Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 03. Dilacerado

— Ivan de Castro Baltazar, vinte e um anos, estudante de Turismo na UPAZ. Encontrado às margens do rio Obitinga às seis horas da manhã.

Aquele mesmo perito novamente se encontrava em Pedras Azuis a fim de apurar mais um caso em torno de uma misteriosa morte.

Dessa vez, a vítima não fora estrangulada, e sim... dilacerada. Se não fossem constadas as marcas efetuadas por alguma arma branca, dava até para dizer que o rapaz havia sido atacado por alguma fera insana. O problema é que não existiam animais daquele tipo por ali...

Além disso, um dos braços do corpo encontrado estava faltando, ao passo que o outro... exibia uma marca, porém, dessa vez, no formato de um A. Para completar, mais uma citação fora encontrada em um dos bolsos da calça do finado universitário:

"Mas por que eu deveria gemer pelos outros,
Quando ninguém suspirará por mim!" ³

Para variar, era mais um trecho traduzido de Lord Byron...

Não teve jeito: tanto o óbito de Otto quanto o de Ivan passaram a ser encarados como homicídios, e contendo certo grau de qualificação. Óbvio que pesou a influência das famílias e dos conhecidos dos dois moços para isso, mas, antes de qualquer coisa, as circunstâncias de ambos os acontecimentos já falavam por si só.

Por conta dessa segunda morte, as aulas na UPAZ naquela mesma manhã foram suspensas. Com a notícia sendo espalhada rapidamente, a população local teria que, a partir das dezenove horas, realizar um toque de recolher. Aos poucos, o pânico ia contagiando a todos.

Maria Joana ia, na companhia de Taís, encarar mais um dia letivo quando soube de tudo isso. Ela ficou ao ponto de subir pelas paredes quando falaram a respeito da suspensão das aulas. Onde poderia esquecer um pouco da vida senão nas atividades acadêmicas? No seu trabalho? Nem isso, pois, além de ficar pouco tempo por ali, a boate também teria que fechar as suas portas enquanto não resolvessem aquele mistério ou, na falta de provas concretas, arquivassem o caso.

E para não dizer que fazia o tipo insensível, era lógico que a morte de Ivan por si só a chocava. Não importava se ele era tão playboy e metido à besta quanto Otto – inclusive, os dois eram relativamente próximos, o que só gerava mais comoção diante dos trágicos ocorridos –, a maneira como ele fora assassinado era, no mínimo, desumana.

Além disso, parecia que Lord Byron vinha lhe assombrar. Ela chegou a pensar na possibilidade de o fantasma do citado autor ter dado cabo nos dois rapazes, o que, obviamente, era inverossímil. No entanto, era coincidência demais o tanto de vezes que ouviu o seu nome nos últimos dias, o que fazia a intuição dela bradar a cada simples menção feita ao escritor.

No começo da tarde, Joana estava no sobrado, mais precisamente em seu quarto. Objetivava, já que teria uma interrupção em seus estudos por tempo indeterminado, tentar ver se conseguiria adiantar alguma pendência da faculdade. Também contou o fato de Taís ter anunciado que daria uma volta, sob a seguinte justificativa:

— Sei que pode ser meio perigoso zanzar lá fora, mas se eu ficar aqui enfurnada em plena luz do dia, piro.

— Amiguinha, não vou te impedir, afinal, não sou sua mãe — retrucou Joana —, mas, qualquer coisa, me manda mensagem pelo menos.

Taís apenas assentiu e se retirou. Maria Joana não tinha a mesma coragem da outra, mas admitiu, minutos depois, que também poderia ficar maluca se não fizesse nada de útil e que ocupasse a sua mente.

Foi assim que começou a ler Noite na taverna – obra que lhe foi passada no fim daquela aula de Literatura. Tinha certa ciência que não seria a melhor escolha: ao longo dos últimos dias, Alan tinha a alertado a respeito da densidade do livro em questão. Contudo, era aquilo ou nada.

De início, revirou os olhos diante daqueles personagens beberrões e donos de um comportamento sexual questionável. A alcunha "geração mal do século" vinha muito a calhar naquele primeiro capítulo. Joana, em tão poucas páginas do livro, já estava impaciente.

— Bando de homem frouxo! Ficam aí filosofando e bebendo como se não houvesse um amanhã. Isso é falta de lote para carpir!

Sim, ela era dessas pessoas que tecia comentários e fazia caras e bocas durante a leitura...

Seguiu para o segundo capítulo. Aqui, verificou que, de fato, aquela citação de Lord Byron – a qual havia sido traduzida e encontrada junto ao corpo de Otto – funcionava como uma epígrafe. Ignorou isso e continuou lendo.

Sua reação, dessa vez, foi outra: chocou-se com os eventos relatados pelo personagem-narrador. Como que aquele moço – Solfieri o nome – saía perambulando por aí atrás de uma mulher que nem conhecia? Pior ainda: dizia-se apaixonado por ela? Tais coisas só não "superaram" o ápice dessa parte... Sério que, estando ela morta (ou cataléptica, que seja), ele a...? E para coroar tudo isso, o rapazinho, muito do "bem-intencionado", a enterrou em seu quarto e até fez um túmulo. Que romântico...

Joana não resistiu, teve que fechar o livro e respirar fundo. Realmente, o aviso que Alan tinha dado não era em vão.

"— Como é que ele gosta dessas coisas?" — perguntou para si mesma.

E ainda estando tão compenetrada no que acabara de ler, sua mente, a traiçoeira, esboçou um paralelo. O enredo do capítulo recém lido se passava, em sua maior parte, em um cemitério e, de igual maneira, Otto havia sido encontrado em um... Fora aquele famigerado trecho do já também famigerado Lord Byron, presente tanto naquela obra quanto no bolso da calça do rapaz assassinado...

"— Não! Seria muita coincidência..." — ponderou.

O melhor que ela poderia fazer era continuar com a leitura. E assim o fez.

Porém, talvez não tenha sido uma boa ideia.

Mais um capítulo – narrado por outro personagem chamado Bertram – com mais uma epígrafe no início. E... não era possível! Era outro trecho de Lord Byron! Obviamente, estava grafado em inglês, idioma o qual Joana compreendia razoavelmente bem, só que se tratava da mesma citação que estava junto ao corpo encontrado na manhã daquele mesmo dia!

Em um misto de desespero e curiosidade, Joana foi consumindo as próximas páginas. Por incrível que pareça, as situações absurdas expostas no texto não foram o que chamaram a sua atenção. "Tudo bem" que adultério, infanticídio e até canibalismo eram elementos daquela narrativa, mas a constatação de mais uma semelhança com mais uma morte ocorrida em Pedras Azuis foi o que a exasperou. Pensando bem, será que o fato de o corpo de Ivan estar sem um dos membros e ter sido encontrado à beira do rio Obitinga era uma referência a uma das cenas daquele capítulo?

Maria Joana, naquelas alturas, hiperventilava. Só foi voltar a si quando ouviu alguém chamando-a do lado de fora da residência. Tomou um susto e, instintivamente, levou a mão ao peito, em uma tentativa de se acalmar.

A pessoa ainda lá fora insista em gritar pelo seu nome. Instantes depois e estando mais calma, Joana resolveu atender à porta. Por um momento, achou que Lord Byron estaria ali querendo reivindicar a sua própria alma...

Nada disso. Quem estava ali era ninguém mais e ninguém menos que seu "muso" inspirador.

— Que bom que está aqui!

De novo, Maria Joana estava fora de órbita. Ou nem tanto. Após fazer o colega de turma entrar, tomou-o em um abraço terno. Óbvio que havia um pouco de consciência em seu ato naquele momento, mas a presença de Alan a tirou, nem que fosse temporariamente, da atmosfera pesada daquela leitura.

Assim que chegaram à sala, sentaram-se, um do lado do outro, no sofá. Alan, mais comedido, mantinha os dois pés no chão e sua postura era quase ereta. Joana, por sua vez e sem que ela própria percebesse, estava mais solta, posicionada meio de lado e conversando com o rapaz atenciosamente.

— Como sabia que eu morava aqui? — indagou ela. — Não me lembro de ter falado o meu endereço.

— Bom... A cidade aqui é pequena e, eventualmente, a gente acaba sabendo dessas coisas mais cedo ou mais tarde. — Alan fez uma pausa e prosseguiu: — Eu... vim ver se estava tudo bem — finalizou e o clássico tom vermelho logo lhe tomou a face.

"— Lindo!" — Pensou Joana com uma expressão abobada.

— As últimas notícias não são das melhores, não é mesmo? — a garota disse. — Aliás, estava pensando em você.

— Sério? — Ele deu um meio sorriso que Joana achou muito sensual.

Ela então explicou que estava finalmente lendo Noite na Taverna. Nos últimos dias, não eram poucas as oportunidades em que os dois trocavam algumas figurinhas acerca da mesma tarefa que lhes foi designada. Daí, acabaram também descobrindo algumas coisas um do outro: ele soube da relação ruim dela com a família, ao passo que contou sobre o fato de ter sido criado pela avó e pelo tio policial aposentado. Havia também os gostos em comum, como era o caso da sobremesa favorita de ambos – torta de morango.

Incrível como em tão pouco tempo estavam bem próximos. E embora Maria Joana não falasse isso aos quatro ventos, a figura de Alan passava um quê de segurança e conforto para si. Talvez fosse seu jeito reservado, mas era nítido como ela estava cada vez mais ficando encantada pelo rapaz.

— Foi por isso que vim — afirmou o moreno assim que Joana terminou de falar a respeito do que havia lido.

— Pelo visto, você também leu o segundo capítulo... — ela suspirou.

— Eu te disse que é o meu livro favorito, mas não me lembrava daquela epígrafe. — Ele parou ao verificar o desconforto no rosto de Joana. — Mas não precisamos falar sobre isso, se não quiser, minha querida. Como eu disse, só vim dar um pulinho e ver como estão as coisas por aqui.

