Entre Lobos - Capítulo 13 - Um Amor Impossível de Esquecer
"POSSO SER A SOLUÇÃO DOS SEUS PROBLEMAS. OU O COMEÇO DELES."
Amora ficou um longo tempo enternecida nos braços de Ethan após aquele beijo e com a cabeça apoiada em seu peito podia ouvir as batidas do coração dele enquanto tentava acostumar-se a suas novas emoções.
— Beija todas as humanas que conhece desta forma? — Ela indagou afinal.
— Todas não. Minha mãe, minhas irmãs e a namorada do meu melhor amigo eu não...
— Ora, não brinque, Ethan. Quantas já beijou assim?
— Exatamente assim? Apenas uma. E, acredite-me, eu me lembraria se houvesse outras. Está com ciúmes?
— Oh não, imagine... — Amora falou mesmo não acreditando nas próprias palavras. — Estou apenas avaliando nossas posições. Você certamente é experiente no assunto e eu, uma simples amadora na arte do amor.
— Podemos cuidar desta diferença se você quiser. Será mais fácil do que imagina...
— Pelo que ouvi dizer, "cuidar destas diferenças" pode ser bastante complicado.
— Não para quem ama de verdade.
Amora sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. "Teria Ethan se declarado ou fora apenas uma observação casual?", pensou. Era preferível não saber. Sua única certeza naquele momento é que há muito já passara da hora de voltar para casa.
— Acho que devo levá-la de volta agora. — Ele falou adivinhando seus pensamentos. — Já demos um belo show aos nossos vizinhos esta noite.
Sobressaltada, Amora desprendeu-se dos braços dele dirigindo o olhar para os outros barcos que de repente surgiam a volta dos dois. De fato, um homem estava a observá-los num grande veleiro, e quando seus olhares se cruzaram o estranho acenou para ela.
— Acha que conhece seu pai? — Ethan indagou.
— Você não disse que estávamos sozinhos? — Ela perguntou em vez de lhe responder.
— Cometi um engano.
— Por sinal, bastante desastroso. Aquele sujeito é Bino Celerg, meu primo.
— Bino Celerg é seu primo?!
Amora caiu na risada diante do ar espantado de Ethan e confirmou:
— Primo em qunto grau. Mande passar o seu melhor terno, escolha um sacerdote de sua preferência e prepare-se, Ethan Dimitrescu. Você está para herdar algumas terras endividadas!
— Não posso acreditar, Pimentinha. Você disse mesmo a Ethan Dimitrescu que Bino Celerg, nosso ex-professor de agricultura familiar, é nosso primo? — Sabine perguntou à irmã com voz incrédula.
— Mas é claro. — Amora respondeu enquanto transplantava alguns pezinhos de alface roxa. — Foi a única maneira que encontrei de serenar os ânimos dele. Você precisava ver a expressão de Ethan. Ficou assustadíssimo.
As duas caíram na risada e Sabine ajoelhou-se ao lado dela para ajudá-la.
— Que horror, Amora. Como consegue trabalhar tanto tempo com esta mistura?
— Não exagere, Sabine. Compostos orgânicos não têm cheiro. Você está impressionada.
— Estou é ficando enjoada isso sim.
Amora não escondeu sua surpresa ao olhar para a irmã.
— Outra gravidez, Sabine?
— Creio que sim.
— Mas que bom! Vocês querem um menino desta vez, não?
— Serão gêmeos de novo.
— Você não pode saber. Ou pode?
— Acredite-me, Amora... — Ela falou orgulhosa, tocando o ventre com as mãos. — Há dois bebês aqui dentro. Só espero que um deles seja um garoto, bonito como o pai.
Amora adorava todos os cunhados, mas sentia um carinho especial por Bruce, com quem tinha muito em comum.
— Tenho certeza que será, Sabine. Às vezes fico imaginando se algum dia me sentirei assim como você em relação a algum homem.
— O que me diz de Ethan Dimitrescu?
— É o Lycan mais atraente que já conheci, porém... Somos muito diferentes e...
— É praticamente o dono da Fundação Lupina e dono de todo esse estado. — Sabine completou por ela. — Será que não pode perdoá-lo por isto, Amora? Saus convicções não podem apenas mudar um pouco. Sabe que isso de odiar os Lycans é coisa que deveria ter ficado no passado. Juntamente com os falsos ensinamentos que aqueles malditos religiosos, mentirosos nos ensinaram. Onde já se viu dizer que raças diferentes eram criaturas do diabo. A humanidade praticamente quase se alto destriu por causa disso. Se não fosse os Deuses antigos e novos trazerem os Lycans de volta ao nosso mundo. Nada disso existiria mais... Ela afirmou olhando a recém floresta que se erguia a quilometros de distancia. — Foi graças aos diversos corredores verdes que a humanidade pode salvar o planeta.
— As nossas muralhas verdes são realmente magnificas!... E eu ando pouco tolerante ultimamente, Sabine. Por que diabos logo alguém como um Lupino tinha que mexer tanto com o meu coração, um ser que tem tudo no mundo a seu favor, se presta a um ato tão vergonhoso como tirar as terras dos outros?
— São as novas leis vigentes pelo tratado entre as duas raças. humanos e o povo dele, Amora. O shumanos terão direito a produzir nas terras novamente, mas também terão que obedecer as regras de cada clã. Somos governados pelos Garras de Sangue e apesar de tudo, eles são muito bons com a gente. Imagine o quanto a nossa raça os fizeram sofrer no passado.
— Eu sei, mas para mim as ações valem mais do que as palavras. E...
— E se conseguisse fazer o pagamento dentro do prazo? Isto mudaria seus sentimentos em relação a ele?
Amora levantou-se.
— É o que na certa ele está se perguntando a estas alturas. Faz uma semana que fui a sua morada e Ethan não me procurou mais.
— Ele deve estar apavorado com aquela história do primo Bino isso sim.
— Que nada! Ethan não me pareceu tão preocupado assim. Na verdade eu até achei que ele ficou feliz. — Ela deu de ombros. — No fundo ele sabia da minha estratégia. é como se ele pudesse ler os meus pensamentos e emoções.
— Talvez esteja se apaixonando por você. Ou ainda, não se esqueça que a raça dele possui muitos segredos. Alguns de nós contavam que os Lupinos tinham estranhos poderes, além de poderem se transformar em logo quando quiserem. Contou a irmã empolgada.
— É mais possível que eu seja apenas mais uma entre as humanas que passaram pela vida dele.
— Ora, vamos lá, Amora. Não seja tão cruel assim.
— Escute, Sabine. Se você fosse um Lupino jovem e atraente, que interesse veria numa humana prestes a falir?
Sabine examinou o rosto bonito da irmã com atenção. Todos na família costumavam brincar que a caçula era uma mistura das mulheres inteira da família Lushton: os cabelos loiros de Lâseja, sua mãe, os olhos verdes de Sabine, a boca carnuda de Alanis e o nariz arrebitado de Sandya. Não havia nada de original em Amora, exceto por um detalhe: os traços herdados de suas irmãs tornavam-na uma jovem maravilhosa e única. Qualquer homem ou Lycan da região se encantaria com aquela humana pequena, loira e completamente tempestuosa, dona de curvas insinuantes e de uma inteligência privilegiada.
— Não sei por que nenhuma de nós teve a brilhante idéia de lhe contar os fatos da vida, Amora.
— Mamãe fez isto quando eu tinha doze anos.
— Não é a estes que me refiro. Sexo não é tudo, sabia? Falo do que os homens ou Lycans machos buscam em uma mulher e que, receio, você nasceu com todos...
— Receia? Não entendo o que está querendo dizer, Sabine. Com uma expressão de desânimo, sua irmã sorriu descrente e colocou o braço ao redor dos ombros dela.
— Vamos para casa, querida. Temos muito o que conversar e estou morrendo de fome. Talvez haja algum pedaço daquelas deliciosas melancias na geladeira. E espero que nossa mãe tenha feito aquela gostosura de bolo de chocolate com cobertura tripla, pois a conversa vai ser bem longa.
Vários dias depois, numa das noites em que se recolhera ao escritório para colocar em dia o livro de contas, Amora teve uma surpresa que a deixou eufórica: com os trabalhos extras que ela e os gêmeos andavam fazendo teriam condições de mandar o cheque daquele mês para o pagamento da dívida comercial, e possivelmente liquidar o restante no início do mês seguinte.
Era bom demais para ser verdade, por isto ela conferiu pela terceira vez a coluna de números com medo de haver cometido algum engano. Mas não, estava tudo na ponta do lápis e em breve os Lushton não precisariam mais temer a execução da famigerada lei Lycan sobre eles e suas terras!
Encostando-se na cadeira, Amora saboreava um gostinho de vitória sobre a Fundação Lupina quando Javier entrou.
— Não devia estar dormindo Javier? — Ela censurou o irmão. — O que está fazendo acordado até esta hora?
— Fui dar uma olhada nos barracões da granja das aves de abate. — Javier comentou com ar preocupado. — E você? Por que não foi para a cama também?
— Oh, Javier, não imagina o que acabo de... Espere um pouco. Estou enganada ou aconteceu algo?
— Bem... é apenas um pressentimento. — Javier parecia relutante ao lhe responder.
— Que tipo de pressentimento?
— Ainda não estou bem certo mas alguns dos frangos não me parecem sadios. Estão mais quietos do que o habitual e com as penas arrepiadas. — Ele deu de ombros. — Isto foi o que notei, é possível que seja apenas devido os últimos temporais.
— Tomara que sim... Mas melhor ficarmos em alerta. — Amora desejou cruzando os dedos.
— Vá para a cama, pimentinha. Não há nada que possamos fazer hoje. Amanhã saberemos se não foi apenas imaginação minha.
Parados junto à vala repleta de aves mortas, Amora, Javier, Ravier, Sabine e Bruce observavam silenciosos. Um pouco mais afastados, o sr. e a sra. Lushton balançavam a cabeça de um lado para o outro, inconformados.
— Vamos cobri-los rapidamente com terra e cal. — Sabine falou finalmente. — Há muito trabalho ainda para ser feito, temo que possamos perder outros ainda. Maldita praga!...
Amora esperou que os pais se retirassem e pegou uma pá para ajudar os homens.
— Quantos ainda faltam? — Ela perguntou, mas ninguém respondeu. Era impossível saber.
Javier estava certo. A suspeita dele tinha se transformado numa realidade terrível. Um caso raro e fatal de gripe aviária abatera-se sobre os frangos, destruindo meses e meses de trabalho duro. Amora já havia perdido a conta de quantos tinham morrido, e ninguém podia fazer nada a não ser exterminar os contaminados e enterrar os mortos.
Quando terminaram de cobrir aquela leva, os homens voltaram aos barracões e ela seguiu em direção à casa. Sentia-se cansada, precisava de um café bem quente e confortante.
— Espere, Amora... — Ouviu alguém chamá-la e parou, aguardando por Bruce e Scott que vinha ao seu alcance.
— Tem alguma idéia dos prejuízos? — Scott perguntou caminhando ao lado dela.
Amora examinou o rosto do cunhado e do irmão antes de falar. Bruce ainda não completara quarenta anos mas naquele dia parecia bem mais velho e nem se fala do seu irmão, Scott estava preocupado e mais pálido do que de costume.
— Por que resolveu ser proprietário de terras também, Bruce? — Ela indagou, adiando uma resposta. — Sei que como nosso cunhado, assim como o meu irmão mais velho Scott, você não tinha muitas alternativas, mas por quê, Bruce? Por que resolveu produzir nessas terras também?
— Vocês dois sabem.
Sim, ela conhecia muito bem a razão da escolha de Bruce. Sabia o que era sentir amor pela terra, um sentimento tão forte que os tornava obstinados.
— Essa epidemia veio em péssima hora, Bruce. — Ela admitiu finalmente. — Mas vamos ultrapassar a crise com a mesma coragem com que você tem enfrentado a sua. A perca dos grãos por causa do excesso de chuva vai passar, assim como isso tudo.
— Vou vender minhas terras e pagar papai até o último centavo que ele pediu emprestado para me ajudar. Anunciou Scott surprendo a todos eles.
Amora parou, olhando para ele zangada.
— Nem pense nisso seu idiota! Você não vai fazer esta loucura Scott Lushton!
— Já pedi a um corretor para ir à minha fazenda esta noite.
— Então ligue para ele e diga que mudou de idéia. Ou quer matar o nosso pai de desgosto?
— Não quero ser o responsável por papai perder um só alqueire de suas terras. — Ele afirmou decidido.
Amora sabia que só havia uma maneira de fazê-lo voltar à razão. Apelar para o sentimentalismo.
— Você é o filho mais velho, Scott... — Começou, procurando parecer natural. — Papai sempre se aborreceu por não tê-lo ajudado quando você e Brienne se casaram e lutaram para comprar suas terras. Como acha que ele se sentiu naquela época? — Ela ergueu a mão quando Scott quis interrompê-la. — Não foi por sua culpa que ele ficou em apuros mais tarde. A crise foi geral, e quando o velho Slade viu uma chance de ajudá-lo, foi com o maior prazer que trocou estas terras para conseguir-lhe o dinheiro. Se vender sua propriedade agora, ele nunca se perdoará por não poder fazer mais por você.
— Papai ficará muito pior se perder suas próprias terra, pimentinha.
— Mas não vamos ficar sem elas. Enviei um cheque ao banco antes desta tragédia e espero que isto os acalme por algum tempo, até que eu possa liquidar o restante.
— Amora está certa, Scott. — Bruce falou logo atrás deles. — Você tem que se aguentar pelo bem de seu pai. Faça-o por ele. E lembre-se a família Lushton não desiste antes de esgotarem todas as alternativas.
Em silêncio, os três caminharam até a casa.
Três semanas mais tarde, não havia praticamente mais nenhum traço da epidemia, a não ser os barracões quase vazios. Segundo Scott, era preciso esperar ainda uma semana para se considerarem livres do pesadelo. A higienização havia sido feita, agora precisavam esperar a autorização dos órgãos competentes para voltarem a produzirem as aves de cortes e os ovos.
— É... Parece que o pior já passou. — Amora comentou com Ravier enquanto examinavam os frangos que haviam sobrevivido.
— Também acho. Porém precisamos ser muito cuidadosos até termos certeza absoluta. Perdemos muito dinheiro nisso, pimentinha.
— E eu não sei, Ravier?
— Tem alguma notícia da Fundação Lupina?
— Nem uma palavra.
— E de Ethan? Essas aves iriam para o clã deles afinal.
— Ligou várias vezes. Contei o que aconteceu, mas Ethan não mencionou o assunto da dívida. E eu também não perguntei.
— Vamos, vou ajudá-la com as verduras e os legumes, Amora.
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