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Vinte: Lei de Murphy


Nicholas Campbell nunca esteve tão enrascado em toda a sua vida. Fazendo um breve panorama, sua última semana foi o divisor de águas, como diria o pastor John, sobre toda a sua vida. Ele estava diferente. Se sentia diferente. E isso nunca havia o feito tão bem.

Ele não queria contar para Maya. Apesar de ainda não saber o que ele sentia em relação a ela, tudo o que estava acontecendo naquele momento da vida dele ia muito além dos sentimentos desconhecidos em seu coração pela garota. Nicholas precisava de um tempo só dele, um tempo entre ele e Deus. E foi isso que ele fez.

Ele foi para a igreja todos os dias daquela semana receber discipulado do pastor John. Ele ainda estava tentando entender quem ele era. Nicholas nunca havia chorado tanto como no dia em que aceitou a Cristo. Nunca havia percebido que era tão pequeno e pecador.

Ele sentiu o espírito santo com ele, e percebeu o que Dylan havia visto. Nada mais era como antes. Ele também estava cego, e conseguiu enxergar pela primeira vez. Ele não apenas havia perdoado o irmão, como também havia ganhado o perdão que nem sabia que precisava de Deus.

Entretanto, tudo parecia ter ido por água abaixo quando ele se viu em meio a casa de Amber, com a boca borrada de resquícios do batom de Bright, dois policiais o interrogando e uma mancha roxa no lado direito do rosto. O que raios havia acontecido naquela noite?

Em primeiro lugar, nem era para ele estar lá. Nicholas ainda sabia pouco sobre o que era ser e agir como uma pessoa que havia aceitado a Cristo, mas definitivamente, parecia óbvio que ir em uma festa com bebidas, drogas e suas quatro ex-namoradas não era o certo a se fazer. No entanto, tudo mudou quando ele recebeu a mensagem confusa de Maya.

O que ela estava fazendo lá?

Preocupado com a garota, ele saiu às pressas. No momento em que ele viu a roda de verdade ou desafio e a encontrou com os olhos cobertos de lágrimas, ele quis abraçá-la e tirá-la imediatamente daquele lugar. A última coisa que ele esperava, no entanto, era que Bright o beijasse. Na frente dela.

Depois de afastar a ex namorada e perguntar o que droga ela estava pensando para beijá-lo daquela forma, Nicholas correu atrás de Maya. Ele precisava se explicar.

Explicar que, apesar da última semana sem falar com ela, ele não havia voltado a ser o idiota que um dia ela conheceu, e que ele não havia voltado com a garota que havia destruído o trabalho do semestre dela com refrigerante.

Para completar a maluquice do dia, Scoot o parou no meio do caminho suando frio e contando que Amber o havia beijado. Ele nunca havia visto o amigo tão desesperado, o que significava que ele realmente se importava com Maya. Prometendo ajudá-lo a esclarecer a confusão com ela, Nicholas foi até a varanda da casa.

Quando ele chegou, a briga que Jim se envolveu, no fim, foi o ápice do caos. Ele ainda não havia entendido o motivo que havia levado o amigo a dar um grande soco na cara de Kevin, mas não importava. O instinto de defesa ao ver o amigo de infância em uma briga sozinho no meio de quatro caras enormes foi o suficiente.

O suficiente para criar vários hematomas e quase ir preso pela polícia, se não fosse menor de idade.

Quando chegou em casa, Nicholas colocou gelo no rosto e se lembrou do olhar decepcionado dela ao entregá-lo a jaqueta. Ele nunca mais gostaria de ver aquele olhar novamente. Era como ele olhava para o velho Nicholas, o idiota que havia jogado terra nela com o pneu carro antes de tudo.

Colocando o casaco de couro no cabide, ele sentiu o cheiro do perfume de Maya, e pegou o celular. No segundo toque, ele pensou em desistir. Scoot que deveria fazer isso. Quando a voz da garota, no entanto, ressoou do outro lado da linha, ele esqueceu de tudo que acabara de pensar.

— Oi.

— Oi. — ele respondeu, respirando fundo. — Como você está?

— Eu estou bem. — Maya respondeu baixo, quase em um sussurro. — O que você quer?

— O Scoot não beijou a Amber. Ela que tomou a iniciativa. Eu não sei se você viu...

— O Scoot pode se explicar para mim, Nicholas. Você não é o advogado dele.

— Justo. — ele respondeu, se deitando na cama e encarando o teto.

— Você está machucado?

— Nada com o que se preocupar.

Outro silêncio se estendeu.

— Era só isso que você queria dizer? — Maya perguntou, engolindo uma saliva. Ela estava esperando que ele fosse dizer algo sobre o beijo. Com a Bright.

— Era. — Nicholas respondeu, respirando fundo.

Ele não precisava se explicar. Os dois eram apenas amigos, e talvez não fosse tão ruim assim Maya pensar que ele havia voltado com a Bright. Ela gostava do Scoot, e se ele estava procurando uma forma dos dois se afastarem, talvez essa fosse a forma certa.

— Ok. Boa noite. — ela respondeu decepcionada. Nicholas fechou os olhos, e sentiu um aperto no peito.

— Boa noite, Olsen.

Maya não conseguiu dormir uma noite inteira de sono. Ela acordou às 2, às 3, às 4:30, às 5, às 6 e levantou, finalmente, quando o alarme soou 7 da manhã. Hora de arrumar para ir ao colégio.

Becca bocejou ao seu lado, com o cabelo recém-pintado de castanho, os olhos ainda inchados e o rosto amassado pelo travesseiro. As duas haviam passado o domingo juntas, e tentado esquecer o horror do sábado à noite.

Segundo Maya, a Lei de Murphy havia sido comprovada naquele dia. Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.

Tentando se esquecer, no domingo pela manhã ela e Bec foram à igreja, e Scoot não apareceu por lá. Maya pensou ter visto Nicholas no final de relance, mas se convenceu, por fim, de que era uma visão.

No mundo virtual, o vídeo de Rebecca já havia sido retirado das redes sociais, o que não significava que as pessoas haviam esquecido. Sendo assim, ela decidiu que não queria mais o cabelo rosa.

A garota comprou uma tinta, que mais se assemelhava a cor natural do seu cabelo, e decidiu que não iria se abalar por algo que não era culpa dela. Ela apareceria na segunda-feira de cabeça erguida, sendo quem ela realmente era e sem precisar se esconder. Ir em uma psicóloga nunca havia a feito tão bem.

Entrando juntas na sala depois de uma onda de piadinhas com Bec a respeito do vídeo, as duas cumprimentaram com um aceno o professor Jones e se sentaram no fundo, em fileiras próximas que as deixavam quase uma ao lado da outra. Bright e Amber apareceram sorrindo e sentaram na frente. Maya fechou as mãos em punho, e Becca encostou a cadeira.

— Não vale a pena May, não olha para elas.

— Eu não acredito que fiz uma cartinha para a Amber. Eu fui uma completa idiota! Porque ela beijou o Scoot? — Maya sentiu os olhos marejarem de novo ao encarar a amiga, e tentou engolir em seco. — Ela sabia que eu era apaixonada por ele desde pequena.

— Você era? — Bec ergueu uma sobrancelha olhando para a amiga quando Nicholas entrou. Os olhos dos dois se encontraram, e ele sentou na frente ao lado oposto a Bright.

— Eu sou... na verdade, eu não sei mais. — ela respondeu e olhou para a frente, vendo Jim entrar. O ruivo olhou para Rebecca e se sentou no fundo, duas cadeiras à frente dela. — E o Jim? Quando mesmo vamos poder falar sobre ele?

— Em momento algum. — Bec respondeu com raiva, retirando o caderno de física da bolsa e colocando na cadeira.

— Becca, ele socou o Kevin! Além do mais, eu fiquei sabendo que foi ele que mandou todo mundo apagar o seu vídeo. Isso está estranho, eu sei, também estou em choque, mas...

— Ele é louco, May! Essa é a única explicação. Não vou agradecê-lo. Ele me infernizou a minha vida inteira.

— Eu sei, você tem razão, mas uma coisa você tem que admitir: desde criança o Jim só gosta de atacar você. Lembra de quando dormíamos na casa da Amber e ele passava a noite inteira tocando aquela guitarra insuportável só porque sabia que você detestava? Pensa nisso. — Maya parou de falar quando viu o professor ajeitar a boina e começar a escrever no quadro:

"TESTE SURPRESA".

— O quê? — foi o que quase todos os alunos gritaram em conjunto. A sala inteira se desesperou.

— Tá de sacanagem professor? O senhor nem nos avisou! — gritou Jim, indignado. O idoso sorriu.

— É por isso que se chama teste surpresa, James. É uma ajuda, uma revisão para vocês para prepara-los para a prova da semana que vem. Todos já afastem suas carteiras que eu já vou entregar a prova. Valerá três pontos.

Os murmúrios continuavam. Maya olhou preocupada na direção de Nicholas, e o viu de cabeça abaixada. Ele havia estudado sem ela? Como ela poderia saber se ele havia a evitado a mais de uma semana?

Sua atenção, no entanto, mudou quando Scoot entrou na sala com uma pequena caixa de som na mão e um buquê de flores. O senhor Jones segurou o pacote de provas na mão, e o encarou.

— Com licença professor, desculpa atrapalhar, só irá levar 2 minutos. Eu fiz uma burrada com uma garota que eu gosto e preciso consertar.

— 2 minutos. — Jones respondeu, respirando fundo. Esses jovens...

O coração de Maya disparou. Em meio a sala inteira, Scoot andou em sua direção e se ajoelhou, colocando em sua frente o buquê de rosas vermelhas. Amber franziu os olhos de raiva em meio a cena, e Bright a segurou.

— Eu não beijei a Amber, por favor acredite em mim. Se eu estou saindo com você, é apenas com você. — ele sussurrou para que apenas ela ouvisse.

— Fale alto, Scoot, nós queremos ouvir! — alguém gritou. Maya o olhou completamente paralisada.

— Maya, você aceita ser a minha namorada e ir ao baile comigo? — ele disse alto, olhando no fundo dos olhos castanhos desesperados da garota. Maya olhou procurou Nicholas com o olhar, e viu que ele ainda estava de cabeça baixa. Todos a encaravam.

— Si-sim. — ela respondeu nervosa. A sala gritou e Scoot se aproximou, dando um beijo em sua bochecha.

Scoot se sentou na cadeira atrás de Nicholas, e deu um tapinha nas costas do amigo, que apenas sorriu fraco. Maya colocou o buquê no chão e viu os olhos arregalados de Becca, que claramente queriam dizer: O QUE VOCÊ ACABOU DE FAZER?

— Pronto, pronto, já acabou o show. Alguém mais quer fazer convites para o baile ou eu posso continuar de onde eu estava? — Jones disse, colocando a mão nas costas.

— Na verdade, eu professor! — Thomas, o garoto mais inteligente da turma levanta as mãos. Ele possuía cabelos castanhos lisos, óculos de grau finos e possuía o sorriso mais largo que alguém poderia ver. Ele se levantou devagar expondo a perna direita com uma bermuda, que carregava uma prótese mecânica, e estende uma caixa de chocolates a Jane. — Você aceita ir ao baile comigo?

Jane, a sua melhor amiga, com um sorriso tímido e as bochechas coradas, colocou os cachos do cabelo para trás e aceitou.

Depois dessa cena, os garotos da sala se empolgaram e começaram a convidar as meninas para o baile, com medo de que só sobrassem as que eles não queriam. Irritado, o professor pega o apagador e bate no quadro.

— Chega! Façam isso no intervalo. Agora vocês terão menos tempo para o teste. — ele retira a primeira prova, e começa a entregar. — Boa sorte a todos!


Becca foi a primeira a sair da sala. Ela não estava com cabeça para resolver teste algum de física, e suas notas já eram boas. Depois de chutar metade das questões e resolver impaciente todas as outras, ela pegou a mochila e andou até o armário, pronta para trocar os livros pelas roupas da próxima aula que ela detestava: educação física.

O que ela viu, no entanto, após fechar o armário, foi Jim. Não havia mais ninguém no corredor. Ele andou na direção dela, com o uniforme largo e uma gravata completamente mal amarrada solta na camisa. Becca respirou fundo e cruzou os braços, vendo-o escorar os braços no armário ao lado dela e passar a mão no cabelo ruivo bagunçado.

— Uma espinha no queixo! Essa se ficar aí por muito tempo já pode lhe servir como parte da fantasia de bruxa para o próximo halloween. Aliás, gostava mais do cabelo rosa.

Becca explodiu. Com raiva, a garota joga a mochila no chão e empurra Jim contra o armário.

— Qual é a droga do seu problema comigo James?

— Você está maluca garota?

— Estou! Eu não pedi para você me defender. Porque você se mete em exatamente tudo na minha vida?

— Você não pediu, mas precisava. Da próxima vez arranje um ficante que preste!

— Se minhas espinhas te incomodam tanto, pare de me olhar e de vir atrás de mim! Nós não estamos em Harry Potter, eu não sou a Hermione e apesar de também ser ruivo, você não é o idiota do Rony Wesley. Fale de uma vez! Está apaixonado por mim?

Jim a olhou estático. Garota nenhuma jamais havia falado daquela forma com ele antes. Dando um passo à frente e se soltando dos braços dela, ele apenas a encarou assustado, e foi embora.

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