Doze: Realidade paralela
O dia da prova havia chegado. Nicholas suava frio, pensando a cada segundo daquela manhã se havia estudado o suficiente. Ele precisava tirar um A em todas as unidades se quisesse realmente conseguir uma vaga em uma universidade para compensar todo o desastre do currículo acadêmico que possuía.
Maya, enquanto isso, observava o garoto sentado na última cadeira da última fileira da sala, olhando fixamente para a caneta em sua mão. Ainda faltavam duas aulas para a prova e ela estava preocupada. Com ele.
— Bom, a aula de hoje será no laboratório. Peguem seus jalecos e o caderno com uma caneta para anotarem caso achem necessário. — a professora Ruth diz, passando a mão pelo cabelo em seu coque alto perfeito e pegando a bolsa, saindo da sala. Todos se levantam e a acompanham.
— Ai eu detesto essas aulas de laboratório. — diz Becca, entrelaçando o braço ao de Maya.
— Você ainda tem medo de morrer asfixiada por alguma substância? — May sorri, andando atrás da professora.
— A gente arrisca as nossas vidas com essas coisas corrosivas só para ver um líquido mudar de cor, é extremamente desnecessário! — a garota se solta do braço da amiga e entra no laboratório, amarrando o cabelo curto rosa e colocando o jaleco junto com os demais.
— Se houvesse um Oscar de melhor atriz de drama você ganharia amiga. — Maya fecha os botões e também amarra o cabelo em um rabo de cavalo baixo. — Como está indo com a psicóloga? Está gostando?
— Ainda é muito cedo para se dizer, mas eu gostei dela. É completamente estranho se abrir para uma pessoa desconhecida.
— Se organizem em duplas para a prática de hoje. — a professora Ruth diz, colocando os seus óculos de proteção. Seu enorme e belo salto preto fazia barulho enquanto ela andava e organizava os béqueres no balcão.
— Becca? Você gostaria de fazer dupla comigo? — Kevin pergunta, se aproximando das duas. A garota abriu e fechou a boca em choque ao encarar o belo sorriso envergonhado do moreno enquanto esperava uma resposta.
O colega possuía um cabelo crespo em um corte baixo, olhos verdes e lábios carnudos. Ele era um dos melhores jogadores de basquete do time da escola, o que significa que a sua altura fez as duas garotas olharem para cima até sentir os pescoços doerem.
Alto, bonito e charmoso, era o que Rebecca e todas as meninas pensavam quando suspiravam e o olhavam de longe nos campeonatos.
Apesar de todo o charme do sorriso que Kevin distribuía, no entanto, era difícil vê-lo saindo realmente com alguma garota ou sequer a dando oportunidade de sentar ao seu lado em uma aula de química. Becca piscou três vezes antes de acreditar que aquilo estava acontecendo. Quer dizer, Kevin Smith estava realmente falando com ela.
— Oh...eu...tem a Maya...
— Ela aceita sim. — Maya a interrompe, dando um empurrãozinho nas costas da amiga. Becca a olha em dúvida consertando os óculos e ela pisca. — Não se preocupe comigo.
Se sentando na cadeira sozinha, Maya colocou o par de luvas assim como os colegas e olhou para o fim da mesa do laboratório. Scoot estava sentado ao lado de Jim, concentrado em alguma conversa.
Sem saber o porquê, ela procurou Nick com o olhar e se decepcionou ao ver Bright sentada ao lado dele, com a mão apoiada em seu braço. Tentando retirar o incômodo estranho da cena, a garota olhou para o recipiente milimetrado à sua frente e abriu o caderno.
— Para a aula de hoje vocês vão usar esse Béquer, um copo de vidro, água, Cloreto de cobalto, Ácido Clorídrico, Proveta graduada, Espátula, Conta gotas de vidro, Tábua de madeira na cor clara e um longo bastão de vidro... — Ruth termina de mostrar e olha em direção à garota. — Maya, você está sem dupla? A sala de vocês é em um número par...
— A Stefany faltou hoje. — uma das garotas da sala responde.
— Tudo bem professora, eu posso fazer sozinha... — Maya começou a explicar e se assustou quando um garoto se sentou ao lado dela.
Era Nicholas.
— Não é mais necessário. — seus olhos azuis encontram os dela, e a garota sente o rosto arder ao ver toda a sala olhando para os dois. Bright se levanta do outro lado e sai do laboratório a passos firmes de raiva.
— Amber avise à sua colega que se ela não retornar à prática em menos de 5 minutos com uma boa explicação do porquê saiu sem relatar ela perderá 3 pontos na matéria. — Ruth olha para a ruiva e se vira ao quadro, começando a explicar a experiência que será realizada. Maya sente o perfume de Nicholas sentado tão próximo a ela na bancada e se dirige a ele em voz baixa.
— Porque fez isso?
— Porque eu fiz o que? — ele se faz de desentendido, fingindo prestar atenção na explicação da professora.
— Sentou comigo...
— Quer que eu saia? — ele a interrompe, virando o rosto em direção a ela. Maya sentiu as palavras desaparecem.
— Entenderam? — Ruth os interrompe, olhando especificamente para os dois. — Podem começar.
— Campbell eu...
— Somos amigos, não somos? — ele começa a organizar os materiais sobre a bancada.
— Bom, somos, mas...
— Então não tem motivos para ficar incomodada, Olsen.
— Quer parar de me interromper? — ela o repreende e o vê sorrir. Sem saber porque ver o sorriso dele havia retirado a sua raiva, ela sorriu também. — A sua ex namorada ainda vai acabar colocando fogo na minha casa.
— Atlanta tem um bom serviço de bombeiros.
— É sério, Nicholas! — ela sorriu de novo,
sentindo novamente os olhares dos colegas sobre os dois. — Você...deveria ter continuado em dupla com ela...
— Eu não estava em dupla com ela. Maya, esqueça a Bright! — ele respirou fundo, colocando o Béquer sobre a placa de madeira. — O relacionamento que nós tivemos foi... um completo erro.
— E você se certificou de que ela soubesse disso?
— Ela nem sequer me conhece, Olsen. Bright gostava da ideia de estar comigo, de namorar, ter alguém para beijá-la quando ela queria... — ele observou Maya arquear uma sobrancelha nessa parte. — ... ela não sabe nem um terço da minha vida, e nunca se interessou em saber.
— Então você nunca... se apaixonou por ela?
— Nem por ela, nem por garota alguma. — ele admitiu, olhando em seus olhos castanhos.
— Bom, eu sinto muito... — Maya disse, dando um sorriso fraco. Ela usou a espátula para transferir um pouco do cloreto de cobalto para o interior da jarra e homogeneizou a solução com o bastão de vidro. O líquido se tornou rosa.
— Por ela?
— Por você. — os dois param de mexer nos materiais, e se concentram nos olhos um do outro. — Eu acho que todo mundo deve saber como é a sensação de amar alguém algum dia.
— Ainda somos muito novos para saber o que é o amor de verdade, não acha? — Nicholas desvia o olhar e pega o conta-gotas, colocando o ácido clorídrico.
— Na verdade, não. — Maya retira o conta-gotas da mão dele e pinga a solução no béquer. Imediatamente, a solução que era rosa se torna azul. Ela olha novamente para ele. — Não acho.
— Vocês conseguiram! — a professora Ruth se aproxima e sorri diante à solução. Maya e Nicholas olham para o béquer, sem ter reparado que ambos haviam feito a experiência juntos e terminado rápido sem perceber. — Parabéns, deveriam considerar formarem dupla mais vezes. Vocês são bons em química.
Os dois se olharam e depois começaram a organizar de volta os materiais, incomodados pela fala da professora. Do fundo do laboratório, Jim havia quase explodido uma solução. Ruth correu para desfazer o caos que havia acontecido e a sala inteira caiu na risada, menos Nicholas e Maya.
Eles não tinham química, os dois cogitaram. Bom, não foi isso que a professora quis dizer, mas foi isso que ambos pensaram. Decidindo se concentrar na prova de física da próxima aula, Nicholas retirou o jaleco e saiu do laboratório.
Maya esperou Rebecca terminar de sorrir com Kevin na bancada ao lado, e se assustou quando um cabelo ruivo se projetou em sua frente.
— May, obrigada mesmo por aquele trabalho, você salvou minha vida. — Amber sorriu e a abraçou.
— Não foi nada.
— Olha, semana que vem é o meu aniversário. — a ruiva retirou um convite cor de rosa de dentro do bolso do jaleco, e estendeu em sua frente. — Eu quero muito que você vá. Chame a Becca... sabe, eu chamaria, mas ela não gosta tanto de mim, então... quem sabe... se você a convencer...
— Vou tentar falar com ela.
— Sério? Mesmo? — Amber abre um grande sorriso. — Muito, muito obrigada May, eu ficaria muito feliz se vocês duas fossem. Vai ser lá em casa, vou esperar vocês duas.
— Tudo bem. — Maya sorriu, surpresa por ter sido convidada para uma festa e observando-a sair. Em certo ponto, Rebecca sempre esteve certa quanto ao afastamento de Amber. Ela nunca havia as convidado para nada desde o primeiro ano.
— O que essa vaca queria? — Bec chega atrás da amiga, franzindo o olho para o convite na mão dela.
— Fomos convidadas para o aniversário dela, acredita?
— Não. — Becca fecha a expressão. — Não acredito e não pretendo ir, assim como você. Não é?
— Ah Bec, acho que seria rude não ir...
— Rude? May, aquela garota é mais falsa que a bolsa que comprei da Chanel. Só você não enxerga isso.
— Tem tempo ainda para considerarmos isso, agora me conte como foi passar uma aula inteira com o Kevin.
— Amiga eu acho realmente que estamos em uma realidade paralela. — Becca se apoia no braço de Maya de novo, e as duas saem sorrindo do laboratório. — Não sei o que foi mais louco, o gato do Kevin ter me chamado para sentar com ele ou o Campbell largando a Bright com cara de tacho para vir sentar com você. Será que estamos em um universo alternativo?
— O Kevin realmente foi uma surpresa, mas o Campbell não foi nada demais. Nós somos bons amigos. Acho que ele está acostumado a estudarmos juntos...
— Não foi nada demais? — Becca parou e olhou para a amiga. — May, o jeito que vocês se olharam quase gerou uma combustão química no laboratório.
— Agora eu acredito que estamos em uma realidade paralela, porque essa foi a frase mais louca que você já soltou. Pare de imaginar coisas, Bec. — Maya franziu a expressão e continuou andando com a amiga, vendo Nicholas conversar com Scoot de longe.
Ela e Campbell juntos? Nunca, Jamais!
Nicholas olhou para a prova, observando toda a sua vida passar em sua mente como um completo borrão. Ele estava nervoso, nervoso como nunca esteve antes. A um semestre atrás, ele olharia para a prova em sua frente e pensaria: quem se importa com essa porcaria? O garoto respirou fundo e bateu a caneta nos dedos. Agora ele se importava.
Ele leu a nona questão e se lembrou de Maya. De como a garota havia explicado aquele assunto para ele de forma tão paciente, por diversas e diversas vezes. Como raios o cérebro dela era capaz de guardar tantas informações?
— Faltam sete minutos para o término da prova. Aconselho a já passarem para o gabarito. — o professor Jones falou, ajeitando a boina gasta na cabeça e cruzando os braços, escorando o corpo magro à mesa.
Nicholas sentiu o corpo suar por dentre a camisa. Ele não tinha certeza do que havia respondido. Ainda faltavam três questões e ele não sabia se sete minutos seriam suficientes.
Sentindo que sua cabeça estava prestes a explodir, ele olhou para o lado decidido a se levantar e desistir daquela prova miserável até que os olhos de Maya encontraram os dele. Como se estivesse percebendo que ele não estava bem, ela sorriu fraco em sua direção.
— Você vai conseguir. — ela disse com os lábios, sem fazer som. Nicholas, pela primeira vez em todo aquele tempo, conseguiu respirar de verdade.
Maya acreditava nele. Alguém, pela primeira vez na vida acreditava que era realmente capaz de fazer alguma coisa da forma certa, e isso o fez sentir algo que ele jamais havia sentido em toda a sua vida. Ele criou coragem, e se agarrando a essa coragem, ele voltou a ler a prova se concentrando nas últimas três questões que faltavam.
Os cálculos fluíram sobre o papel. As duas questões seguintes era sobre ondulatória, e ele se lembrou de quanto tocou as notas para a garota no violão. Velocidade é igual comprimento de onda vezes a frequência.
Alternativa C, ele marcou quando chegou ao resultado. C de Cristo, a voz de Maya ressoou em sua cabeça em um dia na biblioteca. Nicholas quase sorriu, e partiu para a última questão.
— Dois minutos, pessoal. Nem um a mais ou a menos. — Jones abriu a boca em um bocejo, olhando para o relógio de bolso. Ele realmente refletia sobre se aposentar.
Gravitação. A constante de gravitação universal assume valores distintos para cada tipo de planeta envolvido na determinação da força de atração gravitacional. Nicholas leu e releu a alternativa, sem saber se estava certa ou errada.
O que Maya havia mesmo falado sobre os planetas? Ah, ele se lembrou! Quando ela ia explicar, ele zoou o telescópio dela. Ótimo Nicholas! Perfeito! Gênio! Astro!
— Acabou o tempo. Entreguem todas as provas na mesa imediatamente, e estão dispensados. Boa sorte a todos. — Jones parou de se escorar a mesa e viu todos os alunos com as expressões desesperadas. Ele se sentia um torturador de adolescentes.
— Só mais cinco minutos professor, pelo amor de Deus! — uma garota grita do fundo.
— A entrega é agora, peça a Deus para te tirar da Netflix e te fazer estudar mais depois Chloe. Vamos, na mesa, já!
Nicholas se levantou chutando a última questão, e entregou a prova. Por incrível que pareça, Jones bateu nas costas do rapaz e piscou o olho, o desejando sorte baixinho.
Maya esperou Campbell na porta, e apoiou os braços no moletom de frio verde escuro de alguma liga de física. Ele pensou em dizer a ela que não estava combinando com o uniforme, mas pela primeira vez, ao invés de fazer uma piada, ele sorriu para a garota e disse a palavra que ele dizia raramente às pessoas.
— Obrigada.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro