Capítulo 10 Declarações
Katy
Subo para o meu apartamento o mais rápido que posso. A lata mecânica, conhecida por elevador parece querer me contrariar. Sinto meu corpo congelando devido à chuva fria que caia lá fora. Esse frio é a falta dele, é a falta do seu calor familiar. Eu não poderia me sentir mais sozinha do que já estou. Durante o trajeto Lucy me avisou que ficaria com Steven no seu apartamento até a chuva passar. Ele pegou um resfriado forte, mas o drama que ele faz, faz com que o simples resfriado pareça sua sentença de morte. Me jogo no sofá, abraçando os meus joelhos, e choro compulsivamente. A solidão toma conta de mim, e o aperto no meu peito é enorme. Digo a mim mesma que a solidão nesse momento é a melhor coisa. Na solidão, na dor, você se desmancha, se reinventa. Você desiste de você mesmo, mas lembra que você vai precisar se levantar, e seguir em frente. Já passei tanto tempo sozinha, que começo a desconfiar que a minha solidão virou minha própria companhia. Sei que tenho Lucy e Steven. Mas eles não têm a ver com a solidão que sinto. Eu tentei seguir adiante, tentei. Durante muito tempo, eu usei da minha imaginação. Eu imaginava ele aqui. Mas o que sentia por Zac foi mais forte do que isso. Eu já acostumei a perder na vida, eu perdi meus pais, perdi os Trampells,perdi Alex, Hanna, perdi o Zac. E mesmo assim nunca desisti. Segui meu caminho. Me reinventei, me reergui. Por isso não vou permitir fraqueza da minha parte. Não mais. Eu me levanto, me sentindo completamente dormente de tanto frio que sinto. Depois de um banho bem quente, me sinto melhor. Ligo para Lucy que me informa que Steven está melhor, ela me avisa que vai passar na casa de Daniel e logo chega em casa. Assim que eu desligo o telefone, alguém toca a campainha. Em um momento hesito, com medo de ser Zac. Mas desisto da ideia logo em seguida. Ajeito os meus cabelos molhados, passando a mão em uma tentativa inútil de ajeitar o meu moletom. Assim que abro a porta, o sorriso caloroso do outro lado, me deixa completamente surpresa.
-Liam! O que faz aqui?
-Vim visitar a minha amiga. Acho que foi isso que combinamos depois do nosso rompimento. Que você seria minha amiga. - Ele diz me abrindo os braços, para que eu o abrace. Por um momento, sinto ser ironia do destino. Encontrar os dois ex-namorados no mesmo dia.
-Claro entre! - Digo de uma certa forma desconfortável.
-Vim dar uma passeada por Nova York. E ainda sinto saudades, então decidi ver você. - Ele diz sorrindo, ajeitando seus óculos, sinal de nervosismo. Liam é muito bonito. Simples mais bonito. Muito inteligente. E um ótimo artista. Seus quadros sempre foram sucesso.
-Que bom fico feliz que veio me ver. Poderia ter me ligado. - Digo sinceramente a ele.
-Não quis correr o risco de ouvir um não como resposta. Não sei se você tem alguém em sua vida, sabia que isso seria um empecilho. Então resolvi aparecer de surpresa.
-Não tenho ninguém Liam, e além do mais somos amigos. Não deveria ter esse receio.
-Não vou negar que fiquei feliz em saber disso. Onde está a maritaca? - Ele diz se referindo a Lucy, e é impossível não rir. Por um momento, lembro do vínculo de amizade que ele e Lucy criaram. Penso que se tivesse sorte e pudesse corresponder ao que Liam sentia, tudo seria bem mais fácil.
-Estava com Steven, ele não estava se sentindo muito bem.
-Eles já assumiram o relacionamento? - Ele diz rindo. Ele sempre achou que as brigas de Lucy e Steven significasse bem mais do que raiva.
-Se for de se odiarem sim. Estão cada vez mais infantis. - Digo a ele rindo, enquanto entrego a ele uma xícara de café fumegante. Entramos em uma conversa animada sobre suas novas pinturas, quando escuto alguns gritos do lado de fora da porta. Escuto a voz chorosa de Lucy e a voz alterada de Daniel. Liam e eu trocamos olhares, e vamos rapidamente até a porta, quando a abro vejo Lucy chorando, e Daniel segurando seu braço quase a machucando. Percebo que ele a ofende com insultos baixos, e sua ira vem do fato dela ter ficado cuidando de Steven. Percebo também que ele está embriagado.
-Lucy você está bem? - Digo a puxando para dentro. Ela me abraça, enquanto soluça. Liam aparece, e ajeita novamente seus óculos.
-Hey cara, acho melhor você ir embora, antes que eu chame a polícia. - Ele diz bravo o suficiente, fazendo com que Daniel dê uma olhada ameaçadora em Lucy, antes de sair. Eu fecho a porta, e abraço Lucy novamente, perguntando o que aconteceu.
-Eu preciso de um banho Katy. Depois conversamos. Liam é bom te ver, e obrigada. - Ela diz subindo as escadas, peço para Liam aguardar um momento, e subo atrás de Lucy.
-Lucy o que houve? O que foi aquilo tudo lá fora? - Ela enxuga suas lágrimas de uma maneira estupida.
-Não foi nada Katy. As coisas com o Daniel só estão um pouco confusas. Ele é muito inseguro, acha que vai me perder. Ele ficou com ciúmes de Steven, ficou com ciúmes por eu ter passado a tarde toda com Steven. Ele só não entende, que somos só amigos. Ou nem isso, sei que Steven me odeia.
-Lucy, Steven não odeia você, não diga isso de novo. E Daniel não tem direito de fazer isso com você, a forma como ele estava te segurando, ele poderia ter machucado você. E se Liam e eu não estivesse aqui? O que ele seria capaz de fazer?
-Não Katy. Ele não me machucaria, ele não faria nada comigo. Eu sei disso. Ele só estava nervoso, se descontrolou, não vai acontecer de novo. Obrigada por se preocupar.
-Lucy...
-Não Katy, sério. Está tudo bem. Se Daniel não fosse boa coisa, eu pularia fora. Você sabe que sei me cuidar. Se as coisas ficarem muito difíceis, garanto a você, que eu coloco um fim.
-Você não precisa esperar chegar a esse ponto para fazer alguma coisa, sabe disso não? - Ela vem até mim, e me abraça, mas sei que só está colocando um fim na conversa.
-Pode deixar. E o que o Liam faz aqui? Vocês voltaram?
-Não! Ele apareceu de surpresa, está em Nova York. - Ela me avisa que vai tomar um banho, e eu desço novamente. Meu coração me avisa que algo está errado, e por mais que Lucy diz que está tudo bem, não consigo confiar.
-Quem é esse cara? - Liam me pergunta curioso.
-É o namorado de Lucy. Algo que vem deixando Steven e eu preocupados.
-Ele não parece ser gente boa. Ele estava a machucando, e sabe Deus o que ele teria feito, se você não estivesse aqui.
-Pois é. Preciso falar com Steven novamente.
-Ele parece ser perigoso. - Um bom tempo depois Lucy se junta a conversa. Ela tem os olhos vermelhos e inchados, e sei que foram de chorar. Daniel não é bom para ela. Ele parece se alimentar de toda a alegria que ela transborda. Minha cabeça começa a latejar, e sinto minha energia exaurida. Tudo o que aconteceu com Zac hoje, tudo o que vem acontecendo com Lucy, a confusão em meu peito, faz com que a sensação de angústia volte com força. Me despeço de Lucy e Liam, que estão em uma conversa animada, e sussurro um obrigado baixo a ele, que entende que é por fazer Lucy sorrir. Entro em meu quarto, e me jogo na cama, abraçando meu travesseiro. Não consigo evitar que algumas lágrimas caem, e me sinto mal por deixar Zac me afetar dessa forma novamente. Me sinto covarde na verdade, porque sei do que estou fugindo. Eu só queria entender, o porquê de ainda doer tanto. O porquê de ainda sentir tanto. Escuto minha porta sendo aberta lentamente, e penso ser Lucy, mas vejo a sombra de Steven.
-Katy está acordada? - Ele pergunta baixinho.
-Estou sim. - Digo sentando na cama, acendendo o abajur no criado mudo, enrugando a testa, quando a claridade do ambiente incomoda a minha visão. - O que faz aqui? Você está bem?
-Estou melhor. Estava com o nariz entupido, e fiquei com medo de morrer sem ar, não quis ficar sozinho. - Ele diz me fazendo sorrir.
-Dramático. - Digo a ele, que se ajeita na cama ao meu lado. Ato que me faz lembrar de tudo o que houve com Zac. Ele me viu dividindo uma cama com Steven.
-Fiquei preocupado com você, Lucy disse que você estava com Zac, não entendi o que aconteceu.
-Você ficou com o meu carro, e não foi me buscar quando a reunião acabou, e ele me ofereceu uma carona. Foi só isso nada demais.
-Você é uma péssima mentirosa sabia. O que aconteceu me conta Katy! - Narro a ele o que aconteceu, omitindo algumas coisas. Ele não diz nada, somente me abraça, me dando o conforto que eu preciso. Depois de um bom tempo em silêncio, ele volta a falar.
-Eu sinto muito por ter dormido aquele dia no hotel com você. Eu deveria ter feito tudo diferente.
-Steven para! - Digo a ele, colocando o dedo indicador em seus lábios. Ele me olha, com o olhar derrotado. - Você não teve culpa de nada, ele quem foi que tirou conclusões precipitadas, e depois de tudo o que tinha acontecido, isso foi o melhor pode ter certeza disso.
-Foi o melhor Katy? Olha pra mim, e me diz que você não o ama! - Ele me desafia.
-Eu não o amo. - Digo fraquejando.
-Mentirosa! Você não sabe mentir Katy, está na cara que você ainda sente algo por ele. Não sei o que, ou a força do que você sente, mas sente. No começo eu achei que fosse só um incomodo, mas não é. Olha só como você fica a cada vez que fica sozinha com ele. Ele sempre te faz chorar, sempre dá um jeito de te deixar nesse estado. Você que vinha sendo uma muralha de tão forte, estava irreconhecível. Por um lado, isso me deixa contente porque eu sei que você ainda tem sentimentos, eu sempre achei que ele teria te marcado pra sempre, você sempre se fechava quando alguém aproximava, olhe por exemplo o Liam. Que está lá embaixo agora, vocês tinham tudo pra dar certo, mas não deu por conta do fantasma dele. Eu tive medo por você, da forma como você se fechou, isso faria você infeliz. Mas por outro lado sinto vontade de socar ele, por cada vez que ele te deixa nesse estado. Por favor me diz que não vai se machucar de novo? Me promete que não vai deixar que ele faça isso com você. Eu não vou suportar ver você sofrer de novo, não vou aguentar essa culpa.
-Steven por favor... - Ele se aproxima de mim, colocando sua testa sobre a minha.
-Eu o mataria por você acredite. - Ele diz, e o contato próximo faz com que eu sinta o calor febril de seu corpo.
-Steven você está ardendo em febre...
ZAC
Durante todo o trajeto de volta para o meu apartamento, penso em Katy. Seria idiota em negar que sinto algo por ela. Eu a amei com toda a minha alma, não era algo passageiro. Eu estava decidido a me casar com ela, a passar a vida toda ao seu lado. Ela não é como as minhas antigas namoradas que reencontro e nada sinto. Ela me faz ferver por dentro, ela me faz me sentir completamente vivo. Não posso continuar a negar o que sinto por ela. Não sei qual a intensidade do que sinto, só sei que sinto. Todo aquele frio na barriga, o coração disparado, e as mãos suadas, indicam isso. Droga. Estou tão confuso, não sei o que fazer. Não posso jogar tudo para o alto, não posso desistir de Mirela, desistir de tudo por conta de Katy. Mas não aguento mais sufocar todo esse sentimento. Ele parece criar forças e destruir todas as barreiras que criei, para evitar que tudo isso acontecesse. Pior, é a culpa que sinto, por ter desistido tão fácil. Mas há dias parei de me culpar. Não tinha como prever tudo o que aconteceria. Eu estava em um momento ruim da minha vida, tinha descoberto a rede de mentiras que me cercava, perdi meu pai, que sempre achei que não me amava, e ela era a única coisa boa no meio de tudo aquilo. Quando a vi com Steven, senti que a tinha perdido também. Em um instinto de defesa idiota, a afastei da minha vida. Estaciono o carro, e subo direto para o apartamento de Gal. Ao chegar ela me repreende por estar todo molhado, mas a dormência que domina o meu corpo, já é algo que estou acostumado. Tomo um banho em seu apartamento, me negando a ir para o meu e sentir aquela solidão. Assim que saio do banho, Gal me traz uma xícara de café bem quente.
-O que houve querido? Aconteceu algo? - Ela me olha firme, tentando desvendar o que aconteceu. Tomo um gole do café, me sentindo aquecido.
-Não foi nada Gal. Só não tive um dia bom.
-É katy não é? - Ela me pergunta, e só a menção do seu nome, desperta uma inquietação em meu peito.
-Como você sabe? - Pergunto a ela.
-Esse brilho no seu olhar. Só vi você assim uma vez. E quando estava com ela. O que houve querido? - Sorrio para ela, ela me conhece como ninguém.
-Eu errei Gal. Errei e agora estou tão confuso, não sei o que fazer, por onde começar. Me sinto sem saída.
-Você ainda a ama, não é? - Olho para Gal e penso em sua pergunta. Meu celular toca, e o nome de Mirela aparece na tela. Deixo a ligação cair na caixa postal.
-Eu não sei Gal. Ela ainda mexe comigo, me irrita, me desconcerta. Mas tem coisas que sinto só com ela. Mesmo depois de tantos anos, tem coisas que só ela faz eu sentir. - O celular toca novamente, e a última pessoa com quem quero falar agora é Mirela. - Tenho medo de estar errado Gal. Sei que já errei, mas não quero errar de novo. Não posso.
Dhylan aparece na sala, todo arrumado, e sorri pra mim.
-Querida, estou pronto. Podemos ir? - Ele pergunta a Gal. Me lembro dela comentar que eles iriam jantar fora, para comemorar o aniversário de casamento.
-Querido podemos adiar nosso jantar? Nosso menino precisa de mim. - Ela diz, me fazendo gargalhar.
-Não mãe, pode ir. Eu vou ficar bem.
-Você está bem filho? - Dhylan me pergunta. - Podemos ir outro dia não tem problema.
-Não podem ir. Vão comemorar. Eu preciso atender Mirela. - Digo e mostro o telefone tocando novamente.
-Bom querido, se precisar sabe que estamos aqui para você. E o que você precisa é pensar um pouco. Você sabe para qual lado o meu coração tem uma queda, então não sei se eu seria uma ajuda justa, mas você precisa resolver isso querido. Você sabe a sensação de se sentir magoado por alguém que ama, então não engane ninguém. - Ela diz, e sei que se refere a Mirela.
-Pode deixar mãe. - Ela diz depositando um beijo em minha testa, enquanto Dhylan me dá um abraço apertado. Não poderia me sentir mais acolhido. Enquanto entro em meu apartamento, tomo a decisão de terminar com Mirela. Preciso desse tempo, preciso pensar, e acima de tudo preciso ser justo comigo mesmo, e com Mirela.
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