Dezoito: Verdade ou Desafio
Todos dizem que o perdão é uma ideia maravilhosa até que elas possuam algo para perdoar. Essa foi a frase que Nicholas se lembrou ter lido uma vez de um autor chamado C.S.Lewis, e nunca se esqueceu. Naquele momento, aquela frase nunca havia feito tanto sentido enquanto ele lutava contra si mesmo a caminho de visitar o seu próprio irmão.
Os flashs da morte de Maycon naquela fatídica noite o atingiram conforme o carro entrava no estacionamento do centro de reabilitação para dependentes químicos.
O lugar era bonito, parecia um acampamento de férias. Belos jardins, campos de esportes, pessoas sorrindo e cachorros correndo atrás de objetos que eram lançados por seus donos.
Evelyn e Gregory passaram o caminho conversando sobre os últimos detalhes do divórcio e tentando entrar em um acordo para não brigarem na frente do Dylan porque prejudicaria a recuperação. Nicholas desceu do carro revirando os olhos e batendo a porta.
Ele já havia se arrependido de ter ido até ali. Isso tudo era culpa de Maya que havia colocado coisas na cabeça dele.
Ele por acaso havia esquecido o quanto havia lutado pelo irmão? Quantas vezes ele já havia o perdoado pela mesma coisa? Era um erro. O garoto sentiu a raiva invadir seu coração e se virou para ir embora dali. Ele não queria vê-lo. Não importava se era aniversário dele. Quantos aniversários Dylan já havia estragado?
— Nicholas? Vamos entrar, filho...
— Podem ir entrando, eu vou atrás. — ele mentiu, olhando para o olhar triste da mãe que suspirou e o olhou como se soubesse que ele não iria entrar.
— Faça o que quiser. — Gregory bufou e entrou no centro com Evelyn sem vontade, se culpando mentalmente pelo que havia acontecido com os dois filhos.
No fundo, ele dizia todos os dias que a culpa era dele mesmo. Irônico era ele entrar em um centro de reabilitação como visitante sendo que ele precisaria estar em um.
— Nicholas? — uma mão pousou sob o ombro do garoto, e quando ele se virou, se assustou ao encontrar o pastor John. Os dois se abraçaram.
— O que está fazendo aqui John?
— Eu venho todas as semanas, filho. — ele sorriu. — Veio visitar o seu irmão?
— Vim, mas já me arrependi da ideia. O senhor mais do que ninguém sabe tudo o que já aconteceu e quantas vezes eu já perdoei...
— Nicholas! — John o interrompe, franzindo o cenho. — Perdão não é quantitativo. Lembra da passagem do evangelho de Matheus? Jesus disse que se deve perdoar até...
— Setenta vezes sete. — Nick completou, soltando uma respiração pesada.
— Se não perdoar a seu irmão, que está na Terra, também não receberá perdão no céu. — John apertou o ombro dele, dando um sorriso fraco. — Além do mais, você ficará surpreso com o que irá encontrar.
— Nick? — a voz de Dylan invadiu o ambiente. Nicholas se virou, e entendeu antes de refletir o que a palavra "surpresa" do pastor significava.
Dylan estava diferente. Seu corpo magro havia sido substituído por um corpo saudável, seu cabelo escuro havia crescido e a sua pele pálida havia ganhado cor. Por um segundo, Nicholas se lembrou de quem o seu irmão era. De como os dois eram parecidos, a não ser pela discrepância de altura, os olhos azuis mais claros e as cicatrizes de Dylan.
Os dois se abraçaram. Na verdade, Dylan o abraçou, e Nicholas ficou parado, chocado demais pelo abraço e pelo choro do irmão, que começou a soluçar em seu ombro. Depois desse momento, o pastor John sorriu e os deixou a sós.
— Cara... eu nem sei como começar a te dizer...
— Nossos pais estão lá dentro te procurando, eu já vou. Feliz aniversário. — Nicholas interrompeu o irmão, machucado demais para conseguir olhá-lo como se nada jamais tivesse acontecido.
— Não vai, por favor espera, eu tenho esperado a sua visita a tanto tempo...
— Suas lágrimas não me convencem, Dylan. — ele sorriu sem humor e olhou para baixo, vendo uma bíblia na mão dele. — Agora vai tentar me dizer que virou crente?
Dylan sente um aperto no peito. Ele sabia que reencontrar Nicholas seria difícil, mas não imaginava que ver a dor nos olhos dele doeria tanto quanto a visita da família de Maycon, no mês passado. Ele havia ganhado um tapa no rosto da mãe do falecido amigo, e havia percebido que os erros do passado jamais poderiam ser consertados.
Sem saber como começar, Dylan retirou do bolso uma medalhinha branca escrita 30 dias.
— Eles entregam esses broches como uma espécie de motivação, sabe? Significa que eu estou limpo a mais de um mês. Eu sei que é pouca coisa, mas eu estou limpo de verdade Nick. Não apenas das drogas, Cristo me libertou. O pastor John me deu essa bíblia de presente, eu sei que você pode não acreditar, mas...
— 30 dias não é tempo suficiente para você mudar, Dylan. — Nick o interrompeu, engolindo uma saliva. No fundo, ele queria acreditar. Queria mesmo, mas as coisas não eram fáceis assim.
— Eu não mudei por mim mesmo, irmão. Sozinho eu jamais conseguiria. Cristo me mudou. — Dylan segura firme a bíblia, e Nicholas sorri ironicamente incrédulo. Foi a mesma frase que Maya disse que a ele. — Eu estava cego, mas agora eu vejo. Por favor, me perdoa por tudo. Eu sou o mais velho, eu deveria ter cuidado de você e te dado bons exemplos, ainda mais em meio à guerra dos nossos pais. Desde que eu aceitei o evangelho, tenho orado para que você viesse me visitar. Eu não mereço o seu perdão, eu sei disso.
— Não mesmo. — ele respondeu, dando um passo para trás.
Evelyn e Gregory apareceram e começaram a conversar com Dylan, atrapalhando a conversa dos dois. Nick assistiu em silêncio, tentando entender porque estava com tanta raiva ao olhar para aquela bíblia.
Nicholas nunca havia se sentido daquela forma antes. Ele já havia pensado sobre Cristo e ouvido sobre evangelho a vida inteira na casa de Scoot pelo pastor John, mas em momento algum ele havia sido sufocado por aquela falta de ar e aperto esquisito no peito.
Como um filme em sua cabeça, ele repassou todas as vezes em que ouviu sobre Jesus. Se lembrou de todas as situações em sua vida em que ele havia sido amparado e não conseguiu explicar.
Se lembrou das falas de Maya, que sempre demonstravam tanta certeza e amor por Deus sem se importar com o que ele iria pensar. Das passagens da Bíblia que pareciam aparecer em sua vida como uma resposta que ele não havia procurado, mas principalmente, Nicholas guardou as palavras de Dylan.
Nos minutos que se passaram, ele viu o irmão falar sobre Cristo para ele e para os pais. Dylan não sabia nada. Ele demorou cerca de sete minutos para conseguir encontrar a passagem na Bíblia que havia gostado porque não sabia se Eclesiastes ficava no começo, no meio ou no final, mas não importava. Ele nunca havia visto os olhos do irmão brilharem daquela forma.
— Eu encontrei o sentido da minha vida, Nick. Eu procurei nos lugares errados a vida inteira, e eu não mereço. Você mais do que ninguém sabe que não mereço. Eu não mereço absolutamente nada. Deus não deve nada a mim, mas eu devo tudo a ele. Eu nunca estive tão feliz em toda a minha vida.
Sem conseguir dizer nada após a fala do irmão, Nicholas foi embora, pegando o primeiro táxi que passou em frente ao centro de reabilitação. Porque tudo ao seu redor estava fazendo questão de lembrá-lo de Deus?
Ele não era ateu. Ele acreditava na existência dele. Não era o bastante? Porque ele estava tendo uma completa crise moral e existencial logo agora? Ele era jovem. Jovem demais para ficar perdendo tempo pensando nessas coisas.
Batendo forte a porta do quarto após chegar
em casa, o garoto se sentou no chão escorado na cama e apoiou os braços aos joelhos. Deus. Nicholas tentou pensar em qualquer outra coisa durante os próximos 40 minutos em seu quarto que se passaram, mas não conseguiu.
Algo maior que ele parecia o chamar, e ele, com a mente cansada, quis entender aquilo de uma vez por todas. Assim, sem querer mais resistir, o garoto fechou os olhos.
E pela primeira vez na vida, sem saber direito como, orou.
O castigo de Maya, surpreendendo a garota, só durou apenas aquele dia de domingo. Durante a semana que se passou, o pai dela estava estranhamente amoroso com ela e estranho, como se alguma coisa tivesse acontecido.
Afastando essa impressão e tentando se convencer de que não era nada além de cansaço na oficina, a garota olhou fixamente para a jaqueta de Nicholas em sua cama e pensou em porque ela ainda estava com ela.
O dia da festa de Amber havia chegado.
Scoot havia passado os últimos cinco dias se desculpando com Maya com medo de ter feito algo errado, e após perceber que havia sido apenas nervosismo de ambas as partes, ele marcou o próximo encontro com ela na própria festa da ruiva.
O colégio Warren estava em êxtase e completa expectativa. Jim e Amber haviam prometido ser a festa do ano.
Maya respondeu ao último torpedo de Becca tentando desistir. Enfiando as mãos entre o rosto, ela só pensou em como não devia ir. Essa festa iria ter bebidas, barulho, e tudo de mais errado que os colegas dela eram capazes de fazer.
Como cristã, ela não se sentiria confortável lá. No entanto, se lembrando da antiga amizade com Amber, ela sentiu seu coração pesar.
Elas já haviam sido melhores amigas.
A ruiva podia ainda não ter a mesma consideração, mas ela tinha. Amizade para ela era algo importante, e era o dia do seu aniversário. Amber amava aniversários.
Quando elas eram pequenas, a ruiva dizia que as cartinhas de Maya e a presença dela era o que tornava o dia dela mais feliz.
Sem saber se estava sendo tola ou não, Maya guardou a cartinha na bolsa. Ela havia feito uma. Ela iria à festa, conversaria um pouco com Scoot, veria se Rebecca estava bem, entregaria a carta e o colar de presente que ela havia comprado para Amber e iria embora.
Colocando a jaqueta no antebraço, ela fez uma nota mental de também devolver o casaco a Nicholas. E desaparecer.
Os dois haviam se afastado naquela semana. Maya não sabia como havia contado a história sobre a mãe para ele, ela nunca havia se aberto daquela forma em tão pouco tempo para alguém.
Ela imaginou que ele deva ter pensado a mesma coisa, porque o garoto também não se aproximou. Ele se sentou em uma cadeira distante em todas as aulas e parecia estar... diferente.
Quando ela mandou mensagem perguntando quando marcar a próxima monitoria, ele simplesmente disse que estava dando conta sozinho.
Ouvindo a buzina do pai, Maya parou de pensar demais e olhou uma última vez no espelho. Ela havia feito um penteado com duas trancinhas para trás em meio aos cachos, e colocado uma blusa cinza de gola alta. A garota desceu e entrou na velha picape, sentindo a calça jeans apertar seu joelho.
— Festa da Amber, em? Vocês não haviam deixado de ser amigas? — Samuel franze o cenho para a filha, urgindo o alto barulho do motor.
— Nós só... nos afastamos, pai. Acontece. É aniversário dela.
— Se você diz. — ele gira o volante, saindo da garagem. — Que horas eu te busco?
— Eu te ligo. Não se preocupa, vou voltar cedo. — a garota sentiu as mãos suarem. Ela não sabia porque estava tão nervosa com essa festa, como se algo de ruim estivesse prestes a acontecer.
Maya olhou para a janela ao longo do caminho, e o único barulho que havia era o dos pneus na estrada. Samuel estava distante, ainda pensando naquela ligação.
— Pai, eu sei que eu já perguntei várias vezes nessa semana, mas o senhor tem certeza que está bem?
— Estou filha, estou. É a oficina, já disse. — o grande homem respondeu, focando na estrada. — Não esqueça de devolver a jaqueta do garoto. Da próxima vez fique com frio até chegar em casa.
— Pai! — Maya gritou e ele sorriu, estacionando em frente à casa de Amber e dando um beijo na testa da filha.
— Mais tarde eu venho te buscar, se diverte com suas amigas e tenha juízo.
— Pode deixar. — ela sorriu e desceu, estranhando o silêncio.
A frente da casa de Amber estava normal demais para uma festa. Maya havia pedido para o pai trazê-la justamente para que, se estivesse um caos, ele não a deixasse entrar, mas não foi isso que aconteceu.
