Capítulo 8
POV da Aspen
Aspen abriu a porta da biblioteca e soltou um suspiro de alívio.
Uma das melhores coisas de ir à biblioteca era, sem a menor dúvida, o fato de que o ar-condicionado sempre estava funcionando. Após entregar a carteirinha de estudante para a bibliotecária e pegar uma chave de armário, Aspen separou o seu caderno, estojo e celular e guardou todo resto dentro do armário, antes de fechá-lo e guardar a chave no bolso da calça jeans.
Material em mãos, Aspen imediatamente seguiu em direção a uma das salas de estudos que ficava no final da biblioteca e onde ela e J.V. haviam combinado de se encontrar para a primeira aula de literatura.
Ela mal podia esperar.
Uma vez sentada dentro da sala, Aspen abriu o seu caderno e começou a revisar os tópicos que tinham estudado mais recentemente em literatura. Não sabia exatamente com o que J.V. precisava de ajuda, então queria estar preparada para qualquer coisa.
— Oi, desculpa o atraso. — J.V. cumprimentou, fechando a porta atrás dele.
— Não, tudo bem. — Aspen sorriu, notando que, para sua surpresa, J.V. só estava dez minutos atrasado. — Essa aula é mais para eu entender o que você sabe e o que a gente precisa focar mesmo.
— Bem, então eu acho melhor você se preparar, porque eu sou um zero a esquerda para literatura. — disse, dando um sorriso sem graça.
— Às vezes a situação nem é tão ruim assim, sabe? A professora explica muito bem e você pode ter aprendido bastante coisa sem perceber, por isso eu preparei esse teste aqui. São todas questões sobre temas que a gente já viu ano passado ou esse ano. — explicou, entregando a folha para J.V. — Por que você não tenta resolver primeiro e depois nós podemos discutir as respostas?
— Ok, — concordou, pegando o papel e começando a responder.
*
Duas horas mais tarde, J.V. finalmente suspirou e ergueu os olhos das folhas de papel.
— Já vou pedir desculpas adiantadas, — J.V. disse enquanto entregava o papel e duas folhas de resposta para Aspen. — fiz o meu melhor, mas acho que falhei miseravelmente.
— Bom, pense positivo. Pelo menos, você deu o primeiro passo, certo? — guardando as folhas na sua pasta, Aspen sorriu. — Vou ler com atenção e corrigir em casa, e aí amanhã nós podemos discutir as suas respostas e as correções que fiz. Certo? Você não tem treino amanhã, tem?
— Ter, eu tenho. — J.V. deu um sorriso torto. — Mas não tem problema, desde que a gente marque mais tarde?
— A escola fecha às seis, então não dá para ser depois do treino... — murmurou, mordendo o lábio inferior em frustração. — a menos que a gente possa marcar na sua casa ou...
— A gente podia se reunir no parque próximo ao clube, — sugeriu J.V., parecendo nervoso por algum motivo que Aspen não conseguiu desvendar. — sabe da onde eu estou falando?
— Sim, claro, no parque está bom, — Aspen assentiu, pegando o seu material e saindo da sala de estudos. — então estamos marcando para amanhã, sexta-feira, no parque, das seis às sete. Tudo bem?
— Sem problemas. — J.V. concordou, seguindo Aspen em direção aos armários. — Ah, e eu preciso fazer a tarefa dessa semana também.
— Tenta fazer hoje, se você levar amanhã eu já reviso e te digo se tem que mudar alguma coisa.
— Você tá sendo gentil, você vai me dizer o que tem que mudar.— meneando a cabeça, ele se virou para encará-la — Ei, por acaso, você tá indo para o Centro Cultural?
Aspen arregalou os olhos, se virando para encará-lo.
— Sim. Eu quero pegar a lista das regras dessa fase do concurso que Olívia e eu estamos participando. Ela me mandou uma lista de sugestões de temas para nosso próximo conto e eu quero ter certeza de que todos se encaixam nas regras... Por quê?
— Não, é porque eu estou indo para lá também... Vou participar do show de talentos e eles me pediram alguns documentos que precisei buscar em casa... Tudo bem se formos juntos?
— ... Claro. — Aspen assentiu, ainda incapaz de esconder a sua surpresa, enquanto os dois saíam da biblioteca e caminhavam até os portões da escola. — Sabe, eu nunca imaginei que alguém... como você... fosse participar de algo no centro cultural.
J.V. deu um sorriso debochado, fazendo uma reverência exagerada para que Aspen passasse pelo portão da escola primeiro.
