas uma palidez doentia.

— Então, não entra em desespero, mas sabe aquele fio que eu te pedi? — Resmunga com um meio sorriso no rosto suado e, logo em seguida, mostra sua mão trêmula, coberta de veias negras.

Era a primeira vez na noite que Trey sentia verdadeiro medo. Ele fica em silêncio e puxa a mão de Miguel para analisar. Havia um ferrão enorme bem no meio da palma da mão dele, que dava origem a diversas raízes parasitando e, provavelmente, puxando o sangue de Miguel.

Para de respirar e piscar, tentando manter sua postura calma.

— Trey? — Miguel fala com preocupação na voz. — Fica calmo, tá? Foi só um acidente, você consegue consertar isso.

_______________________________

...M-miguel?

Tudo estava tão escuro.

_______________________________

— Não é nada de mais, r-relaxa! — Trey tenta oferecer um sorriso reconfortante para Miguel, que sai forçado demais. 

Ao tocar a ponta exposta do ferrão, seus dedos se conectaram à estrutura, estabelecendo uma interface neural direta. Essa conexão permitiria a transmissão de impulsos elétricos entre seu sistema nervoso e o organismo para facilitar o controle imediato. Era simples, reestabelecer a conexão e se tornar um único organismo novamente.

Isso se não fosse completamente rejeitado.

Espinhos microscópicos, projetados para prevenir a integração de corpos estranhos, perfuraram seus dedos como se não reconhecesse que ele é o corpo original. Enquanto Miguel, que estava sendo vítima da conexão neural quase estabelecida, se contrai de dor no mesmo instante, sentindo os espinhos se alastrando pelo interior de seu braço de forma ardente.

— O que aconteceu? — Seu irmão questiona, tentando parecer calmo.

O que tem de errado com isso?

— Eu vou tirar a força. — Sussurra com ódio.

Trey se preparava novamente para pegar o organismo, sem esperar Miguel se recompor. Sua mãe já tinha falado que isso poderia acontecer, muito raro, mas poderia ocorrer, ele só precisava se acalmar.

_______________________________

Escuro demais.

ESCURO DEMAIS.

E o vermelho
que cobria o chão
era a única coisa que iluminava a cena.

_______________________________

Trey tenta respirar fundo, mas não consegue colocar nem um pouco de ar nos seus pulmões.

— Certo, só... Se acalma. — Miguel tenta reconfortar o seu irmão antes de se preparar para a dor.

— Tá... Aguenta firme. — Dá o aviso final e fecha um aperto de mão com Miguel.

Ambos compartilham um momento de silêncio até uma queimação infernal atingir os dois. Trey sente como se milhares de minúsculos espinhos cortassem sua pele, e a dor de Miguel não estava muito longe disso.

À medida que a agonia atingia seu pico, transformando-se em uma sensação dormente, o menor desfazia o aperto, observando que, ao menos, o plano B havia funcionado. O ferrão agora estava preso em sua mão, tentando se libertar das centenas de minúsculos fios que ele havia criado para manter o organismo ali. Enquanto isso, Miguel segurava seu braço, respirando com dificuldade. Uma pequena cratera havia se formado em sua mão direita, derramando sangue para o chão.

Muito vermelho.

Trey tira os olhos do líquido, querendo extinguir os sentimentos e as lembranças daquele dia.

Miguel apenas rasga um pedaço da blusa dele e usa para enrolar no ferimento. Desabando de cansaço no chão. Os dois ficam em silêncio por um tempo, sendo audíveis apenas as respirações fortes de Miguel e o estalar do fogo. Um momento de paz depois de tudo que aconteceu.

Trey abraça seus joelhos e fica observando o organismo lutando para se libertar de sua mão. Tentava evitar imaginar o que teria acontecido se ele tivesse "acordado" um pouco mais tarde. Sua expressão enrijece e ele começa a esmagar o organismo com os seus pequenos fios. O organismo lutava, mas as células microscópicas que formavam sua estrutura não conseguiam competir com a pressão que Trey impunha. O minúsculo ser estava prestes a ser despedaçado em milhares de pedaços.

🌑🌕

— Trey, respira. — O loiro toca no seu ombro e Trey se afasta como se fosse fogo.

Após longos minutos, ele olha para seu irmão, com grandes olhos avermelhados, percebendo agora a tonteira por falta de ar.

— A gente fez um bom trabalho, né? — Miguel senta mais ao seu lado. — Você disse que eu nunca iria conseguir e olha só! — Balança o braço em direção a gosma de carne.

— Sendo só mais uma cópia do original era mais fácil. — Trey fala baixo, sem emoção.

— Nem me fala. — Passa a mão no rosto. — Pensando bem, um tiro de uma arma daquelas não desintegra um ferrão daqueles, e nenhum metamorfo seria tão ruim em acertar um ataque.

Miguel franze o cenho, fazendo uma careta cômica. — E você nem sequer me contou!

— Pensei que você ia captar, especialista. — Resmunga, deixando escapar um sorriso fraco.

O loiro suspira, enquanto passava os dedos na ponte do nariz.

— E você ainda conseguiu perder a aposta, né? — Era a vez de Miguel abrir um sorriso confiante.

Trey se levanta, aborrecido. — Não tinha muito o que eu fazer, né? Porque alguém decidiu atirar no nada, chamar o bicho e causar TODO ESSE PROBLEMA! — Aponta para a mão machucada do seu irmão.

— Uma falha técnica, não discordo, mas já sabíamos desde o início quem ia ser o perdedor. — Miguel fala despreocupado, limpando com cuidado a "sua" nova jaqueta.

Os olhos de Trey se tornam completamente vermelhos com apenas uma mancha distorcida e preta de pupila, veias rodeiam o seu rosto, semelhante ao metamorfo de antes, enquanto continha um grunhido animalesco em sua garganta.

— Nem adianta fazer essa cara. — Ele continua com o mesmo tom. — Você devia estar feliz, porque amanhã já é dia de reunião. Menos um dia! — Miguel, com um sorriso radiante, bagunça os cabelos de Trey. Uma cena equivalente a brincar com um leão selvagem.

Trey fica de braços cruzados, impedindo-se de fazer algo pior com Miguel.

— Por que eu fui concordar com isso? — Sussurra para si, aborrecido, dando as costas para o maior e indo em direção ao fogo.

Miguel solta uma leve risada por debaixo da respiração e assiste Trey tentar se livrar do organismo jogando-o no fogo, mas um leve chacoalhar de folhas chama sua atenção, se vira e atenta sua audição.

— Muito obrigada pela ajuda, senhor. — Uma mulher bem equipada fala com uma voz firme, se aproximando do local ao lado de um homem.

Miguel corre até Trey e puxa-o pelo braço, ignorando qualquer coisa que ele iria falar, escondendo ambos em meio aos arbustos no processo.

— Não precisa agradecer, Capitã Louise, no final das contas — ele puxa a arma e uma energia amarela começa a carregar — esse é o meu trabalho.

— Miguel, a parada! — Trey sussurra desesperado.

— Que parada? — Se vira para o menor, com a aparência já normal.

— O fio caiu lá!

— Você tá brincando. Por que você não jogou logo?!

— Você me puxou na hora!

Um tiro de AL chama a atenção dos dois, que esticam a cabeça para fora do esconderijo para ver o ocorrido. Um véu de fumaça sobe do chão, vindo exatamente de um pequeno organismo.
O disparo, sem uma explosão tão chocante, cria faíscas, semelhantes a raios, que começam a ir do organismo até outras partes próximas do metamorfo anterior, queimando-os completamente. Trey suspira aliviado, seu fragmento estava completamente morto.

— Quem é ele? — Sussurra.

Miguel estreita a visão, focado. Apesar do seu tom jovial, o homem parecia ter por volta de quarenta ou mais, com cabelos castanhos bem escuros. Sua roupa era um tanto casual para a ocasião, diferente da Louise, que estava protegida da cabeça aos pés. Porém, o que verdadeiramente guia seus olhos é a arma em suas mãos, ela era muito moderna, provavelmente de última geração, e pouquíssimas pessoas da cidade tinham uma daquela.

— Parece que vocês têm um problemão aqui. — O homem fala de maneira descontraída, olhando ao redor. — Esse é o primeiro ataque do mês?

— O quarto, fazia alguns anos que não recebíamos ataques como esse, senhor Owen.

Os olhos de Miguel brilham ao ouvir o nome, ficando boquiaberto quando percebe quem realmente eles estavam espionando: Max Owen, um dos maiores Combatentes de Metamorfo de todos os tempos, gênio na engenharia espacial e um dos sobreviventes da mais perigosa viagem à lua.

Miguel desde sempre admirou os grandes combatentes ao longo da história, principalmente os combatentes lunares, que sacrificam suas vidas em prol de toda a humanidade, e Max não era diferente deles. Se lembra de que o homem, mesmo após dez anos, ainda é uma das figuras mais importantes no cenário brasileiro e mundial, sendo relevante na formação dos futuros combatentes.

Miguel olha incrédulo para Trey. — É Max Owen! — Responde quase sem fôlego. — Como eu não o reconheci ?

Trey faz uma careta à reação exagerada do mais velho.

— Acha que é um colossal rondando pela área e deixando cópias? — Max pergunta, vasculhando a área com a ponta da arma e tirando algo do seu bolso.

— Acredito que não, se tivesse um por perto, nós teríamos recebido notícias, ou até mesmo avistado. — Ela segue com os olhos verdes a figura à sua frente, se abaixando e coletando uma parte de metamorfo.

— Hm, então tudo aponta para ser um predador... — Ele fecha a embalagem e encara com um olhar curioso um local específico.

A mulher cerra os olhos. — E do pior tipo.

O homem se levanta com um sorriso enigmático no rosto, mostrando em sua mão um pedaço de um material cinzento.

— Capitã, por acaso algum dos seus guardas usa um modelo tão antigo de AL como esse?

Ela olha confusa e pega o pedaço. — Receio que não...

— Parece então que temos algum herói da velha guarda rondando por aqui... — Max brinca.

Ela arregala levemente os olhos ao perceber algo, a qual disfarça limpando a garganta. — É provável que tenha fugido, nenhum cidadão sobreviveria a um metamorfo desse nível sozinho, ainda que sejam fragmentos. É possível que algum dos nossos equipamentos tenha atingido a criatura.

— Nunca se sabe, poucas pessoas são o que parecem hoje em dia. — Ele cantarola. — Mas o melhor a se fazer, por agora, é verificar o DNA das coisas. — Guarda o pacote da coleta que fez.

— Sim, já podemos seguir para a base. — Ela fala, enquanto procurava alguém na multidão de guardas que estava no campo principal.

— Alex! — A mulher chama um dos guardas. — Pode fazer a inspeção por aqui também?

Os garotos se entreolham, tendo a mesma reação aterrorizada ao ouvirem o nome do guarda.

— Vamos, senhor Owen? — Louise fala, direcionando o homem a outro local.

— Claro!

Antes da capitã sair da cena, ela entrega um pedaço da AL para o guarda que estava chegando. Ele entende de imediato a mensagem. O guarda em questão passa pelos dois de cabeça baixa e sem fazer nenhum comentário. O que o faz receber um olhar confuso de Max, quase ofendido.

Passos pesados se aproximam dos garotos, que se encontram sem um plano de escapatória.

O homem para, quando os outros dois combatentes já estavam longe. — Os dois já podem sair daí.

Ao saírem do arbusto, ambos se deparam com uma figura de quase dois metros, com um corpo musculoso e vestindo o uniforme preto de um típico guarda, com um objeto tecnológico, semelhante a um sensor, em seu pulso. Ele retira o capacete, revelando um homem de pele pálida e cabelos negros, usando um tapa-olho. As semelhanças entre suas feições e as dos dois eram inegáveis, mas seus olhos acinzentados carregavam uma frieza e uma intensidade que denunciavam experiências incompreensíveis. O guarda os encara de volta, exalando um claro descontentamento com a situação.

— Oi, pai. — Miguel fala com um tom mais sério que o normal.

Ele se aproxima deles. — Quantas vezes eu vou ter que dizer para vocês ficarem longe disso? Vocês ainda não entenderam que isso não é uma brincadeira?

Miguel abre a boca para se explicar, mas Alex continua.

— Você acha mesmo que só porque Trey é um deles tudo vai ficar bem, Miguel? — Aponta para Trey, esboçando um leve aborrecimento no seu rosto antes neutro.

— Não importa o quão na vantagem você ache que esteja, tudo que você precisa é de um erro para ser a próxima vítima. — Seu olho se crava nos do mais velho.
— Você é um humano, Miguel. — A frase sai fria e seca da boca dele, deixando o adolescente sem palavras.

— E você, Trey, — olha para o outro — esperava que você tivesse parado de incentivar esses tipos de coisa depois daquele dia. Se isso não fosse um fragmento, você não estaria muito longe de estar na mesma posição dele. — Alex parecia querer adicionar mais alguma coisa, mas se para.

Trey assente com a cabeça, seus olhos colados no chão.

— Vocês entenderam?

— Sim. — Falam em união.

Os dois ficam quietos por um longo tempo, esperando seu pai falar mais alguma coisa.

— Vocês estão com algum machucado grave ou infecção? — Pergunta mais calmo.

— Só alguns arranhões. — Miguel responde rápido, escondendo sua mão. — Trey que está mais machucado.

— Deixa eu ver.

Trey mostra o braço coberto de arranhões e aberturas, menores do que antes. O metamorfo prefere deixar quieto o provável osso — ou ossos — na costela que ele quebrou.

Seu pai parece analisar por alguns instantes a situação. — Como você tá se sentindo?

— Com fome...

— Vai sobreviver. — Ele dá meia volta para explorar o local.

Os dois ficam parados iguais a estátuas, apenas observando seu pai andar pela área investigando cada coisa. Alex fecha os olhos com força, parecendo tentar se manter calmo, após ver um detalhe específico. — Você jogou a arma dentro do metamorfo?

Miguel fica surpreso com a dedução. — É, ela travou e... Eu fiquei sem muitas opções.

— E aquela era a sua única arma?

— Sim... — Miguel cruza os braços, quase envergonhado.

Seu pai o olha não muito impressionado, com Miguel conseguindo quase ver o fantasma de uma risada no rosto dele, sem dúvidas uma alucinação, porque o homem poderia estar achando tudo, menos graça daquela situação.

Ele vai deixar por isso mesmo depois de eu ter destruído a arma dele...?

— Eu vou entregar as informações para Louise e já volto para nós irmos embora. — Caminha até a outra área e para um pouco antes de sair da vista deles. — Fiquem aí e, se qualquer outro guarda aparecer, se escondam. Entenderam?

Os dois assentem, seu pai encara eles mais uma vez e se retira.

Trey se senta no chão novamente.

— Diria que dessa vez foi até de boa. — Miguel se senta ao lado do menor. — Mas ele parecia agitado com alguma outra coisa.

— É, ele tava até preocupado comigo. — O sarcasmo era claro em seu tom.

O mais velho olha para ele com clara reprovação. — Trey...

— Que foi? Só tô brincando... — O metamorfo comenta com desdém na voz.

Miguel pensa em fazer algum comentário, mas do jeito que as coisas estavam recentemente, não tinha muito o que ele dizer. Além disso, ele não esperava que o mais novo fosse se machucar tanto, não como se as coisas tivessem ocorrido como o planejado também. Parece que pela primeira vez ele estaria enfrentando as consequências de sua impulsividade, quebrando com o seu placar perfeito de dezenas de "saidinhas" sem acidentes.

Olha para Trey e vê ele com uma expressão plana, observando seu antebraço.

Uma dúvida vem em sua mente.

— Trey.

— Hm?

— O que foi aquilo? Naquela hora em que o fragmento começou a falar e você "apagou".

Trey parece travar antes mesmo de qualquer som sair de sua boca, ele pressiona os lábios, apenas encarando o nada com olhos arregalados.

— Não sei. — Responde quase em um sussurro, olhando na direção oposta. — Acho que apaguei por causa do... Cansaço.

Cansaço? — Miguel ri desacreditado. — Qual é, Trey? É bem nítido quando você está cansado. Você fica mais preguiçoso, fica se escorando nos lugares, às vezes sua pele começa até a derreter!

Silêncio.

Miguel busca alguma reação na expressão de Trey, mas o rosto dele estava inexpressivo.

Espera, ele não tá fazendo aquilo, né?! Idiota, eu já falei para ele parar de esconder as expressões!

Mas... Se ele tá fazendo isso, alguma coisa aconteceu, o que eu posso ter perdido?

Tenta relembrar algum momento ou ação que aquele metamorfo poderia ter feito para assustá-lo, mas nada vinha em mente. Trey dificilmente se assustava ou se preocupava com algo e, na sua opinião, parecia que ele estava gostando de lutar contra o metamorfo, tirando a parte de ser arrastado pelo chão. Se não tivessem ocorrido tantos problemas, poderia dizer até que estava satisfeito com a maluquice que inventou. Convencer Trey a sair de casa e fazê-lo usar seus poderes é realmente uma enorme conquista nos últimos tempos.

— A gente deveria falar sobre a passagem?

— Já tinha até esquecido disso. — Miguel fala surpreso.

— Imaginei. — Trey esboça um pequeno sorriso de canto.

— Isso sem dúvidas pioraria o nosso caso se a gente falasse!

— Provavelmente.

— Espera, e se isso ajudar em alguma investigação? O metamorfo que a gente lutou hoje pode ser o mesmo do buraco!

— Não é. — Trey fala com confiança.

— Como você sabe?

— Sensação.

A cara de planície do maior fala muito.

Trey suspira de forma impaciente. — Olha, não dá para você entender muito bem, mas é como se o de agora tivesse uma "sensação" diferente, como de um... Animal.

— Certo... E o da passagem teria de quê?

— De um inseto.

— Inseto? — Miguel o encara confuso.

— É, não dá pra definir muito bem esses tipos de coisas.

— Acho que entendi. Você tem certeza de que não pode ser o mesmo metamorfo?

— Tô achando que você não tem estudado direito...

— Tá, tá, eu sei! Não dá para ser dois tipos ao mesmo tempo!— Miguel dá a resposta antes que Trey pudesse continuar reclamando dele. — Essas paradas de biologia não entram por nada na minha cabeça.

Trey ri, o maior ignora o outro, cruzando os braços e refletindo sobre a situação.

— Por que você acha que os dois casos têm ligação? Ainda mais que são duas subespécies diferentes. — Trey fala distraído, mexendo nas folhas recém-formadas de um arbusto.

— "Nós nos veremos de novo." Foi a última coisa que esse metamorfo disse.

— Ele tava só querendo te assustar. Você tá pensando demais. — Trey comenta despreocupado, arrancando uma das folhas para olhá-la de perto.

— Sei lá, Trey. Tem algo muito estranho nisso. Como você não fica preocupado?

Trey o encara com a cara mais relaxada possível.

— Não é problema meu. — Solta a folha.

Miguel junta as sobrancelhas, uma seriedade incomum assombrando sua expressão, como se estivesse em outro tempo.

— Você não tá errado — sua voz sai baixa —, mas espero que não continue dessa mesma forma relaxada quando algo pior acontecer. Seja com a nossa família ou... Com qualquer outra pessoa.

Os dois ficam se encarando.

Trey abre a boca em surpresa. — Para de ser idiota, Miguel! Isso não vai acontecer!

— Se você diz. — Miguel dá de ombros.

Trey pensa em falar mais alguma coisa, mas se mantém em silêncio, encarando a sua mão, onde estava o organismo.

🌕🌗🌑🌓🌕


Os adolescentes decidem não comentar, naquela noite, sobre a passagem na muralha, em vista do humor de Alex. Porém, ainda era surpreendente ele não ter reclamado de mais nada da encrenca em que os dois tinham se metido.
Algo que, normalmente, levaria o pai deles a falar para ambos voltarem a pé alguns meses atrás.

Parecia que o homem estava com a mente em outro lugar dessa vez. Miguel tem suspeitado que ele estava envolvido na investigação desses ataques, o que não faria sua mãe nem um pouco feliz desde que ele voltou para casa todo enfaixado semanas atrás devido a um infectado em um posto de vigia.

Ainda assim, Miguel preferiria ter ido a pé do que ficar quase vinte minutos em um silêncio agoniante.

Finalmente, casa!

Miguel pensa, aliviado, assim que vê o incomum design americano esverdeado de sua entrada. Estava pronto para sair do carro e afundar na cama, mas seu pai o segura pelo ombro.

— Pode ir, Trey.

O menor olha com estranheza a cena, olhando uma última vez para Miguel com um "boa sorte" e saindo do carro sem falar nada.

Seu pai cruza os braços, assistindo Trey caminhar até a porta e ser recebido por sua mãe, checando cada centímetro dele. Ela encara os dois no carro, com uma clara expressão de "vocês são os próximos".

Alex suspira e passa os dedos na ponte do nariz.

— Você contou tudo mesmo? — Seu pai fala em um tom monótono, encarando-o depois de um tempo.

— Sim...? — Responde incerto.

Alex puxa a mão machucada de Miguel com impaciência. — Você disse que não tinha tido nenhuma infecção.

Miguel franze o cenho. — Foi um acidente. — Ele puxa de volta o braço.

— Um acidente? Foi ele que fez isso?

— Não, não ele exatamente. — O garoto desvia o olhar para a casa. — Eu pedi um fragmento dele e acabou que agiu por instinto.

— Isso não deixa de ser uma infecção. Você às vezes parece que esquece o que el-

— Eu sei! — Miguel aumenta o tom. — Não tem como esquecer isso!

Alex fica em silêncio.

— O quê? Eu não deveria confiar nele por isso? Um problema que eu mesmo causei? — Miguel olha para o homem, sabendo exatamente no que ele estava pensando.

— Já faz quase dez anos que ele vive com a gente! E você ainda consegue só pensar desse jeito dele? Só por um ACIDENTE de dois anos atrás?! — Ele solta uma risada desacreditada. — Como se ele fosse idêntico àquela coisa lá fora! Aquilo lá é um monstro e só porque Trey também é um metamorfo não significa que ele seja um monstro também.

Miguel abaixa seu olhar para a jaqueta que usava. — O senhor que me ensinou isso... Ou você esqueceu isso? — Fala com um pesar na voz. — Esqueceu quem você era?

O adolescente balança a cabeça indignado e sai do carro. O frio da noite o recebe com violência, fazendo os pelos da sua nuca se arrepiarem. Ele tira a jaqueta.

— Não é como se eu tivesse que esperar algo diferente de você também. — Sussurra para si. — Não desde que você voltou daquela missão...

Ele olha para o céu estrelado com uma raiva remanescente, que se acende novamente ao ouvir a porta do motorista se fechar em uma batida. Passos se aproximam dele e a figura de seu pai para um pouco a frente dele.

— Mal chegou a ser uma infecção. Você mesmo diz que ele é inofensivo comparado a subespécie dele, que já é uma das melhores para infectar humanos. — Sua raiva se dispersa por meros segundos, revelando certa decepção.

— Dizia.

— E o que mudou então?

— Acredito que você já saiba.

Miguel fica com um nó na garganta, encarando com raiva seus braços cobertos pelo tecido escuro alaranjado.

— Você está em um caminho muito perigoso, Miguel. O custo dessa vida que você quer é muito alto, e no final, para quê?

Miguel cerra os punhos e continua a olhar para seus braços, sem dar uma resposta a ele.

— Esse vai ser o último aviso que eu vou te dar. Se eu ver você se envolvendo nesse caso, eu vou levar Trey embora, já que ele tem te trazido segurança o suficiente para você fazer essas "aventuras". — Encara de volta com uma expressão séria, seu olho acinzentado cintilando levemente com o brilho da lua. — Envolvendo ou não Trey, isso ainda terá consequências para ele, e para nós. E você sabe o que acontece se nós formos descobertos mantendo esse segredo por tanto tempo, não é?

Execução...

O garoto engole em seco, tentando manter uma postura indiferente. O homem fica quieto por um tempo até Miguel perceber seu pai com o olho focado em um lugar específico: a jaqueta.

— Eu pensei que você não fosse se importar, parecia tá lá há séculos, mas ela tá intacta ainda. — Se explica, dando de volta às pressas a roupa.

— Não, pode ficar, já não me serve mais. — Responde, tirando rápido o olho da vestimenta, como se fosse doloroso demais olhá-la.

Miguel franze o cenho. — Pai, você tá bem? — Vocaliza, sem querer, uma preocupação, apesar da sua raiva.

Alex para, se mantendo de costas para o outro. — Estou, Miguel. Só estou cansado.

Ele volta a caminhar em direção à casa. O garoto continua a encarar com suspeitas, mas prefere se manter em silêncio.

🌕🌗🌑🌓🌕

Miguel não conseguia dormir.

Ele não era o tipo de pessoa que pensa demais ou fica se remoendo por algo, mas as palavras de seu pai ficaram cravadas nele.

Mesmo que tivesse "conquistado" algo mais concreto dessa vez, é sempre o mesmo no final.

Se vira na direção da janela, abrindo os olhos azulados. O molde branco de sua janela, frisando o céu estático, captura sua atenção, tirando sua mente de seus pensamentos por míseros segundos. Até que a lua saísse por de trás das nuvens, com os restos de uma cratera e um olho cravado em sua superfície, o forçando a focar sua visão em outro local.

O que ele tinha feito para seu pai ser tão contrário a ideia dele ser um Combatente? Talvez ele tivesse cometido algum erro fatal ou não tivesse cabeça para isso.

Ou talvez o problema não estava nele.

Eu deveria desistir disso?

O questionamento ronda pela sua mente, não pela primeira vez.

Fecha seus olhos com força para amenizar a dor de cabeça, ainda desejando que caísse no sono por meio de um milagre. O que não acontece.

Respira fundo e se vira novamente em direção à porta, se deparando com um par de olhos vermelhos o encarando.

Se as mãos da figura não tivessem tampado a sua boca, teria dado, sem dúvidas, um grito do qual se arrependeria.

Quando seus olhos se ajustam à escuridão, percebe que a figura é apenas Trey. O menor se afasta aos poucos, ficando a uma distância razoável dele, continuando a encará-lo com um leve sorriso, mas agora com os olhos castanhos.

— O que você quer? — O maior sussurra.

Ele dá de ombros. — Ouvi que você ainda estava acordado e fiquei curioso.

Miguel levanta uma sobrancelha, ainda que Trey seja bem curioso sobre "tudo", ele nunca deixaria que isso interrompesse o sono dele.

— Claro, claro. Eu só tava curtindo... A vista da lua. — Aponta com o indicador para ela.

— Eu pensei que toda a sociedade científica já tinha deixado claro que você poderia morrer olhando para ela, mas tudo bem. Você tem gostos estranhos. — O outro responde, despreocupado, se sentando ao seu lado. Miguel revira os olhos em resposta.

Trey se mantém em silêncio por um tempo até voltar a falar novamente. — Você parece não ter gostado do que ele falou no carro...

Ele não precisa saber de tudo...

— Mesma história de sempre, muito perigoso e eu sou imaturo para isso.

— Hm. — Trey olha para o chão, encarando sua sombra formada pela lua. — Só?

— É. — Cruza os braços, desviando a atenção para o chão também. — E eu acho melhor a gente dar um tempo nisso de vez. — Encara de novo Trey.

— No quê?

— Nessas "aventuras", tudo sempre sai do plano e você dessa vez saiu bem machucado. — Fala com certa decepção de si.

— O quê? Mas eu tô bem! Você sabe que isso não é nada pra mim!

— Trey, é sério. Tá na hora de dar um tempo nisso e começar a focar em outras coisas.

A gente já estava há tanto tempo sem fazer essas aventuras, isso nem seria um problema se eu não tivesse dado corda para a situação de hoje.

Mas ainda assim...

Ele se levanta e puxa Trey com ele.

— Espera aí, você desistiu?! E toda aquela história de mais cedo? — Trey questiona desacreditado.

— Eu vou dar um tempo, só isso.

— E a Academia?

Para, pensativo, vendo de canto de olho as pilhas de livros de estudo no seu armário, todo o investimento para o sonho da sua vida.

— A aposta continua valendo.

Trey apenas bufa, irritado com a resposta.

— Acho que já tá na hora de você voltar pro seu quarto. — Abre a porta e empurra o menor para fora. — Boa noite!

A porta é fechada na cara de Trey.

— Boa noite...

.
.
.
.

-NOTAS-

O que achou desse capítulo?
Fique à vontade para comentar!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro