Entre Lobos - Capítulo 6 - Primeiro Encontro
"POSSO SER A SOLUÇÃO DOS SEUS PROBLEMAS. OU O COMEÇO DELES."
Num futuro (Não muito distante)...
O jipe preto estilo militar estacionou em frente ao clã Garras de Sangue, a mais antiga construção da Nova Era Lupina, o centro comercial de Lepiota.
Dentro dela, Amora Lushton, acompanhada por dois machos e como eles trajando jeans, jaqueta escuras e botas de cano longo, sacudiu os cabelos loiros, desceu do carro e olhou desafiadoramente para o majestoso edifício.
Pouco menos de uma década, o Nova Era Lupina era cercado de prédios semelhantes, que ostentavam imponentes colunas de mármore em suas fachadas, no inconfundível estilo clássico, onde a humanidade um dia governou este mundo. Nos últimos anos porém, um a um foram sendo demolidos, para darem lugar a modernas construções mais adequadas a forma de vida dos Lycans, ocupadas por grandes lojas e lanchonetes, deixando o edifício isolado em meio ao progresso.
Com vinte e um anos, Amora não se lembrava de uma única vez em que havia acompanhado seu pai ao Nova Era Lupina sem ficar impressionada com aquele lugar de aspecto sinistro. Não existiam lugares para sentar além de alguns bancos desconfortáveis de madeira, e os funcionários, particularmente os caixas, lembravam mais uma extensão da máquina registradora do que seres humanos enquanto contavam as diversas mercadorias com uma velocidade espantosa. Sem dúvida, uma atmosfera bastante estranha para uma entidade financeira comandada por homens-lobos, cuja principal clientela eram os humanos, homens simples que dependiam da boa vontade do Nova Era Lupina quando suas colheitas iam mal ou quando o mercado de carne (gado e aves) estava em baixa.
Naquele estabelecimento não havia camaradagem ou conversas amistosas que por si só atraíssem novos investidores humanos. Existia apenas muitos século de tradições e serviços honestos para convencer os humanos a se tornarem novos clientes dócil. Entretanto, se fizessem uma pesquisa em Terracota, nove entre dez humanos se confessariam intimidadas cada vez que precisavam de um financiamento feito neste local.
Naquela ensolarada manhã de novembro de 3675 d. D, tudo o que Donna sentia era uma raiva incontrolável que fazia seus olhos claros cintilarem.
— Se eu pudesse, esganava Alleandro Dimitrescu com minhas próprias mãos. — Ela desabafou com seus irmãos, os gêmeos Ravier e Javier.
— Tolice sua! — Observou Ravier com um brilho divertido nos olhos, idênticos aos da irmã. — O rei Lycan Alleandro não merece que você suje as mãos.
Amora deu de ombros e Javier aproximou-se, abraçando-a com carinho.
— Sei que está furiosa, irmãzinha, mas é bom começar a controlar este seu temperamento explosivo. Deixe a conversa por nossa conta. Ou se esqueceu que são eles que governam o nosso mundo agora?
— O que Javier quer dizer, Amora, é... — Ravier revirou os olhos diante da falta de diplomacia do irmão.
— Já sei... Maldição! Eu já sei!... — Ela o interrompeu irritada. — Javier acha que eu posso pôr tudo a perder, se disser o que penso a esse bando de Lycans agiotas, não é?
— Bem... não tenho culpa se tem o temperamento tão intempestivo. Nem parece uma humana na verdade. — Javier justificou-se provocando-a.
— Não vou ficar calada se tiver uma chance. E não pense que por ser meu irmão mais velho tem o direito de mandar em mim.
— Chega! — Exclamou Ravier, colocando um ponto final na briga dos dois. — Não é hora de começarem com discussões. Poderão fazer isto quando chegarmos em casa. Agora temos assuntos importantes a tratar. Ou se esqueceram disso também? Nossa cidade depende de nós três entrarmos em acordo com eles.
— Desde que vocês entendam que eu também vou tomar parte nestes assuntos! — Donna falou erguendo os ombros numa tentativa de acrescentar alguns centímetros a sua diminuta estatura de um metro e sessenta. — Vamos?... — Acrescentou antes que os dois protestassem, e atravessou a rua à frente dos irmãos. Odiava-se por ser mais baixa do que eles.
Os três cruzaram a porta giratória do prédio Nova Era Lupina e foram direto ao balcão de informações.
— Sou Amora Lushton. — Apresentou-se. — Vim falar com o Supremo Alleandro Dimitrescu.
Sem erguer os olhos das anotações, a recepcionista, uma mulher magra, de óculos com aros dourados e cabelos curtos, pegou o interfone e apertou um botão. Depois de trocar algumas palavras num idioma, que Donna não entendeu, voltou-se para ela.
— Seu nome não está na agenda do Supremo Alleandro Dimitrescu, srta.Lushton.
— Como não?! Liguei ontem para cá marcando essa audiência! Queira verificar novamente, por favor.
— Seu nome não está na agenda do Supremo. — A fêmea repetiu sem se perturbar com a irritação de Amora.
— Escute, senhorita, telefonei ontem e marquei com o Supremo às onze horas. São onze em ponto e não vou sair daqui sem vê-lo!
— Marcou com o Supremo Alleandro Dimitrescu?
— Pedi para falar com o Supremo.
— Supremo Alleandro Dimitrescu? — A recepcionista insistiu.
Percebendo que Donna estava quase perdendo a paciência, Ravier adiantou-se.
— Por acaso há outro Supremo Dimitrescu, senhorita?
— Sim. O Supremo Herdeiro Ethan Dimitrescu.
— Então, por favor, queira verificar com a secretária se não houve um engano.
Enquanto a recepcionista falava outra vez no interfone, Donna voltou-se para um dos irmãos.
— Pensei que o Herdeiro Supremo tivesse morrido. Não é o Scott irmão dele, o novo presidente agora?
— O irmão mais velho dele morreu, mas Ethan ainda está vivo e, presumo, cuidando dos negócios da família Dimitrescu, no lugar do irmão Lycan.
— Droga! Por que ninguém se lembrou de me avisar antes de eu telefonar para cá? — Donna resmungou virando-se para a recepcionista, que já havia desligado.
— O Herdeiro Supremo Ethan vai recebê-los. — Ela informou a Donna e olhou para o relógio. — E é melhor se apressarem pois estão atrasados.
Amora não se moveu.
— Mas eu não quero falar com Ethan Dimitrescu! Vim aqui para ver Alleandro Dimitrescu!
— A senhorita não tem hora marcada com ele!
— Mas... — Amora não pôde terminar pois os gêmeos a afastaram do clichê levando-a pelo braço até o elevador.
— Vamos começar com Ethan, mana. — Javier propôs paciente. — Se não chegarmos a um acordo, marcaremos um novo encontro com o Supremo pai Lycan.
Ela fez um gesto brusco para livrar-se dos irmãos e endireitou a jaqueta.
— Ethan?! Você já o conhece, Javier?
— Ele estava três anos à nossa frente na escola. Todo mundo conhecia Ethan Dimitrescu, o capitão do time de futebol e monitor de sua turma. Filho caçula do Supremo que governa este mundo agora.
Tentando fazer uma ideia do homem-lobo que os receberia, Amora entrou no elevador pensativa.
— Se Ethan Dimitrescu estava três anos mais adiantado que vocês, então ele deve ter uns vinte e oito agora. — Ela comentou quando começaram a subir. — Um ex-jogador de futebol sentado atrás de uma mesa de escritório dia após dia, executando hipotecas de várias propriedades humanas e abocanhando heranças de criancinhas humanas indefesas! Que belo patife ele deve ser... Javier olhou para Ravier e deu uma piscada.
— Não seria melhor trancarmos a irmãzinha aqui enquanto conversamos com ele, Ravier?
— Escute, Amora... — Ravier olhou para ela impaciente. — Você vai se comportar ou não? Já temos muitos problemas e só irá complicá-los ainda mais se começar com seus acessos de raiva. Sabe muito bem se estamos nessa situação foi por culpa de nossa própria espécie que ultrapassou os limites dos deuses. Nossa raça destruiu a natureza e tudo mais por pura ganância, então pare de procurar justificativa por algo impossível.
O elevador, que até então vinha subindo vagarosamente, fez uma parada brusca, e Amora esperou que a porta se abrisse. Como isto não aconteceu, percebeu que Ravier o havia parado de propósito entre dois andares e, suspirando resignada, acabou lhe dizendo.
— Está bem, vou me comportar, Mas estou furiosa!
Ravier colocou o elevador em movimento novamente, e quando as portas se abriram os três Lushton saíram em silêncio.
O terceiro andar era menos opressivo que o primeiro, embora as paredes fossem da mesma cor. Percebia-se que dentro da fundação Lycan que não havia o menor sinal de preocupação em tornar o ambiente agradável ou aconchegante. Quaisquer que fossem os lucros obtidos pela Nova Era Lupina, certamente os recursos não era aplicado em requintes para o prédio.
Javier aproximou-se da mesa da secretária, o único móvel existente na área da recepção.
— Temos um encontro marcado com o Supremo Herdeiro Ethan Dimitrescu.
— Pois não, ele vai recebê-los num instante. — A fêmea falou sem desprender os olhos assustados dos três jovens. — É a terceira porta à esquerda. — Acrescentou pegando o interfone.
Eles seguiram em frente e pararam diante da porta de mogno onde estava gravado o nome Supremo Herdeiro Ethan Dimitrescu.
— Aposto como não mudaram esta placa quando o irmão mais velho morreu. — Amora falou apontando para as letras douradas. — Olhe! O "Ethan" foi acrescentado depois! Não disse?
— Amora! — Ravier apertou o braço dela obrigando-a a se calar, todavia ela o ignorou.
— Com todo os recursos que economizam aqui nem precisariam cobrar juros sobre os empréstimos dados a humanidade. Não sei por que estão fazendo isto com papai!
A porta foi aberta de repente e Amora viu-se diante de um homem-lobo de porte atlético, trajando um impecável terno preto.
Reformulando sua opinião sobre o Lycan Ethan Dimitrescu, encarou-o, e no mesmo instante compreendeu por que ele havia sido eleito o monitor da classe. Podia apostar como metade do colégio eleitoral que o havia eleito pertencia ao sexo feminino. Ethan Dimitrescu certamente tivera apenas de piscar aqueles olhos fascinantes, passar a mão nos cabelos sedosos, e sorrir com o mesmo charme com que se dirigia a ela naquele momento para conquistar o eleitorado. O preconceito de Amora contra ele transformou-se em antipatia instantânea.
— Sou Amora Lushton e estes são meus irmãos, Javier e Ravier. — Ela falou com frieza, obrigando-se a cumprimentá-lo.
Ethan sorriu outra vez, e Amora desejou que ele não fosse assim tão simpático.
— Olá, humana Lushton. Sou Ethan Dimitrescu. — Ele estendeu a mão para os gêmeos. — Lembro-me bem de vocês dois. Poderíamos contar longas histórias à sua irmã...
— Tenho certeza que já ouvi todas, Supremo Dimitrescu... — Amora falou interrompendo o ar de intimidade estabelecido entre os três. — Aliás, viemos aqui para tratar de um assunto muito sério.
Dimitrescu fitou-a de cima a baixo e depois convidou-os a sentar.
Javier e Ravier logo apossaram-se dos assentos mais próximos, deixando-a com o de trás. Caçula de uma família de doze filhos, Amora há muito aprendera a não ser manipulada pelos irmãos mais velhos nas questões dos negócios familiares. Calmamente, ergueu sua cadeira junto ao corpo e enfiou a cabeça entre os gêmeos.
— Com licença, "cavalheiros".
Por alguns segundos os dois não se moveram. Depois, percebendo que poderiam parecer indelicados diante de Dimitrescu, afastaram-se para que ela ocupasse o lugar no meio deles.
— Assim está melhor. Sem educação!... — Amora falou e, percebendo um sorriso nos lábios de Dimitrescu, imediatamente imaginou que ninguém mais acharia graça numa situação semelhante a não ser um Lycan mimado e convencido.
— O que posso fazer por vocês? — Ele indagou ao ver todos acomodados.
— Pode nos dizer o que significa isto? — Amora tirou um envelope de dentro do bolso e balançou-o de um lado para o outro na frente dele antes de jogá-lo sobre a mesa.
Dimitrescu olhou para a carta, em seguida apanhou os óculos, que estavam sobre a mesa, ajustando-os sobre o nariz com bastante calma antes de pegar a correspondência. Seus olhos antes estavam de tonalidade azul claro, ficando avermelhados logo em seguida.
Enquanto ele lia, Donna teve de admitir que a despeito dos inúmeros motivos que tinha para não gostar dele, o Supremo Herdeiro Lycan era muito atraente. Se não usava óculos o tempo todo por vaidade, estava enganada, sentia que havia algum segredo naquilo. A armação de ouro acentuava o tom dos olhos que mudavam diante deles e os cabelos castanhos escuros lhe caíam muito bem, realçando sua elegância.
Tentando se distrair, Amora olhou ao redor, o primeiro recinto dentro do Nova Era Lupina onde notava bom gosto e aconchego. Havia poucos móveis sobre o chão acarpetado, contudo todos eram antigos e finos. Atrás da escrivaninha se encontrava um armário de arquivo com fechaduras de metal polido e, sobre ele, um aquário com plantas e peixinhos multicoloridos. Na parede oposta, sobre um sofá de couro marrom, vários quadros ostentavam pinturas de flores e uma floresta lindíssima que ela não conhecia.
Amora ficou algum tempo admirando as obras de arte até perceber que Dimitrescu acabara de ler a carta.
— Qual é sua dúvida a respeito disto, Humana Lushton? — Indagou com uma polidez que ela não esperava.
— Minha dúvida?! Não posso compreender por que o Nova Era Lupina está agindo assim! — Respondeu e no mesmo instante, sentiu a mão de Javier em seu braço.
— Gostaríamos de uma explicação. — O irmão falou apertando os dedos para que Amora não o interrompesse.
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