Capítulo 9: O jantar
Acordo com os primeiros raios de sol invadindo o quarto de Theo. Por um momento, fico ali, deitada no sofá, olhando o teto e sentindo o calor do edredom. A noite anterior ainda dança na minha mente, arrancando sorrisos involuntários. Mas, então, o pânico bate. O horário. O internato.
— Theo! — chamo, pulando do sofá e indo direto até ele. Ele está jogado na cama, os cabelos bagunçados, respirando fundo e tranquilo. — Theo, acorda! A gente precisa sair agora, ou a diretora Dalva, vulgo sua mãe, vai me matar!
Ele resmunga alguma coisa, puxando o travesseiro sobre o rosto.
— Theo! — puxo o travesseiro e começo a sacudi-lo.
Ele abre os olhos devagar, o olhar ainda pesado de sono.
— Já? — pergunta, a voz rouca, o que só faz meu coração acelerar.
— Já! Anda, levanta, ou vai dar ruim pra mim.
Depois de algumas reclamações e muitos "mais cinco minutos", ele finalmente se mexe. Saímos correndo, ele ainda ajeitando o cabelo e eu tentando me lembrar de cada detalhe da noite enquanto sorrio como uma idiota.
Chego ao internato no último segundo. O portão ainda está destrancado, e consigo entrar sem causar suspeitas. Na sala de aula, apoio o queixo na mão e deixo minha mente vagar. A noite foi... incrível. Eu me senti viva de um jeito que nunca senti antes. Cada palavra trocada, cada sorriso, o jeito que ele me olhava... Theo tem algo que me puxa, que me prende.
— Ana.
A voz da diretora Dalva me arranca dos meus devaneios. Ela está parada ao lado da minha carteira, com os braços cruzados, me analisando.
— Você está... diferente hoje. Tem algo que eu deva saber?
Sinto meu rosto esquentar imediatamente. Lembro do que Theo e eu fizemos ontem à noite, e meu coração dispara. Meu rosto queima, minhas mãos tremem, e tudo que consigo fazer é gaguejar.
— Eu... eu... na-não... quer dizer, sim, mas...
Ela levanta uma sobrancelha, desconfiada.
— É que... fiz as pazes com a Lana. Isso. Fizemos as pazes.
Dalva me encara por mais alguns segundos antes de dar de ombros e sair. Solto o ar que estava segurando e afundo na cadeira. Essa foi por pouco.
O dia se arrasta, e minha ansiedade cresce com ele. O jantar está se aproximando, e minha mente está uma bagunça. Primeiro, vou ver Theo depois de tudo o que rolou. Segundo, vou ter que fingir um namoro na frente da diretora Dalva, o que é basicamente pedir pra ser expulsa. E terceiro... eu acho que estou me apaixonando por Theo, o que é provavelmente o maior problema de todos.
Quando as aulas finalmente terminam, vou direto até Ester.
— Ester, preciso de ajuda. - Minha voz sai quase desesperada.
Ela levanta os olhos do livro, surpresa.
— O que foi agora?
— Só tenho roupas estranhas e escuras. Nada que preste. E eu tenho um compromisso muito importante. Você pode me emprestar alguma coisa?
Ester me analisa por um momento antes de soltar um suspiro dramático.
— Claro que sim. Vem comigo.
Ela me empresta um vestido tubinho nude e, como se não bastasse, insiste em me maquiar. Quando terminamos, olho no espelho e quase não me reconheço. Estou... sexy. Incrivelmente sexy.
— Meu Deus, Ana! — Ester diz, rindo. — Você está irreconhecível.
— Espero que isso seja bom.
— É ótimo. Agora vai arrasar.
Com o bilhete falsificado em mãos, vou até a sala da diretora Dalva.
— O que você quer, Ana?
— Minha irmã, Lana, autorizou minha saída hoje. — Mostro o bilhete, tentando parecer convincente, pois, não quero pular o muro e correr o risco de estragar meu visual.
Ela olha o bilhete por um momento, e meu coração quase para, mas, para minha sorte, ela assente e me libera.
Theo está do lado de fora, encostado no carro, com aquele sorriso que sempre me desarma.
— Uau. — Ele me olha de cima a baixo, claramente impressionado.
Dou um tapa no ombro dele, tentando esconder o quanto estou nervosa.
— Cala a boca, Theo.
Ele ri, e o clima entre nós fica mais leve. Passamos um tempo conversando em uma praça, matando tempo até a hora do jantar. Theo é fácil de estar por perto. Ele tem um jeito de fazer tudo parecer simples, mesmo quando minha mente está um caos.
Quando finalmente chegamos ao restaurante, respiro fundo, tentando ignorar o nó na minha garganta. Entramos de mãos dadas, e sinto os olhares de todos se voltarem para nós.
E então vejo Dalva. Seus olhos arregalam, e ela fica estática, como se tivesse visto um fantasma.
Não consigo evitar o sorriso triunfante que se espalha pelo meu rosto. Chegamos à mesa, e, sem hesitar, solto:
— Oi, sogrinha.
Theo me puxa gentilmente pela mão enquanto nos aproximamos da mesa. Meu coração parece querer saltar do peito, mas eu mantenho o sorriso confiante no rosto. Diretora Dalva está ali, sentada com um copo de água na mão, ainda tentando processar o que acabou de ver.
— Ana. — Sua voz sai quase como um rosnado. — O que significa isso?
— Significa que sou a nova namorada do seu filho. — Dou um sorriso doce, enquanto Theo puxa uma cadeira para mim.
Dalva inclina a cabeça para o lado, tentando controlar a irritação que claramente começa a se formar. Theo, por outro lado, parece dividido entre o desconforto e a diversão da situação.
— Namorada? — Dalva repete, como se a palavra fosse algo incrivelmente ofensivo. — E desde quando isso começou?
Theo tenta responder, mas eu sou mais rápida:
— Ah, já tem algumas semanas. Mas sabe como é, mantivemos tudo em segredo... não queríamos te incomodar, diretora.
Ela me lança um olhar afiado.
— Que consideração. — Sua voz está cheia de sarcasmo, e eu rio de leve, enquanto coloco o guardanapo no colo.
Theo tenta mudar o assunto.
— Mãe, o que tem de bom no cardápio hoje?
Dalva o ignora completamente e se inclina na minha direção.
— Ana, não sei o que você está tentando com isso, mas deixe-me avisar: não tolero distrações no internato. Especialmente quando envolvem meu filho.
Sinto Theo tencionar ao meu lado, mas, em vez de recuar, jogo o cabelo para trás e mantenho o tom despreocupado.
— Distrações? —Pergunto, fingindo inocência. — Não sabia que um relacionamento saudável era uma distração. Mas fico lisonjeada pela sua preocupação com o nosso bem-estar.
Theo me lança um olhar como quem diz "você está brincando com fogo", mas eu continuo firme, encarando Dalva.
— Relacionamento saudável? — Ela repete, com um tom ríspido. — Ana, você mal consegue seguir as regras do internato. E agora quer que eu acredite que está pronta para algo sério?
Dou um sorriso provocador.
— Acho que isso não é algo que precise da sua aprovação, diretora.
— Você está sob minha responsabilidade no internato. — Ela aperta os olhos. — E, como mãe do Theo, também me sinto no direito de opinar sobre quem ele escolhe para... se envolver.
Theo, finalmente, decide intervir.
— Mãe, já chega. — Ele diz com firmeza, olhando para ela. — Ana e eu estamos juntos, e você não precisa aprovar isso.
Dalva olha para ele com uma mistura de surpresa e frustração.
— Theo, você sabe o quanto trabalhei duro para construir minha reputação e a do internato. Isso... isso é imprudente.
— Talvez a senhora precise relaxar mais, diretora. — Falo, sem conseguir evitar. — Uma noite divertida pode fazer milagres.
Ela abre a boca, claramente furiosa, mas Theo toca minha mão e me lança um olhar significativo, como quem diz "não piora as coisas".
— Ana, vamos pedir algo para comer? — Ele sugere, tentando mudar o clima.
— Claro, amor. — Respondo, com um sorriso travesso, só para ver a expressão de Dalva se endurecer ainda mais.
Durante o jantar, as farpas continuam, mas de forma mais sutil. Dalva faz questão de comentar sobre como "responsabilidade é essencial em um bom relacionamento", enquanto eu jogo indiretas sobre como "algumas pessoas precisam aprender a confiar mais nos outros".
Theo, coitado, parece um árbitro tentando evitar que o jogo saia do controle.
Quando o jantar finalmente termina, e Theo e eu nos despedimos, saio do restaurante com a sensação de missão cumprida.
— Você enlouqueceu lá dentro. - Ele diz, assim que estamos sozinhos no carro.
Dou de ombros, sorrindo.
— Enlouqueci? Eu chamo isso de diversão.
Ele balança a cabeça, mas está sorrindo também.
— Minha mãe não vai facilitar para você, sabe disso, né?
— Não espero que facilite. — Digo, olhando para ele. — Mas quem disse que eu gosto de coisas fáceis?
Theo ri e liga o carro.
— Você é impossível, sabia?
— E é por isso que você não consegue resistir a mim. — Pisquei para ele, e, dessa vez, ele não tenta negar.
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