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Capítulo 10 | [Respire fundo]-parte 1

🔷 25 de janeiro de 2149
  🔹 Terça-feira | 23:30

O que é um energizador portátil?!

Ele espreme os olhos para ver se tinha lido certo.

Onde que eu acho isso?

Quando Lara disse que Jack passaria as peças que ele precisaria para montar as armas, ele não pensou que o garoto passaria os nomes técnicos.

Miguel deve saber de cor isso, mas ele não vai sair do meu pé até eu contar porque eu quero saber disso.

Sua mãe seria uma opção pior ainda e o seu pai...

Não. Eu não vou falar com ele.

Espera, aquele livro da arma que eu tinha visto no sábado!

Sai do seu quarto, se deparando com o corredor vazio, clareado apenas pela luz da lua que vinha da porta aberta de Miguel, algo fora do comum.

Uma movimentação no quarto à esquerda o faz parar próximo à porta do outro.

Seu pai.

Ele tinha esquecido por completo que o homem estava, milagrosamente, em seu escritório, e não pela cidade.
A situação ficava cada vez mais perigosa, se desse um deslize, Miguel também iria ficar encrencado.

Tá, tirar foto e sair do quarto o mais rápido possível.

Ele entra no quarto, encontrando Miguel em um sono profundo, seus lençóis todos jogados e a forma como ele estava deitado era tão antinatural que parecia um metamorfo. A sua única vantagem é que, mesmo que começasse a acontecer um ataque do lado de casa, Miguel não acordaria se ele estivesse nesse nível de cansaço.

Ele vai direto para a cama e pega a mochila.

Para sua sorte, ele pega de primeira o livro certo e vai direto para a página das partes internas.

Em poucos segundos, ele consegue tirar todas as fotos, esperando que ele conseguisse enxergar depois na tela do seu minúsculo Aikno.

Isso! Agora é só sair daqui e-

A porta no corredor se abre de maneira quase imperceptível.

AH, NÃO.

Ele chuta a mochila de Miguel e joga seu celular no bolso. Sem pensar direito, ele pega uma caneta da escrivaninha e se vira para a porta.

Lá estava ele, passando pela porta, parecendo nem ter notado sua presença ali, mas, por algum motivo, ele para e vira a cabeça, sua expressão indo de confusa para séria.

O olho acinzentado dele, cravado na sua figura, o faz quase ter calafrios, mas ele se esforça para mostrar a caneta em sua mão sem tremer.

Seu pai relaxa.

Trey dá passos relutantes para sair do quarto, sentindo cada movimento seu ser monitorado pelo humano. Alex continua o encarando de forma inexpressiva, e antes que Trey pudesse começar a comemorar a falta de comentários dele, o homem o segura pelo ombro.

— Me encontra amanhã no porão, depois da aula, precisamos conversar sobre algo.

Ele fica sem reação.

Não, não, não... Ele não va-

O homem aumenta o seu tom. — Ouviu?

— S-sim. — Ele sussurra.

Alex parece analisar a sua expressão por mais alguns segundos e solta ele.

— Vai dormir, já tá tarde para — ele olha para a caneta na mão dele — fazer o que quer que você esteja fazendo.

Trey assente com a cabeça e corre para o quarto.

Passos se distanciam e ele fica sozinho. Ele espera mais alguns segundos em silêncio, paranoico, que o homem poderia estar ali parado em sua porta.

Nada muda, além do som vindo agora do andar debaixo.

Ele pega o celular e vai direto nas imagens.

O que eu vou fazer agora?

O questionamento ecoa pela sua mente, com a esperança de que a tal conversa não fosse o que ele estava temendo nos últimos dias.

As imagens do livro eram legíveis, e ele poderia pegar tudo para os humanos. Pega o papel dobrado com a lista, entendendo agora o que era cada item.

Ainda que ele quase não esboçasse grandes sentimentos sobre a conversa de amanhã, não podia deixar de sentir certa... Apreensão. Seu pai vinha raramente com notícias boas e essa não parecia ser uma delas.

O cansaço chega e ele se deita, seus olhos pretos na escuridão do quarto ficam focados no teto branco, com pensamentos de que seria mais uma conversa sobre ele ter cuidado com Miguel ou ser mais pontual com os medicamentos para evitar deslizes.

Seus olhos se selam, eventualmente.

🌑

Sua visão é recebida por pura escuridão, não escuridão exatamente, mas sim vazio.

Essa era a única forma de definir o que ele via, não havia nada onde estava, seu lençol, sua cama, seus móveis. Nada.

Tudo tinha sumido da existência.

Se levanta, vendo que ele parecia a única coisa real naquele espaço.

Tudo era estranho, o local trazia uma certa familiaridade, nostalgia, mas ainda assim puro desespero.

Ele queria sair dali.

Então, começa a andar no nada, perdendo o que pareciam segundos, minutos, horas e dias com essa caminhada. Seguindo uma linha reta que não o levava a lugar nenhum.

Porém, algo estranho ocorre, uma corrente de ar passa por ele, um vento suave e refrescante de verão.

O que ele poderia ter chamado de "cenário", muda completamente para uma floresta viva e repleta de cores. Vozes podiam ser ouvidas de trás de algumas árvores à sua frente, risadas calorosas e cheias de emoção.

Antes, aquele ambiente indiferente e gélido se torna algo único, algo que ele precisava de mais.

Começa a andar em direção às vozes, se apoiando em uma árvore e percebendo rachaduras na casca, que criavam duas florezinhas diferentes dentro de algo que parecia um coração.

As outras árvores continham desenhos simples no mesmo estilo, algumas com objetos, símbolos, iniciais ou números.

Outra risada podia ser ouvida, uma gargalhada, tão calorosa e reconfortante que trazia uma agonia em seu ser.

Ele precisava ir até lá.

Mas, em meio ao seu desespero, tropeça em alguma coisa. Seus olhos se dirigem ao item sólido em seu pé.

Ele pega a pedra com relutância, ao mesmo tempo que era uma pedra padrão, ela era fascinante aos seus olhos. Com cores acinzentadas e amarronzadas, uma camada de musgo que a cobria e marcas claras deixadas por anos de chuvas.

Ele ri, uma risada antiga e infantil, que não o pertencia mais. — Miguel vai adorar isso!

🌑

Trey abre os olhos.

Ele se levanta em um pulo, olhando ao seu redor. Tudo estava em seu devido lugar, sendo iluminado levemente pelo sol que entrava pela janela.

Isso foi um sonho?

Sentia-se estranho, aquela experiência era anormal, não deveria ter acontecido. Mas, ao mesmo tempo que ele pensava isso, mais ele queria saber o resto do sonho.

Tudo era tão diferente, era como se fosse e não fosse ele naquela hora. Ele se senta na cama.

O que era aquele lugar? E quando foi iss-

Espera, a pedra.

Um raio de sol toca suas lembranças, clareando algo que estava há muito tempo escondido, preso na neblina.

A imagem de uma tarde ensolarada vem em sua mente.

Eu me lembro! Foi quando eu tinha nove anos, a gente tinha ido fazer um piquenique na Área das Árvores em um final de semana e, enquanto eu explorava sozinho, eu achei essa pedra!

Um enorme sorriso abre em seu rosto.

Como eu lembro de algo?!

Seus olhos eufóricos param no banheiro e percebem o que tinha acontecido.

Os medicamentos...

Sua expressão se fecha, com uma faísca do ânimo anterior ainda perambulando.

— A princesa já acordou?

Trey olha para a porta, vendo Miguel com uma cara de acabado.

Abre um sorriso falso. — É toda sua. — Ele se coloca de maneira formal, indicando a cama com um braço.

Miguel bufa, revirando os olhos.

— Eu tenho que começar a botar um prazo padrão, você não consegue fazer nada sem passar dos limites!

— Você já foi melhor nisso, Miguel. Reclamando no primeiro dia? Isso não é muito a sua car-

Um travesseiro voa até o seu rosto.

— EI! — Ele joga de volta, mas para seu azar, Miguel pega e coloca na cama, rindo da cara dele.

— Você sabe que já são 06:20, né?

Trey pisca. — Aham, eu me arrumo rápido. — Corre para pegar as roupas.

Seu uniforme era a roupa mais padrão possível: uma blusa branca com detalhes azulados nas mangas e no colarinho, com o símbolo da escola no peito. De resto, ele complementava com uma calça jeans qualquer e o seu tênis vermelho de sempre.

Miguel estava quase do mesmo jeito, com a diferença de ter sua jaqueta azul-claro, para tampar suas proteções no braço, e um tênis branco nos pés.

— Sei, vou te esperar lá embaixo.

O menor se vira para ele, vendo o outro indo embora.

— Miguel.

Ele para, com uma expressão estranha no rosto. — Hm?

— Você já teve um sonho em que não tinha nada ao seu redor?

Miguel se vira pensativo. — Não? Eu já tive um em que eu estava caindo de um lugar alto, mas nada desse tipo.

— Entendo.

Os dois ficam se encarando e Trey espera a famosa pergunta.

— Por quê?

— Curiosidade. — Trey dá de ombros, terminando de colocar o seu uniforme e pegando a sua mochila. Miguel faz uma careta, preparado para continuar o assunto.

— Ah! Outra coisa! — Trey corre até o maior e o puxa pelo braço até um local específico da parede.

Não acredito nisso!

Trey arregala os olhos quando vê que Miguel estava 3 cm maior comparado à medição da parede.

— Seu! Você não me disse que tinha crescido! — Aponta de forma acusatória.

— Eu nem tinha percebido. — Miguel mente, deixando um pequeno sorriso escapar.

— Aham, até porque não é você que é obrigado a ficar 10 cm menor que um idiota aí.

— Idiota? — Miguel começa a sair do quarto. — Ninguém mandou você perder a aposta, né?

Trey segue ele indignado. — Você trapaceou! E ainda colocou um prazo estupidamente grande! E depois sou eu que não tenho limites!

— É isso que você escreveu no seu caderno de memórias?! — Fala surpreso. — Acho que você deveria confiar menos no que você escreve!

Trey continua reclamando com Miguel, dando todos os argumentos possíveis — que eram sempre refutados.

Eventualmente, as discussões terminam quando eles chegam para o café da manhã. Ainda que ele estivesse enfurecido com Miguel em silêncio, o fato de ele ter sonhado perambulava pela sua mente.

Não só sonhou, como lembrou de algo.

— Isso é novo. — Sua mãe fala. — Trey terminando por último. — Ela sussurra para Miguel.

— É...

Trey se vira para os dois. — Eu consigo ouvir vocês.

Ambos riem. — Essa é a ideia. — Miguel fala, dando uns tapinhas no ombro dele. — Vamos logo, se não a gente vai se atrasar!

🌑🌓🌕🌗🌑

Eles, de fato, se atrasaram. Culpe Miguel e sua capacidade de prolongar um assunto simples por "duas horas" ajudando uma senhora na rua.

Trey corria pelo corredor, feliz pela ausência de qualquer fiscal na área. Abre a porta da sua sala e algumas pessoas olham para ele de imediato, com olhares curiosos.

Seus passos até a sua cadeira no fundão são silenciosos para não atrair a atenção do-

— Oliver?

Seu corpo paralisa. — Sim? — Encara o professor com um sorriso sem dentes.

— Aconteceu alguma coisa? — Louis fala com dureza, seu sotaque melódico ficando um pouco mais acentuado.

— Ah, não! Miguel só teve que resolver umas coisas e eu fui acompanhar ele, acabamos que nos atrasamos... — Ele ri, sem graça.

Sua expressão continua fria. — Entendo, mas seja mais prevenido da próxima vez. As provas já estão chegando e essa matéria é muito importante.

Ele assente e vai até sua cadeira, relaxando depois da corrida até a sala.

Com seu caderno em mãos, ele vai direto para a matéria de história. Aparentemente, hoje era a sua "favorita": guerras.

O professor continua explicando e aos poucos Trey vai entrando no clima da aula, ou seja, ficando com sono.

— Você conseguiu pegar os materiais? — Uma voz sussurra quase em seu ouvido.

Trey dá um salto tão grande que o lápis em sua mão se parte ao meio, fragmentos caindo sobre a mesa. Ele gira na cadeira, olhando incrédulo para quem estava tão perto. — O quê você... O que você tá fazendo aqui?!

Lara o encara com uma expressão de desdém, cruzando os braços. — Na sala de aula, estudando como todo mundo?

Ele passa a mão pela testa, tentando se recompor. — Ah! Eu esqueci que você também estuda aqui. Você sempre esteve nessa sala?

— Nem sempre, eu passei para essa sala há um ano e pouco. Mas sentado isolado aqui atrás, deixa bem difícil perceber outros alunos.

Trey solta um suspiro e se encosta na cadeira, inclinando a cabeça para o lado. — Essa é a ideia.

Lara estreita os olhos para ele, inclinando levemente o corpo para a frente como se tentasse decifrar suas palavras. — Entendo...

Ele desvia o olhar para o professor, que escrevia alguns textos no quadro. — Eu ainda não peguei as peças, mas acho que deve ter tudo da lista por lá. — Trey cochicha.

— Ah, ótimo, então. Jack disse que achou algumas velharias que pudessem servir para montar outra por enquanto. — Lara responde, puxando o próprio caderno e anotando algo do quadro.

Trey se inclina levemente para mais perto, mas mantém a distância de um metro, claramente ciente da relutância dela em contatos próximos. Ele abaixa ainda mais a voz. — E... — hesita, verificando se ninguém os escuta. — As "crianças"?

— Ainda sem pista nenhuma da tal pessoa.

Ele tamborila os dedos no canto da mesa, o olhar distante. — Eles têm certeza que é uma pessoa mesmo? Não poderia ser, sei lá, um deles?

Ela bufa, folheando o caderno com desdém. — Um deles, em uma cidadela? Não faz sentido.

Trey arqueia uma sobrancelha, fingindo estar ofendido. — E eu?

Lara pausa, o encarando como se estivesse decidindo a melhor forma de responder. — Você é... Um caso à parte.

Ele ri baixo. — Sou?

A jovem solta o ar com um misto de frustração e relutância. — A meu ver, você não está aqui porque quis.

O tom dela deixa Trey em silêncio por um momento, as palavras carregando algo mais profundo. 

— O quê você...

— Lara e Oliver! — Os dois olham para o professor na mesma hora. — Espero que estejam discutindo sobre a aula. — Por mais que Lara que tenha chamado ele para a conversa, Trey que recebe o olhar de desaprovação.

Eles se entreolham com um nervosismo aparente, o resto da sala cochichando sobre eles não ajudava.

O tom do professor muda por completo, ficando mais suave. — Lara, poderia me dizer — o homem dá alguns passos para indicar um item no quadro — quais foram os principais países que sobreviveram e conseguiram revidar contra os metamorfos até os tempos atuais?

Lara para por alguns segundos, olhando para algumas informações soltas de algumas das guerras desde a aparição dos metamorfos.

— Brasil, Estados Unidos, China, Rússia, Japão, África do Sul e Índia...?

— Isso foi uma pergunta?

Ela ajeita a sua postura para ficar mais confiante. — Não.

O professor sorri. — Muito bem, chérie. Como vocês ouviram, esses foram os únicos que restaram. — O tom dele se torna mais melancólico. — E com os ataques de metamorfos se fortalecendo, infelizmente, acabamos perdendo o domínio do território da Alemanha e da França nos últimos anos. Assim, aumentando exponencialmente o número de refugiados para o Brasil e África do Sul.

— Mas ainda que a situação possa não estar boa, isso não tira a grande vitória que a humanidade conquistou. — Olha para Trey, seu tom duro retornando. — Oliver Johnson, qual foi a primeira viagem à lua que resultou em sucesso e em que data aconteceu?

Trey quase derrete de tanto alívio, algo que ele sabia de cor.

— Viagem Nascente, na data de 01/01/2137 até 14/10/2139.

No mesmo instante, alguns alunos riem e outros o encaram com estranheza.

— De onde você tirou essa última data? — Uma garota de cabelo curto pergunta, confusa.

