Sentimentos repentinos
" Ai você simplesmente respira fundo, porque sabe que se cair uma lágrima... não vai conseguir mais parar de chorar. "
Bianka
O vento zunia pela terra vazia. O céu enegrecido estava salpicado por tons de azul e roxo. Nada se mexia, exceto as folhas de capim que esvoaçavam. Um frio de doer os ossos anunciava a verdadeira chegada da noite.
Me sentia perdida em um lugar que não conhecia, tomada por uma sensação nefasta que corroía diretamente o meu coração.
Uma rajada de estalidos agudos surgiu atrás de mim e me sobressaltei procurando ao redor o que quer que fosse uma ameaça. Um forte rosnado veio ao meu alcance e percebi a presença de uma criatura que antes não estava ali.
Seu tamanho me causou medo, à medida que notei suas enormes garras e dentes expostos. Seu pelo negro era grosso e seboso. A cada passo que dava na minha direção seus olhos avermelhados semicerravam, como se estivesse pronto para atacar sua pressa. E é exatamente o que fazia, ele era o caçador e eu a caça.
Recuei um passo e passei a mão pela cintura a procura de minha espada, porém não obtive êxito. A ilustre opção que havia me restado era correr, mesmo que fosse em vão, eu tinha que tentar.
Dei as costas a fera e corri desesperadamente a passos largos pela terra erma diante de mim.
Não consegui conter o desejo de olhar para trás e me arrependi profundamente ao fazê-lo. Algo que pensei que não poderia piorar, havia piorado. O que vi era vários vultos a me perseguir e o som de seus passos se intensificavam cada vez mais. Olhei uma segunda vez, amedrontada com o fato de já estarem a me alcançar, pude ver claramente o brilho vermelho de todos aqueles olhares direcionados a mim.
Ao voltar meu olhar para frente, tropeço em algo e caio de bruços no chão úmido.
Através de minha respiração pesada, ouvi novamente o vazio a me encobrir.
Me pus de joelhos ao ver que as bestas tinham desaparecido e me assustei ao sentir o fedor que invadiu minhas narinas. Espantei-me novamente ao identificar um líquido espesso em minhas mãos.
Olho para o vasto espaço a me cercar na tentativa de encontrar alguém naquele vazio e paraliso ao ver um corpo inerte a minha frente.
Por mais que eu quisesse acreditar que fosse uma fantasia macabra criada por minha cabeça, eu tinha a impressão de que era real.
O abalo tomou-me em forma de lágrimas ao perceber que se tratava de sangue em minhas mãos.
O corpo não tinha nenhuma feição que eu pudesse identificar, apenas uma dolorosa retalhação em seu peito por onde o sangue escorria.
Minha mão gotejou sangue quando a passei instintivamente pelo rosto do morto. Meu coração doeu, quis gritar e chorar, apesar de não reconhecê-lo.
No entanto, desejei que fosse eu.
Lágrimas descem por meu rosto, obrigando-me a olhar o que vagarosamente surgia no platô.
Corpos.
Eles estavam mutilados e ensanguentados. Estava evidente a forma brutal que se encontravam.
Senti meu corpo fraquejar, meu coração pesar como chumbo e um estranho calor passar por meu corpo. No horizonte surgiram grandes chamas e várias labaredas se alastraram próximas a mim.
Eu estava imóvel com a cena aterrorizante e pude sentir o cheiro fétido, antes da espessa fumaça entrar em meus pulmões...
Pulei da cama, em busca de ar. Ele voltava aos poucos para dentro de mim, mas ainda parecia que eu iria sufocar.
Estava gelada, no entanto sentia o suor escorrer.
Uma lágrima brotou em meus olhos e rolou lentamente por minha face, não consegui impedir que muitas outras a seguissem.
- Não consigo mais. - Murmurei baixinho.
Suspirei com a dor que percorreu meu corpo e me levantei da cama secando as lágrimas. Apesar de tudo, eu preciso pelo menos fingir.
Ao amanhecer eu e Trice fomos a casa de Ray. Sei que ele deve ter percebido que outro pesadelo me atormentara, mas não pude lhe contar já que minha irmã estava comigo. Ele nos presenteou com um vestido e uma joia belíssima antes de irmos embora, mas mesmo feliz com aquele momento, meu interior estava a cair em ruínas.
- Bianka? - Trice chamou-me enquanto saiamos da floresta. - Ouviu o que eu disse?
- Sim. - Menti.
- Então tudo bem eu ir?
- Aonde você vai? - Perguntei, percebendo que havia concordado com algo que não sabia - Me desculpe, não prestei atenção. - Digo enquanto ela me encara.
- Está tudo bem com você?
Antes que pudesse respondê-la, Peter chegou por trás dela.
- Atrapalho?
- Não - Trice respondeu rapidamente. - Na verdade já estava indo trabalhar.
- Posso lhe acompanhar? - Disse com um lindo sorriso nos lábios.
- Claro! Tudo bem Bianka? - Perguntou-me e apenas maneei a cabeça em confirmação.
Eles seguiram pelo vilarejo juntos e percebia-se de longe o brilho nos olhos de Peter. Estava óbvio o amor que mantinha no modo de sorrir e falar com ela.
Pena que ao vê-los ir, notei que estaria sozinha com meus tormentos novamente.
Caminhei me distanciando do vilarejo e parei na sombra de uma árvore. Sentei-me e encostei-me nela. Agora estava sozinha e não sei se a solidão seria a melhor opção no momento.
Parecia que algo esmagava meu peito, uma dor que começava no coração e dominava todo meu ser. Meus olhos se encheram de lágrimas conforme flashes do sonho voltavam a minha mente e pela primeira vez não as controlei. Era como se uma espada estivesse a atravessar meu peito e a única coisa que sentia, era dor. Comecei a ficar sem ar, imaginando a fumaça entrar em meus pulmões e apenas me curvei sentada, segurando meus joelhos e chorei ainda mais.
Senti braços me segurando, eu já sabia quem era. A única pessoa que me encontraria ali. Abracei Ben e comecei a soluçar compulsivamente.
- Eu... - Tentei falar, mais a vontade de chorar só aumentou.
- Shhh calma. - Ele disse carinhoso e sentou-se ao meu lado.
Passou os braços por mim, puxando-me para mais perto e chorei envolvida em seu abraço. Respirei fundo e me afastei encarando-o.
- O que houve? Nunca te vi assim.
Receosa, contei-lhe sobre os sonhos que estava a ter.
- É por isso que está assim? Por causa de pesadelos?
- É por causa deles que meu sorriso está falhando, meu corpo está cansado e minha alma está extremamente estilhaçada - Meus olhos estavam com lágrimas de novo. - Eu tentei. Tentei mesmo. Mas não posso continuar fingindo que está tudo bem.
- Você está permitindo que eles façam isto - Encarei seu rosto, seus olhos verdes e cabelo desgrenhado. - Você é a garota mais linda, inteligente e guerreira que já conheci. Não deixem que lhe tirem o sorriso.
Sorri envergonhada com as palavras que me dissera e grata por ele estar ali.
- Sabe o dia em que te vi pela primeira vez... - Ele disse alisando uma mecha de meu cabelo. - Que derrotei você em um duelo de espadas... me apaixonei por você desde aquele dia.
Estagnei ao ouvir que me amava e senti um rubor se formar em minhas bochechas. Ele ainda me encarava, a imensidão de seus olhos verdes estavam cravados no castanho dos meus. Logo seu rosto estava próximo ao meu e nossos lábios se uniram em um beijo doce e sensível. Ele passou a mão por minha cintura, puxando-me ainda mais para si e intensificou o beijo.
Era o suficiente para me fazer esquecer de tudo. O nosso primeiro beijo se tornou a cura para o mal que se dissipou do meu coração dando lugar a um novo sentimento. Afastei ele delicadamente, terminando nosso beijo e não contive o sorriso.
- Não precisa temer o que lhe assombra - Disse passando a mão por meu rosto. - Prometo sempre estar ao seu lado.
Abracei ele novamente e pude ouvir as palavras saírem de minha boca, conforme meu coração acelerava lentamente.
- Eu te amo...
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Hey!!! A história está tomando seu rumo a cada capítulo postado e esperamos que estejam gostando.
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Agradecemos a leitura de todos.
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