— Tio Samuel, obrigada por trazer a Maya! — Amber apareceu na porta vestindo um sobretudo de camurça marrom.
— Feliz aniversário, manda um abraço para os seus pais. — o grande homem respondeu, acenando e saindo com o carro. Maya arqueou uma sobrancelha pensando se a festa havia sido cancelada, quando a ruiva a puxa pelo braço e fecha a porta.
— A festa foi cancelada? Eu cheguei muito cedo ou...
Maya parou de falar. Quando ela entrou, as luzes foram acesas e Jim gritou:
— Pode aumentar de novo o som Dj!
O caos estava instaurado. O colégio Warren inteiro parecia estar dentro daquela mansão. Amber retirou o sobretudo ficando apenas com um vestido dourado colado ao corpo. Um garoto ficava na porta, parecendo avisar quando algum pai ou mãe chegava para cessar o barulho em um esquema extremamente organizado de "engana pais".
Bebidas eram jogadas para cima, as luzes de Led giravam em toda a sala e Amber puxou Maya até a área da piscina, que estava três vezes pior. A quantidade de casais se beijando e se tocando de forma explícita fez a morena arregalar os olhos.
— Chuck, não vomite nas plantas da minha mãe! — Amber gritou, levando à mão a testa. — May, bem-vinda a festa, fique à vontade, tem comida em praticamente todo lugar e bebidas, se você tiver a fim de quebrar algumas regras hoje.
— Certo, obrigada, eu acho. — Maya sorriu sem vontade e estendeu a sacola. — Seu presente. Feliz aniversário.
— Oh, você é a melhor. — a ruiva a abraçou e colocou a sacola no braço, saindo para gritar outro colega bêbado.
— Amiga, que bom que você veio. — Becca praticamente pulou na frente de Maya, a abraçando e sorrindo de orelha a orelha.
Ela estava linda. Rebecca havia retirado os óculos, feito cachos no cabelo curto e colocado um lindo conjunto rosa claro e branco de uma saia rodada e uma blusa, o que havia, pelas cores, combinado com o tom do seu cabelo.
— Bec, eu só tenho uma palavra para te dizer.
— Qual?
— Socorro!
— Eu sei amiga, nós vamos embora logo. — ela sorriu, mexendo no celular. — Kevin me mandou uma mensagem, vou encontrar ele e já volto não sai daqui.
— Ok. — Foi o que deu tempo ela responder antes de ver a amiga sair correndo.
Depois de vários minutos parada, Maya vê Bright andando em sua direção e sente o corpo congelar. Ela usava uma saia de couro escura colada ao corpo, uma bota preta que alcançava até o joelho, uma jaqueta vermelha que combinava com o batom forte e o seu clássico cabelo longo escuro, que descia até a cintura.
Não, por favor, agora não.
— Bonita jaqueta. — Bright diz, lançando um olhar mortífero a Maya.
Era a jaqueta de Nicholas. Ela reconheceria em qualquer lugar do mundo, porque já havia implorado ao ex para ficar nem que fosse um dia com ela. Nicholas nunca havia deixado. Era a jaqueta preferida dele.
Porque ele havia deixado essa insignificante usá-la? Essa história com essa idiota já estava indo longe demais.
— Obrigada. — Maya respondeu em completo incômodo. Se virando para sair, a garota sentiu Bright segurar em seu braço.
— Espera. Olha, desculpa por ter exagerado com você. Vamos deixar tudo para trás? — ela pergunta com um sorriso forçado. Maya procura Becca com o olhar e sente as mãos suarem frio ao não encontrá-la.
— Sem ressentimentos. Agora eu realmente preciso ir embora, está na minha hora...
— Nada disso, você acabou de chegar. Vem jogar com a gente. — Bright ajeita a franjinha e assobia, chamando a atenção de todos da sala. — Galera, vamos jogar verdade ou desafio!
Apenas três palavras: I AM BACK!
(Estou com preguiça de colocar a mensagem no quadrado roxo bonitinho dessa vez)
Meu notebook foi consertadoooo, deixei meu rim no técnico mas tudo deu certo no final.
Gostaram do capítulo? O que acham que vai acontecer nessa festa? 🔍
Aguardem a notificação do próximo, que já está quase pronto.
Beijos e estrelas da autora de vocês 💜🤍
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