Mais uma vez, uma nova expressão estampou a face de Joana. Não estava desconfortável, ela parecia... travada? Alan não teve escolha, inclinou levemente o seu corpo e tratou de chamá-la:

— Joana?

— O que você... falou?

— Falei que só vim dar um pulinho e...

— Não! Não! Não! Antes disso!

Ele ficou pensativo. Em seguida, respondeu:

— Disse que não precisávamos falar sobre o livro, se você não quisesse.

— E?

A cara dele de ponto de interrogação foi impagável, com direito a seus ombros erguidos e seus olhos dançando de um lado para o outro.

— Você... me chamou de... minha querida... — Joana, aos trancos e barrancos, decretou.

— Chamei? — A cor vermelha presente na face ainda mataria o rapaz.

De repente, um rompante de coragem dominou o íntimo da jovem, que, sem pestanejar, disse:

— Sabe, Alan, eu confesso que tenho reparado em você desde que nos conhecemos.

— Mesmo? — Os olhos dele se arregalaram.

Ela anuiu e continuou:

— E, por causa disso, algo vem sendo cultivado dentro de mim. — Fez uma pausa e, ainda dominada pela mesma coragem, seguiu: — Posso te fazer uma pergunta?

— Cla... ro...

— O que sente por mim?

— Eu... Eu... Eu...

A hesitação dele não a irritou. Naquele momento, era como se Maria Joana tivesse as suas ideias clareadas. Começou a levantar hipóteses na sua cabeça que faziam algum sentido. Vai ver Alan não a abordava por ser simplesmente inseguro, embora, segundo ela mesma, ele poderia ter qualquer mulher que quisesse aos seus pés. Talvez a criação dada pela avó, sendo alguém pertencente a uma geração bem distinta, contribuiu para que o rapaz fosse tão fechado. Ou então não era nada disso. Não importava.

E foi aí que a moça pensou: por que era obrigação dele tomar uma atitude em relação a ela? Por que ela não poderia ser quem tivesse a iniciativa? Não se falava, nos dias de hoje, a respeito da liberdade feminina e de que a mulher também poderia conquistar, ao invés de ser conquistada?

Assim, um impulso a dominou. Não raciocinou muito e sua mão pousou no ombro de Alan. O mero toque fez o corpo dele enrijecer, ao passo que Joana avançou. De fato, a melhor defesa era o ataque.

— Não precisa fazer uma declaração aqui para mim — ela disse. — Nem eu tenho total certeza do que sinto.

E ela foi se aproximando. Ele então fechou os olhos e seus lábios se juntaram, de modo a formar um biquinho.

"— Muito lindo!" — Joana pensou pela segunda vez.

Por um instante, sentiu-se tentada a também cerrar seus olhos e aproveitar o que estaria por vir. Porém, o nariz dele acabou por roçar no seu, provocando uma descarga elétrica em toda a extensão de seu corpo e deixando-a em algo semelhante a um estado de alerta.

Tão alerta que... percebeu algo.

— O que é isso? — ela indagou.

— O quê?

Atrás da orelha esquerda do rapaz, havia uma marca... vermelha. Não era um vermelho opaco, e sim um tom forte e vívido.

Parecia ser... sangue?

Para piorar, não havia qualquer resquício de ferimento naquele local. Aquilo aparentava ter respingado na pele pálida de Alan. Em segundos, uma mórbida conclusão se apossou de Maria Joana: aquele sangue não era dele!

Um pensamento horrível começou a martelar na sua cabeça. Naquele mesmo dia, ofegou de maneira agoniada e seu coração falhou uma batida. Só voltou a si quando ouviu ser chamada:

— Joana?

E Alan a tocou no braço. Como resposta, ela se desvencilhou e afastou seu corpo daquele toque. Em seguida, ergueu-se do sofá, aterrorizada.

— O que foi que aconteceu? — indagou ele com uma aparente confusão.

Maria Joana não foi capaz de dizer mais nada. Se desse qualquer passo em falso... Nem quis imaginar o que poderia lhe ocorrer.

De repente, a porta da sala foi aberta, surgindo uma tranquila Taís.

Os pulmões de Joana expiraram de alívio e a taquicardia parou de se manifestar em seu peito.

Abençoada seja Taís!


Notas feat. Curiosidades do capítulo:

³ Versão traduzida do seguinte trecho de Childe Harold de Lord Byron:

But why should I for others groan,
When none will sigh for me!

Mais uma morte estranha ocorrida em Pedras Azuis. E não teve jeito: tratava-se de dois assassinatos mesmo ambos os acontecimentos.

Em paralelo a isso, Maria Joana finalmente iniciou a leitura de Noite na taverna e já hipotetizou um pouco acerca da ligação entre a obra citada e as mortes. Será que isso procede mesmo? E para "ajudar", até um possível suspeito apareceu na jogada: será que Alan está por trás disso tudo mesmo? Só seguindo na leitura para saber disso tudo. Rsrsrsrs

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro