Lucy

Assim que seus olhos machucados encontram os meus, a vergonha me consome por dentro. Seus olhos brilham ao olhar pra mim. Eu o conheço suficiente pra perceber que ele segura o choro. Ele se aproxima de mim, e pega em minha mão. O seu toque faz com que todo o meu corpo estremeça. Sinto medo, sinto dor, sinto tanta coisa e ao mesmo tempo, não sinto nada. Ele passa o polegar em meu rosto de forma suave, contornando os meus machucados. Sinto que de repente me sinto emersa em uma espécie de bolha só minha e dele. Os últimos momentos ficam claros em minha mente, me fazendo lembrar de cada segundo. A angústia cresce em meu peito, e sinto que ela escorre pelos meus olhos....

-Me perdoe Lucy... - Ele diz, enquanto não consegue evitar que as suas lágrimas caem. Me sinto completamente devastada.

-Steven... -Não consigo dizer nada, apenas deixo o soluço em meu peito criar liberdade.

-Me perdoe por não ter protegido você, me perdoe por não ter chegado antes de tudo isso acontecer. Me perdoe por ter deixado ele fazer tudo isso com você. - Ele diz, enquanto carinhosamente, ele me abraça. Noto todo o cuidado que ele tem comigo, toda a delicadeza em que ele me abraça, evitando que eu sinta alguma dor.

-Você não tem que me pedir perdão por nada Steven. Na verdade, preciso te agradecer, por tudo o que você fez. Não sei o que poderia ter acontecido se você não tivesse chegado lá. Peço desculpas por não ter escutado você. Me perdoe... - Penso seriamente em tudo o que poderia ter acontecido, e o medo toma conta de todo o meu ser.

-Eu prometo que não vou sair do seu lado. Prometo que irei cuidar de você. Nada de mal acontecerá com você novamente. Eu te prometo... - Ele diz enquanto deposita um beijo no topo da minha cabeça. E pela primeira vez, me sinto segura...

(....)

O meu alivio em voltar enfim para casa, é imenso. Ainda sinto algumas dores. Sinto uma dor de cabeça insistente as vezes, e minhas costelas ainda doem. Mas Dr. Garret me garantiu que com o tempo vai cessando. Já se passaram três semanas de todo o ocorrido. Ainda não tenho notícias de Daniel, não faço nem ideia de seu paradeiro. As dores não foram os únicos traumas que fiquei. Além de um coração partido, um psicológico destroçado, sinto muito medo. Não me sinto segura em lugar nenhum. Nem mesmo em minha casa. A única sensação que tenho de estar segura, é quando Steven está comigo. Tudo bem, tem horas que seu cuidado comigo me irrita. Mas sei que ele só está me protegendo. Ele voltou a morar em nosso apartamento, ainda me traz comida na cama, mesmo eu insistindo que posso descer para comer na cozinha junto com todo mundo. Quando vou tomar banho, sei que ele fica me esperando pelo outro lado da porta, e só sai quando enfim, escuta o chuveiro sendo desligado. Chega a ser hilário toda a sua proteção excessiva, porém no fundo eu gosto, me sinto de uma certa forma amada, importante, não sei explicar. Ele tem sido maravilhoso, nunca alguém foi tão dedicado a cuidar de mim, como Steven vem sendo. Sou muito, muito grata por ele estar fazendo tudo isso. Nunca fomos inimigos, porém nunca fomos tão próximo um ao outro. Olho para o espelho, terminando de pentear meus cabelos, e agradeço mentalmente pelos machucados do meu rosto enfim estarem cicatrizando e sumindo. Olhar para todas aquelas manchas e arranhados todos os dias não estava sendo agradável. Escuto uma batida na porta, e nem preciso me esforçar para saber quem é. Mando ele entrar, e assim que passo pela porta, noto sua expressão preocupada.

-Steven, você está bem? - Pergunto a ele. Sua feição realmente está muito estranha.

-Sim...

-Steven... - Digo segurando em suas mãos - Não mente pra mim. Sem segredos lembra.

-Lucy... Ontem a polícia teve notícias sobre o paradeiro do Daniel... Viram ele aqui perto... - Sinto meu corpo todo ouriçar só com a menção do seu nome.... - Ele estava perto do apartamento... Eu preciso tirar você daqui... Temo que ele volte aqui e tente te machucar novamente...

-Não... ele não faria isso... tenho certeza... - Digo mentindo, tentando só trazer calma a Steven e eu. E ignorando a parte em mim, que quer enfrentá-lo.

-O que o impediria Lucy? O que te faz ter tanta certeza? - Suas palavras soam rude e nervosas. Seu celular toca, e o analiso enquanto ele ignora a chamada. Ele coloca o aparelho novamente em seu bolso, e ele toca novamente. - Droga preciso atender. Já volto... - Ele diz e sai do quarto, com o maxilar trancado, completamente nervoso. Minha cabeça volta a doer, e me sento na cama, pensando em alguma alternativa que possa ter. Não sei o que fazer da minha vida, não quero ter que viver me escondendo, quero voltar a trabalhar, quero ter uma vida normal, não quero viver com esse medo pelo resto da vida. Uma lágrima escorre, e eu a enxugo novamente. Não quero que Steven fique preocupado. Ele ultimamente não está indo trabalhar para ficar o dia todo comigo. O que faz com que Katy trabalhe pelos dois, e não tenha tempo nem mesmo para curtir o seu reencontro com Zac. Embora vejo e sinto o quanto ela está tensa e preocupada comigo, noto também o brilho em seus olhos. Ela está feliz, e não tenho o direito de estragar tudo isso. O que uma escolha errada, não é capaz de fazer? Quais consequências ela pode trazer consigo? Quantas pessoas, ela pode atingir? Pois bem, são essas questões, que me tiram o sono.

-Você está bem? - Steven me pergunta, entrando no quarto novamente. Vejo que seus olhos estão com um resquício de lágrimas, e me pergunto o porquê.

-Sim. É só a cabeça novamente. O que houve? Você está bem?

-Mais ou menos... - Ele diz enquanto senta na cama ao meu lado. - Era Alex, meu irmão no telefone... Meu pai não está muito bem de saúde, e quer que eu vá vê-lo... Quer que eu vou até Forks...

-E porque você não vai? - Pergunta idiota Lucy, por causa de você, digo a mim mesmo.

-Não sei se estou pronto para vê-lo novamente... - Ele nem se esforça para mentir.

-Não seja sínico Steven. Sei que não é por isso... - Ele vira o meu rosto em direção ao seu.

-Eu não vou deixar você aqui sozinha Lucy. Eu prometi que não deixaria você correr risco enquanto aquele canalha estiver solto. Eu vou ficar aqui com você...

-Eu vou com você... Vou para Forks com você... - Ele me olha assustado. Preciso fazer isso por ele. Não tenho vontade alguma de ir para Forks, porém preciso fazer algo, por quem está fazendo tanto por mim.

-Não, você ainda está se recuperando, não é uma boa ideia.

-Cala a boca Steven, eu vou e pronto. - Digo a ele que sorri. - Me fará bem também, sair um pouco. Não quero viver pra sempre trancada nesse quarto.

-Você faria isso por mim? - Ele me pergunta, enquanto deito com a cabeça em seu ombro, e ele passa seu braço pelas minhas costas, me aconchegando. Por um breve segundo, penso porque que com Daniel, as coisas não eram assim.

-Claro que sim. Você me ajudou, nada mais do que justo.

-Obrigado...  Não queria ir sozinho também. 

-Você nunca vai estar sozinho, não se esqueça disso- Ele sorri, enquanto deposita um beijo no topo da minha cabeça, me abraçando mais forte, mais ainda sim, com todo cuidado do mundo.

Katy

Saio da terceira reunião do dia. A pressão para o término das obras do projeto, está me deixando louca. Ainda fico preocupada com Lucy, mesmo sabendo que Steven não desgruda dela, ainda temo que Daniel possa fazer algo com os dois. Temo também por Steven. Já é notável, por mais que ele negue, que ele sente algo a mais por Lucy. E sei também que Lucy ainda está com o coração machucado, o que pode decepcionar Steven. Zac e eu concordamos com isso. E para aumentar ainda mais a minha preocupação, terei que ir para a Califórnia esse fim de semana. O que me alivia é saber que Zac também estará lá. Nosso relacionamento não poderia estar melhor. Deus como o amo. A cada dia que passa o meu amor aumenta ainda mais por ele. Pensei que fosse impossível, mais não, a cada segundo que passa sinto que meu amor por ele aumenta. E isso parece ser reciproco. A forma como ele me trata, como ele cuida de mim, me faz sentir a mulher mais feliz do mundo. Me sinto realizada. Completamente realizada. A felicidade de Gal por Zac e eu estarmos juntos novamente, chega a aquecer meu coração. Realmente foi como ela disse, Zac e eu sempre pertencemos um ao outro, sempre fomos e seremos morada um do outro. Somos a prova viva de que o amor verdadeiro existe, e nem mesmo dez anos, serão o suficiente para destruí-lo. Não quero mais sair do seu lado, nem por um segundo se quer, e sei que estou falhando com isso, trabalhando da forma que estou trabalhando. Estamos nos vendo bem menos do que eu desejo, mas o que me conforta é que ele compreende o motivo de estar trabalhando tanto. Preciso que Lucy fique segura, e sei que Steven está cuidando dessa parte. Finalizo algumas documentações, e quando estou prestes a sair, Steven entra em minha sala, me surpreendendo.

-Katy, preciso falar com você... - Percebo seu nervosismo.

-O que houve? Lucy está bem? Onde ela está?

-Calma, está sim. Zac ficou com ela para que eu possa falar com você. Não iria deixar ela sozinha com aquele canalha a solto. - Claro que eles cuidariam dela, não a deixando sozinha. Ainda mais com Daniel sendo visto perto do nosso apartamento.

-Eu sei, desculpe. - Ele sorri, revirando os olhos. - O que houve?

-É meu pai, nosso pai... Ele não está bem, e quer que eu e você vamos vê-lo.

-Como ele está? - Pergunto a Steven, com receio da resposta. Ele ficou anos sem falar com seu pai, e eu tenho grande parcela de culpa, foi por mim que ele saiu de casa e se afastou.

-Bom, Alex não me disse muito. Só disse que ele queria ver a gente. Eu vou esse fim de semana... E Lucy vai comigo...

-O que? - Pergunto a ele assustada. - Ela já sabe disso?

-Sim. Ela e eu conversamos sobre isso...

-Ual! Não esperava por essa.... Esse fim de semana tenho que ir para Califórnia, não posso adiar dessa vez, mas assim que chegar eu posso ir até lá... Mesmo temendo Forks... - Digo e minhas últimas palavras saem falhadas. Steven me conhece o suficiente para saber o que eu temo.

-Hey... Está tudo bem. Hanna não vai estar lá, e mesmo se estivesse, ela não pode mais te machucar. Você é uma mulher forte, batalhadora. Construiu um império do chão, não é mais aquela garotinha frágil. Não tem que temer Hanna, nem Forks, nem nada e ninguém! - Sorrio com as suas palavras. - Eu confio em você, conheço a força que você tem! Tudo o que aconteceu é passado, nada mais daquilo importa! Acredite em você!

-Já disse que você é maravilhoso? - Digo a ele que sorri!

-Eu sei que sou! - Ele diz rindo.

-Obrigada... Por tudo Steven, por cuidar de mim, por cuidar da Lucy, não sei o que seria da minha vida sem você. Se sou o que sou hoje, saiba que você tem uma grande parcela nisso.

-Para com isso, tudo isso foi você! Agora vamos embora que o seu amado está te esperando. Vou levar Lucy para jantar, ela quer sair de casa um pouco, mas não vou deixá-la sair sozinha, então fiz esse combinado. - Seus olhos sorriem, sempre que menciona o nome dela.

-Steven, só toma cuidado tá... - Digo a ele preocupado.

-Claro, vou ficar de olho se Daniel aparecer. - Ele sabe que não estou falando do Daniel, só está se fazendo de desentendido.

-Não é sobre o Daniel que eu estou falando.

-Katy, já falamos sobre isso. Lucy é só uma amiga pra mim, uma irmã, assim como você. Faria o mesmo se fosse por você.

-Hum... Sei... - Digo a ele piscando um olho, ele ri e revira os olhos.

Assim que chego no meu apartamento, encontro Zac do lado de fora com Lucy esperando por Steven. Ela está linda. Os girassóis estampados em seu vestido longo azul, parece trazer luz a ela, depois de toda a escuridão que ela passou. A maquiagem escondeu qualquer evidência dos seus machucados quase cicatrizados. Olho para Steven, que olha para ela completamente encantado, e sorrio, qualquer um veria o que está acontecendo. Ela vem até o carro, e me abraça, se despedindo. Vou caminhando lentamente até Zac, ele sorri me fazendo derreter por inteira.

-Se continuar andando devagar assim, vou ser obrigado a ir até aí, e te arrastar lá pra dentro. - Sorrio com as suas palavras, enquanto corro até ele, e me jogo em seus braços, ele me abraça tirando meus pés do chão. - Senti sua falta, você precisa trabalhar menos mocinha! - Eu não o respondo, somente o beijo. Ele me coloca lentamente no chão, sem descolar nossos corpos, sem me tirar do meu lugar preferido, o seu abraço.

-Estamos no meio da rua, só pra você saber! - Ele me diz, mordendo meu lábio inferior, fazendo com que eu me arrepie inteira.

-Então acho melhor entrar... - Recebo seu sorriso de volta.

-O que acha de irmos para o meu apartamento, tenho uma surpresa para você. - Ele diz, sorrindo com os olhos.

-Uma surpresa? - Pergunto curiosa. - O que seria?

-Se eu te contar deixa de ser uma surpresa dã! - Dou risada da cara engraçada que ele faz. E sei que não adianta insistir, ele não irá me contar o que é. Subo até meu apartamento, pegando algumas peças de roupas, e vamos até seu apartamento. Durante o caminho, dividimos momentos do nosso dia. Conto alguns detalhes sobre a construtora, e ele me conta sobre o dia dele também. E isso, é o que me faz ter certeza, que quero passar a minha vida toda com ele, até as coisas mais simples, mais banais, ele faz parecer importante. Me dou conta do quanto precisava disso, do quanto precisava dele em minha vida. A sensação de paz, de tranquilidade que ele me transmite, é indescritível. Me sinto completamente segura ao seu lado. Ele dirige tranquilamente, até que estaciona em seu apartamento. Entramos no elevador, e assim que a porta se fecha, ele me puxa para si, me dando um beijo. A porta se abre, e nos recompomos.

-Feche os olhos! - Ele comanda. Dou risada para ele balançando a cabeça, fechando meus olhos. Com a sua ajuda passo pela porta, e o cheiro de pipoca toma conta do ambiente. Ele me leva um pouco para a frente, e pede para que aguarde um pouco.

-Não vale espiar! - Ele diz, soando divertido. Escuto barulho de talheres, a geladeira se abrindo. Sinto um cheiro de doce no ar, mas não identifico de imediato.

-Posso abrir? - Pergunto pra ele, rindo mais já ficando impaciente.

-Só um minuto! - Ele diz, enquanto pega em minha mão, e me  assusto quando me dou conta do quanto a dele está gelada. - Pode abrir! - Assim que abro, dou risada completamente surpresa. A sala está completamente repleta de almofadas. Em frente a Tv tem várias opções de filmes para assistir. Rapidamente, noto que eles são os meus preferidos. Em pequenas mesinhas no chão, vejo balde de pipocas, vejo que ele preparou brigadeiro, e tem também sorvete. Em um outro lado, tem uma pizza, o que me faz rir ainda mais. Essa é a minha definição de noite perfeita. Sempre fazíamos isso a dez anos atrás. 

-Você quer me engordar, é isso? - Pergunto a ele divertida.

-Não, só quero te fazer feliz, sei o quanto gosta de uma noite de bobeira!

-Você é incrível! Não acredito que você fez isso! Se soubesse tinha pegado meu pijama de cupcake! - Ele ri, um som gostoso, leve, e vejo quanto amor, emana de seus olhos. Me aproximo dele, enlaçando meus braços em seu pescoço.

-Não, prefiro você com a minha camiseta, como antigamente! - Ele diz, enquanto deposita vários selinhos em meu rosto. - Acho que você precisa disso, está trabalhando demais, e Lucy está segura com Steven, então acho que merecemos uma noite só nossa. Um momento só nosso, e nada mais.

-Você é maravilhoso Zac! - Digo a ele sinceramente.

-Não sou. Eu só amo você, e quero fazer tudo para fazer você feliz. Durante anos, imaginei poder fazer isso com você, e você não estava aqui, não estávamos juntos, agora tudo o que quero é recuperar o tempo perdido...

-Não acho que temos que recuperar tempo perdido...

-Não? - Ele arqueia uma sobrancelha, não entendendo onde quero chegar.

-Não... Temos todo o tempo do mundo agora. Em vez de se preocupar com o tempo perdido, podemos aproveitar da melhor maneira possível, o tempo que temos agora...

-Desde que ele seja a eternidade, por mim tudo bem! - Ele diz enquanto sorri, me fazendo ter a certeza que em meio a toda imensidão da vida, ele sempre será minha escolha certa... 

Olá meus amores! Tudo bem com vocês? Olha quem está de volta! Peço desculpas pela demora em postar o capitulo, tive um bloqueio muito chato que me impossibilitou a escrita! Espero que gostem do capitulo, foi feito com muito carinho! 

Boa Leitura para vocês! Beijinhos