KATY

Medo... A sensação de alerta, de que o perigo está perto, ou algo ruim pode acontecer. Quando eu tinha aproximadamente seis anos lembro-me que ganhei uma bicicleta de meus pais, ela era rosa e tinha aquela cestinha na frente como a maioria das bicicletas de menina. Eu tentei andar sem o apoio das rodinhas, porém não consegui. Meu pai como sempre atencioso, correu e colocou as rodinhas para que eu não caísse... Lembro que era meu brinquedo favorito, e por muito tempo foi o que eu mais brincava. Um dia meus pais preparavam um almoço e a coragem tomou conta de mim. Tirei as rodinhas da bicicleta. Peguei as ferramentas do meu pai, e lembro que não foi tão difícil assim para tirar, o que me convenceu que andar sem as rodinhas era algo fácil. Eu não consegui andar nem um metro com a bicicleta sem o apoio, lembro que cai em cima de alguns pedregulhos, e isso me machucou. Lembro que ralei o joelho, e fiz um pequeno corte no ombro direito. Meus joelhos logo sararam, mas o corte em meu ombro ficou marcado, e ainda hoje tenho a cicatriz. Uma leve e pequena cicatriz. O medo me fez demorar muito para andar na bicicleta novamente, porém sempre que andava, eu sentia o medo de cair novamente. Logo após eu o superei. Não tinha mais medo, apenas me divertia com a minha bicicleta e nem me lembrava do dia em que caí. E nesse momento, o fato de estar grávida, me deixa muito feliz, mas o medo, ele está aqui. Ainda presente em mim, a sensação de alerta, de que tem o perigo de me machucar com essa situação toda novamente, está aqui. E durante esses três primeiros meses foram assim. Pois se de certa forma se caio dessa bicicleta agora, não serei a única machucada. O medo de perder o bebe, de falhar, de me machucar estava ali a cada segundo. Não posso me esquecer da euforia de Lucy, Steven e Gal. A felicidade deles me contagiava me dava forças para seguir firme. As palavras da Dr. Cléo, dizendo o quanto fomos sortudos em conseguir engravidar tão rápido, e o perigo de um aborto, ficaram martelando em minha cabeça, assim como aqueles singles daqueles comerciais chicletes, que grudam na mente e não sai. Mas a minha família, estava ali, sempre do meu lado. Hanna começou a aparecer mais, e sua presença passou a ser algo comum, sem me trazer incomodo algum, ao contrário disso, ela vinha sendo muito prestativa trazia para mim serviços da construtora, o que muitos vezes deixava Zac irritado. Mas precisava distrair minha cabeça com alguma coisa. Em relação a nossas empresas decidimos por um Joint Venture. Assim permaneceria ainda a Live Well com a R&R Morgan, duas empresas do mesmo segmento, com objetivos em comum. O prédio da Live Well foi reformado rapidamente e o incêndio foi realmente criminoso, mas fui deixada de fora. Zac me disse que tudo tinha sido resolvido, e que certamente foi algum vândalo. Sei que eles estavam omitindo algo, porém preferi deixar pra lá. Zac se desdobrava de trabalhar assim como Steven. Lucy não ia todos os dias se limitando a ficar comigo, e Gal, parecia viver pra mim, Mimava-me muito. As tonturas e os enjoos demoraram a passar, mas quando passaram, parece que descobri o quão bom dormir é. Eu dormia muito, me sentia com muito sono, e como não tinha muita opção para fazer, posso dizer que aproveitei muito. A única coisa que me chateia é o fato de sempre estar fora de tudo. Eles tem me poupado de absolutamente tudo. Lucy e Steven não estão bem, mas ambos não desabafam mais comigo a fim de não me chatear. Zac tenta resolver os problemas de todas as construtoras me passando o mínimo possível. Sei que isso tudo é para o meu bem, porém ser deixado de lado não vem sendo uma coisa legal.

-Katy Becky está para chegar, minha mãe falou que ela não para de falar um segundo se quer, está morrendo de saudades de você. – Steven me conta assim que desliga o telefone, me fazendo sorrir enquanto analiso alguns relatórios positivos em relação à junção de nossas empresas. Ele se apoia no balcão da cozinha do meu lado e parece querer me contar algo. A Sr. Elizabeth preparou um jantar para comemorar os meus três meses de gravidez, foi difícil convencer Zac de que eu já podia sair, mas no fim deu tudo certo.

-Que bom, sinto falta dela também. Alex veio também? – Pergunto já sabendo a resposta. É claro que ele não iria comemorar minha gravidez comigo.

