Capítulo 05. A queda
Após aquele beijo inesperado, nenhum dos dois ousou dizer qualquer coisa. Mesmo que estivesse um pouco tonta, Maria Joana ainda teve força de se desvencilhar de Alan. Antes de começar a correr, decretou com a voz exaltada:
— Não se aproxima mais de mim! Nunca mais!
Mais uma vez, ignorou o seu nome sendo chamado pelo rapaz. E, mais uma vez, a adrenalina percorreu pelas suas veias.
Na sua breve andança, chorou copiosamente. Pouco se importou se os outros a encaravam e se estava fazendo um papel ridículo, só queria um tempo para si e botar as ideias confusas no lugar. Por isso, resolveu ir para a casa. Nunca foi uma aluna relapsa, mas sabia que não teria mais cabeça para encarar as próximas aulas.
Já deitada em seu quarto, ficou remoendo a cena que ocorrera há tão pouco tempo. Novamente, aquele misto de sentimentos, com destaque para a confusão, imperava em seu íntimo. Quem Alan pensava que era para agarrá-la e beijá-la daquele jeito? Mas... ele beijava tão bem...
Aqueles lábios macios em contato com os seus, a língua dele em perfeita sincronia com a sua, o toque dele em sua cintura... Porcaria! Estava, de fato, bancando a ridícula. Nem quando era adolescente agia de maneira tão emocionada, embora os garotos que já tenha beijado não chegassem aos pés de Alan em vários sentidos, inclusive aqueles que, no fundo, gostaria de conhecer...
Basta! O cara era, ao que tudo indicava, um assassino! Um assassino charmoso, mas assassino de qualquer jeito. Com um suspiro, ela admitiu para si mesma que também estava ficando apaixonada... Porém, havia alguma esperança enquanto aquele sentimento não evoluísse para algo mais profundo. Já se encantara por outras pessoas tantas vezes na vida, na mesma medida que se decepcionara, que mais uma ou menos outra experiência como aquela não a mataria de vez.
Matar...
Foi uma péssima escolha de palavras, mesmo em pensamento.
Por isso, a sua confusão se tornou raiva. Naquele instante, seria capaz de triturar, ossinho por ossinho, seu colega de classe. Aí seria ela a grande assassina de Pedras Azuis.
Também tinha raiva de si mesma por ter se deixado levar. Maldita paixão! Malditos hormônios! E maldita determinada parte de sua anatomia feminina que ousou ouriçar com aquela situação!
Foi assim que, inspirada por tamanha energia negativa, ela acabou ficando incrivelmente produtiva. Releu e releu Noite na taverna, não com o objetivo de querer extrair algo a mais para as suas suspeitas, mas para realizar logo aquele trabalho que lhe foi designado. Assim, pôs-se a redigir seu texto crítico.
Estava tão irada que ficou ao ponto de encarnar a atmosfera mórbida da obra de Álvares de Azevedo na sua escrita. Saiu criticando aqueles personagens, não deixando nenhum deles livre de suas palavras polidas, mas que carregavam nas entrelinhas bons tons de acidez. Era como se, ao fazer aquilo, estivesse xingando Alan.
Ao fim daquilo tudo, surpreendeu-se em como terminou rápido aquela tarefa. Talvez aquela redação tenha até batido o seu próprio recorde pessoal no quesito tempo. E qualidade também: a última coisa que queria era bancar a falsa modesta.
Quando deu por si, a manhã já havia passado e Taís logo estaria por ali. Tendo aquele tempinho sozinha, Joana decidiu que contaria o que houve para a amiga. Sabia que ela poderia até lhe xingar por conta do beijo, mas também iria oferecer sua solidariedade.
Desse modo, Maria Joana foi preparar o almoço, tanto para si própria quanto para a outra moça – quem sabe ela não a julgaria tanto se fosse amansada pelo estômago. Acabou fazendo uma bela de uma macarronada para, em seguida, pôr a mesa e ficar aguardando a chegada da outra.
Esperou por uns dez minutos...
Vinte minutos...
Meia hora...
Naquelas alturas, já estava praguejando Taís. Como já mencionado, não iria agir com falsa modéstia: seu molho de tomate estava, para se dizer o mínimo, convidativo e atiçando a sua fome.
Esperou mais um pouco. Lá se foram mais dez minutos...
Vinte...
Trinta...
E... Que estranho! Taís estava demorando e não era do seu feitio se atrasar daquele jeito. Joana não resistiu e tratou de enviar uma mensagem:
Joana 📚 [13: 42]: Amiga, você vem pra casa? Acabei fazendo o almoço e estou te esperando.
Não houve resposta, nem naquele momento, nem nos seguintes. Joana estranhou aquilo. A colega era sempre rápida no que se referia às trocas de mensagens, sendo a única óbvia exceção quando estava em aula, o que, naquele horário, não era o caso.
Joana 📚 [14: 04]: Olha, se não for passar aqui em casa agora, vou deixar a comida aqui nas panelas. Aí você chega e esquenta.
De novo, sem resposta. A partir daí, o nervosismo dominou Maria Joana. Aquela vozinha irritante já berrava que algo não estava cheirando bem...
Ela ignorou aquilo e se serviu com a refeição que havia preparado. A ansiedade foi tanta que boa parte de sua fome tinha se esvaído. Na verdade, só comeu um pouco pensando que, mais tarde, poderia estar muito fraca, caso a barriga estivesse vazia. Isso não impediu que a comida descesse rasgando por seu trato digestório. A macarronada estava realmente apetitosa, porém, o bolo formado em sua garganta quase fez com que aquele almoço não fosse engolido.
Terminou de comer e, no instante em que bebia um copo de água com açúcar, recebeu uma notificação em seu celular:
Taís 🔬 [14: 26]: Oi.
Joana 📚 [14:26]: Menina do céu! Não me deixa preocupada desse jeito! Você está vindo pra casa?
Houve um curto intervalo de tempo em que nenhuma mensagem foi trocada. Pela terceira vez, Joana encarou aquilo com estranheza. Tornou então a insistir:
Joana 📚 [14:27]: Taís?
Sem réplica, "para variar". Quando a moça iria enviar mais um texto, veio o que ela não esperava:
Taís 🔬 [14: 28]: Não é a Taís que está falando...
Joana teve que chacoalhar a cabeça, incrédula.
Joana 📚 [14:28]: O quê? Que brincadeira é essa, Taís? Não tem graça!
E antes que a estudante de Letras cogitasse em fazer qualquer coisa, na tela de seu aparelho celular apareceu o que ela jamais queria ter visto...
Era uma foto. Nela, aparecia a silhueta de Taís e... uma arma apontada em suas costas!
Em uma fração de segundos, Joana chegou a pensar que aquilo ainda era uma brincadeira de mau gosto da outra, todavia, era possível ver as mãos livres de Taís na imagem. Em outras palavras, alguém estava com ela!
Para aumentar o pavor, era possível ver uma marca, aparentemente feita há pouco tempo, em uma das mãos da outra moça. Tal emblema tinha... o formato de uma letra A!
A jovem naquele sobrado teve uma ideia, mas parecendo que alguém lia os seus pensamentos, veio uma nova e ameaçadora mensagem:
Taís 🔬 [14: 28]: Nem pense em chamar a polícia ou a morte da sua amiga será um eterno peso em sua consciência!
Dominada pelo desespero, a moça enviou uma pergunta:
Joana 📚 [14:28]: Cadê você?
Cogitou xingar seja lá quem fosse o seu algoz, contudo, aquilo poderia piorar as coisas. Não houve mais nenhuma troca de mensagens por algum tempo. Foram eternos minutos pelos quais Joana não sabia o que fazer.
Parou para analisar aquela foto que lhe fora mandada. A paisagem em volta era familiar... Tinha quase certeza que já estivera ali – aquelas árvores bastante esverdeadas e aquele céu limpo e majestoso tocavam em algum lugar de sua memória. Foi assim que se recordou de um fim de semana em que havia feito um piquenique justamente com a sua colega em perigo. Com isso, veio um clarão em sua mente: aquele local era o Pico Safira!
O lado irracional dominou a moça, que pegou um facão da louça da cozinha, escondeu-o no bolso de sua calça, saiu de casa e rumou para aquela montanha.
Por ser uma cidade pequena, tudo era relativamente perto em Pedras Azuis. Desse modo, Joana foi a pé: não teria tempo e cabeça para aguardar o transporte público. Estava indo salvar a sua colega de moradia e não a um passeio.
Chegou ao sopé do Pico Safira e, sem vacilar, já foi subindo. A montanha em questão não era íngreme, sendo, por isso, um ponto da cidade que atraía algumas pessoas, sejam turistas, sejam os próprios habitantes. Entretanto, naquele dia, Joana foi constatando, conforme andava, o quão deserto aquele lugar estava. Aquele prenúncio de perigo e tragédia parecia fazer aquela serra ser mais obscura, mais macabra, mais... palco de um crime.
