Katy

Assim que chego em casa, não encontro Lucy. Ela deve estar com Daniel. Steven não atende minhas ligações. Subo para o quarto de Lucy, para esperar ela chegar. Sei que se for para o meu quarto, vou acabar dormindo, e minha raiva se dissipando. Como ela pode ter feito isso comigo? Forçando um encontro meu com o Zac, mesmo eu contando tudo o que ele me fez. Como Steven, pode ter contado toda a verdade a ele, sem me consultar antes? Como Zac, pode ter me beijado? Me repreendo mentalmente por um breve momento ter me entregue aquele beijo. Beijo que veio carregado de sentimentos, de lembranças. Sorrio sozinha com a sensação de nostalgia. Não nego que estou surpresa, pelos sentimentos que parecem aflorarem em mim. É como se uma parte de toda a raiva que eu sentia, fosse dissipada, com apenas um simples beijo. Lembro que ele sempre dizia, que nossas almas, eram feitas uma para a outra. As vezes ainda penso sobre isso. Eu nunca amei ninguém como amei ele. Talvez uma parte de mim, sempre vai pertencer a ele. Mas tento me convencer que ele foi tão marcante, por ser apenas o meu primeiro amor. Repito isso, a cada pensamento traidor, que o meu coração faz brotar. Escuto a porta da frente sendo fechada, e Lucy subindo as escadas correndo. Quando ela entra no seu quarto, vejo que lágrimas escorrem por seus olhos, e ela se assusta quando me vê sentada em sua cama.

-Katy, o que faz aqui? - Ela diz se virando, em uma tentativa inútil de esconder suas lágrimas.

-Estou esperando você para conversar. Você está bem? Porque está chorando? - Pergunto com a minha raiva, sendo substituída por preocupação.

-Nada Katy, não é da sua conta. - Ela diz rispidamente, me fazendo estranhar o seu comportamento. O que vem me surpreendendo ultimamente.

-Como não é da minha conta? Você é minha irmã! O que houve?

-Para Katy! Para! Não se intromete, está bem! - Ela diz, fazendo minha raiva vir à tona.

-Você não pode me dizer o que está acontecendo, mas pode armar um jantar com um cara que me fez sofrer muito pelas minhas costas?

-Droga. Me esqueci do jantar. - Ela diz, colocando a mão em sua testa, indicando que ela realmente esqueceu. - Como foi o jantar?

-Como foi? Sério Lucy? - Digo a ela dando uma risada de deboche - Como você pode fazer isso comigo?

-Para de drama Katy. Foi só um jantar, ele só queria falar com você, e você é teimosa demais para aceitar. - Meu corpo ferve em raiva, e eu seguro seu braço.

-O que deu em você? Porque está agindo assim? Agindo pelas minhas costas, sendo grosseira da forma que está sendo! O que houve com você? - Falo mais alto do que gostaria, fazendo com que ela se assuste.

-Nada Katy. Não houve nada, só tive um dia cheio, para ter que aguentar você fazendo um drama por conta de um jantar com um cara que você ainda é afim.

-Lucy a minha vida não te diz respeito, o que sinto ou que deixo de sentir não te diz respeito. Você não tem o direito de fazer o que fez. Eu sou muito, muito cautelosa com a minha confiança, e você sabe muito bem disso. Eu estava preocupada com você, fiquei feliz com a ideia de jantar com você, mas você tinha que ter feito isso. Você mudou muito Lucy, e sei que foi por conta do Daniel. Não sei o que anda acontecendo com você, porque está agindo como está, mas sei que é por conta dele. Você nunca tratou ninguém dessa forma.

-O que você sabe sobre relacionamentos Katy? Você passa dez anos sofrendo pelo mesmo cara, não conseguiu superar, e vem querer me dar lição de moral. Por favor sai do meu quarto. - Ela diz, fazendo com que uma parte do meu coração se despedace. Eu olho para ela, e sei que ela se arrependeu pelo que falou, assim que as palavras saíram da sua boca. Seu olhar está distante, com lágrimas caindo silenciosamente. Vou até ela, e a envolvo em um abraço, ela não foge dele. Ela me abraça, e soluça em meus braços. Ela leva um bom tempo para se recuperar, o que me faz sentir medo. Nunca a vi dessa forma. Ela vem cada vez mais se fechando dentro de si. Ultimamente está difícil ver o seu sorriso.

-Me desculpa Katy. Não queria ter falado essas coisas. - Ela diz sentando em sua cama, me chamando para sentar ao seu lado.

-Tudo bem. Só por favor, não fale mais sobre isso. É um assunto doloroso para mim.

-Peço desculpas novamente. Zac me implorou tanto para convencer você a jantar com ele. Ele realmente estava mal, eu achei que seria uma boa. Não foi bom assim? - Ela me pergunta segurando em minhas mãos, e uma alegria desconhecida, brota em meu peito ao saber que Zac implorou.

-Não. E não quero falar sobre isso. Mas não faça mais isso por favor. - Ela assente que sim, encostando a cabeça em meu ombro. - E o que aconteceu, porque você estava chorando?

-Também não quero falar sobre isso.

-Lucy...

-Não Katy. Não quero.

-Tudo bem, não vou forçar a nada. Mas você sabe que eu estou aqui.

-Eu sei. -Sinto ela sorrindo. Saio do seu quarto, um pouco depois dela adormecer, me contando histórias da sua infância, e me pego imaginando uma menininha travessa de olhos verdes. A observo dormindo, e me dou conta que algo de muito errado, vem acontecendo. Quando me jogo no sofá, a solidão toma conta de mim, e me sinto mais sozinha do que nunca. As lembranças daquele beijo voltam com força, e por um segundo eu o desejo novamente. A porta da frente se abre, e um Steven preocupado entra por ela.

-Katy você está bem? Vi suas ligações, não consegui atender. Liguei de volta e você não atendeu. - Eu tinha planejado, gritar com ele, e me fazer explicar o porquê de ter contado a verdade para o Zac. Assim como planejei com Lucy. Mas é mais forte do que eu, e o confronto não é comigo.

-Está sim. Já passou. - Ele se aconchega ao meu lado, e conto tudo a ele. Principalmente o fato de estar chateada com ele, a respeito do que ele contou a Zac. E por um segundo, penso que estou fazendo um grande drama a respeito de tudo isso.

-Desculpa Katy. Sei que não deveria ter contado a ele a verdade. Mas não suportava a ideia de ele pensar o que pensava de você, e não suportava mais ainda, o fato de me sentir culpado por tudo isso. Eu deveria ter falado com você primeiro, mas foi mais forte do que eu.

-Não está tudo bem. E já disse a você mil vezes que você não tem culpa de nada. - Ele me olha, e sorri. Seu sorriso é completamente confortador.

-Você ainda sente alguma coisa por ele? - Sua pergunta vem carregada de cautela.

-Não mais. - Tento soar a mais sincera possível, mas no momento não entendo a confusão que sinto em meu coração. Fico querendo entender a parte confusa que parece ganhar espaço dentro de mim. - Sabe Steven. Por muito tempo, eu esperei que ele viesse atrás de mim. Eu esperei. Esperei de verdade. Eu queria que ele viesse, e explicasse que aquele beijo, não tinha sido nada demais. Que tudo foi um erro, que ele só estava agindo daquela forma, por não saber enfrentar o momento do luto da morte do seu pai, ou que ainda estava frustrado pela rede de mentiras que ele percebeu que era a sua vida. Mas ai eu me dei conta, que eu tentava justificar os erros dele. Levou muito tempo para me dar conta, que eu só tentava justificar os erros dele. E quando a ficha caiu, eu me dei conta que estava procurando justificativas, para uma coisa que não iria acontecer. Ele não me procurou para que acertássemos nada. Mas depois de tanto tempo, reencontrar com ele, mexeu comigo sim. Sinto raiva Steven. Muita raiva por ter sido tão fraca, tão vulnerável, por deixar que ele me machucasse tanto. Sinto raiva por ter esperado ele por tanto tempo, mesmo depois de ver ele com outra pessoa. Eu queria dizer de boca cheia, que eu o odeio. Mas não. Eu não o odeio. Eu odeio a mim, por me sentir dessa forma.

-Eu acho que vocês dois passaram por muitas coisas, mas ainda sim guardam alguma coisa dentro de vocês. Só não sei se isso é bom ou ruim. - Ele diz, enquanto deito a cabeça em seu colo, e ele acaricia meu cabelo.

-É ruim. Muito ruim. Não consigo entender o que acontece dentro de mim. Queria que não fosse tudo tão complicado. Queria encontrar alguém, e simplesmente me apaixonar e ser feliz. Mas nem isso não consigo.

-Calma. Tudo vai se ajeitar Katy. Você é boa demais para qualquer um.

-Você é incrível sabe disso né?

-Sou humilde demais para admitir. - Ele diz, enquanto rimos. - Você é incrível Katy. Sabe disso. Não é qualquer um que mereça estar com você.

-Porque não ficamos juntos então, já que somos tão incríveis?

-Está brincando? suas piadas são horríveis, você é muito mal-humorada, e trabalha demais. E ainda por cima come bolo com manteiga. Não, não dá. - Ele diz rindo fazendo cara de nojo.

-Achei que eu fosse incrível. - Digo dando um leve tapinha em seu ombro.

-Você é Katy. Mas falar isso novamente em voz alta, perde a graça. - Ele diz me fazendo rir tanto, que um pouco de toda a angustia em meu peito, seja liberada.  

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