— Alguém como eu? — perguntou, e Aspen sentiu o seu rosto queimar enquanto via de canto de olho o sorriso de J.V. se alargando lentamente. — Por que alguém como eu não poderia?
— Não, não é que não poderia... — Aspen disse, desviando o olhar enquanto se encostava no sinal de parada de ônibus. — É só que você já tem tantos compromissos com o time e tudo mais, eu achei que você não teria tempo... Mas desculpa, não devia ter assumido nada.
— Ei, relaxa. — disse J.V. soltando um suspiro e arregalando os olhos quando o ônibus que ia para o Centro Cultural apareceu. Imediatamente fez sinal para o ônibus, correndo na sua direção quando ele parou, Aspen logo atrás dele. — Para ser sincero, — acrescentou, arfando um pouco enquanto passava pela roleta e se largando no primeiro banco vazio que viu. — Para ser sincero, — repetiu, quando viu Aspen se sentar ao seu lado. — nem eu imaginava que participaria de algo assim. Mas aí eu soube desse show de talentos e... a Nath disse que eu devia tentar... E depois... Pera, deixa eu te mostrar uma coisa.
Aspen assentiu e assistiu J.V. procurar alguma coisa na mochila e mostrar-lhe um envelope em branco que, por si só, não tinha nada especial... mas ainda assim, no instante em que o viu, um frio no estômago a fez estremecer.
— Aqui, encontrei isso na minha mochila ontem a noite... Acho que alguém deve ter colocado aqui por engano, ou sei lá, mas aí eu fui dar uma olhada no que estava escrito e teve uma frase em especial que mexeu muito comigo. — Abrindo o envelope, J.V. apontou para uma linha que dizia "Esperar é contar com a sorte".
— É mesmo? — Aspen gaguejou, olhando ao redor e sentindo suas mãos tremerem. — Parece ser letra de criança. — desconversou.
— É, também achei, mas ela parece estranhamente madura, não acha? Achei o contraste bem curioso. — Admitiu, dobrando a carta cuidadosamente de novo.— Não consigo imaginar da onde poderia ter vindo, mas realmente me motivou a fazer algo que eu quero fazer. Não quero correr o risco de ficar esperando para sempre, sabe?
— Aham, entendo. — Aspen murmurou, os seus olhos focados na carta, nem ao menos piscando enquanto ele colocava o papel novamente dentro do envelope e o guardava na mochila. — E... você não sabe de quem é?
— Não, e achei isso ainda mais estranho... não encontrei nenhuma criança dessa idade esses dias e... parece que tá faltando uma parte. — comentou, se virando para encarar Aspen. — Queria devolver a carta para a dona, é claro, mas não faço nem ideia de como fazer isso.
— Acho que talvez o melhor seja jogar fora, — sugeriu Aspen, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.— Já que não dá para devolver para a dona e... e não tem como a gente procurá-la, né?
— Jogar fora? Não, eu nunca poderia fazer isso. — J.V. sacudiu a cabeça, soltando um suspiro. — Por mais que eu ache que você está certa e eu não vou encontrar essa pessoa, eu não posso... Quero dizer, seria como jogar os sentimentos de alguém fora, né?
— Acho que você está exagerando, — Aspen soltou um suspiro e respirou fundo.— tem mais cara de ter sido apenas uma brincadeira...
— Pode até ser, mas mesmo assim... Ah, o nosso ponto chegou.
J.V. deu o sinal e eles esperaram até o ônibus parar para que pudessem descer, onde continuaram conversando sobre diversos assuntos até que chegaram no Centro Cultural, onde se separaram.
No instante que J.V. sumiu do seu campo de visão, Aspen pegou o celular e abriu o grupo de WhatsApp que tinha com as amigas.
— Preciso ver vocês. Agora. É urgente!— sussurrou, suas mãos tremendo enquanto segurava o botão para gravar o áudio. — Vocês não vão acreditar no que acabei de ver! É sério! O fim! É o Cartocalipse!
*
Aspen ainda estava tremendo quando, uma hora mais tarde, se encontrou com Camila e Érica na lanchonete próxima ao Centro Cultural. Olívia havia enviado um pedido de desculpas e disse que não poderia vir porque tinha coisas para fazer em casa.
— E você tem certeza de que era a sua carta, Aspen? A carta que você escreveu? — A voz de Érica era calma e ligeiramente cética. — Por que, assim, como foi que essa carta saiu da minha gaveta para a mochila do J.V.?
— Bem, é isso que eu queria saber.— Camila perguntou, passando a mão pelos cabelos. — Como foi que isso aconteceu? Será que ele tem as outras cartas?
— Ele não disse nada de outras cartas, — defendeu Aspen, respirando fundo.— e nem essa carta mesmo estava inteira. Tava faltando uma folha.
— Meu Deus, será que a pessoa que pegou tá mandando páginas das nossas cartas para outras pessoas? Para causar o maior dano à nossa reputação possível? — A voz de Camila estava estranhamente esganiçada e ela parecia estar surtando por dentro. — Será que as nossas cartas vão aparecer nas bolsas dos professores? Ou da Taísa e Diana, as maiores fofoqueiras da escola? AHHH eu quero sumir!
— Calma, Camila–
— Calma? Érica, você tá me pedindo para ficar calma?! Eu não tô calma. Eu nunca mais vou ficar calma na minha vida!
— Camila, o que raios você escreveu na sua carta? — Aspen perguntou, enquanto empurrava o suco de maracujá de Camila na sua direção.
— Isso eu não vou dizer nem sob ameaça de morte! — Camila virou o resto do suco de uma só vez. — Até porque, como eu já disse, tem muita coisa lá que eu nem me lembro.
— É, mas do que você se lembra? Para ficar assim?—
— Isso é segredo de estado! Mas só vou dizer uma coisa: vou tirar passaporte. Se a minha carta vir a tona, eu me mudo para o México e começo vida nova!
— Deixa de ser dramática, Mila, — Érica aconselhou, afagando os cabelos da amiga.— às vezes nem é tão ruim assim. Olha só, a carta da Aspen ajudou uma pessoa.
— Isso é positividade demais para mim, Eri. — Aspen contestou, passando as mãos pelo cabelo. — Achei que ia ter um treco quando reconheci aquele envelope.
— Bem, pelo menos o coração tá em dia! — Érica deu um sorriso vitorioso e se espreguiçou. — Agora deixa eu entregar a louça lá pro tio que eu tenho que voltar para casa, tá bom? Fiquem tranquilas, meninas. Vou pensar em um jeito de questionar o J.V. sobre a carta.
Em silêncio, Aspen e Camila assistiram Érica recolher o seu prato e copo e colocar no balcão, antes de acenar-lhes e sair da lanchonete.
— ... Ela tá calma demais, não tá não? — Camila questionou, erguendo uma sobrancelha.
— ... Bem, talvez ela só queira ser otimista? — Aspen tentou, mas sacudiu a cabeça. Camila estava certa, Érica estava agindo estranho. — Você não acha... Érica?
— Hm... não sei. — Camila ponderou, batendo com um dedo no queixo. — Mas tem muita coisa esquisita nessa história. Por que alguém colocaria a sua carta nas coisas do J.V.? E ainda tiraria a última página...
— Para tirar a minha assinatura, é claro. Me anonimizar.
— Sim... mas se o motivo fosse zombar da gente, por que a pessoa tirou o seu nome?— Camila questionou, se inclinando na direção da Aspen. — Por um motivo claro: ela não quer zombar da gente.
— Sim, faria sentido se fosse a Érica. — Aspen concordou, desviando o olhar para o local por onde a menina tinha acabado de passar. — Ela não ia querer zombar da gente... mas por que colocar a carta na mochila do J.V.? Sem contar que, quando é que ela teria oportunidade de fazer isso?
— Bem, ela podia pedir para o Liam. Ele tá no time do J.V., né? Ele teria várias oportunidades...
— Se ela fosse dar a minha carta para o Liam, ela também teria entregue a da Olívia, né? — Aspen disse, revirando os olhos. — E, acredita em mim, se o Liam tivesse a carta da Olívia em mãos, nós já saberíamos disso.
— Não necessariamente... E se ele não soubesse que a carta era da Olívia? Ela tirou os nomes, não?
— Camila. O Liam é irmão gêmeo da Érica, ele ia reconhecer a caligrafia da Olívia. — Aspen fez uma longa pausa e os seus olhos se arregalaram. — Mila. Ele ia reconhecer a caligrafia de qualquer uma de nós.
— Sim, sim, você tá certa. Essa parte da teoria não faz sentido. — Camila concordou, meneando a cabeça. — E eu tô viajando... provavelmente não foi a Érica de qualquer forma.
— Camila. Ele. Ia. Reconhecer. A. Nossa. Letra.
— Sim, e...?
— E ele é amigo do J.V. . Se ele mostrou a carta para mim, pode mostrar para ele. — Aspen sentiu todo o seu sangue se esvair do rosto. — E Liam sendo Liam e não tendo a mínima noção da vida, pode olhar para a carta e dizer 'ué, o que você tá fazendo com a carta da Aspen?'
— ... Ferrou.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro