Parte 5
— Ela não vai poder sair de lá e vamos ficar sempre observando-a, garantindo que nada de mau aconteça! — Claus explicava seu plano enquanto corriam em direção a Pedersen Fue.
— E o Ricardo não vai poder encontrá-la. — Mike completou. — Brilhante, Claus!
— Sei que ela não vai gostar nada disso, mas é pra sua segurança. Precisa entender! — Claus falou, como se para diminuir o peso em sua própria consciência. Ele conhecia Kathleen o suficiente para saber que ela ficaria furiosa.
As horas que se passaram até que ambos chegassem ao destino para encontrar Kathleen foram utilizadas para fazerem todo o planejamento que precisariam — ou, pelo menos, o máximo que conseguissem.
Quando eles finalmente chegaram já eram quase 22 horas.
Claus mandou uma mensagem para ela pedindo que se encontrassem em um local para conversar, e que ele a esperaria lá. Para a sorte do plano deles, a pousada onde Kathleen estava era pouco movimentada e à beira de uma estrada de terra, ou seja, sem muitos movimentos de carros e também sem câmeras de segurança. Talvez Kathleen não era tão alheia assim ao que estava acontecendo, afinal, escolhera um lugar quase deserto para ficar, o que não lhe traria muitos riscos, apesar de não lhe isentar disso.
Quando a agente Milner dobrou à rua erma ainda com dificuldades consideráveis para andar, Claus atirou de longe, com uma arma, um dardo sedativo que atingiu em cheio seu pescoço. O sedativo era forte e bem concentrado, mas Kathleen ainda teve tempo de digitar uma mensagem com três letras para Claus, e logo seu celular vibrou.
SOS
O coração dele se partiu, mas não podia fazer nada; ficava repetindo a si mesmo o tempo inteiro que era para o bem dela.
Desse modo, logo correu em direção a ela e, com cuidado, ajuntou seu corpo do chão e a levou para o carro.
Mike dirigiu direto para uma antiga cápsula subterrânea da Organização, já desativada, mas ainda utilizável. Ele também garantiu que ela era irrastreável e que estariam seguros lá, pois ele ainda sabia os códigos de acesso e poderia alterá-los para que, mesmo que fossem encontrados, ninguém conseguisse abri-la.
Eles planejavam ficar lá tempo o suficiente para conseguir as informações que Kathleen certamente possuía e formular um plano melhor para passar para o restante dos agentes e finalmente dar a Robert, Ricardo e todos os outros criminosos a justiça que tanto mereciam.
Assim que chegaram ao local, em meio à várias árvores enormes, Mike pegou seu notebook, acessou um sistema, digitou alguns códigos e logo os cascalhos, folhas e galhos começaram a tremer e caíram sobre a enorme rampa de cimento que aparecera sob a terra, abaixo da forte placa de ferro que levantara.
Entraram com o carro e logo Mike mostrou a Claus um quarto para deixar Kathleen, que assim o fez: colocou a agente sobre o colchão que havia no chão e trancou a porta.
Claus não teve muito tempo para ficar observando-a e nem mesmo para trabalhar, afinal, já fazia mais de 24 horas que ele não dormia, e já não estava mais aguentando. Precisava descansar, era totalmente compreensível.
— Mike, acorda! Já são 7 da manhã! — Claus balançava o ombro de Mike continuadamente. Ambos haviam dormido em um dos quartos da cápsula, mas Claus acordara cedo para ver como Kathleen estava. — MIKE! Ela ainda não acordou! Será que eu...
— Oi, oi! O que foi?! — Mike abriu os olhos, assustado.
— Kathleen ainda não acordou! — falou preocupado e começou a andar pelo quarto. — Será que tem algo errado?! Ela já não devia ter acordado?!
— Ei, calma! — Mike levantou da cama e calçou os sapatos. — Você foi lá? Foi vê-la? Viu se ela está respirando? — E então começou a caminhar em direção ao quarto onde colocaram Kathleen.
— Fui. Já falei com ela, mexi e nada... — Respondeu em um tom nitidamente preocupado.
Mike destrancou a porta do quarto e marchou em direção à agente Milner, falando com ela e dando alguns tapinhas em seu rosto. Também apertou seu ombro e deu uns solavancos em seu corpo, mas nada adiantava.
Depois disso, apoiou o queixo na mão direita e ficou ajoelhado em frente a ela, parado e encarando-a. Ela realmente já deveria ter acordado. O que havia de errado ali?!
— Já faz quanto tempo que atiramos nela?! — Perguntou.
— Não sei, umas... — Claus consultou as horas em seu relógio. — Nove horas, aproximadamente! — Respondeu. Ele estava impaciente e aflito, preocupado, sem saber o que fazer.
— Dá licença, Mike... — Claus pediu depois de alguns segundos e então voltou a se aproximar dela, apertando seu punho. — O pulso está fraco... — E apertou a mandíbula. — O que acha que está havendo?! Será que a levamos ao hospital?!
— Melhor não. Talvez... — Mike pensou. — Talvez seja... Não sei... Há quanto tempo ela não come?! Desde antes do hospital?! Você sabe se ela comeu alguma coisa ontem à noite?! Pode ser isso: fraqueza, sei lá... — Sugeriu.
— É... — Claus concordou. — Você tem razão... Olha, vê se você arruma álcool pra ela aspirar e ver se acorda e depois a alimentamos. Eu fico aqui.
— Ok, chefe! — Mike respondeu em tom brincalhão, mesmo não sendo o momento. Mas afinal, agora sem Robert, Claus estava mesmo exercendo aquela função.
— Vai ficar tudo bem, Kat... — Claus falou em tom baixo olhando para a parceira assim que Mike se afastou. Toda aquela situação que passara o fizera descobrir sentimentos por ela que até então ele nunca havia notado antes.
Em menos de cinco minutos Mike já havia voltado com o álcool, então Claus abriu a garrafa e aproximou o líquido das narinas de Kathleen, deixando-o lá por alguns segundos. Mas nada. Ela nem se movia.
— Ai, meu Deus! — Exclamou.
Ainda com esperanças, molhou sua mão com ele e passou na sua nuca, molhando-a também. Porém, foi em vão. Kathleen não estava reagindo a nenhum estímulo.
— Mas o que... Como assim, eu... Ela não acorda, Mike! Vamos tirá-la daqui. Talvez precise de ar fresco!
— Calma, chefe! Vamos esperar mais um pouco...
— Calma?! Como pode me pedir calma?! Eu quase a vi morrer bem na minha frente e agora a vejo nesse estado! O que você quer que eu sinta, Mike?! — Claus alterou sua voz e sua respiração já estava ofegante. Ele estava mesmo entrando em desespero!
— Claus... Pode ser que ainda seja efeito dos medicamentos. Ela saiu muito cedo de lá, talvez nem tinham dado alta ainda, não sei... Só acho que você está se desesperando muito cedo. Vamos esperar! — Mike opinou.
E ainda falava mais algumas coisas quando Claus percebeu que Kathleen começara a se mover.
— Mike, olha... — Exclamou com os olhos arregalados, até que Kathleen abriu os olhos devagar e, de repente, começou a se agitar no colchão, olhando ao redor e arrastando-se para longe.
— Meu Deus, mas o que... Quem foi que...
— Ei, calma... — Claus a cortou com a voz doce e compassada o que, cá entre nós, era bem raro.
— Ai, minha nossa, Claus! Pegaram vocês também?!
— Calma, Kathleen... — Ele pedia, mas ela apenas se agitava ainda mais.
— Quem fez isso?! Aposto que foi o Robert! Precisamos sair daqui, Claus, vamos achar...
— Shiiiiu! — Claus chiou pedindo o seu silêncio, e percebera que a respiração dela ficava ofegante e ela franzia as sobrancelhas fazendo uma expressão de terror. — Fica calma, por favor...
— Não! Eu não posso ficar calma!
— Estamos seguros aqui! — Claus falou antes que ela continuasse com sua crise de pânico.
Kathleen balançou rapidamente a cabeça em negação. — Não, você não... Eles me pegaram, Claus, eles...
— Vá pegar uma água, Mike, por favor! — Claus virou rapidamente para Mike, logo voltando sua atenção para ela.
— Você não sabe! Claus, me escuta! Eu iria encontrar você como combinamos e eles... Eu não sei, eu apaguei, eu... — E continuava balançando a cabeça, completamente confusa. — Onde é que a gente está?! Que horas são?! Você está bem?! Fizeram algo com você?! Claus, vamos dar um jeito, ok?! Vamos sair daqui, nós... — Ela estava atônita, mas se calou assim que finalmente percebeu a presença de Mike, que acabara de chegar no quarto. — Mas o que... Mike?! O que está acontecendo?! Toda a nossa equipe está aqui?! Claus, como pegaram todo mundo?! E por que vocês estão tão calmos?! Nós temos que sair...
— Kathleen, cala a boca e fica calma! — Claus alterou sua voz. Era incrível a capacidade que ela tinha de deixá-lo estressado. — Nós estamos bem, ok?
— Não me manda calar a boca! Eu estou tentando ajudar, está bem?! E como você pode dizer que estamos bem?! Nós...
— Me escuta agora! Dá pra fazer isso?! — Ele a cortou outra vez.
— Nós fomos sequestrados! — Mas ela prosseguia. — Eles pegaram a gente, Claus! Como vamos sair daqui?!
— ME ESCUTA, DROGA! — Claus finalmente gritou (estava demorando mesmo) e, desse modo, Kathleen finalmente se assustou e fechou a boca. Claus respirou fundo para se acalmar e a agradeceu pela atenção, mesmo que tardia. — Fui eu quem te trouxe pra cá. Estamos em uma cápsula do Departamento! — Informou.
Kathleen franziu as sobrancelhas. — Você... O quê?! Como foi que vo... Eu não...
— Calma! Eu vou explicar...
— E-eu não estou entendendo! Não fui sequestrada, então?!
— Você estava correndo perigo. Está.
— Atiraram em mim, Claus... — Ela olhou para baixo e pôs a mão direita no pescoço, levantando o olhar para ele logo em seguida. — Você me salvou?! Eu não lembro, eu...
— Foi um falso sequestro... — Claus respondeu com o coração partido. Naquele momento ele sentiu pena dela. — E foi eu que atirei... — Disse, fazendo Kathleen arregalar os olhos em uma expressão incrédula. — Foi só um tranquilizante...
— Você... — Ela balançou a cabeça. — Não acredito. Está mentindo!
— Kathleen, o Ricardo fez uma proposta pra mim! Se eu não aceitasse, ele iria...
— Iria o quê?!
Claus revirou os olhos. — Ah, Kathleen, com certeza ele não iria ficar fazendo carinho em você!
Kathleen respirou fundo, percebendo a preocupação de Claus. Aquilo era mesmo verdade?! — Ninguém vai me matar, Claus. Agora vamos embora! Isso é uma loucura!
— Mas Kathleen, entenda... Nós forjamos esse sequestro exatamente para você não ficar desprotegida e o Ricardo não pensar que está conosco! — Claus tentava convencê-la, mas já deveria imaginar que seria mais difícil do que pensara.
— Eu não posso ficar aqui, tenho coisas pra fazer! — Respondeu na defensiva, como se precisasse disso. Como se toda a defensiva do seu parceiro já não fosse suficiente.
— Não! — Claus respondeu de supetão, depois olhou para cima e inspirou profundamente. — Você está louca, garota?!
— As mulheres estão sendo assassinadas a sangue frio lá fora, Claus! Eu posso impedir isso, mas não é escondida aqui que vou conseguir, eu... — Franziu as sobrancelhas. — Eu não posso, Claus... — E abaixou o tom de voz, quase como um pedido desesperado por compreensão.
E Claus também a compreendia. Mas a situação era muito maior do que aquilo, e não era pela Organização que ele queria manter Kathleen segura... Era por ele.
— Você vai acabar se matando, Kathleen... — Ele também falou em tom baixo. Também estava implorando a colaboração da parceira. — Eu... Eu não quero que seja a próxima!
— Mas eu posso me defender, Claus! Você sabe disso! Eu fui treinada pra isso!
— Ah, claro! — Ironizou. — Foi tão fácil te sequestrar, Kathleen! Quanto mais te matar! — E depois que disse isso, o silêncio reinou sobre o ambiente. Kathleen não sabia o que responder e, àquela altura, Mike já havia saído de lá há muito tempo! Queria dar privacidade a eles.
Kathleen apenas balançou a cabeça. — Não! — Respondeu, séria e determinada. — Você não manda em mim! — E levantou-se do chão, acompanhada por alguns gemidos de dor.
— Você não sabe do que esse cara é capaz! — Claus falou em tom alto enquanto ela ainda estava dentro do quarto.
— Vou trabalhar, Claus! — Foi o que disse sem nem mesmo olhar para ele.
— Olha...
— E você deveria fazer o mesmo! — O cortou.
— Kathleen, espera! — Ele correu até ela e segurou seu braço sem muita força. — Eu não posso deixar!
— Me solta! — Grunhiu. — Isso que você fez foi um absurdo! Eu não vou ficar aqui parada vendo o desastre acontecer lá fora! — Explicou-se. Ela estava nervosa e as gotas de suor já podiam ser vistas escorregando de sua testa.
— Eu não posso perder outra pessoa importante pra mim, Kathleen! — Claus quase gritou. Ele queria tanto que ela o entendesse... — Eu já presenciei o que ele fez com minha esp... Minha ex-es... Argh, você sabe!
— Claus, me escuta!
— Não! Não adianta, Kathleen! — Ele a cortou. — Você é importante pra mim, droga!
— Você nem me conhece, Claus... — Ela balançou a cabeça com lágrimas nos olhos. — Você não sabe quem eu sou. Não sabe nada de mim! Só trabalhamos juntos há alguns meses...
— Eu não vou permitir que faça isso, Kathleen! — Ele nem deixou que ela terminasse de falar. — Sinto muito!
Kathleen o encarou por uns momentos ainda, e passou o dedo para limpar o rastro de lágrimas que restava em seu rosto. — Eu também sinto muito, Claus... Mas não posso ficar! — E então deu as costas para Claus, começando a correr em busca da saída, mas quando fez isso sentiu suas costas pesarem e ela lembrou que mal tinha se recuperado da cirurgia.
Mas também não tinha tempo para isso.
Ignorou a dor e a agonia que estava sentindo e apenas continuou, parando apenas quando ouviu a voz de Claus ecoando pelo corredor com paredes de ferro.
— EU TE AMO! — Foi o que disse. E seu peito movia-se rapidamente para frente e para trás.
Kathleen parou de correr e virou o rosto em sua direção, encarando-o. Ela sentia sua pele esfriar-se — e não estou falando no sentindo figurado — e o suor gelado transpassava entre seus pequenos pelos loiros do braço. Teve a impressão de que as coisas giraram ao seu redor, mas como eu disse três parágrafos atrás: ela não tinha tempo para isso.
Retomou sua pose e voltou a caminhar rapidamente em busca da saída.
— Eu sinto muito, Claus... — Sussurrou para si mesma. — Sinto muito. — E mais uma lágrima caiu de seus olhos.
Claus caminhou até a sala de controle onde estava Mike, assistindo de camarote a todo aquele conflito através das câmeras.
— Ela não vai sair daqui, chefe... — Mike comentou em tom amigável ao ver a expressão dramática no rosto de Claus. — A entrada está travada.
Claus assentiu com a cabeça baixa e se aproximou das imagens na tela do computador. Kathleen acabara de aparecer em outro compartimento e os movimentos que sua boca fazia deixavam a entender que ela falava — ou gritava — algo consigo mesma, além de estar socando as paredes por onde passava.
— Eu vou lá. — Claus falou determinado e observou as coordenadas do lugar onde ela estava, logo em seguida correndo até lá.
Depois de quase se perder nos inúmeros corredores, Claus conseguiu avistar a parceira, que não parecia muito bem. Estava completamente molhada de suor, cansada e ofegante, mas é claro que não perdia a compostura.
— MAS ONDE FICA A PORCARIA DA SAÍDA DESSE LUGAR?! — Ela gritava, estressada.
— Eiiii! — Claus a chamou e correu em sua direção. — Andou treinando?! Está correndo muito, ein?! — Brincou e soltou um sorriso, que não foi retribuído. — Sinto muito. Eu já disse que não vou te deixar ir. — Falou assim que se colocou à sua frente.
— Depois que atirou em mim teve tempo para inventar novas piadinhas? — Kathleen cuspiu as palavras sobre ele, deixando-o sério imediatamente.
— Precisamos conversar!
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