O que for preciso
" Como não podemos falar sobre família. Quando família é tudo que temos? "
Bianka
A claridade do grandioso astro refletia a távola farta diante de meus olhos. Não por uma variedade incontável de pratos, mas sim pelas pessoas que amo.
Sempre fomos uma família extremamente unida e pela manhã se podia ouvir todo tipo de conversa enquanto realizávamos o desjejum. Pães, queijo, frutas e um chá refrescante de hortelã compunham a mesa.
Me sentia diferente, ótima, mas diferente.
Não fui atormentada por sonhos esta noite, muito pelo contrário, acordei com a minha energia renovada. Estou disposta a tentar dar uma chance a minha felicidade, deixar enterrado todo o sofrimento por qual passei e finalmente permitir a minha alma um pouco de paz.
Trice estava a minha frente, seus olhos se fechavam a cada mordida na fatia de pão que estava em suas mãos, provavelmente inebriada pelo paladar. Sorri quando ela percebeu que eu estava a lhe encarar, ela não imaginava o que perambulava pelos meus pensamentos, tampouco as minhas angústias. Mas por pior que fosse, era melhor assim.
- Vão estar ocupadas nesta manhã? - A voz serena de minha mãe chamou-nos atenção, fazendo-nos direcionar nossos olhares a cadeira ao lado, onde ela estava - Precisaria que vocês fossem apanhar uma cesta de framboesas para que eu pudesse preparar as tortas para o Midwinter. - Diz com um sorriso em seu rosto.
- Tenho que cuidar de Tommy e Lucy, não tenho certeza se poderia. - Trice comenta.
- Eu mesma iria, mas...
- Acho que posso ir - Digo interrompendo minha mãe. - Poderíamos perguntar a Scott se Tommy e Lucy poderia ir conosco.
- Não seria uma má ideia. - Trice diz virando a caneca com chá e terminando de beber o líquido.
- Bom... se encontrarem algumas amoras ou mirtilos podem apanhá-las também, talvez eu faça mais algumas. - Ela fala colocando uma mecha encaracolada de seu cabelo atrás da orelha.
- Tenho certeza que ficarão maravilhosas! - Digo levantando-me da cadeira. - Vamos, precisamos ir. - Falo dirigindo-me a Beatrice.
- Tomem cuidado minhas filhas. - Minha mãe diz enquanto caminhávamos até a porta.
- E vocês tenham um ótimo dia! - Exclamo com um sorriso no rosto.
- Procurem chegar antes do entardecer. - Meu pai diz em um tom de apreensão.
- Pode deixar meu pai. - Trice fala enquanto passávamos da porta para fora.
Andamos alguns passos em completo silêncio, até escutarmos a voz de Leonard, vindo atrás de nós.
- Eii!... Esperem! - Ele grita correndo em nossa direção, com duas cestas nas mãos, e para arfante a nossa frente - Vocês... esqueceram as cestas. - Conclui com dificuldade.
- Obrigada. - Trice diz segurando-as e vejo Edward se aproximar.
- Podemos acompanhar as senhoritas? - Diz exibindo um sorriso debochado.
- Adoraríamos a companhia dos cavaleiros. - Digo entrando na brincadeira.
Caminhamos sem parar de conversar, até o momento em que fomos surpreendidos por Ben e Peter que vieram ao nosso alcance.
- Olá Edward! - Peter foi o primeiro a cumprimentar meu irmão.
Ben se pôs ao meu lado. Não consegui segurar o sorriso que vagarosamente formou-se em meus lábios, só por saber que ele estava aqui.
Eles resolveram também ir conosco.
Edward, Leonard, Benjamim e Peter iria nos acompanhar para apanhar as frutas, um tanto quanto exagerado. Mas... quem sou eu para negar ajuda.
Eu e Trice fomos buscar os pequenos, enquanto os rapazes foram nos esperar a beira da floresta.
- Não sei se seria seguro. - Scott diz calçando a bota.
- Eu vou estar o tempo todo atrás deles. - Trice tenta convencê-lo.
- Por favor papai? - Lucy pedi ao pai carinhosamente e Scott suspira profundamente vendo o rosto da filha.
- Bom, você sempre cuidou muito bem deles - Ele sorri, dirigindo um olhar cansado a Beatrice. - Se eles quiserem...
Não deu nem tempo de Scott terminar a frase. Tommy e Lucy pularam de felicidade, abraçaram o pai e correram saltitantes para fora.
- Se divirtam! - Ele diz por fim, antes de sairmos.
Não demorou para nos aproximarmos dos rapazes que logo pararam de conversar ao notar nossa presença. Não contive a suspeita e foi inevitável a troca de olhares com Trice.
- Posso saber o que os senhores cavaleiros estariam a conversar? - Pergunto curiosamente.
- Nnada de importante. - Peter finalmente responde a minha pergunta e direciona o olhar a Trice.
- Bom... se não é nada, então vamos. - Digo segurando a mão de Lucy e adentrando a floresta.
O caminho era repleto por pequenos arbustos, o terreno era coberto por um tapete de grama e as árvores espaçadas permitiam que caminhássemos rapidamente. A conversa excepcionalmente agradável fez com que nem percebêssemos que já estávamos cercados pelas frutas.
As árvores pareciam verdadeiros arbustos carregados de pontos vermelhos, violetas e azuis. Completamente lindo e delicioso.
Lucy pediu a Trice para que trançasse seus lindos cabelos loiros antes de começar a apanhar as frutas, e é claro que Peter resolveu esperá-las. Tommy estava se divertindo com meus irmãos.
Apenas foquei nas framboesas, deixei meu baldrick com a espada embainhada perto de uma árvore e com a cesta em mãos comecei a colhê-las.
- Adivinha quem é? - Ouvi a voz de Ben e senti suas mãos encobrirem meus olhos.
- Sabe que eu não imagino quem possa ser - Brinco sentindo sua respiração próxima de mim - Talvez Benjamim Cornwell? - Digo e sinto suas mãos saírem de cima dos meus olhos e segurarem minha cintura.
- Parabéns, a senhorita acertou! - Diz com um lindo sorriso em seus lábios que se aproximavam dos meus.
- Ben... - O afasto carinhosamente - Aqui não... se esqueceu que meus irmãos estão ali do outro lado. - Digo e ambos olhamos para onde eles estavam, e não sei como, mas Edward estava nos supervisionando.
- Perdoe-me pelo descuido. - Brinca com minha preocupação.
As cestas ficaram cheias ligeiramente e logo estávamos com framboesas, amoras e mirtilos fresquinhos para o preparo de tortas.
Procurei minha espada ao pé da árvore e não estava no lugar que havia deixado-a. O desespero de tê-la perdido tomou conta de mim e não cessou mesmo quando a vi nas mãos de Tommy.
Apenas aumentou.
Tommy estava ao lado da irmã, que por sua vez estava com a aljava vazia em sua posse e as flechas jogadas pelo chão.
- Pelos Deuses! - Exclamo apavorada - Querem se matar?! - Digo retirando as armas de suas mãos.
Logo todos os cercavam e observei suas feições demonstrarem tristeza, enquanto Trice recolhia as flechas espalhadas pelo chão.
- Só queríamos aprender. - Tommy diz a Ben que estava ajoelhado ao seu lado.
- Não vejo mal algum. - Edward pronuncia apoiando as mãos na cintura, como se estivesse exausto.
- Aprendemos quando tínhamos a idade deles - Leonard completa. - Então, qual é o mal de lhes ensinarem a se defender?
- Acho que o básico eles podem aprender. - Trice diz ainda aflita, após um longo suspiro.
Primeiro ensinamos Tommy a segurar uma espada. Manter o pulso firme enquanto se manuseá uma lâmina é essencial, e o garoto mostrou-se talentoso com cada golpe que o ensinávamos.
Trice, Peter e Leonard estavam com certa dificuldade em mostrar como manejar um arco a Lucy. Sua altura se equiparava com o tamanho do arco, mas mesmo assim, a pequena insistia em tentar. Sua perspicácia foi tanta que depois de muitas tentativas, ela conseguira lançar sua primeira flecha.
O entardecer surgia aos poucos, juntamente com o vento gélido do começo do inverno. Já estava tarde e mesmo com todas as brincadeiras e conversas tínhamos que ir embora.
Tommy e Lucy foram entregues a Scott, e apesar de seu rosto demonstrar o cansaço do dia de trabalho no pequeno armazém, ele se mostrava disposto a tentar esconder dos filhos.
O vilarejo se encontrava em uma completa desordem, a preparação para o Midwinter só havia começado e já estava um verdadeiro caos. Afinal, a celebração é amanhã, não poderia estar diferente.
- Tenho que ir... - Ouvi Peter dizer a Beatrice.
Ela se mantinha distante dele, provavelmente desejando apenas sua amizade e Peter com certeza nutria certas esperanças.
- Também vou indo - A voz de Ben me sobressaltou, ele estava parado a minha frente e nem havia percebido. - Nos vemos amanhã?
- Sim! - Respondo ainda absorta. - Até breve!
Benjamim e Peter se foram e seguimos nosso caminho.
Instintivamente paramos em frente de casa e nos apoiamos no tronco de uma árvore que havia caído fazia um tempo.
Observamos os raios do sol adquirirem tons de âmbar e estes passarem por entre as árvores e tocarem os telhados de palha de muitas casas. O vilarejo lentamente conduzia-se a beleza da noite.
O dia se extinguia e aos poucos ele me mostrou como as pessoas que conhecemos, podem se tornar uma família.
Eu faria tudo por eles...
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Aloha!!! Primeiramente nos perdoem pela longa demora, tiramos um tempo para poder realizar algumas provas. Mas, finalmente estamos de férias ☺ \o/ ☺
Vamos fazer o possível para postar pelo menos um capítulo por semana.
O Midwinter se aproxima e por mais que este capítulo tenha parecido simples, ele fará muita importância no decorrer da história.
Eai, ansiosos?
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