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Parte 6

— Não, Claus! — E se desvencilhou dele. — Você não tem esse direito! Me diz onde fica a saída agora!

— Eu sei que não tenho! Me desculpe! Mas não tive escolha. E não vou deixar você sair até conversarmos direito! — Falou e então passaram alguns segundos se encarando. — O que você sabe sobre os Redemptorists?!

Depois de ouvir aquela pergunta, Kathleen se rendeu à dor que estava sentindo e finalmente desistiu da postura firme, logo se arrastando pela parede até chegar ao chão e rangendo os dentes ao sentir seu ferimento queimar.

— Ok, Claus... — Apertou os olhos e prendeu um pouco a respiração. Aquela dor estava lhe matando! — Vamos conversar. — E os abriu, sentindo a visão embaçar um pouco. Talvez fossem os efeitos dos analgésicos deixando seu corpo.

— O que deu na sua cabeça, Kathleen? — Ele perguntou com a voz calma e abaixou-se à sua frente. — Por que não está me contando as coisas?! Por que não me conta o que descobriu?!

Ela suspirou e piscou os olhos. — Eu ia te contar, Claus. Ia mesmo. Mas aí você decidiu atirar em mim e me sequestrar!

— Mas que droga! Foi pra te proteger, Kathleen! Por que não entende isso?!

— Não, eu não entendo! — Respondeu, chateada. — É o meu trabalho e você não está me deixando fazer!

E ambos voltaram a se alterar.

— Você já poderia estar morta à uma hora dessas!

— Todos nós sabemos que corremos perigo aqui, Claus! Não é como se eu não fosse boa no que eu faço ou não soubesse me cuidar!

— Mas nós não somos suicidas, Kathleen! Você está agindo mais como uma suicida do que como uma detetive! — Ele passou a mão pela testa. — E sozinha... Você não vai longe!

Kathleen então respirou fundo e sentiu seus olhos se encherem de lágrimas.

— Eu não te entendo, Claus... Há alguns meses você me detestava! Mal queria falar comigo durante os casos, não me contava seu progresso e nem mesmo olhava para mim direito! Por que raios está se preocupando tanto?!

— Não importa agora! — Ele respondeu.

Tremendo, Kathleen levou as mãos ao rosto para limpar o suor. A dor da sua cirurgia também estava lhe acabando.

— Eu estou desesperada, Claus! Você não entende?! As mulheres estão em perigo lá fora, eu... Eu preciso... Preciso fazer algo! Não posso deixar as coisas assim, ela... Ela não... — Kathleen começou a gaguejar e soluçar, e já começava a se levantar do chão. — Preciso ir ao banheiro. — Falou.

Claus também levantou-se e a puxou pelo braço.

— Vem cá! — E finalmente a abraçou. Finalmente.

Com delicadeza e cuidado. E foi então que ele teve a certeza de que era isso que ele deveria fazer: protegê-la, cuidar dela; queria vê-la bem.

A início, Kathleen estranhou sua reação e ficou assustada, mas foi cedendo aos poucos e finalmente o abraçou de volta, mesmo sentindo suas costas padecerem.

— Confia em mim, Kathleen! — Claus falou com calma assim que aproximou a boca do seu ouvido.

É que tinha um instinto dentro dele que não a deixava sozinha. Algo que nem sabia o que era. Mas queria protegê-la, guardá-la em uma caixa dentro dele; uma caixa livre de qualquer ataque, queda ou dor. Queria deixá-la lá dentro como uma borboleta em seu casulo. E ele faria tudo, ele daria o mundo para vê-la bem. Pelo sorriso dela, pelo abraço, pela pele quentinha e pela vida no olhar. Ele guardava, ele queria levar.

— Eu sei que você está preocupada com elas. Mas se a gente morrer, não vai haver mais ninguém para salvá-las!

Novamente outro suspiro. Ele estava se preparando aos poucos para soltar tudo aquilo que havia dentro de si.

— Eu sei que fui muito grosso com você durante muito tempo! Me desculpe! — E fechou os olhos sobre o ombro dela. — Você sempre foi muito dedicada e isso me fazia lembrar da minha esposa, ela... Ela era assim e acabou... Eu não queria... Não queria que acontecesse novamente e... Com o tempo, eu... Acabei... Gostando de você.

E a essa revelação se seguiram mais uns segundos de remanso.

— Eu aceitei o trabalho com o Ricardo porque ele... Te ameaçou, Kathleen! E eu não podia deixar... Olha...

— Claus... — Ela chamou seu nome em voz baixa.

— Me desculpa por ter te deixado lá no hospital! Desculpa ter gritado com você! Mas não posso deixar você sair assim, Kat...

Ela respirou fundo.

— Olha, eu sinto muito por não ser quem você espera que eu seja, ou por não demonstrar nada! Sinto muito por estar agindo assim agora, mas... É que eu... — E voltou a soluçar. — Eu não posso ficar aqui, Claus! — E voltou a se afastar dele, tirando seus braços de si e levantando-se entre arfadas de dor.

— Eu preciso sair, preciso trabalhar, preciso fazer alguma coisa, eu não... Não pode, isso não... Isso não está certo! Ela não... Ela não poderia... Eu... Eu preciso resolver tudo isso! — Kathleen se confundia entre as próprias frases que dizia com as sobrancelhas franzidas, e por fim olhou para Claus com um olhar de "socorro".

— Não. — Claus se levantou. — Nós vamos resolver isso juntos, Kathleen! Essa missão é nossa!

— Claus, por favor...

— Não, Kathleen! Por favor, para! Você não pode me pedir isso! Eu não posso te perder!

— Não, não, não... Para! — Kathleen colocou ambas as mãos sobre os ouvidos. — Você não sabe nada sobre a minha vida, eu só... — E não parava de chorar. — Me tira daqui, Claus!

Então novamente ele caminhou até ela e segurou seu rosto com as mãos.

— Então me conta sobre a sua vida. Vamos conversar! Você não pode sair daqui com tudo isso guardado aí dentro! — Pediu com leveza, mas outra vez Kathleen se afastou dele e começou a repetir frases sem sentido, caminhando de um lado para o outro. E foi aí que Claus percebeu que seus braços estavam completamente sujos de sangue.

— Kathleen! — Ele se empertigou e rapidamente foi até ela, virando-a de costas.

Era isso.

A blusa preta que ela vestia não o permitiu observar antes, mas estava completamente encharcada de sangue. E ele se impressionara em como ela não havia sequer reclamado de dor.

— Eu... Eu nem deveria estar aqui! — Ela repetia.

— Kathleen, isso não está bom!

— Eu a matei... A matei... Eu não... Eu... É minha culpa. Eu sou a culpada!

— Espera! O quê?! — Claus finalmente se atentou ao que ela estava dizendo. — O que é sua culpa?! Quem você matou?!

— Se eu não tivesse saído... Eu não deveria ter saído! — Kathleen estava com o olhar distante, e quase não mexia mais o corpo, apesar de estar em pé. As lágrimas apenas caiam compulsivamente e ela não respondia a nenhuma pergunta de Claus.

— Do que você está falando, Kathleen?!

— Ela deveria estar viva... Eu... Eu não posso deixar... Isso não pode...

— Fala, Kathleen! — A pressionou. — Eu não estou entendendo!

Kathleen caminhou até a parede e a espalmou com suas mãos sujas de sangue, mantendo o olhar sem vida em algum lugar não identificável.

— Eu... Eu matei... — E suspirou profundamente. — A minha mãe.

— Sua mãe?! Como assim?! — Perguntou abismado, mas então ela foi deslizando devagar até o chão e deitou-se. — Não! Espera! Kathleen, ei!

A agente Milner estava deitada imóvel sobre o chão e havia deixado um rastro de sangue por onde se encostara. Claus estava preocupado com ela, mais ainda depois das últimas coisas que ouvira.

Ele ajoelhou-se ao seu lado e colocou a mão direita no seu rosto, balançando-o e tentando chamar sua atenção para si, mas apesar dela estar com os olhos abertos, não reagia a nada.

Claus respirou bem fundo.

— Ok, vamos lá! — E a pegou pelo colo, levantando-se e carregando-a nos braços. Ela estava pálida e gelada. Outra vez. — Vamos voltar! Você tem que descansar e comer alguma coisa, não é?!

— Ei! O que está havendo aqui?! — Mike chegou correndo assustado e fixou os olhos em Kathleen. — Ela deu tanto trabalho que a imobilizou de novo?! — Tentou brincar, mas Claus ficou em silêncio e apenas caminhava em direção à enfermaria. — Claus, eu estou ficando preocupado! O que houve?!

— Eu também não sei, Mike. — Claus suspirou. — Ela disse que matou a mãe.

— ELA O QUÊ?! — Mike gritou alarmado.

— E é bom que não toquemos nesse assunto até que tudo acabe! — Falou. — Abre aqui.

— O QUÊ?! — Gritou novamente e digitou o código para abrir a porta da enfermaria. — Vamos ficar aqui com uma assassina?!

— Ela não é uma assassina, Mike! — Claus respondeu com calma e a deitou gentilmente sobre a cama, colocando-a de bruços em seguida. Ela já havia fechado os olhos. — Nós não sabemos.

E enquanto Claus tentava acalmar o medo de Mike, pegava alguns equipamentos e media a temperatura e a pressão de Kathleen.

Ela estava fria e a pressão, muito baixa, com certeza tudo o que falou foi um delírio pela dor que voltara.

Claus pegou um litro de soro, colocou-lhe em uma intravenosa e lhe injetou também alguns miligramas de morfina e anti-inflamatório. Esperava que isso lhe ajudasse.

— Agora preciso dar sinal de vida para o Ricardo. — Disse. — Me espera no carro. Vamos aproveitar para comprar comida! — Então logo Mike deixou a sala.

Claus abriu os armários à procura de um cobertor e, assim que encontrara, tratou logo de cobri-la, pois também deveria estar com muito frio.

— Você vai ficar bem, Kat... — Falou, assim que tocou levemente seu rosto. — Vou garantir que isso aconteça. 

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