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Descobertas

Uma semana, esse era o tempo que havia se passado desde o reencontro entre os dois polos opostos, que de alguma maneira estavam conectados – era isso que pensavam -. A teoria veio após o terceiro dia consecutivo dos pesadelos, que na verdade, não passavam de suas lembranças reprimidas em suas mentes, afim de protege-los de algo que nunca seria esquecido por completo. A conexão para um, vinha através de uma maldição lançada; para outro, era uma reação pós traumática forte. Mas independente do ponto de vista ambos concordavam de maneira omissa, que o melhor a ser feito no momento, era apenas evitar um ao outro. Não estavam preparados para um conforto, o curto reencontro deixou isso explicito.

Evitar um ao outro trabalhando no mesmo local era uma tarefa complicada, pois apesar de não ficarem no mesmo departamento, parecia que o destino lutava de todas as maneiras para que eles se encontrassem em algum momento. Nesses breves encontros nada era trocado além de um cumprimento como uma pequena reverencia, sem olhares, sem falas. Nenhum queria nada do outro além de paz.

Os dias passavam cada vez mais arrastados conforme os questionamentos cresciam em suas mentes perturbadas. As reações não pareceram aumentar ou diminuir, continuaram na mesma intensidade desde que se encontraram pela primeira vez, contudo, sempre que se aproximavam, a sensação os sufocava de maneira irracional. Era fato que não poderiam ficar perto um do outro, mas qual era o motivo por trás daquilo? – Essa era a resposta que tanto buscavam nos livros que estavam empilhados por toda parte.

A mulher aproveitava os intervalos do trabalho para enfiar-se nas informações que as páginas antigas lhe traziam, era como uma tsunami de informações. Haviam pergaminhos espalhados por toda sala com anotações que ela achara importante, livros abertos uns sobre os outros, outros marcados com um objeto qualquer que encontrara no seu caminho – qualquer coisa servia naquele momento de desespero – e por fim, um grande mapa mental onde as informações mais úteis e conexas se juntavam como uma tentativa de resolução que era aquele grande quebra-cabeças.

Sentada sobre o tapete felpudo com seu almoço em mãos, ela olhava fixamente para o grande quadro cheio de anotações que estava a sua frente. Era difícil achar uma boa conexão entre a magia que estudara e os efeitos que a seguiam durantes anos a fio, pois de acordo com o que lera, aquilo deveria ter se dispersado como o tempo.

Então por que aquilo continuava?

Sua mente rodava tentando achar uma conexão entre tudo aquilo, talvez ela estivesse procurando no lugar errado. A magia que estava causando aquele inferno gélido em sua vida era decorrente de um trauma emocional forte o bastante para desestabilizar seu núcleo mágico a um ponto, que propagara a sensação vivida naquele momento por anos. Ela não deveria procurar respostas apenas no mundo bruxo, mas também na psicologia trouxa.

No início de tudo aquilo, nas férias de verão antes de ingressar no seu último ano escolar, passou um mês meses em terapia intensiva com uma psiquiatra e os outros dois com um psicólogo; na medida do possível, eles a ajudaram a compreender e superar alguns pontos, mas outros eram como feridas profundas e levariam mais tempo para ser curadas.
O cérebro humano era algo incrivelmente complexo e o dela era incluso nisto, definitivamente era. Parando para analisar, era muito provável que havia conexão da reação de seu subconsciente com a reação mágica. Pelo que os médicos haviam a informado na época, era possível que sua mente guardara parte das lembranças traumáticas em um local que ela não teria acesso no consciente, como se elas fossem arquivadas no vazio. Isso poderia resultar em algumas reações onde seu corpo agiria sozinho, como um mecanismo de defesa contra algo que pudesse gerar gatilho, evitando atingir a lembrança guardada. Esses mecanismos de defesa poderiam ser falhos, ou seja, partes picadas do trauma poderiam vir para seu consciente através de algumas palavras, atos involuntários e até mesmo sonhos - como aconteceu -. Então, se pensasse por essa lógica, sua magia somadas as reações de seu subconsciente passando de forma involuntária para seu consciente, poderia resultar na constante sensação gélida que sentia, revivendo de alguma maneira aquele trauma.

Tudo aquilo fazia muito sentido para si. Haviam partes daquele dia que ela não lembrava até sonhar com aquilo, mas sempre teve vivida a visão e pensamentos sobre o olhar gélido do garoto, que a cortava como uma lâmina de gelo. Isso também encaixaria perfeitamente na reação de intensificação do frio ao ver ou passar perto dele, já que tudo aquilo rodava em torno de seu ponto fixo, sua lembrança mais real e nítida aquele maldito dia.

Sua respiração saiu pesada após um longo gole do chá quente que sempre a acompanhava, especialmente após almoçar. Um alívio corria em seu interior ao chegar na conclusão mais plausível que tivera em anos, isso era um avanço e tanto para quem estava perdida no meio de uma imensidão branca. Seus olhos se fecharam e um sorriso terno formou em seus lábios ao recostar-se na madeira sólida de sua mesa. Ela só pensava em passar em uma biblioteca trouxa e pegar alguns livros sobre o tema, mas acima de tudo, estava com o coração menos aflito do que estivera nos últimos anos.

Após algumas horas organizando a papelada do escritório e revisando alguns documentos, finalmente estava liberada para seguir com seu plano, mas antes precisava comemorar seu avanço. Seguiu pela avenida principal parando numa pequena pub onde gostava de afoga as mágoas da vida sofrida em seu drink preferido: Irish Coffee, uma bebida quente à base de whisky, creme de leite fresco, açúcar e café. O paraíso para os desesperados, como dizia a mulher. A bebida estava disponível no cardápio graças a ela, após uma breve conversa melancólica com um barman que trabalhava lá há anos. Quando se sentava em frente a ele, nem precisava abrir a boca para fazer seu pedido, ele apenas sorria e montava o drink com a maestria sem igual.

O ambiente estava particularmente agradável aquela noite, talvez fosse seu bom humor, mas a música suave que tocava também ajudava muito. Suas mãos estavam fechadas no copo de vidro transparente, enquanto fechava os olhos e apreciava a sensação cálida que o drink lhe trazia. Seu cheiro era tão bom quanto o sabor, trazendo o aroma da cafeína mesclada ao alcóolico que o whisky escocês trazia, terminando com adocicado quase inexistente do açúcar mascavo. Era uma explosão de sabores em seu paladar, que descia por sua garganta queimando e aquecendo seu interior.

O sorriso leve e o pequeno ponto de paz não saíram de si quando fora interrompida pelo homem que sentara ao seu lado, seu amigo de tantas aventuras. Os olhos verdes intensos a estudavam com atenção, afim de descobrir o que se passava naquela mente, o copo com cerveja amanteigada a sua frente indicava que estava ali para conversar e não sairia tão cedo. Brindaram.

- Vai passar o natal conosco, não vai? Será o mesmo de sempre.

- E tem como não ir? É uma tradição que não perderia por nada.

Sorriram.

Ele parecia aliviado após sua resposta positiva ao convite, o que era compreensivo. Após todo o alvoroço da guerra, ele sentia medo que ela se afastasse após o rompimento com o melhor amigo, mas era algo que não aconteceria. Para ela, tanto ele, quanto seu ex, eram como uma segunda família, não os deixaria por um simples rompimento, afinal, o curto relacionamento que teve nunca teria futuro, apesar dos sentimentos mútuos entre os dois. Sua situação mágica não a ajudava e o ruivo não gostaria de ficar em um relacionamento onde não havia a parte física, o que era normal, ainda mais por sua idade. Os anos se passaram e eles permaneceram juntos como o trio tão conhecido pela comunidade bruxa, os heróis de guerra.

Sua atenção foi tomada ao ver que os cabelos flamejantes se aproximava deles, com um sorriso sem graça tão típico. Não foi necessário um cumprimento verbal, apenas sorriram um para o outro e ele logo fez sinal que esperaria do lado de fora, pois estava tarde e sua irmã precisava do marido em casa, logo o moreno ao seu lado também precisava ir. Ela observava a cena e o sorriso cansado do amigo, tudo era resultado do trabalho pesado como auror e dois filhos pequenos que não paravam por um segundo; o mais velho quase quebrara a casa com a vassoura de brinquedo.

Ele se levantou com calma após um longo gole em sua bebia, ela riu ao ver que havia um rastro de espuma branca sobre os pelos da barba do amigo e sem aviso prévio, limpou ela mesma com um guardanapo que tinha sobre o balcão. Sem graça, ele agradeceu pelo ato e juntou suas coisas dando as costas a ela, indo em direção a porta de saída.

- Estaremos esperando você para a ceia. – disse, virando-se para ela se despedindo.

Não foi necessário uma resposta, pois sabia que a melhor forma de fazer isso, era comparecendo na data marcada.

Quando terminou o terceiro copo de sua bebida, deixou os galeões sobre a madeira escura, ao lado dos copos e andou até um local mais calmo do estabelecimento, onde pudesse aparatar para rua da biblioteca noturna que ficava a alguns quarteirões de sua casa.

A rua estava vazia, o asfalto negro fletia as luzes dos postos na pequena camada úmida que a fina garoa havia deixado. Ela estava com fio, o que era algo corriqueiro, mas aquilo não estava a abalando como o de costume, pois estava feliz sabendo que logo resolveria toda aquela confusão. Após vinte minutos escolhendo os livros, dirigiu-se para seu lar tão leve quanto poderia, com um sorriso no rosto e o foco, que após um longo banho, ela se enfiaria nos livros e acharia algumas confirmações de sua teoria.

As horas passadas em seu laboratório não estavam ajudando em nada. Sua mente estava longe, na maldição que o acompanha, para ser exato. Não tirava da cabeça o momento em que se encontraram, a maneira em que o calor se intensificara, como a postura da mulher ficara rígida ao vê-lo. Tudo aquilo passava em sua mente em looping, onde conseguia ver frame por frame a medida que os dias iam se passando e fixava mais os detalhes de cada imagem. A tensão dela poderia significar culpa? Isso só deixaria sua teoria da maldição ainda mais provável.

Os objetos banhado nas trevas que estavam a sua frente não eram capaz de fazer o estrago que aquela maldita maldição fazia nele, assim como eles não conseguiam capturar seu foco como toda aquela situação bizarra. Mas ele ainda estava em horário de trabalho e realmente precisava terminar a análise daqueles objetos e achar algo que revertesse o que os impregnava. Aquele dia não seria fácil de levar.

O tempo se arrastava na sala escura e frigida, os relatórios já estavam prontos, os objetos em redomas, longe de perigo e finalmente teria algum tempo para se dedicar ao que realmente importava. O preparo das poções de reversão estava adiantados, mas precisavam de, pelo menos, doze horas de descanso antes de iniciar a próxima etapa, rumando sua finalização. Esse tempo seria bem usado para seu merecido almoço e uma longa pesquisa.

A salada recém tirada do feitiço de resfriamento e seu tartar de salmão eram acompanhado por um chá gelado sem qualquer resquício de açúcar. Em uma mesa separada, separou todas suas anotações sobre maldições e feitiços que tinha desde a época em que estudava, completando as lacunas com informações de novas pesquisas e seus artigos. Ficou ali de pé observando cada uma folhas soltas e suas partes grifadas, onde haviam as informações mais relevantes.

Jogando seu corpo na cadeira de couro, permitiu-se descansar por breves segundos antes de iniciar sua refeição. Estava faminto e cansado. Seus olhos se mantinham fechados enquanto sentia o sabor de cada um dos ingredientes que compunham seu almoço, o fazendo soltar um longo suspiro que era a linha tênue entre o prazer e frustração. Não conseguiria fazer nada com tranquilidade enquanto não achasse uma reversão para sua própria situação. Virou o liquido que descia gélido em sua garganta, pensando nos pontos principais de uma maldição daquele gênero.

Seu olho passou pelos papéis buscando qualquer coisa que poderia ser relevante, mesmo que rapidamente, foi então que seus olhos bateram em um pequeno parágrafo, uma anotação de quando estava em seu primeiro ano.

Algumas maldições podem ser feitas de maneira espontânea, quando a magia é instável e inconsciente. Por este motivo, há casos corriqueiros de crianças fazendo coisas do gênero, sua magia é instável, assim como seu ser.

Essa poderia ser sua resposta.

Deixou sua comida de lado e buscou por pergaminho, tinteiro e uma pena, então colocou-se a anotar tudo como um mapa mental, para assim, deixar sua ideia mais clara e plausível. Se seguisse a linha de raciocínio anterior, quando a garota estava sob tortura o olhando profundamente, sua magia foi ficando cada vez mais instável conforme seu corpo cansava-se de tanto relutar, assim como sua mente ficava confusa em dor, desespero e ódio, naturalmente. Então, no momento em que seus olhares se conectaram, ela projetou aquilo sobre ele de maneira inconsciente, fazendo com que uma maldição caísse sobre si, fazendo com que o que ele sentia no momento se tornasse algo real e não apenas algo que se passava em sua mente. Logo, os pensamentos constantes de culpa que cresciam em seu interior por não ajuda-la, que o faziam pensar que deveria queimar nas chamas ardentes do inferno, transpassaram de maneira real através da maldição.

Em um momento de euforia, bateu sua mão contra a madeira escura, fazendo soprar uma leve brisa sobre os papéis que estava sobre ela. Ele havia conseguido algo. Sua risada ecoava pela sala enquanto bebericava seu chá mate com limão, mel e muito gelo – precisava comemorar da maneira certa -. Mesmo estando naquele estado alegre, sabia que ainda precisaria buscar para uma contra maldição, pois aquilo que havia sido lançado era poderoso; contudo, conseguira algo promissor após anos, poderia relaxar um pouco.

O decorrer de seu dia fora mais produtivo que imaginara, havia conseguido achar três de quatro antídotos e contra feitiços para alguns objetos que haviam deixado consigo, podendo finalizar alguns relatórios e protocolos por completo. Como ainda faltavam algumas foras para conseguir finalizar as poções que faltavam, decidiu tirar um breve cochilo, já que só conseguiria sair dali após a meia-noite. E assim aconteceu.

Já se passava das uma quando seguiu pela rua principal, seguindo para a pub que ia raramente, pois sempre estava cheia e quente, logo evitara o lugar; deixava para ir apenas nos invernos, ou em dias mais frios que o comum. Aquela madrugada se encaixava perfeitamente. A sineta soou ao passar pela porta, e assim que avistou o local vazio em frente ao balcão, sentou-se.

O lugar não estava cheio como de costume, talvez por ser uma terça-feira, o que deixa ainda mais confortável. A luz sépia que caia sobre a pele pálida do homem o deixava com uma cor quase normal, se comparado as outras; o tilintar dos talheres, vidros e cristais eram até agradáveis, mas havia outra coisa que chamara sua atenção. Um cheiro. A mescla da cafeína, whisky e algo adocicado havia lhe chamado a atenção, fazendo sua boca se encher com um sabor que sequer havia experimentado.

- O que seria isso? – perguntou ao barman, que preparava a bebida.

O homem a sua frente sorriu com o copo em mãos. Não foi necessário que explicasse, apenas seguiu com o preparo do drink, o deixando fascinado. O aroma que exalava no momento em que o café quente tocava o whisky era incrível, nunca havia sentido tamanha vontade de beber algo como estava naquele momento. O adocicado veio quando colocou uma medida de um açúcar escuro, deixando ainda mais tentador, mas para sua infelicidade, não poderia tomar aquela obra de arte. Não poderia arriscar passar mal por conta do calor da bebida, que apenas aumentaria o que já estava consigo.

- Não há uma versão gelada?

- Não, mas nada que não podemos providenciar, Senhor Malfoy.

Café ambiente, whisky escocês, creme de leite fresco, açúcar mascavo e muito gelo. Essa era sua nova definição de perfeição. Tomou algumas doses do drink enquanto anotava algumas coisas relacionada a seus objetivos de pesquisa e pensou consigo o que faria nas festas de fim de ano, talvez devesse viajar para algum lugar, talvez com sua família, quem sabe. E foi com esse pensamento que chegou à conclusão que era o momento de voltar para casa. Deixou tudo pago, com uma boa gorjeta ao rapaz, e saiu para o local que sempre aparatava, saindo enfrente sua casa.

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O tempo foi passando e cada vez mais o frio se intensificava, assim como a inquietação dos dois bruxos. Um mês e nada de mais respostas conclusivas, apenas mais dúvidas e desespero. A luta contra os encontros entre si continuavam, tentava acompanhar os horários um do outro para não haver possibilidade de se encontrarem em algum ponto do grande complexo que era o Ministério da Magia. Houveram algumas vezes que chegaram a ver o momento em que passaram um na frente do outro, mas para sorte de ambos, estavam longe o suficiente para não haver contato visual, e mesmo com isso, era possível sentir os efeitos colaterais da pequena aproximação.

Ambos estavam cada vez mais reclusos por conta de seu desespero e sede por novas informações que poderiam sem a chave para a resolução de suas vidas, mas todo aquele trabalho, todas aquelas noites mal dormidas e as vezes que esqueciam de se alimentar estavam sendo em vão. Não sabiam mais o que fazer ou a quem deveriam recorrer. Não havia registro de nada que se encaixasse na situação de ambos, mesmo na sessão reservada sobre acidentes mágicos. Estavam perdidos em uma imensidão de dúvidas, e a neblina deixava a visão turva, impedindo-os de achar uma resposta.

O céu estava particularmente sombrio aquele dia, talvez nevasse. O Ministério estava começando a ficar mais vazio devido a aproximação das festas, muitos já estavam no clima e conseguiram pegar férias com as horas que tinham a mais. Os corredores estavam vazios e silenciosos, coisa muito rara naquele lugar onde, muitas vezes, parecia uma colmeia, onde sempre haviam seres vagando de um lado para o outro trabalhando e correndo.  Não havia mais de quatro pessoas em cada departamento, o que fazia o trabalho triplicar para os que ficavam ali, trabalhando mais horas que o costume. Os únicos que não entravam nisso eram os aurores, que sempre estavam de pronto para agir.

Já estava passando das nove quando a mulher resolveu pegar mais chá, pois o seu já havia acabado. O caminho até a sala de descanso não era longo, mas ela estava exausta pelo trabalho excessivo e todo aquele estresse que vinha com ele de bônus. Passou pela porta de entrada com os olhos fechados e arrastando os pés, seguindo para onde conseguiria a água quente, se quer notara que estava ficando mais frio ao entrar na sala. Colocou a água para esquentar enquanto pegava as ervas para preencher o difusor, assim que fizera isso, pegou sua caneca. Assim que se virou para pegar a água, notou a presença dele, que a observava enquanto tomava um copo de chá tão gelado, que fazia o copo suar; nesse momento sua pressão baixou, sua mão falou e sua caneca caiu.

A porcelana estilhaçada no chão não foi distração para nenhum dos dois, que permaneceram ali, se olhando como se buscassem algo escondido no olhar do outro. Uma resposta, talvez. O homem começava a suar e ela a tremer, de maneira que era perceptível para ambos. Quando ele fez menção a levantar, ela correu para a porta, limpando a bagunça com um aceno de sua varinha. Estava assustada, não poderia ficar perto dele, não sabia o que aconteceria.

Seus passos se apressavam para sua sala onde estaria segura, e assim que entrou trancou a porta e pode finalmente respirar fundo. Suas mão estavam tremendo, mas dessa vez não era pelo frio, mas pelo susto e o acumulo de adrenalina em seu organismo. A respiração descompassada começara a estabilizar no momento em que conseguiu se sentar na cadeira macia e se cobrir com a coberta de pele grossa. Estava tudo bem agora.

Seu olhar estava fixo para o local onde minutos atrás havia cacos de porcelana sobre o chão, se lembrando da reação da mulher e como fugiu descaradamente sem ao menos cumprimenta-lo. O som do gelo estalando em seu copo o trouxe de volta para a realidade, mostrando que já fazia mais de trinta minutos que estava ali sentado pensando no ocorrido. Ele precisava confortá-la. Não aguentava mais a situação em que estava, era ridículo. Com um único gole, findou o liquido que o preenchia e triturou os cubos de gelo com os dentes, sentindo o gosto de ferro que seu sangue trazia consigo.

Conforme caminhava pelo corredor trilhando os mesmos passos que ela havia feito minutos atrás, o local ficava mais quente, mas não hesitaria. Não mais. Aquele era o momento em quer enfrentaria tudo aquilo e tentaria ter uma vida normal e tranquila. Merecia isso, já havia pagado por seus pecados nesses últimos anos. Seus passos aumentavam conforme a porta ficava cada vez mais próxima de si, fazendo a adrenalina dentro de si ferver juntamente a seu sangue.

No momento em que ele se colocou de frente a porta a mulher se encolheu na cadeira, sabia que era ele e não queria recebe-lo, mas ele não sairia dali. As primeiras batidas na porta de madeira maciça soaram.

Não houve resposta.

Mais três batidas soaram, dessa vez mais fortes.

Sem resposta.

A paciência do homem estava começando a se esvair, não iria sair dali por nada e se ela não o recebesse, arrobaria a porta ele mesmo. Aquilo era tanto culpa dela quanto dele, mas apenas ela tinha o contra feitiço que o libertaria e ele lutaria para obtê-lo. Bateu mais três vezes, dessa vez com tanta força que machucara sua mão e novamente não houve resposta da parte da mulher.

- Vamos, abra logo. Não sairei daqui enquanto não conversarmos.

- O que quer? – disse, acuada.

- Imagino que saiba.

Seu corpo estremeceu. Hesitante, ela se levantou envolta na coberta e caminhou até a porta, ficando apenas ali, de pé, a olhando para o objeto inanimado a sua frente, pensando se deveria ou não abrir a porta. Seu coração estava a mil, podia escuta-lo e sentir suas veias pulsarem; novamente estava com a respiração irregular e num vislumbre de coragem, abriu a porta.

Eles se olharam por alguns segundos, e assim como aquele azul acizentado ainda remetia e exalava a frieza que conhecia tão bem, o castanho ainda queimava em chamas. Enquanto ele parecia estar em uma praia, no verão tropical mais quente imaginável, ela estava com mais roupas em si do que ele possuía em seu guarda-roupas. Não trocaram uma palavra, apenas acenou para que ele estrasse e se sentasse no pequeno sofá que havia em sua sala. O silencio entre eles era ensurdecedor, ainda mais com os tremores e o suor escorrendo, tudo muito visível.

- Quando vai retirar a maldição?

Ela o olhou surpresa, pois não esperava por aquilo. Do que ele poderia estar falando?

- Não entendi.

- Vamos lá, não se faça de sonsa. A maldição que colocou em mim no dia em que esteve em minha casa.

- Eu não coloquei nada em você. Como poderia? Estava sem varinha e sendo torturada, ou se esqueceu?

- Como poderia me esquecer...

Novamente se calaram. As lembranças invadiram suas mentes com mais detalhes do que gostariam de se lembrar. Um não poderia encarar o outro naquelas circunstancias, era algo mais forte do que eles que os impediam. Um nó garganta foi formado e ambos engoliram seco. Precisavam resolver aquilo logo, antes que fosse tarde. Não conseguiriam passar muito tempo próximos um do outro.

- De onde tirou essa teoria? – ela tomou a iniciativa.

- Desde aquele dia eu sinto um calor imensurável. Pensei que fosse algum efeito colateral, mas nunca se foi. – fez uma pausa. – E, bom, tudo começou depois daquele momento.

Não era preciso dizer qual era. Estava claro para os dois, aquela conexão de olhares naquele momento desesperador.

- Também tenho algo assim, mas diferente de você, eu sinto frio. Estou congelando desde que você chegou, inclusive. Como se um maldito dementador estivesse entre nós.

- Uma maldição compartilhada? – questionou. – Não fique sentida, se isso te faz ficar melhor, estou sentindo as queimaduras aparecerem. – mostrou a ferida que crescia em seu braço.

- Não acho que seja maldição. Na verdade, passei esse tempo todo achando que era efeito de algum tipo de estresse pós traumático que havia desestabilizado minha magia, fazendo com que a sensação que tive quando aquilo aconteceu viesse para meu consciente. – olhou em seus olhos. – Espere um minuto. Após nos reencontrar no elevador, na mesma noite, teve um...

- ... um sonho. Uma lembrança.

- Então a maldição...?

- Consistiria em um desequilíbrio, uma falta de controle de sua magia em um momento onde você estivesse instável. Sua raiva, dor e desespero, no momento em que nossos olhares se conectaram, refletiu em sua magia, fazendo com que lançasse uma maldição de maneira involuntária. – desviou o olhar. – Mas depois disso não tenho certeza.

- Não há evidencias de maldições que atinjam o próprio bruxo que a lançara, bom, pelo menos não sem um escudo de proteção.

- Estaca zero?

- Parece que sim.

Respiraram fundo tentando controlar os efeitos colaterais de estarem perto um do outro. Algo precisava ser feito, antes que ambos definhassem aquela maneira, isso era obvio, mas como? Nenhum médico trouxa ou bruxo conseguiria explicar isso, não se nem mesmo os registros do Ministério tivessem registros.

Olhos da mulher arregalaram-se ao pensar algo.

- No momento em que nossos olhares se ligaram, no que estava pensando?

- Que deveria queimar no inferno. – disse, desconfortável. – E você?

- Que era frio. Tão frio que poderia sentir me cortar com uma lâmina de gelo, mas esse não é o caso. – continuou. – Se nossos corpos reagem desta maneira ao chegarmos tão perto, o que aconteceria se nos tocássemos?

- Morreriamos?

- Bom, é uma possibilidade, claro. Mas não teremos certeza se não tentarmos.

- Está ficando louca?

- Não temos mais opções, ou tem uma ideia melhor? – silêncio. – Entenda, a reação a isso poderia explicar muitas coisa.

- Que seja, então.

Um tanto irritado, ele se levantou indo em direção a mulher que o olhava sem saber como reagir ao ato inesperado. Quando mais próximos, mais intenso as sensações ficavam. Ela tremia tanto que era possível ouvir seus dentes baterem um contra o outro; de contra partida, era possível ver a gota de suor quem escorria dos fios de cabelos loiros e sua camisa colada em seu corpo úmido. Suas respirações ficaram mais ofegantes conforme ele se aproximava, e quando por fim sua mão tocou a pele gélida da face mulher, tudo parou.

Não havia frio ou calor.

Como em um milagre, tudo havia se estabilizado.

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Notas da autora

Agora são exatamente 00h do dia 25/12/2000.
Espero que estejam apreciando a leitura e seu Natal!

Esses dois primeiros capítulos foram postados na virada do dia 24 para o 25, já os dois últimos serão postados no decorrer do dia 25 devido ao meu cansaço excessivo por conta do trabalho.

Não esqueçam de deixar seu voto e comentar o que estão achando, viu? Adoro ler os comentários de vocês.

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