— Foi em janeiro de 2140! — Um aluno loiro fala com autoridade, e muitos outros acompanham com a mesma data.

O professor parece intrigado com a resposta. — Os outros estão certos, a data em que foi anunciada o sucesso da missão foi em 30/01/2140.

2140?!

Trey se recolhe em sua cadeira, com os braços cruzados. — Entendo...

Será que confundi a data? Eu tinha certeza que era essa...

Ele observa Lara, vendo a menina presa em seus próprios pensamentos, não focando nem um pingo na aula que continuava. Trey pensa em puxar assunto, mas não queria correr o risco de ser pego de novo.

Olha novamente para seu caderno de história e começa a voltar as páginas bem para o início. Parando no capítulo das viagens lunares. Passa os olhos por todas as viagens fracassadas até chegar à Viagem Nascente. Encontra algumas informações específicas, com a sua letra cursiva que usava em público, sobre a natureza da missão, alguns dos tripulantes de destaque e a data:

"A viagem teve o objetivo de
diminuir a incidência de ataques de estilhaços de lua à Terra. Foi um sucesso.

Tripulantes importantes:

-J.R. / 31
-Lex Hunter / 22
-Max Owen / 4 (sobrevivente)
-Yuki / 23
-Iva / 50 (sobrevivente)
-Chen / 12
-Nova / 25
-A.H. / 49

Data da viagem: 01/01/2137 até 14/10/2139."

Ele franze o cenho e pega o cotoco de lápis para riscar a sua data, mas desiste e apenas coloca a data nova ao lado, com uma pequena interrogação acima.

🌑🌓🌕🌗🌑

Eventualmente, ele estava livre daquela aula, ansioso pelo seu café da manhã. Ele estava indo direto para seu canto de sempre, um pequeno espaço escuro no canto mais isolado e sem supervisão do pátio, mas alguém interrompeu a sua caminhada.

— Oliver!

É sério?! Quem tá me chamando na hora da minha comida?

Ele se vira e sua expressão irritada se suaviza. Era Lara e Jack.

— Onde você vai comer? — Ela pergunta, com Jack logo atrás dela.

— Para lá. — Aponta.

Lara fecha os olhos, parecendo forçar as palavras presas na sua garganta. — A gente pode ir com você? Só por hoje? Por causa dos... Você sabe.

— Ah, claro. — Trey os guia através do pátio sem problemas, sempre observando se alguém estaria de olho nele-

FLASH

Trey para no caminho e sussurra. — Vocês ouviram isso?

— Isso o quê?! — Jack sussurra desesperado.

O metamorfo observa de novo os seus arredores, devia ter uns quinze ou vinte e cinco alunos nesse pátio, mas nenhum deles parecia estar fazendo algo estranho.

— Eu não ouvi nada. — Lara fala, procurando por algo também.

— Deixa pra lá, acho que não deve ser nada.

Lara se aproxima dele para cochichar. — Tem certeza?

— Não, mas vamos deixar o que quer que seja pensar que a gente não percebeu.

Ela assente e eles continuam caminho.

Todos se sentam em círculo no chão branco e empoeirado. Era perceptível que Trey estava transbordando de alegria com a sua comida.

Lara, enquanto isso, observava seus arredores procurando por câmeras e qualquer outra coisa estranha. Já Jack não tirava os olhos da marmita de Trey, ansioso para ver o que tinha ali dentro.

O menor fica boquiaberto quando vê que tudo que tinha ali era carne mal passada e ovo.

— Que foi? — Lara questiona baixo.

— Eu pensei que ia ter um pássaro ou pedaços de cachorro ali, mas é... normal. — Ele sussurra.

Trey se engasga. — O quê?! P-por quê você achou isso? — Pergunta indignado.

Jack começa, como se fosse óbvio: — V-você é um carniçal, e-então eu achei que... — Se cala aos poucos, parecendo pensativo. — Eu não devia ter dito isso em voz alta... — Sussurra para si, olhando brevemente para Lara, como se estivesse pedindo socorro.

Trey fica apenas encarando ele, inexpressivo, com olhos muito mais arregalados do que seria considerado normal, sem piscar, sem se mexer.

Por quê? Por que ele disse isso?

Jack encara o chão, os ombros tensos e as mãos tremendo ligeiramente ao lado do corpo. Sua voz sai baixa e trêmula. — E-e-eu vou ao ba-anheiro.

Antes que alguém possa responder, ele se vira abruptamente e sai quase correndo, deixando Trey acompanhando seus movimentos com o olhar até ele desaparecer pelo corredor.

Lara limpa a garganta, atraindo sua atenção. Ela encara a marmita à sua frente, mexendo distraidamente na comida com o garfo. — Ele não falou por maldade... — começa, mas não ergue os olhos para ele.

Trey se mantém em silêncio.

— Ele só está... Tentando entender melhor você. — Lara suspira, colocando um pedaço de comida na boca como se isso pudesse encerrar o assunto. Após engolir, continua: — Não se preocupe, ele ficou do mesmo jeito com os filhotes.

Trey estreita os olhos, claramente não convencido. Sua expressão fechada só se intensifica quando percebe que Lara ainda evita encará-lo diretamente. Seus sentidos captam o som do coração dela, batendo mais rápido que o normal. Ele se inclina levemente para a frente, observando enquanto ela enrola a ponta da trança em volta dos dedos, num gesto quase nervoso.

Ela finalmente fala novamente. — Acho que você ficou de me fazer uma pergunta ontem. O que era? — Lara o encara dessa vez, mas há uma cautela em seus olhos.

O metamorfo pisca, surpreendido pelo desvio de assunto. Ele relaxa os ombros e se recosta no chão, como se deliberasse por um momento. — Sim... — diz, devagar. Ele a observa, medindo as palavras. — Por que você não me denunciou?

Lara franze o cenho, claramente não esperando por essa pergunta.

— Quero dizer... — Trey continua, cruzando os braços. — Você não tinha muitos motivos para acreditar em mim. Eu poderia estar enganando vocês.

— Bom, nós estávamos em uma situação um pouco sem saída, então pareceu certo dar um voto de confiança — Lara fala, mexendo na marmita sem realmente comer.

Trey lançou um olhar cético para sua própria comida, empurrando-a com o garfo como se estivesse avaliando se valia a pena continuar. 

Se odiando por saber que
aquilo não o satisfaria.

— Bastante arriscado — murmurou, sem esconder o desdém.

Lara deu de ombros, como se fosse óbvio. — Sim, mas não parecia que você queria machucar ninguém... E ter conhecido os filhotes me mostrou que existia a possibilidade de metamorfos que "não estavam só em busca de sangue". Foi um conjunto de coisas.

Ele riu baixo, enfiando mais uma garfada na boca. — Então eu sou um metamorfo bom? — perguntou de boca cheia, a frase ligeiramente distorcida pelo jeito desleixado de falar.

Ela levantou a sobrancelha e respondeu sem hesitar: — Eu nunca disse que você era. Existia apenas a possibilidade.

Trey inclinou-se levemente para frente, encarando-a com expectativa, como se desafiasse a resposta. — E o que você acha agora?

— Acho que... Okay.

Trey congelou no lugar, o garfo a meio caminho da boca. Ele piscou algumas vezes, surpreso com a resposta curta e direta, tão diferente do sarcasmo ou da cautela que ele esperava. Seu olhar fixou-se nos olhos dela, procurando por qualquer traço de brincadeira ou mentira.

Mas não encontrou nada disso.

Os olhos castanhos de Lara capturaram a luz que entrava em feixes suaves pelo ambiente, brilhando com uma intensidade dourada quase hipnotizante. 

Ela estava falando a verdade.

Não sabia o que dizer, apesar de ter opiniões muito contrárias.

— Mas completamente sem noção — Lara finalizou, o sorriso brincando nos lábios. — Por um momento, pensei que você ia matar a gente com aquele papo de "se eu quisesse, eu já teria te matado" — acrescentou, engrossando a voz para imitá-lo de forma exagerada.

Trey soltou um suspiro indignado, apontando o garfo na direção dela. — Vocês fazem parecer MUITO mais fácil do que é!

Lara inclinou-se ligeiramente para frente, abaixando o tom para um sussurro. — Você vive com humanos desde os sete anos. O que tem de tão difícil?

Ele respondeu com um suspiro dramático, largando o garfo na marmita com exagero. — Você não entenderia... — Ele parou de repente, estreitando os olhos para ela. — Espera aí, desde os sete? Como voc-

— Eu trabalho no hospital auxiliando a minha mãe — Lara cortou rapidamente, erguendo o queixo como quem desafia. — Organizando Principalmente as fichas das pessoas da cidade.

— Eu não sabia que vocês tinham o histórico todo.

— É, é um dos privilégios de ser da área da saúde hoje em dia.

Antes que Trey pudesse fazer outra pergunta, Jack reapareceu. O garoto caminhava com a cabeça baixa, o rosto pálido e os ombros caídos, como se tivesse esvaziado o estômago só de tanto vomitar. A mudança no clima foi instantânea. Trey manteve-se em silêncio, observando enquanto Lara, sem perder tempo, oferecia parte de sua marmita a ele.

— Não precisa, Lara — Jack murmurou, forçando um sorriso fraco. — Eu não tô com fome hoje.

— Para de se fazer de difícil, Jack. Você está sim! — Lara insistiu, empurrando a marmita na direção dele.

— Eu n-

O protesto foi interrompido pelo som alto e constrangedor do estômago de Jack. Ele congelou, encolhendo-se mais dentro do casaco enquanto seu rosto ficava vermelho.

Lara tentou, sem sucesso, conter o riso. — Toma — disse novamente, desta vez com um tom mais suave, quase maternal. — Sem discussões.

— Obrigado...

Trey, que até então continuava comendo em silêncio, ergueu o olhar quando Lara se virou para ele com uma expressão casual demais.

— Trey, você não vai comer mais? — perguntou, a voz doce, mas carregada de intenção. — O Jack está aceitando doações no momento.

Trey observava a interação com atenção, mas não conseguia compreender o que o motivava a oferecer sua comida. O cenário parecia estranho, quase desconfortável, como se estivesse fora de lugar. Ele olhou para os restos em sua marmita — apenas alguns pedaços sobrando. Infelizmente, sua fome desaparecera assim que Jack mencionou que poderia ter algum animal ali.

Antes de tomar qualquer atitude, ele discretamente garantiu que não havia deixado nenhum vestígio seu na comida. Não podia arriscar. Com uma leve concentração, eliminou qualquer célula que pudesse causar problemas.

— Você quer? — Trey ofereceu, segurando a marmita com um sorriso sardônico. — Não precisa se preocupar, não tem nenhum bicho cru aqui. — A frase veio acompanhada de um tom sarcástico.

Jack olhou para ele, depois para a comida, com a desconfiança estampada no rosto. Era quase cômico, como se a oferta fosse levá-lo à morte.

— Ele aceita! — Lara interrompeu rapidamente, tomando a vasilha das mãos de Trey com uma agilidade impressionante. — Muito obrigada!

— O quê?! Lara! — Jack tentou protestar.

— É tudo seu, fica à vontade! — Ela sorri.

— É tudo seu, Jack! Fique à vontade. — O sorriso de Lara era encantadoramente insistente, quase o obrigando a pegar a comida.

Jack encarou a marmita como se ela fosse uma bomba prestes a explodir. Trey podia jurar que o garoto parecia estar vivendo um pesadelo.

— Trey, você pode me acompanhar rapidinho? — Lara pergunta, mudando de assunto de forma ligeira.

Ele hesita, desconfiado, mas eventualmente assente com a cabeça.

Os dois não tinham ido longe o suficiente para que Jack perdesse totalmente o contato visual com eles, mas a distância era suficiente para garantir que ele não ouviria o que fosse dito. Trey encostou-se na parede, cruzando os braços, enquanto Lara parava à sua frente, ainda mexendo distraidamente na sua trança.

— O que foi? — Trey perguntou, a voz baixa e um pouco impaciente.

— A data... Onde que você a viu? — Lara perguntou de forma direta.

— Data?

— Sim, a da aula que você deu errado.

Ele deu de ombros. — Ah, eu não sei... Talvez eu tenha confundido com outra data.

Lara franze as sobrancelhas, apertando o olhar no chão como se estivesse tentando decifrar um quebra-cabeça.

— Isso era para ser uma piadinha por eu errar? Ou...

— Não, não! — Lara ergue as mãos defensivamente. — Eu só fiquei em dúvida mesmo.

— Hm, acho que Miguel poderia te ajudar. Ele sabe bastante sobre isso.

Lara imediatamente sente seu corpo tensionar. — Miguel? Espera! Você contou para ele o que aconteceu?

— Não.

— Mas ele não seria útil? Acho qu-

— Não. — Trey a interrompe com firmeza. — Ele não pode saber de nada disso.

Lara arregala os olhos por um momento, a surpresa evidente. — Por quê?

Trey olha para a parede em conflito, ele suspira em derrota. — Digamos que passei dos limites, e não estou em posição para trazer problemas para casa.

Houve um momento de silêncio enquanto ele desviava o olhar para a parede, o conflito estampado em seu rosto. Por fim, ele suspirou, derrotado.

— Digamos que passei dos limites, e não estou em posição de trazer problemas para casa.

Lara o encara com seriedade, a intensidade em seus olhos o fazia vacilar. — Não haverá uma "casa" se esse problema se tornar maior do que já está.

As palavras dela eram como um tapa na cara. Trey recua, claramente desconfortável.

— Então, por que você não fala para os seus pais ou para as autoridades? — Retruca, tentando recuperar algum controle da conversa.

— Eles não entenderiam... — Lara responde, seu tom mais baixo, mas com a convicção firme. — E eu não confio passar essa informação para ninguém de fora, muito menos agora sabendo que pode ser um infectado.

— Então é isso, esse segredo só vai ficar entre nós, não tem o que ser feito.

Lara fez uma careta, abrindo os braços como se aquilo fosse óbvio demais para ser verdade. — "É isso"? A gente se esconder deles e deixar os metamorfos fazerem o que quiserem?! — Sua voz subiu um pouco, denunciando o tom ansioso e frustrado.

Trey hesitou, as palavras engasgadas na garganta. — Tem outra opção? Você e o Jack são só humanos e eu... — Ele pausou, procurando como explicar. — E eu tenho que ficar escondido. Não tem o que ser feito.

O rosto de Lara endureceu, a raiva borbulhando abaixo da superfície antes de ela soltar um suspiro longo. Suas feições suavizaram, mas os lábios permaneceram apertados numa linha fina e amarga.

— E se tivesse outra opção para resolver essa situação? Você faria algo? — Pergunta, quase desafiadora.

Trey piscou, confuso, inclinando levemente a cabeça de maneira quase mecânica. — Eu não sei. Acho que não tem nada que eu possa fazer... — Sua voz diminui a ponto de ser quase inaudível. — É muito perigoso e só vai trazer problemas.

Lara o olha, surpresa, e quando ela abriu a boca para falar, o som agudo de uma sirene corta o ar.

— Lara! — Jack apareceu correndo, carregando as vasilhas de marmita de forma desajeitada. — Precisamos ir!

Ela troca mais um olhar com Trey, sua expressão carregada de desapontamento. Por fim, assentiu para Jack, indicando que estava pronta. Os três caminharam em silêncio até o pátio, cada um seguindo para suas respectivas filas, a tensão ainda pairando no ar como uma sombra impossível de ignorar.

Trey encara sua vasilha verde-fluorescente, de longe sua cor favorita, porém isso não era o que perturbava os seus pensamentos.

Lara. Ela, sim, deixava tudo confuso.

Encara de canto de olho ela na fila, calada e na dela. Aparentemente, ele não era o único com poucas amizades.

— Qual é a próxima aula mesmo? — Trey pergunta, tentando puxar assunto.

— Biologia.

— Biologia... Eu acho que fiquei de fazer alguma coisa.

Lara arregala os olhos com a realização de algo. — O trabalho.

— É! Isso mesmo! Eu já tinha esquecido.

Ela tampa a boca, claramente em desespero. — Ai, droga! Eu nem comecei a fazer. Se meu pai souber disso...

— Mas a entrega é na terça, ainda tem bastante tempo. — Comenta com tranquilidade.

Lara encara ele, indignada. — Ela deu um mês para a gente fazer, você acha que menos de uma semana vai ser o suficiente?!

— Tá, mas acho que não deve ser tão difícil assim. Eles não... Eles não passariam algo tão extenso, deve dar tempo. — Trey se agarra às suas míseras esperanças, enquanto Lara já tinha escondido o seu rosto em suas mãos em derrota.

— O único problema é achar alguém para fazer.

Ele olha para Lara, que já tinha se afundado na sua falta de esperança.

— E eu não acho que vai adiantar mais, o tema é muito extenso! Onde a gente vai conseguir achar tanta informação sobre metam-

Lara para no caminho e olha para Trey, que estava com um sorriso idiota no rosto esperando ela perceber. — A gente pode começar depois das aulas.

— Fechado.

🌑🌓🌕🌗🌑


O dia tinha sido melhor do que ele esperava, nesse ponto, a ausência de metamorfos ou guardas o perseguindo já era uma vitória.

Os dois tinham conseguido fazer um ótimo avanço no trabalho, pelo menos na parte dos Carniçais, o resto, sobre Larvais, eles tinham marcado no sábado para se encontrar na casa de Lara e coletar as informações dos filhotes.

Depois disso, a única coisa que ele queria fazer era comer um enorme pedaço de carne ensanguentada e se deitar em sua cama.

E, talvez, sonhar de novo.

FLASH

Para por míseros segundos e depois continua seu caminho normalmente.

Trey não fazia ideia do que poderia ser esse barulho, mas algo o dizia que tinha alguém o espionando. Essa situação era consideravelmente perigosa, mas, por enquanto, ele evitaria grandes reações.

Esperando o momento certo em que a tal pessoa fosse descuidada o suficiente para ele dar o bote.

Seu caminho continua silencioso, com uma ou outra pessoa passando por ele, comentando sobre a inauguração da Academia e dando panfletos, que tinham informações bem semelhantes às do blog.

Até ele esbarrar em alguém bem específico.

Todos os seus planos são interrompidos quando a senhora de vermelho, que ele tinha esbarrado, ser ninguém mais ninguém menos que Akemi.

Ela era uma senhora baixinha de origem asiática, quase idosa, que sempre andava com roupas vermelhas, que cobriam quase todo o corpo, deixando expostas apenas as suas pernas, que eram cobertas por uma meia calça preta.

Diversos trejeitos dela em seu modo de agir eram semelhantes ao de sua mãe, talvez um dos motivos pelos quais ele gostava tanto dela.

— Ah! Oliver, quanto tempo! — A mulher fala com um sorriso no rosto, entrelaçando suas mãos enluvadas nas dele.

Ela o cumprimenta com um abraço. — Como você está, querido? Você está tão crescidinho!

Retorna o abraço, sentindo os batimentos reconfortantes da senhora. — Estou bem. Faz um tempo que eu não te vejo por aqui também... — Ele sorri sem graça.

Akemi coloca uma mão no ombro dele. — Digo o mesmo. Aconteceu alguma coisa? — Seu tom doce deu uma pontada no seu coração com a "mentira" que ele iria contar.

Suas mãos se fecham com força na alça da mochila. — A escola tem passado bastante trabalho e eu tô... Muito ocupado tentando achar um... Trabalho.

— Oh, querido, por que você não disse antes? Estamos precisando de ajuda no hospital. A demanda aumentou drasticamente, e tivemos que abrir mais vagas para Aprendiz Especializado.

Ele para de respirar.

O quê?!

Não! A última coisa que eu quero é trabalhar em um hospital!

Se afasta do toque dela — Não precisa! Não quero dar trabalho para você.

— Trabalho? — Ela ri desacreditada. — Você é uma das pessoas que dá menos trabalho por aqui.

— Ha. Ha. Ha! — Sua risada sai forçada. — Ah! Olha só a hora. Eu preciso ir pra casa! Se não, você já sabe como minha mãe vai ficar. — Passa o indicador no pescoço, fazendo, sem querer, o movimento inverso.

— Entendo. — Sua expressão cai um pouco, enquanto ela assiste ele indo embora. — Mas saiba que se precisar de qualquer coisa, é só falar comigo! — Ela aumenta a sua voz, recebendo em resposta um "okay!".

🌑🌕

Akemi continua observando o garoto à distância, com os lábios e as sobrancelhas pressionadas.

Nos seus cinquenta anos trabalhando como psicóloga de elite, ajudando ativamente as famílias a se adaptarem à sua realidade, e um dos membros da coordenação de saúde da cidade, ela nunca viu um caso tão difícil quanto os Johnson.

À primeira vista, eles aparentavam ser uma família funcional, sem nenhum problema tão aparente.

Até os "episódios" crônicos do pai, nos primeiros anos na cidade. Nas pouquíssimas chances que ela teve de consultá-lo, ela conseguiu fazer o diagnóstico de TEPT, o que não é algo tão incomum para um combatente, se não fosse pelo fato de Alex ser tão fechado quanto aos acontecimentos sem motivo aparente.

Um problema como esse, sem dúvidas, afetaria toda a família. Alguns desses detalhes ela conseguia perceber: Alex enfiado sempre no seu trabalho, correndo mais riscos que necessário desde que foi liberado de ingressar novamente em um trabalho como esse; Érica focada apenas em suas pesquisas e na comunidade, ainda que presente na vida dos filhos; Miguel, mesmo que um jovem excepcional, tinha mais passagens na polícia do que deveria por tentativas de entrar em cenas de ataques, sem permissão; e Oliver, um menino excluído da comunidade, e, visivelmente, distante de seu pai.

O mais peculiar, durante as vezes que ela teve chance de consultar cada um nos últimos anos: todos contavam a mesma história, menos Oliver. Ele sempre mudava um fato ou outro, detalhes pequenos, que se tornaram cada vez maiores nos últimos dois anos.

Suspeitava que algum trauma pudesse estar causando esses lapsos de memória, mas não tinha nenhuma confirmação disso. Ainda assim, ela também nunca acionou os guardas para investigar, ela reconhece as faces do mal, e eles não se encaixavam nesse quadro. A vida em si já é muito difícil na sociedade atual e ela quer ajudar, não criar mais problemas.

Akemi caminha até o assento próximo às suas tão amadas flores. Alguns guardas a cumprimentam no caminho, e o mesmo vale para os cidadãos ao redor.

O calor da tarde era refrescado por uma leve ventania, que bagunçava alguns dos fios do coque de Akemi. Ajeitando a sua saia, ela se senta no banco de madeira.

Algumas das rosas chamam a sua atenção, sua beleza natural, dispersando qualquer preocupação em sua mente. Ela acaricia as pétalas vermelhas com um sorriso, notando pequenos buracos nas folhas.

Sua expressão se fecha e ela começa a procurar pelo causador daquilo em meio as folhas. A última coisa que ela gostaria de ver era as flores serem infestadas por-

Insetos.

Não, algo semelhante a um inseto.

Uma das criaturas, que parecia uma mosca, se vira para ela, uma sequência de cores pisca em seus olhos e ela voa dali com uma rapidez impressionante.

Ela traz sua mão até o seu peito rapidamente, sentindo seu coração palpitar. Sua gratidão era imensa por ela ter decidido usar luvas hoje.

Em um piscar de olhos, ela estava de pé a caminho do guarda mais próximo. Acena para o guarda, mantendo seu semblante calmo. — Luís, querido! — O homem no mesmo instante vai até ela.

— Senhora Akemi, aconteceu alguma coisa?

— Sim, é um problema de origem metamórfica, aconteceu em meio aquelas flores — ela aponta — , pode cuidar disso discretamente?

Ele assente. — Mas a senhora está bem? Ocorreu algum contato? — Seus olhos treinados revistam ela de cima a baixo.

— Não, foi apenas avistamento.

— Certo. — Ele pega seu comunicador, indo a caminho do arbusto, falando algo com os guardas próximos.

Ela suspira, sentindo um pouco da ansiedade se esvair. Seu celular em instantes estava em seu ouvido, esperando a outra pessoa atender.

— Ake? — Um homem da sua idade fala do outro lado da ligação.

— Graças a Deus, Cás! Onde você esteve?

— Trabalhando? Você sabe que eu não parei desde o início do segundo ataque. — Ele faz uma pausa. — Aconteceu alguma coisa?

Akemi respirou fundo, tentando recompor seus pensamentos. — Eu vi fragmentos aqui fora. Você está sabendo de algum outro relato semelhante?

Os guardas se reuniam ao redor do arbusto, discutindo em voz baixa enquanto outros afastavam civis da área.

— Sim... Acredito que você esteja sabendo do guarda infectado de algumas semanas atrás.

— Eu sei. Ouvi alguém da diretoria comentando sobre ele ter apagado filmagens importantes dos ataques, mas isso não importa agora! — Akemi retrucou, seu tom firme e carregado de urgência. — Há fragmentos dentro da cidade, Cássio. Muitas pessoas estão ficando doentes. Você precisa declarar quarentena.

Cássio suspirou mais uma vez, ainda mais exausto. — Não posso. São sinais muito pequenos para justificar uma decisão tão drástica. A única coisa que farei é aumentar a segurança para o nível quatro.

Enquanto ele falava, os guardas começaram a instalar um equipamento cilíndrico ao lado do arbusto. Akemi estreitou os olhos, observando o que pareciam ser tubos conectados a uma fonte de gás pressurizado.

— Mas e as pessoas? A inauguração da Academia não pode ser sexta-feira! Precisamos nos organizar melhor e-

— Ake, você sabe o quão exigentes são os organizadores do evento. As programações são fixas. Eu não posso mudar isso.

Um som agudo de liberação de pressão ecoou quando a fumaça amarelada começou a ser liberada pelas saídas do cilindro, envolvendo o arbusto.

— Você é o prefeito dessa cidade, é claro que pode!

Antes que ele pudesse responder, o arbusto entrou em combustão.

Os olhos negros de Akemi fixaram-se nas chamas amareladas que consumiam as flores. Pequenas criaturas, semelhantes a insetos, começaram a sair desesperadas do arbusto, movendo-se de forma frenética. Apesar do movimento rápido, ela conseguiu captar a textura translúcida de seus corpos e o brilho intermitente que emanava delas ao entrarem em contato com a luz das chamas.

— Eu sei o tamanho do problema que estamos lidando agora, mas precisamos focar em uma solução.

Ela pressiona os seus lábios vermelhos. — Sim. — Sua voz sai quase em um sussurro.

— Podemos nos encontrar na minha casa? Tenho algumas coisas aqui que irão chamar o seu interesse.

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-NOTAS-

As coisas podem estar um caos, mas a inauguração tem que acontecer 🙏

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