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Capítulo 9


A surpresa nos olhos de Rence era inegável, não apenas pelo ataque da ruiva tempestuosa, mas da ciência dela sobre seu título desonrado, envergonhado, ele se desvencilha do olhar dela.

- Poderia me soltar agora? - Diz incomodado em não a conhecer, nem mesmo sabia seu nome e ainda assim ela conhecer sua história, isso é, a única parte dela que ninguém esquece.

- Há alguma arma com você? - Respondendo com uma voz fria, Sunna não parou de encara-lo, e Rence ainda não se acostumara com o peso do joelho dela em suas costas.

- É obvio que estou com uma arma comigo. Sou um viajante e preciso me proteger. - O sarcasmo na voz dele fez com que Sunna lutasse contra a vontade de sorrir. - Situações como essa são mais comuns que você imagina.

Com um sorriso de canto correspondendo ao deboche do rei sem trono, Sunna aos poucos se afasta do corpo imobilizado sob ela. - Estava testando sua honestidade, majestade, parabéns por ter passado no teste.

Sunna ergueu seu corpo à postura habitual dando espaço para que Rence também se levantasse, ele estava imundo, a barba por fazer, olheiras fundas, magro demais para um homem do seu tamanho e para completar coberto de terra, graças a ela. Nem o mais otimista imaginaria que um dia ele pertencera a realeza. Ainda atenta a qualquer movimento suspeito vindo dele, Sunna começa a se afastar para sair.

- E o que teria feito caso eu não tivesse passado? - Ele estapeava suas roupas cinzentas tentando limpar a terra escura grudada nela, mas também não tirava os olhos de Sunna, que por sua vez, jácomeçara a virara as costas, pronta para retomar sua rota de volta ao chalé e ignorar o encontro com o dito rei. - Me mataria? - Sua insistência faz com que Sunna o dirigisse o olhar mais uma vez enquanto ele caminhava até ela.

- As mulheres com meu sobrenome não costumam matar de forma tão direta, senhor. - Com um sorriso não tão amigável, Sunna questiona-se o porquê de ele continuar se aproximando dela sem medo algum. Humanos deveriam ser seres inteligentes já que precisavam sobreviver sem magia, seria Rence uma exceção?

O antigo rei parecia querer sua companhia por mais irracional que esse desejo fosse. Sunna tentaria se desvencilhar, mas só os Deuses saberiam o quão determinado aquele homem era e qual o motivo de ele continuar a seguindo.

- E qual seria seu sobrenome? - Sunna revira os olhos acelerando seus passos dando todos os sinais possíveis para que ele se afaste, mas Rence parece ou não se importar ou não ver esses sinais, caminhando rápido para poder acompanha-la. Apesar de todo seu esforço para parecer amigável, sua voz saia cansada, como de alguém que não dorme a dias e seu cheiro não é em tudo ruim, mas não significa que ele não precise de um banho urgentemente, uma boa noite de sono e umas duas tigelas de sopa medicinal.

- O que está fazendo em Filgord, majestade? Não somos conhecidos por sermos hospitaleiros. - Escondendo sua preocupação e fugindo da pergunta de Rence, Sunna apenas troca de assunto com facilidade.

- Me sentiria muito mais confortável se respondesse minhas perguntas primeiro. E por favor, não me chame assim. - Apesar da formalidade agressiva de Sunna ele parecia confortável ali, o que a intrigava.

Ela sorriu discretamente caminhando um pouco mais rápido, a conversa com o rei caído estava em segundo plano em sua mente, uma distração no caminho de seu real objetivo.

- Humanos mentem. Responda minhas perguntas primeiro, depois responderei as suas. - Sendo mais fria que gostaria, essa foi a primeira vez que Rence pareceu realmente ofendido com as palavras de Sunna.

- Não é como se vocês, imagens, fossem os seres mais honestos de Arcade. De qualquer forma, estou procurando um trabalho aqui e acho que não é você que poderá me oferecer isso. Tenha uma boa tarde, madame. - O tom correspondente ao de Sunna a chamou atenção. Mesmo cuspindo palavras rudes, o reizinho não perdera sua majestade, mas a transformara em algo, um algo bruto, difícil de decifrar. Rence virara as costas para Sunna, que apesar de convencida a seguir em frente e deixa-lo ir sentiu o hálito quente de uma promessa á muito esquecida arrepiar suas costas, aquecer seus ombros e sussurrar em seu ouvido "um dia, faça por alguém o mesmo que fiz por você". Um suspiro frustrado seguido de um movimento de negação com a cabeça declarou a pouca vontade dela em cumprir aquela  promessa, maldita seja Demétria.

- Espere. - Quase automaticamente, Rence a olha por sobre o ombro, pronto para ouvir outro insulto da língua sagaz da profetisa. - Há um quarto no meu estabulo, pode ficar com ele pelo tempo que precisar. Não crio cavalos há bastante tempo então tudo está limpo. - Rence abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada, talvez estivesse tão surpreso quanto Sunna com tal atitude. - Quero dizer, se você quiser.

- Quero, quero sim. Por que? - Os olhos cinzentos de Rence mostravam gratidão, Sunna se perguntava se seus olhos brilharam da mesma maneira quando Demétria fez o mesmo por ela. Sem perceber, ela sorriu para Rence.

- Uma pessoa fez o mesmo por mim um dia, agora é minha vez. Meu chalé está no topo da colina, é difícil achar pela floresta e eu não poderei leva-lo agora, mas quando chegar à cidade poderá vê-lo facilmente. É só bater à porta. Já para chegar à cidade, basta seguir a trilha maior, as finas levam às minas abandonadas. - A gratidão e surpresa de Rence trouxeram conforto a Sunna fazendo-a desejar profundamente que aquela faísca dentro de si estivesse certa e Rence realmente não fosse um risco, porque se por algum momento fosse um equívoco da parte dela, então ela mesma terminaria de enterrar o legado do rei caído.

- Obrigado, tamém irei retribuir o favor um dia. - Conforme as palavras dele soaram como uma despedida, Sunna virava as costas para partir, mas quando ele estava prestes a fazer o mesmo disse.

- E a proposito, me chamo Sunna. - Rence parou por um segundo olhando-a com um sorriso amigável antes de voltar para a trilha rumo a cidade. Assim, ambos seguiram seus caminhos diferentes, rumo a um novo começo para ambos, embora nenhum deles notasse o quanto eram parecidos e como aquele encontro era epenas um pretesto do destino para uni-los.

O caminho íngreme entre as árvores nunca fora um desafio para Sunna e não fora diferente dessa vez, em pouco tempo estava de volta ao chalé agora vazio, ela ficou grata por isso, poderia fazer seu feitiço sem os olhos atentos de Demétria a desconcentrando, mas esperava que ela retornasse a tempo de fazer sua parte no feitiço. Anciosa, Sunna nem mesmo consulta seu grimório, confiando completamente em sua memória organizou todos os ingredientes que precisaria em pequenas travessas de cerâmica e barro. Numa delas, macerou mirra e sândalo, em outra lavanda. Ao terminar, preparou uma infusão de rosas e enquanto a mesma fervia, ela cortava os espinhos presos ao caule. Sunna sabia o que fazia e adorava, repetindo o mesmo canto de sempre evocando sua magia e pedindo sua benção, principalmente para o que precisaria fazer a seguir. O pequeno Betelg, ainda imóvel, agora estava sobre a mesa de pedra entre os diversos ingredientes para o feitiço enquanto Sunna cuidadosamente aplicava óleo de lidocaína para adormecer a cauda da criaturinha, então com uma pequena e esterilizada adaga cortou-a fora ainda entoando o canto. Ela sabia que a cauda voltaria a crescer, mas lembrou a si mesma de acelerar o processo assim que o feitiço terminasse. Com cautela, uniu todos os ingredientes, começando com os espinhos das rosas com a lavanda, sândalo e mirra, traçou um círculo com areia e sal na mesa e dentro dele o recipiente de cerâmica cinza em que a infusão estava. Havia chegado a hora, o feitiço só precisava ser conjurado, mas todo o feitiço requer um preço, Demétria a havia alertado, mas naquele momento, o preço seria a menor de suas preocupaçoes.

A água da infusão agitou-se quando a cauda do Betelg foi colocada dentro, em seguida vieram as ervas, flores e espinhos, o ar começou a agitar-se aos poucos em volta de seu corpo e assim que ativou a poção com Alumaloura ela soube qual preço viria posteriormente pagar, mas isso não a assustou. As marcas de profetisa em seu ombro arderam e Sunna sentiu em seu interior a aprovação e benção de Caos. Erguendo os antebraços e a cabeça, era hora de unir a poção ao feitiço.

"Em um rio de possibilidades, deixe-me guiar o curso.
Na mais quente chama, deixe-me forjar minhas muralhas.
No olho do mais temido furação, deixe-me tremer os céus com minhas lágrimas.
Sob as raizes antigas da história, deixe-me reescrever meu passado.
Torne suas memórias minhas, tão minhas que sejam parte de mim."

O ar abriu as janelas ao encalço de Sunna, a envolvendo num abraço sufocante bagunçando seu cabelo, mas deixando o círculo de sal e areia intacto.

"Água, guie-os até mim.
Fogo, destrua-as por mim.
Terra, enterre-as por mim.
Ar, transformeas por mim.

Sunna estendeu uma das mãos contendo o vapor da poção de começara a fervilhar contendo-o de volta ao recipiente, ciente de que cada gota era necessária.

"Mentiras não lembradas permitem a criação de uma nova verdade.
Vento, minta por mim."

Antes mesmo que o vendaval cessasse, Demétria invade porta adentro assustada, com Minerva em seus braços milagrosamente quieta. Sunna não tirou seu foco do círculo, contendo a poção ainda no recipiente. Os fios ruivos selvagens rodopiando com a ventania, os olhos azuis focados, o corpo rígido ciente de cada movimento seu, a verdadeira imagem do que se imagina de uma profetisa. Surpeendida por aquela visão de Sunna, Demétria segura o fôlego observando hipinotizada a verdadeira natureza de Sunna, diante da imagen mais forte que conheceu, a única estóica o suficiente para ter sido bruxa, druida e agora, profetisa. A única capaz de viver mil vidas em uma só, a única única com fogo suficiente correndo nas veias para renascer das cinzas a qualquer momento, a única corajosa o suficiente para evitar o inevitável, essa era Sunna D'luna, senhora do impossível. A inigualável profetisa vermelha.

- Demétria.- A voz de Sunna ecoo poderosa como se acompanhada por dezenas de outras. - Agora! - Quebrando o furação de emoçoes geradas por aquela cena na cabeça de Demétria, a mesma não demora para retornar ao seguimento  do plano, pondo Minerva cuidadosamente deitada entre almofadas jogadas às pressas sobre o tapete e correndo até a cozinha.

Ela juntou-se a Sunna, ficando frente a frente para ela com apenas a mesa e o feitiço as separando. Demétria ergueu seus antebraços e cabeça assim como Sunna e foi abraçada pelo vendaval enquanto sua respiração se tornava curta e seus batimentos rápidos. Sunna havia feito sua parte e a partir dali era responsabilidade de Demétria, que sem qualquer hesitação disse:

- Não vou falhar dessa vez. - Um arrepio percorreu suas costas e braços, sua magia não conseguia mais se limitar ao interior, então ela a soltou. A água da infusão absorvera todos os ingredientes, não havia resquício de nenhum ali e no momento em que Demétria a ergueu, um brilho violeta substituíra a transparecia da água. Agora, era Sunna quem a olhava sorrindo satisfeita com o desempenho dela, acenando com a cabeça incentivando-a a continuar. Tão feliz quanto, Demétria o fez, voltanto todo seu foco os movimentos de  seus braços em completo controle da água, separando-a aos poucos enquanto o vendaval aos a ajudava a dissipar gotículas. Ao longe, um trovão ruge. Sunna também estava em o controle do ar em volta delas, mas algo estava diferente, ela parecia não notar, mas a poção começara a separar-se mais e mais rápido tornando-se vapor, a temperatura ficara alta e os olhos de Sunna brilhavam incandescentes, focados. O que quer que ela estivesse fazendo, não era a influência do ar. Outro trovão, Sunna não fora a única que excedera o controle de seu poder, uma tempestade se aproximava tão rápido quanto a poção tornara-se neblina presa por uma cúpula de ar feita por Sunna.

-Sunna, é o suficiente. Se continuarmos vamos começar uma tempestade. - Mas Sunna não se mexeu ou esboçou qualquer reação, outro arrepio, dessa vez frio como gelo enrijeceu a coluna de Demétria que berrou por sua atenção. - Sunna!

O ar aos poucos trêmulava instável e quente, muito quente. - Sunna! O que está fazendo? Enlouqueceu? - Mas sem resposta, assustada, começou a caminhar tentando contornar a mesa mesmo com o ventania a empurrando para trás. Passo a passo gritando seu nome enquanto o ar assobiava em seus ouvidos e destruía o penteado de seu cabelo, estava quase lá, poucos centímetros de distância quando praticamente jogou seu corpo para frente, segurando o cotovelo de Sunna enquanto seus joelhos perdiam a força quase a fazendo cair. - Olhe para mim. - A voz saindo como um sussurro suplicante enquanto agarrava-se ao calor familiar de Sunna.

   O toque de Demétria pareceu eletrizar o corpo de Sunna, seus olhos perdiam o brilho azul incandescente, retornando ao azul glacial de sempre, piscando como se aos poucos recuperasse sua consciência estabilizando o vendaval em volta delas, com um movimento brusco abaixando o pescoço e respiração forte ela encara Demétria assustada.

- O que...- As palavras não saiam, estava tão confusa quanto Demétria que agora tentava levantar-se. Mesmo atordoada, Sunna a ajudou segurando sua mão.

- Também não sei, mas descobriremos depois. - Apesar de tentar parecer compreensiva, seus olhos ainda demonstravam temor, mas a profetisa sentiu-se grata por seu acolhimento. - Vamos fazer isso funcionar. - Sunna acenou respirando fundo, agora, lado a lado com sua companheira.

- Certo. - Sunna guiou a cúpula pelas saídas libertando a neblina fina que pouco a pouco ocupou toda a cidade enquanto Demétria tentava controlar a tempestade deixando apenas a pequena nevasca pintar os telhados de branco.

Quando acabaram, o cansaço as atingiu com força. sentadas em volta da lareira com Minerva já dormindo enquanto as duas permaneciam quietas tentando tanto recuperar as energias como assimilar o que aconteceu. O silêncio não chegava a ser constrangedor, era leve como um suspiro aliviado, principalmente para Sunna que observava Demétria completamente desarrumada, de olhos fechados e curvada para trás, deixando o pescoço recostado no encosto de madeira do sofá. As chamas da lareira iluminando o lado direito do seu corpo, fazendo a pele escura ganhar uma cor dourada e fazendo Sunna questionar os limites da beleza de Demétria.

- Deveríamos verificar se funcionou. - Disse Sunna por fim estranhando até mesmo o som da própria voz.

- Deveríamos, me dê cinco minutos. - A resposta demorou um pouco, mas logo ela ergueu seu corpo cansado e subiu as escadas para tentar disfarçar a completa bagunça que estava, já Sunna, apenas trançou seu cabelo e bateu a poeira do vestido enquanto decidia se deveria, ou não arrumar a mesa, que ainda se encontrava um caos, até ser interrompida por batidas na porta.

- Posso estar errada, mas seu cheiro o denuncia, Rence.- Disse enquanto abria a porta. Ele riu com seu comentário maldoso, provavelmente acostumando-se com eles.

- Sempre cortês. E obrigada novamente pela hospitalidade. - Sunna estava quase o convidando para entrar, mas com todos aqueles ingredientes mágicos espalhados e a completa desorganização da cozinha achou melhor deixar para depois.

- Não é nada, como havia dito, só estou devolvendo um favor. Agora, acho que eu deveria acomodá-lo. - Um aceno de cabeça foi tudo que ofereceu em concordância, mas foi o choro de Minerva que chamou sua atenção. Virando ás costas, Sunna foi ao encontro dela tentando aconchega-la em seus braços.

- É sua? - A expressão surpresa no rosto de Rance quase a fez gargalhar, talvez aos olhos dele, Sunna aparentasse ser jovem, mas deveria ter em mente que bruxas têm seu próprio tempo para envelhecer. A pergunta, admitisse ou não, apertou o coração de Sunna, Minerva era sua, tornara-se sua desde que a tirou daquela árvore. Um presente de Caos e a filha que jamais conseguiu gerar, Minerva era sua e tal ideia ainda parecia sensível demais.

- Sim, minha filha. - E como se tentando aceitar esse presente, afirmou com não apenas convicção, mas orgulho. Sentimentos que nunca imaginou sentir novamente se permitiram retornar e preencher de volta o vazio que deixaram, mostrando a Sunna que não seria eterno o gelo que envolvia seu coração.

- E você, quem é? - Escorada na parede ao lado do corrimão, Demétria encarava Rence desconfiada com os braços cruzados olhando-o de cima a baixo.

- Rence, sou um convidado de Sunna. Espero não estar incomodando. - Tão desconfiado quanto, Rence parecia sentir-se desafiado pela presença imponente que Demétria exalava.

- Ele é um viajante, vai ficar nos estábulos até conseguir um lugar para ficar. - Apesar de raramente ser a apaziguadora, Sunna podia sentir a rivalidade entre eles se intensificar.

- Desde quando você abriga viajantes ou se preocupa com desconhecidos? Sem querer ofender, senhor. - Sim, ela parecia querer ofender, mas Demétria geralmente era educada demais para agir de forma tão direta.

- Fique tranquila, não ofendeu. - Outra mentira e olhos semicerrados. Contendo a irritação que começava a se acumular, Sunna preparou incisivamente sua resposta.

- Desde que você fez o mesmo por mim e como pagamento exigiu que eu fizesse o mesmo por outra pessoa. - Ela não desejava magoar Demétria, não faria isso propositalmente, mas as vezes sua amiga precisava lembrar de que limites existiam. Demétria parecia relembrar do passado distante que ambas compartilhavam, trocando a expressão tensa por surpresa.

Afastando-se da porta até aproximar-se de Demétria, Sunna sussurrou em seu ouvido.

- Tive a aprovação de Caos para isso, fique tranquila e volte para sua casa, tente conversar discretamente com alguém e descobrir se o feitiço funcionou. - As instruções pragmáticas causaram relutância em Demétria, Sunna notou e tocou levemente sua mão, mas ela não desviou o olhar de Rence. - Obrigado, sabe que eu não teria conseguido sem você. Pode ficar tranquila.

Finalmente olhando para Sunna, um suspiro de contentamento precedeu a resposta de Demétria. - Seja cuidadosa. Conversamos sobre tudo isso amanhã. - Ela esperou Sunna confirmar com a cabeça antes de ir, só então ela notou o quanto o sol estava demorando a se pôr apesar do inverno.

Rence deu espaço até demais para Demétria sair pela porta, cogitando até prender a respiração.

- Devo me preocupar com ela? - Perguntou quando Sunna voltou a se aproximar, mas dessa vez, com Minerva no colo.

- Definitivamente, sim. Demétria não late, mas morde. - Ela esperou vê-lo rir, mas não aconteceu. - Vamos, vou mostra-lo o estábulo antes de servir o jantar.

Em prontidão, Rence a seguiu pelo caminho curto observando a vila abaixo da colina, impressionado com a beleza daquela pequena e misteriosa cidade cercada de montanhas e florestas.

- Eu sei, Filgord pode ser linda se observada corretamente. - Ela tentava parecer amigável, descobrir mais sobre o rei sem coroa e testar sua índole. As vezes intuição não é o suficiente, principalmente quando se tem alguém para proteger.

- Sim, não há como negar. - O céu anunciava o início do pôr do sol a bastante tempo, mas nenhum sinal do cair da noite. Apesar disso, comerciantes já acendiam tochas e mães chamavam seus filhos para entrar, um lugar simples, calmo e adorável para se viver e mais perfeito ainda para os fantasmas do passado de Rence voltarem para assombra-lo. Fazendo-o imaginar como Aya reagiria a aquela visão, ela sempre exaltou a vida simples exatamente como aquela que Sunna e toda aquela cidade viviam, mas ela não podia exaltar ou desejar mais nada enquanto Rence lutava para lembrar-se disso. Sua rainha estava morta, e ele não pode mudar isso.

- Seus olhos escureceram repentinamente. Se sente bem? - A voz de Sunna o tirou de seus pensamentos, surpreso, Rence recuou inconscientemente.

- Sim. É que as vezes é um pouco difícil seguir em frente. - Surpreendendo- a, Rence parecia não se importar em confiar a ela um pouco de suas cicatrizes.

- Sei como se sente, é sobre sua família, não é? - Já parados frente à porta do estabulo, não pareciam estranhos que se conheceram naquela manhã, talvez não fossem, talvez fossem apenas duas almas machucadas que entendiam a dor uma da outra, e inesperadamente estavam dispostos a desenterra-las após tanto tempo em um cemitério silêncioso.

- O nome dela era Aya, morreu na minha frente e eu não pude fazer nada. - A voz embargada, a cabeça baixa, ainda era difícil demais falar seu nome em voz alta, principalmente olhando para outra pessoa, mas Rence se sentia grato, alguém queria ouvi-lo, independente do motivo ele agradeçeu a companhia de Sunna. - Fazia pouco tempo que havia descoberto estar grávida quando aconteceu. Ela mesma escolheu os nomes, debochou de mim e disse que se ela entraria em trabalho de parto o mínimo que eu poderia fazer por ela era deixa-la escolher o nome sem interferência. Eu aceitei sem nem pensar duas vezes enquanto sorria. - Seus olhos brilhavam enquanto falava dela, um brilho marejado junto a um sorriso tristonho que as vezes se tornavam uma linha comprimida. - Ela gritou meu nome quando a espada dele atravessou suas costas, implorou para que fosse poupada e quando já estava praticamente morta o viu caminhar até mim, ela usou o resto da vida que havia nela para se arrastar até mim, mas morreu antes mesmo de dar o segundo passo.

Sunna abriu a boca para tentar conforta-lo, mas não consegui dizer nada, não podia ensina-lo a curar uma dor que não possuía remédio, logo, ofereceu a ele a compreensão com um abraço amigável.

- Eu não fiz nada para salva-los. - Rence não se mexeu, não retribuio ao abraço, apenas fechou os olhos e lutou contra as lágrimas prestes a cair. O sangue fluindo por uma ferida ainda aberta.

- Você não teve escolha, sei que não. - Soltando-o do abraço, Sunna fez questão de o olhar nos olhos enquanto tentava conforta-lo, mas Rence permanecia duro como pedra. Os olhos cheios de raiva e tristeza, tanta que Sunna enxergou seus próprios fantasmas nele. - Ela o amará independentemente de onde estejam. A morte não rompe o afeto, Rence, então ame-a daqui e sei que ela o amará de volta de lá. - Mesmo que nunca fosse admitir, Sunna disse isso muito mais para si mesma que para ele, disse o que gostaria de ouvir quando não era nada além de pedaços de si mesma esperando para se reerguer.

Dessa vez quem a abraçou foi ele. Rence também sentia que eles compartilhavam uma dor parecida, mas não a abraçou apenas por conforto ou gratidão, mas sim compreensão. Quando o mundo cai sobre você é difícil encontrar alguém que esteja tentando se levantar no mesmo momento.

- Onde está o pai dela? - Trocando de assunto, era a vez de Sunna de ter suas feridas abertas.

- Foi tirado de mim, assim como sua esposa foi tirada de você. - A voz carregada de pesar e memórias demais passando por seus olhos. O rosto pétreo de Lydia conforme Sunna implorava, o gosto salgado de suas próprias lagrimas, o sangue dele empoçando, agora tudo parecia tão vivo e palpável quanto um sonho realista demais para desconfiar.

- Como ele se chamava? - Era Rence quem a  olhava nos olhos agora, fazendo-a encarar o passado e os fantasmas que nunca deixaram de assombra-la. O vento assobiava frio entre eles como um mau presságio. Sunna sabia que não podia esconder-se mais de sua história. Então, com a voz tão baixa quanto um sussurro e tão fria quanto o ar entre eles, ela disse sentindo seu coração rasgar.

- Elijah. - E com seu nome, Sunna permitiu que uma única lagrima solitária saísse, e nela, contendo toda a dor e sentimento que ela aprisionou por tanto tempo, não livre deles, mas finalmente pronta para enfrenta-los. Um arrepio percorre a espinha da profetisa, ela se afasta de Rence virando seu corpo para o lado a tempo de ver Demétria pálida como papel correndo até ela. Sem assimilar o que está acontecendo, corre em sua direção com Minerva inquieta em seus braços e Rence a seu lado.

Antes mesmo que Sunna pudesse perguntar, ainda ofegante e tremula Demétria dispara:

-Nefilins na cidade. - Lagrimas caiam de seus olhos arregalados quando completa. - Estão invadindo as casas. Eles estão atrás dela. 

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