Entre Lobos - Capítulo 26 - Promessas Quebradas
"POSSO SER A SOLUÇÃO DOS SEUS PROBLEMAS. OU O COMEÇO DELES."
Aos poucos, o medo foi sendo vencido pela vontade de chegar. O lago já não era mais uma ameaça e sim um desafio. Amora nadou até suas forças se esgotarem; então parou alguns segundos para descansar. Deu mais algumas braçadas e relaxou de novo ao ficar ofegante. A cada interrupção sentia-se mais encorajada. Quando faltavam apenas alguns metros ouviu o barulho de algo caindo na água. Mesmo assim, não parou. Continuou batendo os pés até que escutou uma voz familiar.
— Fique onde está, humana Amora! Estou indo até aí!
Diminuindo o ritmo, ela ergueu o rosto e viu Ethan se aproximando como no sonho que tivera. Em poucos instantes ele a alcançou, ajudando-a a vencer o restante do percurso.
Amora enxugou o rosto e olhou para Ethan com ternura.
— Você também está todo molhado, Ethan. Por que não vai mudar de roupa?
— Primeiro vou enfiá-la em baixo de um chuveiro. Vocês huamnos perdem o calor do corpo rápido demais.
— E porque acha que preciso de um banho?
— Você está tremendo, humana Amora. Uma ducha quente lhe fará bem.
Ela não tinha forças para discutir. Docemente se deixou conduzir até o banheiro, onde encostou-se na parede enquanto Ethan abria as torneiras.
— Pronto... — Ele falou voltando-se para Amora. — Agora vou sair para que tire as roupas.
Ela apenas balançou a cabeça e seguiu em direção ao box.
— Não vai se despir humana Amora? — Ethan exclamou atônito.
— Não posso. — Ela murmurou num fio de voz.
— Tudo bem. Eu já estou indo embora.
— Estou cansada demais, Ethan. Mal consigo ficar em pé e minhas mãos estão muito trêmulas...
Ele a fitou preocupado e, após um segundo de hesitação, desabotoou um a um os botões da blusa dela tendo o cuidado de não abri-la. Em seguida, desceu a mão até o zíper da calça e abaixou-o.
— Pode se arranjar sozinha agora? — Indagou com voz abafada.
— Acho melhor... — Fora resposta dela.
Quinze minutos depois, ao sair do banheiro vestindo um roupão enorme e na cor branca que Ethan deixara ao lado da toalha, encontrou-o na cozinha colocando um prato fumegante sobre a mesa.
— Tome a sopa, humana Amora. — Ele falou como se ela fosse uma criança. — Ela lhe fará bem.
Ainda tremendo de frio, Amora sentou-se e esperou-o fazer o mesmo antes de experimentar a sopa de carnes variadas e legumes frescos.
— Está delicioso, Ethan. Aprendeu a fazê-lo no continente Rivian? — Indagou para puxar conversa.
— Não!... — Ethan respondeu secamente.
Amora queria dizer-lhe mais. Confessar que o amava e que havia se arriscado para vê-lo. Que vencera o medo da água só para estar ao lado dele. Mas cada vez que abria a boca, a coragem lhe faltava e ela a enchia com outra colher de sopa. Quando finalmente esvaziou o prato, Ethan perguntou, sem ao menos olhar em seus olhos.
— Sente-se melhor?
— Sim... — Ela respondeu também evitando encará-lo.
— Não está mais com frio?
— Não.
— Nem trêmula?
Amora negou balançando a cabeça de um lado para o outro.
— Muito bem. — Ele encostou-se na cadeira e a fitou seriamente. — Então agora posso lhe dizer o que penso a seu respeito. Você é a humana mais maluca que conheci em toda a minha vida. O que deu em sua cabeça para vir nadando até aqui, humana Amora?
— Eu queria vê-lo, Ethan. — Ela confessou sem coragem de olhá-lo. Mas a gasolina do meu barco acabou.
— E não podia esperar até que eu voltasse? Havia necessidade de pegar um barco emprestado?
Amora ergueu os olhos para ele tentando ignorar tanta indiferença.
— Eu precisava falar com você.
— Resumindo, você continua a criatura impulsiva de sempre. Será que nunca vai aprender a medir as consequências antes de agir, humana Amora?
— Acho que não!... — Ela admitiu baixando o olhar novamente. — Eu... eu tento mudar, Ethan, mas quando dou por mim as coisas já aconteceram e eu não consigo impedi-las.
— Uma bela justificativa para uma humana!
— Acho que nunca serei diferente, herdeiro Ethan. Sempre penso o pior antes de conhecer a realidade dos fatos... Muitas vezes acabo ferindo as pessoas que amo com o meu gênio!... — Ela forçou-se a encará-lo. — Foi o que fiz com você, não?
Ethan não respondeu mas seus olhos revelavam o quanto ela o havia magoado. Não parecia mais aborrecido, apenas triste. Será que a perdoaria algum dia?
— O que dói aqui... — Ele falou depois de um breve silêncio apontando para o próprio peito. — É não ter merecido sua confiança, humana Amora.
— Não acontecerá de novo, eu prometo Ethan!... — Amora tocou-lhe o braço levemente. — Nunca mais duvidarei de você, não importa o que me diga ou faça. Mesmo que me expulse do seu barco neste exato momento. E que eu tenha que voltar nadando para casa.
— Isto seria bem mais o seu estilo do que o meu!... — Ele observou com amargura, livrando-se da mão dela.
— Sinto muito, Ethan. Muito mesmo! Por ter sido tão imatura, por não ter acreditado em você e por ter acabado com seus sentimentos por mim.
— E sente ter jogado o vinho no quadro? Ele a lembrou da última vez que a mesma esteve em sua casa/barco.
— Sim, claro! — Amora sussurrou com o coração apertado e piscou com força procurando conter as lágrimas.
De repente, Ethan ficou em pé e, num gesto inesperado, estendeu-lhe a mão.
Amora levantou-se também mas suas pernas ainda estavam trêmulas. Tinha medo de sentir esperança, de tocá-lo e ser rejeitada como há pouco. Quando finalmente criou coragem e roçou-lhe as pontas dos dedos com os seus, sua mão foi envolvida no calor da paixão que sempre os envolveu.
Em silêncio, ele a conduziu até seu quarto, onde adiantou-se para acender as luzes. Em seguida, tomou-a pelo braço e aguardou para ver a reação dela.
Dominando a parede, sobre a cama de casal, estava o quadro que fizera dela!
O impacto da visão fez os olhos de Amora encherem-se de lágrimas outra vez. Só que desta vez ela não lutou para reprimi-las.
Ethan o havia restaurado e o mandara emoldurar. "Mas por quê? Por que o colocara ali depois de tudo o que tinha acontecido entre eles?", perguntou-se. Amora olhou para Ethan buscando uma resposta.
— Por algum tempo... Eu... — Ele iniciou com a voz embargada — Bem, eu pensei que esta seria a única lembrança que me restaria de você.
— Oh, Ethan! — Ela não se conteve e atirou-se nos braços dele enterrando o rosto naquele peito acolhedor. — Você pode me ter inteira, Ethan. Inteirinha! Para sempre!
Ele a envolveu com ternura beijando-lhe os cabelos úmidos.
— É uma oferta, por acaso?
— Uma proposta.
Ele riu, abraçando-a ainda mais forte.
— Que pena! Achei que estava me dando uma chance de seduzi-la.
— Terá a vida toda para fazê-lo, herdeiro Ethan. Eu lhe darei mais chances do que qualquer Lycan poderia desejar.
— Como bom regente que sou, acabo de reconhecer um ótimo negócio. — Ethan murmurou, acariciando a pele quente e macia de Amora.
— Significa que se casará comigo? — Ela indagou.
— Você precisa me convencer com um beijo... Apesar que eu não entendo bem o que significa isso. Mas acredito que você irá me explicar e ensinar os seus costumes.
Amora sentiu-se invadida por uma onda de paixão que jamais tinha experimentado antes. E beijou-o demoradamente, pois ela não via a hora de externar seus sentimentos.
— Eu te amo, herdeiro Ethan Dimitrescu.
— Você tem certeza?
— Vou até me esforçar para ser menos impulsiva.
— Bem... creio que não será necessário. Basta que saiba amar um Alpha como eu.
Estavam muito próximos da cama e por alguns instantes ambos a fitaram sem coragem de externar seus pensamentos. Finalmente Ethan segurou Amora pela mão e a levou para fora do quarto, subindo até o convés. Onde obrigou-a a encará-lo.
— Vamos agir passo a passo, humana Amora. Nada de ações impetuosas, está bem? — Amora concordou e ele prosseguiu. — Em primeiro lugar quero lhe dizer que não sou mais dos Lucans que dirige a Fundação Lupina. Minha missão na Fundação era apenas a de desmascarar meu tio. Segundo, você, sendo como é, não pode me prometer nada pois sabe que não cumprirá.
Amora calou os lábios dele com os dedos.
— Mas posso tentar, Ethan.
— Só quero ver se consegue.
Os olhos dela brilharam..
— Vamos morar no barco... Bem, aqui? Você já notou que não tenho mais medo da água, não?
— Sim, percebi e estou muito orgulhoso de você.
— Obrigada.
— Mas não vamos morar no barco!... — Ethan negou.
— Não? Aonde, então?
— Numa certa propriedade de alqueires onde há um açude e um salgueiro-chorão e que, não por acaso, me pertence agora e que eu estou construindo uma bela casa para minha companheira e nossos filhotes.
— As... as terras de papai, Ethan? Ele vendeu para você?
— Sim, seu pai queria liquidar a dívida e como sabia que eu estava interessado, procurou-me para fecharmos o negócio a dois dias atrás.
— Mas por que aqueles alqueires em especial, Ethan?
— Por sua causa, humana Amora. Desde o princípio era esta a minha intenção, mas como tinha certeza que não acreditaria nos meus verdadeiros motivos pedi ao meu cunhado para ser o intermediário.
— E não me contou por causa da investigação, não foi?
— Havia muita coisa em jogo e não podia arriscar. Sempre soube que suas terras seria salvas humana Amora. Mesmo que a vendessem em leilão, acabaria sendo devolvida quando a verdade sobre os negócios de meu tio viesse à tona. Minha intenção era evitar que passassem pela experiência desagradável que é uma execução como aquela que presenciou. mas o meu plano acabou saindo do controle por causa de sua teimosia!... — Ele a olhou com ternura. — Eu queria os alqueires para morarmos lá quando tudo se resolvesse.
— Queria...?
Ethan virou-se de costas e olhou para as águas tranquilas do lago.
— Apesar do que aconteceu entre nós, humana Amora, acho que no fundo nunca duvidei do nosso amor. A ponto de planejar o meu futuro ao seu lado, mesmo estando separados.
— E não vai se arrepender, Ethan. Farei de você o Lycan mais feliz deste mundo.
Ele riu e voltou-se para ela envolvendo-a nos braços.
— Com toda esta energia, humana Amora, não duvido que se saia bem.
— Eu te amo, herdeiro Ethan Dimitrescu. Muito, muito, mesmo. E sabe de uma coisa? Você estava cetro.
— Quanto a quê?
— Ao amor, é claro. Ele nos faz sentir numa nova vida. Uma vida a dois.
— Agora vou levá-la para casa e conversar com sua família. De quanto tempo precisa para organizar esse tal de casamento que a sua raça tanto fala.
— Alguns meses e...
Ethan rosnou com impaciência a fazendo sorrir ao beijá-lo com paixão.
1774 Palavras
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