-Ah não sei... – Steven diz escolhendo as palavras. – Eu diria pra você não esperar por ele.

-Tudo bem, eu entendo. E você e Lucy, conversaram? – Ele me olha, e abaixa a cabeça. Tenta não responder, e já sei a resposta. Eles têm ficado juntos que eu sei, porém, ambos são teimosos o suficiente para enfim reatarem.

-Não Katy... Ela está decidida a não se casar comigo. Não acredito no que ela sente por mim... – Ele diz guardando alguns papéis de cima do balcão em sua pasta. Seu olhar me entristece.

-Hey... Lucy ama você, tenho certeza disso, e você também sabe disso.

-Se ela me amasse aceitaria se casar comigo Katy... Estou chegando à conclusão de que ela é grata por toda a situação com aquele canalha, não é amor...

-Eu tenho certeza que é amor Steven, talvez vocês devessem reatar, e deixar essa história de casamento pra lá, dê tempo ao tempo, talvez ela precise desse tempo todo, tudo o que aconteceu com Daniel machucou ela... – Digo em defesa de Lucy.

-Eu não sou ele Katy, nem de longe. Mas enfim, bola pra frente, vida que segue. Vou ir me aprontar para o jantar. Você está bem sozinha? Quer que eu fique com você até Zac chegar? – Ele fala, e sei que o assunto está encerrado.

-Não precisa Zac já esta a caminho.

-Acho melhor esperar ele chegar então, se não ele me soca. – Ele diz brincando me fazendo rir.

-Ele te disse algo sobre o incêndio? Ele me deixou de fora do assunto... – Digo sabendo que Steven também não me contaria.

-Não Katy, fiquei tão no escuro quanto você... Mas está sendo bom trabalhar com ele. Tem dado certo, acho que ele deixou isso pra lá também. Zac é muito profissional muito empenhado mesmo.

-Sim, ele é mesmo. – Meu celular toca, e mostro para Steven o nome de Zac na tela, ele ri revirando os olhos. Ele me avisa que já está chegando, e pergunta pela milésima vez no dia se estou bem.

-Ele já está vindo. Você pode ir se quiser. Eu vou ficar bem. – Digo pra ele.

-Bom vou ir então. Qualquer coisa você me liga. Lucy vai no jantar? – Ele me pergunta com o olhar entristecido novamente.

-Vai sim.

-Ótimo, nos encontramos lá então.

Ele deposita um beijo em minha testa, e sai se despedindo. Vou para o quarto para começar a me arrumar para o jantar. Coloco um vestido soltinho azul, e uma sandália com um salto baixo. Enquanto coloco o brinco olhando para o espelho, observo a pequena saliência que minha barriga se encontra. Não tenho uma barriga de grávida ainda. Mas meu pequenino ou pequenina já consegue mostrar que está aqui. Acaricio minha barriga, sorrindo. E mentalmente faço um agradecimento a Deus por nos manter firme até agora.

-Oi, cheguei. – Zac diz entrando no quarto tomando cuidado para não me assustar. Ele faz com que sinta que sou uma boneca de porcelana, de tanto cuidado que vem tendo comigo. – Você está bem? E como está nosso bebe? -Ele diz me abraçando colocando sua mão carinhosamente sobre a minha barriga.

-Estamos bem, estávamos com saudades. – Digo sorrindo de volta.

-Estão com fome? Precisam de algo? – Ele pergunta preocupado, o que me faz rir.

-Não estamos bem. Você está pronto? – Digo acariciando seu rosto. Ele pega minha mão, e deposita um beijo nela.

-Vou tomar um banho rapidinho, e já podemos ir. – Ele diz me abraçando, e depositando um beijo em minha cabeça. Ele não demora muito a se arrumar, enquanto me conta sobre alguns projetos da construtora.

(...)

O jantar segue animado, e a felicidade parece reinar. Até mesmo Hanna parece estar feliz, e fico feliz também ao ver que sua melhora realmente é verdadeira. Não somos melhores amigas, mas estamos tendo uma relação legal até.

-E como esta o trabalho Hanna? Está gostando? – Pergunto a ela que me olha e sorri feliz com a minha pergunta.

-Sim, estou gostando muito Katy. O pessoal lá é muito receptivo, estou até pensando em começar a estudar esse ramo. Pensei em arquitetura engenharia não sei.

-Filha que ótimo! – Elizabeth diz completamente feliz e empolgada. Hanna sorri a ela.

-Isso mesmo Hanna, saiba que tem nosso apoio. – Digo sinceramente a ela. Zac aperta minha mão por debaixo da mesa, e sei que ele ainda não se sente totalmente confortável com a situação. Mas vem lidando bem com Hanna. Lucy fica o jantar toda calada, e evita olhar para Steven. Eles parece estarem brigados, sem se falarem. Becky é o centro das atenções, fazendo todos rirem quando perguntam sobre de onde vem os bebes. Todos se entreolham para responder a pestinha de cabelos ruivos. Até que Zac responde que eles vêm do amor, me fazendo sorrir com sua explicação carinhosa.

-Eu sei da onde eles vem tio, só queria saber se vocês já sabiam. – Ela diz fazendo todos rirem de novo. Alex para minha surpresa chega ao meio do jantar. Ele não fala comigo e mal olha para Zac. Isso claro me chateia, mas procuro deixar pra lá. O observo enquanto ele diz a Becky para ela arrumar as suas coisas que eles já vão embora. Ela protesta, mas ele promete a ela um sorvete, o que a faz levantar correndo da mesa para ir até o quarto arrumar suas coisas. Elizabeth começa a falar sobre suas três gestações, o que parece ser o único assunto que as pessoas procuram falar comigo... E realmente, ele tem sido o meu preferido. Noto certa tensão em Zac, e não consigo identificar o que está acontecendo, e começo a me irritar por estar sendo poupada de todos os assuntos.

LUCY

A convivência com Steven tem estado cada vez mais difícil. Eu o amo, amo ele, mas não quero me casar. Acabamos ficando juntas várias vezes, penso estar tudo bem, mais assim que o dia amanhece ele vem com o assunto sobre casamento e acabamos discutindo. Daniel destruiu esse sonho... Ele fez o parecer tão inútil, tão sem sentido que agora vem sendo difícil encontrar o caminho de volta. E ficar sozinha nesse apartamento vem sendo difícil, a solidão me sufoca em pensamentos... Ainda me pego pensando no porque dele ter feito tudo o que fez comigo, e chego a conclusão que nunca o enfrentei, nunca o questionei o por que. Uma ideia idiota passa em minha cabeça, e faz com que eu me arrepie. Eu me levanto com uma decisão que sei que é bem idiota e perigosa, sei o quanto isso vai frustrar Katy e Steven se eles souberem, mas preciso disso... E eles não precisam saber de tudo. Visto-me e pego as chaves do meu carro e dirijo até a delegacia. Paro na frente, e volto para o carro decidido a voltar e desistir dessa ideia idiota, porem não desisto. Volto e vou até a recepção. A mulher me olha e parece perceber o quão tensa estou. Falo quem vim visitar, ela me encaminha até uma sala onde duas policiais me revistam. Outro policial me leva até a sala de visitas, ele me analisa e parece não tirar os olhos de mim, como se me conhecesse e estivesse chocado por eu estar aqui. Acredito que seja piração da minha cabeça já que eu estou pensando assim. Entro em uma sala pequena e assustadora, a sala é fria e tem somente uma mesa com duas cadeiras, uma de frente a outra. Começo a sentir um pouco de falta de ar pelo ambiente completamente fechado, respiro fundo para tentar disfarçar. Sento na cadeira e apoio meus braços sobre a mesa. Assusto-me quando Daniel aparece. Usando uma camisa branca e uma calça marrom que acredito ser o uniforme, ele me olha com raiva nos olhos. Suas mãos estão algemadas e mesmo assim não me sinto segura. Olho tensa para o policial que está na porta, e ele está me assustando ainda mais. Daniel não nega a sua surpresa em me ver. Ele tem a aparência cansada, seu corpo esta bem mais magro, e seus olhos fundos de quem não têm dormido direito entrega que tudo não vem sendo um mar de rosas pra ele.

-O que está fazendo aqui? Sentiu saudades? - Ele pergunta rindo debochado, mas ainda sim nervoso.

-Porque você fez tudo àquilo comigo? Eu preciso saber... – Digo com a voz falhando.

-Porque você quer saber isso agora? Você já fudeu com a minha vida garota. – Ele diz se levantando.

-Espera! Eu preciso quero e merece saber o porquê você fez tudo àquilo comigo. Você tentou me matar, tentou matar Steven, porque Daniel? Eu preciso saber o que te fiz, pra você ter agido comigo como agiu! -Digo sentindo meus olhos lacrimejarem.

-Eu sinto muito por não ter atingido o meu objetivo, se eu soubesse que você e seu amante fosse destruir minha vida assim, eu teria acabado com você e com ele bem antes.

-Eu preciso que você saiba o que fez comigo, as marcas que você deixou em mim, no meu psicológico... Você me destruiu Daniel, você conseguiu acabar com a minha vida, e eu vim porque preciso te dizer que você é um filho da puta desgraçado que merece apodrecer nessa cadeia... Eu vou ficar bem, eu vou ser feliz com alguém eu vou ter uma vida uma família enquanto você vai apodrecer aqui dentro! – Digo com as lágrimas caindo. Ele ri debochado sem mostrar o mínimo sinal de arrependimento. Como me altero o policial abre a porta, para ver o que está acontecendo.

- Você nunca foi nada pra mim Lucy, eu só precisava do seu dinheiro, achei que você tinha mais mirei na irmã errada. Você sempre foi insignificante e nunca teve importância alguma em minha vida, só ajudou a ferrar ainda mais ela. Você deveria saber que a minha sentença já saiu, e não vou ficar aqui pra sempre princesa. – Ele diz saindo, me deixando assustada. Eu demoro um tempo pra voltar à realidade, e lentamente enxugando as minhas lágrimas saio da delegacia. Assim que chego ao meu carro eu caio no choro, ainda em pé encostada sobre ele, choro muito e me sinto ridícula por isso. Dirijo de volta ao meu apartamento, com as lágrimas que não param de cair um só minuto pensando em tudo o que vivi com Daniel e com todas as palavras que ele disse. Por um segundo sinto nojo de mim, me sinto usada, mas lembro de que tudo isso passou. Meu celular toca, e o nome do Steven aparece na tela, não atendo por estar dirigindo, e ele insiste. Não quero vê-lo agora, preciso digerir tudo e enfim por uma pedra nesse assunto. Chego a meu apartamento, e respirando fundo saio do carro. Meu celular toca novamente e vejo que é Steven ligando de novo. Por um segundo penso em Katy, pensando se algo aconteceu com ela e decido por fim atender.

-Oi Steven...

-Onde você está? – Ele me pergunta alterado, completamente furioso.

-Estou chegando ao meu apartamento. – Digo sem entender.

-Ótimo, estou chegando. – Olho incrédula para o celular sem acreditar que ele desligou na minha cara. Entro e assim que fecho a porta, ele passa por ela entrando sem bater.

-Você perdeu a noção Lucy? – Ele grita me assustando. – Me fala o que você está pensando da vida? Por favor, me explica!

-Do que você está falando? – Pergunto já sabendo a resposta.

-Olha Você realmente tem o dom de me deixar louco! Como que você teve a coragem de visitar aquele canalha do Daniel? Explica-me! Você tem noção do está fazendo?

-E como você esta sabendo? – Pergunto realmente querendo saber a resposta.

-Eu tenho amigos lá Lucy, já te falei. Agora me diz o que você foi fazer lá? Você perdeu a cabeça? Está ficando louca? – Começo a ficar irritada com a forma que ele fala comigo.

-Não é da sua conta Steven não está mais junto, não te devo satisfação. Esta vendo é por isso que eu não quero me casar. – Digo, mas não consigo terminar a frase sem que eu caia no choro. Ele me olha com certa piedade e dor no olhar, e sei que o feri falando como falei. – Me desculpa... – Digo enquanto minhas lágrimas caem. – Eu precisava confrontá-lo Steven, ele me feriu me deixou marcas...

-Mas porque agora Lucy? O que te fez o procurar agora? – Ele diz se aproximando de mim.

-Eu amo você Steven, eu quero ficar com você... Mas não quero me casar agora, eu preciso que você entenda isso... Não é porque eu não o amo, e sim porque eu realmente preciso ainda superar isso... Não faz tanto tempo e isso me machuca ainda... Sei que você não é nada parecido com ele, você é totalmente diferente, mas eu preciso de você, mas do meu jeito... – Digo sincera olhando para ele. Ele me puxa para perto de si, me dando um abraço, ele me aperta forte, deposita um beijo na minha cabeça, e o que ele me diz, me deixam sem palavras.

-Eu entendo o seu lado Lucy... Espero que se cuide, e só mais uma coisa... Eu não vou estar aqui, te esperando pra sempre... – Ele lança essas palavras e sai batendo a porta...

Olá meus amores! Cápitulo fresquinho para melhorar essa quarentena, espero que gostem, e não esqueçam de deixar a opnião de vocês! Beijinhos! Boa leitura!