Verdades Sombrias
Foto de Patrícia
Foto da Daniela
E a minha mágoa de hoje é tão intensa que eu penso que a Alegria é uma doença e a Tristeza é minha única saúde.
Augusto dos Anjos
Beatriz
Anos antes
--- Para onde você está me levando? --- Pergunto curiosa. A venda em meu olho impede que eu consiga enxergar o lugar.
--- Calma, estamos chegando meu amor! --- Ele diz alegre.
--- Estamos perto? --- Pergunto extremamente ansiosa.
--- Pode olhar agora --- Ele diz tirando a venda dos meus olhos.
Olho para o lugar e fico impressionada. Estamos em lagoa linda, com uma vista de tirar o fôlego. Vejo uma toalha com várias comidas em cima. Viro paro o homem atrás de mim e o vejo ajoelhado.
--- Beatriz, eu te amo tanto e quero viver o resto da minha vida ao seu lado --- Ele respira fundo antes de continuar --- Quer casar comigo? --- Ele fala nervoso. Seu olhar fixa no meu esperando por uma resposta. Fico perplexa pelo pedido inesperado de casamento.
--- Sim, é claro que sim --- Digo quase chorando de felicidade. Ele se levanta e coloca o anel com uma bela pedra de diamante em meu dedo. Nós nos abraçamos felizes e damos um beijo bem intenso cheio de paixão.
***
Atualmente
--- Oi, Lucas! --- Minha voz sai fria igual um iceberg. Olho gelada para ele e dou um sorriso --- Quanto tempo!
--- E.. eu n.. nã o... --- Ele gagueja ao tentar falar e eu rio.
--- Não esperava me ver aqui, né!? --- Falo fria --- Bem, para falar a verdade eu não queria voltar a olhar na sua cara, mas não podia perder a oportunidade de presenciar seu fracasso --- Rio má. Ele me olha assustada. Acho que Lucas nunca imaginou como eu posso ser fria. Vou entrando no pequeno apartamento dele, até menor do que o meu. Vejo um pequeno sofá que sento e depois foco meu olhar em Lucas que continua parado na porta.
--- Então veio aqui para rir de mim --- Ele diz mais calmo. Ele fecha a porta e se senta em outro sofá. Seu olhar fixa agora em mim também --- É eu mereço --- Ele suspira alto.
--- É tão prazeroso vê-lo sofrendo --- Digo maligna --- Mas não importa o quanto você sofra, nunca será o suficiente para pagar o que você me fez.
--- A única coisa que posso dizer é perdão --- Ele fala triste me olhando.
--- Não te perdoo --- Digo com dor --- Sabe, queria te olhar nos olhos e tentar entender porque você foi tão canalha --- Digo mais fria ainda.
--- Eu errei muito com você e sei disso, mas não duvide que eu te ame --- Ele fala parecendo machucado --- Vê-la tão machucada é destruidor. Você nunca foi essa mulher fria!
--- As pessoas mudam, querido! --- Digo indiferente --- E por favor, nunca volte a dizer que me ama.
--- Mas é a verdade, te amo muito --- Ele fala amoroso e sinto meu estômago revirando. Como ele tem coragem de dizer isso depois do que me fez? Ele foi tão incrivelmente baixo e ainda diz te amo como se nada tivesse acontecido.
--- Essas palavras saindo da sua boca só me causa repugnância --- Digo com raiva --- Quem ama nem trai e nem abandona a própria noiva no altar! --- O tom na minha voz demostra meu ódio.
--- As coisas não aconteceram da forma que você acredita --- Ele fala me olhando profundamente.
--- Não, então me explica, porque ficou bem nítido para todos como foram as coisas --- Digo sem paciência. Qual desculpa ele vai inventar? Porque nenhuma pode amenizar a dor que ele me causou.
--- Eu nunca te trair com sua melhor amiga como falam...
--- Pelo amor, não venha mentir a essa altura do campeonato --- Digo muito irritada --- VOCÊ ME ABANDONOU COM ELA --- Grito com muita raiva.
--- Nunca teve nenhuma traição --- Ele diz angustiado --- Eu estava sendo ameaçado --- Ele fala eu começo a rir de raiva.
--- Como você é nojento --- Jogos as palavras, irritada.
--- Por favor me escute --- Ele fala nervoso.
--- Não tenho nada para escutar --- Digo me levantando para ir embora. Está claro que não tem como conversar com ele sem eu querer pular no pescoço dele e estrangula-lo.
--- Escuta, Beatriz --- Ele segura meu braço impedindo que eu ande --- Um tempo antes do nosso casamento comecei a receber várias ameaças de morte e de outras coisas terríveis. Essas ameaças não se limitaram a mim. Bem, conforme foi piorando meu medo foi crescendo, cada vez as ameaças ficaram mais assustadoras. No dia do nosso casamento recebi a última, ele deixou bem claro que se eu me casasse, assim que eu saíssem da igreja seria morto --- Ele termina de falar puxando o fôlego.
--- Então por que a Verônica sumiu justamente com você? ---. Falo desacreditando em suas palavras --- Minha irmã, ela viu vocês saindo juntos da igreja, ela disse que você foi embora com ela --- Digo com raiva. Daniela, minha irmã, presenciou tudo que aconteceu naquele dia, ela me disse que ele tinha saído em um táxi com minha melhor amiga. Depois disso Lídia, irmã de Verônica, garantiu que eles tinham um caso que durava há muito tempo. Foi naquele momento que eu desabei na frente de todos.
--- Sim, eu sair da igreja com Verônica, mas não fugir com ela, passei esse tempo todo na Espanha sozinho. Nunca soube muito bem, mas Verônica sabia de alguma coisa muito grave, naquele dia ela estava extremante assustada. Ela viu eu entrando no táxi, perguntou o que eu estava fazendo e falei que estava fugindo por medo, então ela pediu para ir junto só até algum lugar mais seguro. Depois eu só peguei algumas coisas no apartamento e fui para o aeroporto --- Ele explica tudo. Mas ainda não consigo acreditar, não que seja impossível de ter acontecido, pois, depois de tantas coisas bizarras em minha vida isso não seria tão chocante.
--- Não confio em você --- Falo desconfiada e ainda com rancor.
--- Meu erro com você foi ter sido um covarde e ter ido embora sem ter dito nada. Sei que deixe você abonadona no altar, deixe que pensasse as piores coisas de mim. Fui baixo sim, admito! Mas não fiz tudo que dizem e que você acredita --- Ele diz triste --- Quando eu tive confiança para voltar, você já estava morando em outro lugar. Meu pai com raiva não deixou eu me explicar e eu deixo ele continuar acreditando na história dita.
--- E segundo você quem te ameaçou? --- Pergunto.
--- Só sei que era um homem, mas nunca soube quem era e nunca o vi. Acho que Verônica sabe quem é e por isso sumiu e não quer voltar --- Ele termina de fala nervoso.
--- Não, não consigo mesmo acreditar nessa história --- Falo cansada e querendo ir embora, mesmo que no fundo sinto a dúvida me perturba. Mas se for verdade, por que Luciano ia querer fazer isso? Sendo que tentar me afastar do meu noivo não poderia trazer nenhum benefício a ele. Fico vagando e esqueço do homem a minha frente.
--- Eu continuo te amando e não sou esse monstro todo --- Ele me fala olhando profundamente.
--- Que pena --- Digo ainda fria --- Porque eu seguir minha vida e encontrei alguém que eu goste --- Falo mentindo. Quero dizer, em parte é mentira, realmente eu seguir em frente e agora próxima a ele, não sinto aquele amor enorme de antigamente.
--- Beatriz, acredita em mim --- Ele fala desesperado. Sem hesitar eu vou até à porta e abro. Quando estou quase saindo me viro para ele que só me observa.
--- Até nunca mais, querido! --- Digo simplesmente indo embora. Não deixei seus gritos me abalarem, simplesmente sair do pequeno prédio e acabei me deparando com o motorista que achei que tivesse ido embora.
--- Não precisa me esperar --- Falo o olhando.
--- Sr. Florença pediu para que eu ficasse a sua disposição o dia todo --- Ele fala gentil.
--- Não precisa --- Digo.
--- São ordens, senhora --- Ele diz me olhando.
---- Tudo bem --- Falo sorrindo --- Obrigada! --- Eu falo e ele acena.
--- E para aonde vamos, senhora? --- Ele pergunta.
--- Primeiro, nada de senhora me chame pelo nome --- Digo gentilmente --- Pode me levar até o hotel Windsor Barra --- Falo sorrindo.
--- Ok, Beatriz --- Ele fala sorrindo.
Ele abre a porto do carro para eu entrar. Já dentro do veículo fico pensando em tantas coisas. Tenho vontade de chorar, mas me seguro. Passo o trajeto toda perdida em lembranças.
O carro para em frente do bonito hotel. Claro que não é nenhum Copacabana Palace, mas não tira sua beleza.
Entro no hotel indo fazer o meu check-in. Reservo um quarto e subo. Deixo minha mala em um canto qualquer do ambiente. Nem faço mais nada. Desço novamente para ir para a casa da minha mãe. Não quero esperar mais para vê-la, para encarar e fazer as inúmeras perguntas que eu tenho.
Desço e entro no carro novamente. Dou as instruções necessárias para o motorista. Fico pensando como vou reagir diante da presença dela depois de tanto tempo afastada. O carro para em frente da bela casa bem localizada em um bom bairro carioca.
Desço agradecendo o motorista e falando para ele ir dar uma volta, já que eu demorarei um bom tempo.
Toco a companhia e Neide, nossa empregada mais antiga atende.
--- Beatriz, garota, quanto tempo --- Ela fala me abraçando --- Cada dia mais bonita! --- Diz me analisando.
--- Neide, quem é? --- Minha irmã fala vindo até a porta. Quando ela me olha, abre um sorriso enorme e vem correndo em minha direção me dando um belo abraço --- Como sentir saudade --- Ela fala ainda me abraçando.
--- Também sentir muita falta, princesa --- Digo sorrindo. Olho para minha irmã com amor.
--- Venha, vamos conversar --- Ela diz me puxando pela casa adentro.
Ela me leva até a sala, quando nos deparamos com a figura imponente de minha mãe.
--- Beatriz --- Ela fala fria como sempre. Nem faz questão de disfarçar seu desafeto por mim.
--- Oi, mãe! --- Digo indiferente também.
--- Depois de tudo que fez não deveria ter a cara de pau de pisar nessa casa --- Ela fala amarga. Eu sorrio para ela com deboche.
--- Essa casa é minha também, posso vir aqui quando eu bem entender --- Falo sem tirar o sorriso do rosto.
--- Você é...
--- Chega, precisamos conversar --- A interrompo cansada desse jogo doentio de quem é pior.
--- Não tenho nada para conversar com você --- Ela diz me lançando um olhar gélido.
---- Ah, tem sim! --- Digo sem paciência --- Vamos para o escritório ou prefere falar aqui mesmo? --- Pergunto fria.
--- Vamos para o escritório --- Ela fala irritada.
--- Beatriz, não demora, quero aproveitar sua companhia --- Dani fala carinhosa.
--- Ok --- Digo sorrindo.
Sigo minha mãe até o amplo escritório. Entro na sala que continua idêntica desde da última vez que eu vi. Vejo as instantes repletas de livros, que eu adorava ler com o meu pai. Lembrar dos velhos tempos é delicioso, enquanto doloroso.
--- E sobre o que é a conversa? --- Ela pergunta me analisando.
--- Sobre meu pai --- Digo e ela me encara mostrando surpresa.
--- Não tenho nada para falar dele --- Diz ela com nervosismo.
--- Não, pelo contrário, temos muitas coisas para esclarecer --- Digo sem demostrar emoção.
--- Do que fala? --- Ela pergunta neutra.
--- Nunca entendi a fuga urgente do meu pai, nunca ficou claro o motivo dele ter fugido e ainda forjado a própria morte --- Sou direta e ela me olha sem emoções.
--- Já explicamos os motivos --- Ela fala fria.
--- Pois bem, não acreditei naquela desculpa --- Digo a olhando.
--- Não tem outra verdade --- Seu olhar é sereno.
--- EU SEI QUE VOCÊ SABE A VERDADE SOBRE MEU PAI --- Grito já sem paciência da hipocrisia dela.
--- Pare de gritar, sua irmã não sabe a verdade --- Ela fala irritada.
--- Fale a verdade, mãe --- Suspiro --- Diga quais motivos de verdade levaram ele a fugir --- Digo irritada também.
--- Chega, já disse que só tem uma verdade e você conhece ela --- Ela fala firme. A olho e elnem sequerer mostra medo, é tão fria e enigmática que se torna impossível saber se ela é sincera.
--- Você é tão falsa --- Jogo apalavras, possessa.
--- Saia daqui, Beatriz --- Ela fala fria.
--- Isso não acaba aqui, vou descobrir a verdade --- Digo com ódio. Saio do escritório batendo a porta. Vejo minha irmã sentada no sofá.
--- Pela sua cara a briga foi feia --- Ela diz me analisando.
--- É difícil falar com nossa mãe e não se aborrecer --- Digo tentando ficar calma.
--- Isso é verdade --- Minha irmã fala sorrindo.
--- Dani, vamos passear --- Digo querendo ficar longe dessa casa e principalmente da minha mãe.
--- Claro vou só trocar de roupa --- Ela diz alegre.
Fico sentada esperando minha irmã se arrumar. Fico olhando a casa que cresci lembrando de todas as recordações do passado.
Dani desce toda linda com um vestido florido rodado e um tênis. Seu cabelo castanho possui alguns poucos cachos na ponta. Fico a observando com um sorriso bobo.
--- Como você é linda --- Digo.
--- Todas nós somos --- Ela se diz referindo a Patrícia também.
É, ela tem razão! Minha mãe pode ser muitas coisas, mas sem dúvida tem uma genética incrível que herdamos dela. Meu pai também não fica tão atrás nquesito, beleza. Logo o resultado foi excelente, fomos bençoadas nos tornando mulheres lindas.
Eu e minha irmã passearmos o dia todo. No final do dia já estou muito exausta, mas sem dúvida feliz de ter tido esse tempo com minha ela. O motorista estaciona o carro novamente em frente a minha ex casa.
--- Não vai descer, Beatriz? --- Minha irmã pergunta sorrindo.
--- Não, eu e nossa mãe em um mesmo lugar por muito tempo não presta --- Digo.
--- Mas daqui a pouco Patrícia chega, aí vocês podem conversar --- Ela diz esperando que dessa forma eu fique, mas estou cansada e não acho educado querer conversar com Patrícia depois dela ter passado horas em um avião.
--- Amanhã converso com ela --- Digo cansada --- Também trago os presentes quesqueciir no hotel --- Digo com um sorriso.
--- Está bem --- Ela fala sorrindo.
Minha irmã entre e vou embora para o meu hotel.
***
Chego novamente na minha ex casa. Já é bem tarde e logo será a hora de eu voltar para São Paulo. Desço do táxi e respiro fundo antes de tocar a companhia. Sou atendida novamente por Neide.
Entro e abraço minha irmã que não esconde a felicidade de me ver de novo.
--- Olha só, trouxe os presentes --- Falo apontando para minha bolsa e ela sorrir.
---- Mostra --- Ela fala animada. Dou os presentes e ela abre com um grande sorriso.
--- Nossa, é tudo tão lindo, você tem muito bom gosto --- Diz ela maravilhada com as coisas que eu trouxe.
--- Cadê a Patrícia? --- Pergunto.
--- Ela sai com o marido e nossa mãe --- Diz minha irmã sem me olhar.
--- E nossa sobrinha não veio? --- Pergunto curiosa.
--- Não --- Diz Dani --- Você vai ir embora hoje? --- Pergunto ela triste.
--- Sim, viajo daqui a pouco --- Falo um pouco triste. Não queria lidar com todos os problemas e loucuras de Luciano.
--- Não queria que voltasse tão rápido, você nunca vem me visitar --- Diz ela.
--- Estou cheia de problemas, mas quando as coisas estiverem melhor eu venho passar um bom tempo com você --- Digo acalmando ela.
--- Oi, Beatriz! --- Patrícia diz invadido o ambiente com sua presença marcante.
--- Oi, Patrícia --- Digo a olhando. Logo aparece também minha mãe e meu cunhado.
--- Oi, Beatriz --- Diz Derick com um sorriso. Fico desnorteada com a beleza avassaladora dessa homem. Ele vem minha direção me cumprimentando, depois eu faço o mesmo com minha irmã.
Pegalguns presenteste que eu comprei para eles.
--- Patrícia esse é seu --- Digo, dando uma sacola com o presente. Ela abre e sorrir.
--- Pelo menos continua tendo bom gosto --- Fala sorrindo --- Obrigada!
Sorrio educada para ela. Entrego os outros presentes para Derick e minha mãe que agradecem.
--- Patrícia, podemos conversar? --- Pergunto aflita.
--- Claro, vamos para o escritório --- Ela fala fria.
Vamos até lá. Ela entra se sentando na cadeira atrás da mesa. Sento em uma cadeira ficando de frente para ela.
--- Agora explica seus problemas com Luciano --- Ela começa a falar fria. É impressionante como ela é tão parecida com minha mãe em sua postura imponente.
--- Ele acredita que nosso pai matou sua irmã, pior ele acredita que ele abusou dela --- Respiro fundo com dor --- Você acredita que e...que ele possa ter feito essa monstruosidade? --- Pergunto e ela continua firme em sua postura.
--- Você quer realmente a verdade? --- Ela pergunta gélida.
--- Eu preciso dela --- Digo nervosa.
--- Eu não só acredito, como tenho certeza disso --- Ela fala e sinto como se fosse um soco em meu estômago.
--- Como pode ter tanta certeza? --- Pergunto com medo da resposta.
--- Por muito tempo assim como você vi nosso pai como o melhor homem desse mundo. Ele foi um pai muito bom durante a minha infância, mas conforme eu crescia e meu corpo se desenvolvia ele começou a me olhar com desejo de homem --- Ele respira mostrando dor ao falar ---- Eu sentia desconforto perto dele. Minhas amigas pararam de vir aqui em casa porque não gostava como ele as olhavam. O tempo foi passando e a situação também ficou pior, ele falava palavras nojentas e nada adequadas para mim, ele ficava me acariciando, ficava me comendo com os olhos. Com medo, eu só dormia com a porta trancada, não ficava de jeito nenhum sozinho com ele, acabava me escondendo atrás de roupas que não mostravam meu corpo. Beatriz, assim que completei minha maioridade sair de casa com medo dele. Depois viajei para a Inglaterra e fiquei lá por um bom tempo e foi quando conheci o Derick. Tive que voltar para o Brasil, mas não voltei para essa casa e fiquei o mais longe possível dele. Depois como sabe veio à fuga dele e pouco tempo depois me casei com medo dele vir atrás de mim. A única coisa que impediu ele de fazer algo pior foi o fato de eu ser sua filha.
--- Ele não pode ser tão horrendo --- Falo sentindo meu estômago revirando.
--- Essa é a verdade, você que quis saber --- Diz ela --- Isso tudo é verdade, não tenho motivo algum para mentir --- Diz ela me olhando nos olhos. Mesmo doendo acredito nela, não existe razão no mundo para ela inventar tal história, Patrícia é muitas coisas menos, cruel.
---- Casou só por medo dele? --- Pergunto tentando assimilar tudo.
--- A princípio um pouco, ele era um bom partido, rico, nossa mãe pressionou para que eu aceitasse o pedido e também gostava dele, principalmente com ele me sentia segura e protegida de Otávio --- Ela suspira --- Então a aceitei me casar mesmo sendo nova, aceitei ir morar na Inglaterra para me sentir mais segura. Não me arrependo, nosso casamento não é um conto de fadas, mas ele é um bom marido, é gentil, respeitador, ele me protege e é um pai maravilhoso. Estou feliz com a decisão de ter casado ---- Ela fala sincera. Mais isso não muda a dor que sinto. Saber que minha irmã com medo do nosso pai, aceitou até casar para se sentir maia segura, é muito horrendo.
--- Ele sabe de algo? --- Pergunto a ela que parece vagar em pensamentos.
--- O básico --- Ela diz sem me olhar --- Ele sabe dos assédios, ele sabe de como eu cresci a mercê do medo. No entanto, ele não sabe que nosso pai está vivo, isso ele não pode saber nunca --- Ela fala triste --- Foi por isso que não gosto de trazer Lauren para o Brasil, acho que ela vai ficar mais segura com os avós lá na Inglaterra. Não quero que ela conheça nunca o avô, não vou deixar ele jamais chegar perto da minha filha --- Ela diz igual uma fera. É, sem dúvidas minha irmã é uma mãe maravilhosa. Lágrimas descem sem eu conseguir segurar mais, são tantas informações dolorosas.
--- Deus! --- Digo tão chocada. Desejo acordar desse pesadelo horrível, desejo voltar no tempo quando eu não sabia de toda a verdade sombria.
--- Você só não passou por isso, porque foi morar muito nova ainda em outro país. Não conviveu com ele durante a sua adolescência e seu desenvolvimento como mulher. Você guardou a imagem do pai amoroso que ele foi durante sua infância. Depois só via ele nas férias por pouco tempo e logo voltava para a Europa, não sabia de nada que acontecia aqui, só sabia que ele te bancava para ter a melhor educação possível. Recebia presentes incríveis dados por ele, nisso você foi criando a imagem de homem amoroso. Mas se você tivesse crescido junto a ele como eu, tenho certeza que ia conhecer o Otávio que eu conheci. Você e Dani só conheceram o Otávio mascarado --- Termina ela de falar com olhos lacrimejando. Seu olhar mostra dor ao recordar de tudo.
--- Nunca imaginei algo assim --- Digo chorando.
--- É, ninguém imagina algo assim --- Ela fiz se recompondo. Em poucos segundos ela já parece outra pessoa, seu olhar se torna sereno, sua postura volta a ser daquela mulher implacável e ela coloca um sorriso no rosto --- Eu trouxalguns presenteste para você também.
--- Como consegue? --- Pergunto chorando --- Você acabou de falar de algo horrível e extremamente doloroso que passou e agora já parece uma mulher que estava falando de um assunto banal.
--- Não sou o tipo de mulher que fica sofrendo pelo passado --- Ela fala agora fria --- Somo mulheres Ferraz, nada pode nos abalar --- Ela fala igual minha mãe. Mas, no fundo da sua voz percebo dor.
--- Não, você só quer fugir da dor, não permite estravasar essas coisas terríveis guardadas --- Digo a olhando muito profundamente. Ela mostra um pouco de incômodo, mas logo fica gélida novamente.
--- Vou buscar seus presentes --- Diz mais fria que antes. Ela sai e eu volto a chorar sentido muita dor.
Depois de alguns minutos ela volta com algumas coisas no mão.
--- Olha, esse presente foi escolhido por mim e por Derick --- Ela fala abrindo uma caixa contendo um colar magnífico.
--- Nossa, é lindo --- Digo apreciando joia --- Só não sei como usá-lo, sendo que não tenho muitos lugares para colocá-lo.
--- É um colar simples, apesar de ser muito fino --- Ela diz tirando a joia da caixinha --- Use sempre, em qualquer lugar, ele combina com qualquer coisa.
--- Quer mesmo que eu use isso no Brasil? --- Pergunto com deboche --- É pedir para ser assaltada --- Digo e ela sorrir.
--- Não, é discreto e nem vão reparar dependendo da roupa usada --- Ela fala sorrindo. Acho que Patrícia não sabe o significado de discreto --- Isso é uma forma de você se proteger, nele contém um pequeno rastreador bem escondido.
--Desdede quando se preocupa com minha segurança? --- Pergunto com um sorriso frio.
--- Podemos até não nos darmos tão bem, mas não te odeio --- Diz ela colocando o colar em mim.
--- Já é alguma coisa --- Falo sorrindo --- Obrigada!
--- Toma --- Ela diz me dando um vestido incrível. Fico olhando ele e pensando se tem alguma coisa escondida nele --- Esse também tem algum segredo? --- Pergunto curiosa e ela rir.
--- Não, só é de uns dos estilista mais conceituado do mundo, amigo de Derick --- Ela fala sorrindo convencida --- Só existe um modelo desse vestido, ninguém mais tem ele --- Termina ela de falar. Penso na fortuna que foi isso, mas Derick é tão podre de rico, que isso nem fez cocegas no bolso dele, então pego o vestido sem reclamar.
--- Muito obrigada mesmo --- Falo a olhando agradecida. Por alguns minutos esqueço dos problemas e fico presa vendo meus presentes como uma criança em um parque.
--- E Luciano voltou a fazer alguma coisa --- Pergunta ela me olhando.
--- Sim, quase sofro outra tentativa de assassinato, não foi desatenção de minha parte, tomei cuidado ao atravessar a rua, mas surgiu um carro do nada, só não fui atropelada porque um homem me salvou --- Digo nervosa --- Não posso provar, mas sei que foi ele.
--- Eu conversei com Derick sobre essas coisas estranhas que vem acontecendo. Ele contratou uma detetive muito boa para investigar tudo isso, não se preocupe que vamos logo ter provas para denunciar quem seja que está por trás de tudo isso --- Ela fala me olhando --- Beatriz, não acha melhor voltar para o Rio ou viajar e ficar um tempo longe do Brasil? --- Ela fala me olhando.
--- Não acho que isso irá me ajudar, além do mais não vou fugir dos problemas --- Digo fria.
--- Tudo bem --- Ela fala indiferente.
Olho no meu relógio e vejo que já é tarde. Mesmo tendo muitas coisas para perguntar, decido encerrar a conversa para não chegar atrasada no aeroporto e perder voo.
--- Preciso ir, já é muito tarde --- Digo e ela acena.
--- Voparara sala, espero você --- Ela diz se levando.
--- Patrícia, diga toda a verdade para ele --- Digo --- Logo a verdade irá parecer e irá ser menos pior se ele souber por você de tudo --- Aconselho minha irmã. Ela não diz nada, só sai me deixando sozinha.
Respiro fundo me recompondo. Pego meus presentes e saio do escritório indo até à sala. Vejo todos reunidos sentados conversando. Minha irmã conversa animadamente com Derick. Já Patrícia fala algo com minha mãe que tem a expressão séria.
Olhando minha mãe me bate várias dúvidas cruéis. Quanto ela sabe de tudo isso? Será que ela sabe todo assédio que minha irmã sofreu? Uma mulher sabe perceber o olhar de homem, ela deveria ter percebido os olhares, não? Todas essas perguntas me atormentam. Mas sei que minha mãe nunca dirá a verdade, ela nunca confessará o tamanho do seu envolvimento nos crimes de meu pai. Nem posso pergunta isso a Patrícia agora na frente de todos. Então só engulo a curiosidade e começo a me despedir deles.
--- Beatriz, já vai --- Minha irmã pergunta triste.
--- Vou sim, mas prometo que logo volto --- Digo sorrindo e abraçando.
--- Derick, foi bom vê-lo! --- Digo sorrindo para meu cunhado bem bonito --- Obrigada pelos presentes --- Digo e ele acena.
--- Até uma próxima --- Ele fala e nós nos abraçamos.
Aproximo de Patrícia a abraçando. No ouvido falo bem baixo só para ela ouvir.
--- Obrigada por dizer a verdade --- Digo triste --- Foi bom vê-la.
--- Toma cuidado, Beatriz --- Ela fala baixo. Nos nos afastamos e olho para minha mãe que me olha gélida.
--- Até, mãe! --- Digo fria --- Ainda temos muito o que esclarecer --- Digo deixando claro que ainda íamos conversar. Não faço questão de ir me despedir dela. Só pego minhas coisas para ir embora.
--- Deixa o motorista te levar --- Diz Patrícia me olhando.
--- Tudo bem --- Digo sorrindo --- Tchau, para todos! --- Digo saindo.
O motorista me leva até o aeroporto. Em pouco tempo estou dentro do avião de volta para São Paulo.
***
Termino de tomar um banho me sentindo mais calma. Mas ainda tem um coisa que me atormenta profundamente, as tais evidências que Renato disse que existe. Então mesmo já sendo um pouco tarde e domingo, deixo toda minha etiqueta de lado e resolvir ao endereçoço que Renato me passou. Preciso saber até que ponto a crueldade do meu pai foi. Pai, como essa palavra me parece tão nojenta quando referida a esse monstro terrível que eu descobrir hoje.
Visto com uma roupa simples e confortável. Deixo meu cabelo solto e não faço questão de me meaquiar, só de passar umas coisas para disfarçar minha destruição.
Pego um Uber e vou até o prédio de Renato. Desço pagando o motorista. Entro no enorme prédio extremamente luxuosoVou à recepçãoão anunciando meu nome e Renato deixa eu subir. Entro no elevador indo para a cobertura.
Saio respiro profundamente e toco a companhia. Renato abre a porta com seu sorriso admirável. Fico um tempo analisando toda sua beleza exagerada.
--- Mostra as tais evidências, por favor! --- Peço aflita e ele me olha com preocupação.....
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