Não sendo muito acostumada com exercício físico, ela ignorou os protestos de seu corpo por conta da extensa subida. Ao alcançar a parte arborizada do local, que se situava próxima ao cume da montanha, Maria Joana começou a berrar, ainda apavorada, o nome de Taís.
E foi aí que aconteceu...
Um tiro ressoou pelo local!
O coração da moça por um instante falhou uma batida, fazendo-a arfar. Não berrou, mas, sem ter medido as consequências, andou na direção de onde julgou que viera o disparo. Seu desespero, que já era grande, conseguiu se tornar maior, muito maior. Quis se enganar pensando positivo, embora também já esperasse o pior.
Poderia ser que ela desse de cara com algum homicida, mas se isso representasse a salvação para a sua tão estimada amiga, valeria à pena o risco.
Só que, já estando no seu aparente destino, não havia sinal algum de Taís... Cadê ela?
Para não dizer que não havia visto nada, a jovem acabou se deparando com uma trilha de sangue... Engoliu em seco e, já tomada pelos seus instintos mais primitivos, foi seguindo aquele rastro.
Notou que aquilo acabava na beira de um abismo, de onde era possível ver o rio Obitinga com suas águas cristalinas e sua intensa correnteza.
Será que Taís... despencou dali?
Antes que chegasse ao fim daquela trilha mórbida para responder àquele sufocante questionamento, achou o que lhe era, ao mesmo tempo, esperado e inesperado.
Ali, jazia o próprio celular de Taís. Estava desbloqueado, portanto, foi possível conferir as últimas mensagens enviadas, as quais batiam com aquelas recebidas por Maria Joana.
No entanto, um pedaço de papel, contendo letras digitadas, também ali se encontrava. Leu-o:
"Morra ou mate..." ⁴
Não era possível! Mesmo que não entendesse bem o idioma original, Joana sabia que aquela era... mais uma epígrafe traduzida de Noite na taverna!
Com essa informação, ela chegou a uma conclusão, uma triste conclusão: sua amiga já não fazia mais parte do mundo dos vivos... Aquela trágica circunstância também havia imitado um dos eventos do livro de Álvares de Azevedo, mais precisamente do capítulo de Gennaro.
Sem escolha e já baqueada, sua voz entoou um grito sofrido. Sua mente reverberou a seguinte questão:
"— Por quê?"
Maria Joana não sabia como havia conseguido reunir forças. Ela, obviamente, teve que se retirar do Pico Safira, mas depois passou em sua casa, pegou o que achou que fosse necessário e se dirigiu até a delegacia local.
Se fosse uma perda ocasional de algum ente querido, ela iria ficar chorando e relembrando os bons momentos com a pessoa por horas a fio. Contudo, aquela não era uma circunstância normal: um assassino estava à solta, matando universitários por aí e ela mesma poderia muito bem ser a próxima vítima.
A delegacia onde se encontrava não era grande. Por um bom tempo, ficou aguardando ser atendida em um ambiente com várias cadeiras dispostas e todo pintado de branco. Depois, foi convocada para falar com o delegado em uma salinha, que continha alguns armários e várias pilhas de papéis em cima de uma mesa, a qual separava a moça da citada autoridade policial.
Falando nele, apesar de ser um tanto arredia em relação aos considerados homens da lei, Joana admitiu que a figura à sua frente tinha um quê impagável. Tratava-se de um homem que aparentava beirar seus quarenta e cinco anos de idade, gordo, com um bigode e, apesar dos cabelos castanhos, apresentava preocupantes entradas na cabeça. Por um momento, a estudante pensou:
"— Ele se parece com alguém..."
Sua mente então se recordou de um apresentador de televisão – não de uma emissora grande, de outra. Lembrou-se que aquele mesmo homem famoso chegou a falar impropérios a respeito de um desenho japonês, cujos personagens duelavam com umas cartas que materializavam uns monstrinhos. Não que ela fosse antenada na animação em questão, mas a polêmica que isso deu na época era ainda vívida em sua memória.⁵
Poderia ela ter dado uma risadinha com a semelhança física, porém, estava ainda baqueada pela recente perda. Em seguida, o delegado se apresentou como Euclides Varela e, para a sua surpresa, aparentava ser até um homem simpático. Aliás, agradeceu mentalmente por não estar lidando com alguém indelicado: era só o que lhe faltava. Portanto, começou:
— Eu preciso de ajuda... Urgente!
— Ajuda com o quê?
Ela respirou fundo. Quase engatou mais um choro ali mesmo, mas se conteve. Julgou que já tinha derramado lágrimas suficientes e, se fosse necessário, entregar-se-ia mais à sua melancolia quando estivesse sozinha.
Com isso, começou a relatar simplesmente tudo, desde a mensagem misteriosa que recebera naquela madrugada de dias atrás até a morte praticamente presenciada da amiga. Tudo isso foi falado conforme eram mostrados os itens ali envolvidos, como o exemplar de Noite na taverna, seu celular, contendo aquelas mensagens, e o de Taís, já bloqueado, além do papel encontrado no Pico Safira. Impressionado com o depoimento, Euclides retrucou:
— Por que não acionou a polícia antes?
Em que pesou o questionamento feito de forma direta, Joana não sentiu que ele foi desprovido de empatia, pelo contrário. Munida de coragem, confessou que, junto da amiga, estava levantando algumas suspeitas em relação às mortes ocorridas em Pedras Azuis. No decorrer da conversa, acabou revelando que cursava Letras na UPAZ e, coincidentemente, estava estudando sobre Álvares de Azevedo e o Ultrarromantismo.
— Veja: os dois rapazes mortos estavam com esta... e esta citação aqui — ela dizia enquanto mostrava as epígrafes contidas em Noite na taverna, folheando a obra. — Lógico que, como pode ver aqui no livro, elas estão no idioma original, ao passo que as que foram achadas junto aos corpos estavam traduzidas. — Pausou para tomar fôlego. — E... lá na montanha, encontrei este papelzinho... — Mostrou o que havia achado. — ... cuja tradução corresponde a esta epígrafe. — Virou mais páginas do livro. — Percebe, delegado Varela? O assassino tem um padrão.
O homem arregalou os olhos frente à perspicácia da jovem. Involuntariamente, considerou-a com respeito. Sem se conter, exclamou:
— Incrível! Como nós não pensamos nisso antes?
— As epígrafes do Lord Byron, que são as duas primeiras de Noite na taverna, meio que induzem ao erro, doutor. Tudo bem que os temas explorados nas obras se assemelham, só que não se tratam do mesmo autor.
Euclides sorriu com satisfação, ao passo que Joana retribuiu o gesto, de maneira mais contida, afinal, ainda estava tomada pelo luto, embora o ato de falar a respeito dos últimos acontecimentos estivesse lhe fazendo bem.
— Taí... — A moça vacilou. Só de pensar no nome da recém finada colega era doloroso para si. — ... Nós duas também chegamos à conclusão de que não apenas as citações inspiraram esses crimes: os assassinatos também remetem a algumas partes do livro aqui. — Apontou para o exemplar sobre a mesa.
Desse modo, a universitária resumiu o que havia lido, frisando a relação disso com os homicídios:
— Vê, delegado? Aquele rapaz, o Otto, morreu em um cemitério, que é o principal cenário do segundo capítulo. Ivan foi dilacerado e teve o braço arrancado em uma clara referência à antropofagia vista na terceira parte do livro. E... — suspirou profundamente. — Taís... foi arremessada do Pico Safira, o que imitou um dos eventos do capítulo quatro.
Houve uma pausa por parte da moça. Euclides tinha verdadeiramente simpatizado com Joana que nem cogitou apressá-la. Em todos aqueles anos de carreira, sabia que, sendo ela somente uma cidadã comum – e não uma investigadora ou algo do gênero –, era difícil estar ali e relatar acerca de tudo o que sabia.
— Eu falei sobre induzir ao erro antes — Maria Joana finalmente tornou a se manifestar —, e desse mal a Taí... nós duas sofremos. Achávamos que o assassino estava atrás de rapazes ricos até ela própria ter se tornado uma vítima dele... — Ocorreu mais um suspiro sofrido. — E é por isso, delegado Varela, que, além do que estou dizendo aqui, gostaria de proteção. Me sinto vigiada, me bate a impressão de que o assassino sabia e sabe dos nossos passos e das nossas teorias.
— É um pedido justo. Vou providenciar para que algumas viaturas fiquem rondando na região onde você mora.
— Sério, doutor? — Pela primeira vez naquele fatídico dia, os olhos de Maria Joana brilharam de algo próximo à alegria. — Eu fico imensamente agradecida por isso!
— Claro que não posso passar a mão na sua cabeça e dizer que fez tudo certo, não é mesmo? Além de não ter nos acionado antes, a senhorita mexeu na cena do último crime, ao trazer o papelzinho e o celular de sua amiga — Indicou para os itens citados. —, o que certamente irá interferir no trabalho da perícia.
Ele havia proferido aquilo com seriedade. Joana somente abaixou a cabeça, resignada. Deu razão a ele, mas também pensou que talvez havia se equivocado acerca da suposta empatia do policial. No entanto, tal ideia pessimista logo se esvaiu de sua cabeça ao escutar as seguintes palavras carregadas de mansidão:
— Por outro lado, sua presença foi mais do que útil. Suas informações podem até nos ajudar a deter esse assassino. — Ele sorriu. — Fui com a sua cara, filha! Não é todo dia que se acha pessoas tão destemidas e com um ótimo senso de dedução como o seu.
O coração dela se aqueceu diante de tantos elogios direcionados à sua pessoa. Inconscientemente, lembrou-se de sua família e de como ela jamais tinha lhe dado apoio. Em tão poucos termos, o homem naquela salinha havia feito muito mais do que seus próprios pais. Por mais que não quisesse, até por respeito à memória de Taís, Joana ficou feliz ao ouvir aquilo.
— Só quero algo em troca de sua proteção... — disse Euclides, tirando a moça de seus pensamentos.
— O quê?
— Além do celular da sua amiga, para que o examinemos e, quem sabe, seja descoberto algo, também quero o exemplar deste livro aqui. — Ele fez um gesto indicativo à Noite na taverna.
— Oh! — Ela deu uma risadinha nervosa. — Tudo bem... Já terminei meu dever com ele mesmo. Acho que não vou querer ver essa obra tão cedo...
E para provar que não havia um clima tenso entre os dois, o delegado soltou uma gargalhada, o que quase contagiou a jovem. Ele ainda continuou:
— Além de tudo que falei, você foi uma das poucas pessoas que me chamou de "delegado Varela" e "doutor"... Me senti importante.
Dessa vez, os lábios dela não resistiram e se curvaram em um sorriso que, apesar de discreto, era genuíno. Não havia um ar de convencimento em Euclides, somente foi o jeito que ele arrumou para descontrai-la, nem que fosse por alguns instantes.
— Estamos nos esquecendo de algo... — ele tornou a se pronunciar. — Junto dessa questão em torno das citações e do modo de agir do assassino, também havia as marcas das letras nos corpos. Você pensou algo acerca disso?
Novamente, Maria Joana respirou fundo e anuiu. Disse:
— Tenho uma suspeita...
— Qual?
— E se não for verdade? — "Por mais que tudo indique que o seja", pensou.
— Você não estará acusando ninguém formalmente. O máximo que podemos fazer é investigar para ver se a suspeita procede.
Longos minutos de silêncio dominaram o ambiente. Joana se recordou da ligação que Alan possuía com a polícia por conta de um tio. Entretanto, já tinha ido longe demais. Havia contado tudo o que sabia, fora que, mesmo tendo conhecido o delegado Euclides há pouquíssimo tempo, sentiu segurança em sua figura.
Então, ela tomou coragem e se manifestou:
— Muito bem! Vamos adiante.
Notas feat. Curiosidades do capítulo:
⁴ Versão traduzida do seguinte trecho de Le Cid de Pierre Corneille:
Meurs ou tue
A propósito, diferente das epígrafes envolvidas nos contextos das duas primeiras mortes – as quais pertenciam a Lord Byron (autor inglês) –, Corneille era francês, por isso o trecho "Mesmo que não entendesse bem o idioma original, Joana sabia que aquela era... mais uma epígrafe traduzida de Noite na taverna!"
⁵ Para quem não entendeu a referência, imaginei o delegado Euclides como sendo parecido com o apresentador Gilberto Barros kkkkkk. Segue a foto:
E a polêmica que Joana se lembrou foi real: nos anos 2000, o apresentador aí saiu falando que Yu-Gi-Oh (uma febre na minha época) era coisa do lá de baixo rsrsrsrs.
Sobre o enredo, considero este capítulo o início do clímax da história, afinal, uma personagem importante morreu (RIP Taís) e, por conta disso, a parte misteriosa da trama se mesclou com a esfera pessoal de Maria Joana. O que será que vem depois? Isso começará a ser respondido a partir do próximo capítulo. Vem muito tiro, porrada e bomba por aí...
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