Capítulo 44
POV do J.V.
Correu os dedos pelas cordas do violão, encarando a plateia com um sorriso. O mar de luzes criado pelos celulares erguidos criavam um tipo de ambientação que ele nunca tinha imaginado ver daquele ponto de vista.
Ouvir a plateia gritando o seu nome deu a J.V. uma sensação de adrenalina que ele nunca havia sentido antes, era algo completamente diferente do que acontecia em suas partidas de futebol – algo mais pessoal, mais próximo, de certa forma.
Não era para o time que eles estavam torcendo, era para ele.
Com um sorriso que ele simplesmente não conseguia conter, agradeceu ao público e se despediu, cedendo o palco para o próximo competidor.
*
Embora todos os três finalistas tivessem os seus próprios camarins, J.V. simplesmente não conseguiu ficar sentado, sozinho, dentro do seu próprio camarim depois da primeira apresentação.
Em parte, era a necessidade de estar perto do público — e, por conseguinte, de sua mãe. — e, em parte, o silêncio que ficava dentro do camarim era simplesmente terrível para seus nervos.
Era melhor poder ter uma noção do que estava acontecendo.
Pelo menos podia gastar um pouco do excesso de energia que parecia estar borbulhando dentro das suas veias.
Era pior ter uma noção do que estava acontecendo.
Porque assim conseguia notar, com grande claridade, o quão incríveis eram os seus adversários.
Com isso, acabou conhecendo melhor os seus adversários — a ilusionista de dez anos Elisa e o grupo de dança Mischief.
Atualmente, o grupo estava se apresentando ao som de Anita, enquanto a pequena Elisa comia o que devia ser o quinto pacote de balas de gelatina distraidamente.
Como é que ela consegue?
J.V. estava admirando a capacidade de ingestão de açúcar de Elisa, quando uma mão em seu ombro o despertou de seus devaneios.
Foi com um susto que J.V. reconheceu o rosto sorridente de Aninha do Vale, uma das juradas do concurso que o observava com nítida curiosidade.
— E aí? Ansioso para os resultados?
J.V. soltou um suspiro e notou que o grupo de dança tinha retornado da sua apresentação e agora conversava entre si. Lá fora, ele conseguia ouvir uma música suave e assumiu que algum tipo de entretenimento estava acontecendo enquanto a plateia votava em seus favoritos.
— Um pouco, — admitiu, e se perguntou se era muito deselegante perguntar a ela em quem ela tinha votado. — bastante, na verdade.
Aninha riu, assentindo, enquanto o seu olhar desviou para o da jovem Elisa, que agora abria um novo pacote de doces — eram jujubas, agora.
J.V. tentou conter uma careta. E lá se vai mais um quilo de açúcar...
— Sabe, adoro esses tipos de concursos. Alguns anos atrás, eu era igualzinha a ela. — disse, acenando para a garotinha, antes de se virar para J.V. — é ótimo poder voltar ao passado, ver que novos talentos estão surgindo, fazendo o mesmo caminho que eu fiz um dia... é muito bom de ver.
— Acho... bonito da sua parte. Dar apoio para quem está começando...
— Você acha? — ela se virou, dando uma risadinha. — Sabe, é a primeira pessoa que me diz isso. A maioria acha que eu tiro algum tipo de prazer sádico em me comparar com novatos e dizer o quão melhor do que eles eu sou agora.
— Uuh... sério?
— É, e, bem, eu não sou nenhuma santa, então não me leve a mal, mas o que eu mais gosto nesses eventos é ver a promessa em cada participante. A semente, sabe? E tentar adivinhar que árvore vai nascer ali, que tipo de frutos vai dar... Não vejo nenhuma graça em comparar um limão com uma jabuticaba, sabe? Ambos têm os seus méritos, só de jeitos diferentes.
J.V. fez uma longa pausa, encarando a menina em confusão.
— O...kay?
Aninha deu mais uma risada e meneou a cabeça, como se achasse toda aquela conversa muito engraçada — e J.V. sentiu que estava deixando a piada passar, ou que talvez, no final das contas, a piada fosse ele mesmo.
— Só lembra disso, tá? Às vezes, o mundo quer jacas, às vezes quer limões, às vezes quer maçãs... mas isso não quer dizer que uma fruta seja mais valiosa do que outra, sabe? Às vezes, é só questão de época mesmo. Algumas frutas precisam de mais tempo para madurar...
E, afagando os cabelos de J.V. como se ele fosse uma criança de sete anos, Aninha saiu para conversar com Elisa...
Sobre o quê, J.V. não fazia ideia.
*
Respirou fundo, tentando controlar o seu sistema nervoso. Se forçava a sorrir e a fingir calma, embora na verdade estivesse com o coração acelerado, as mãos suadas e a boca seca.
Assistiu o apresentador subir ao palco com um sorriso, e riu da piada que ele havia feito junto com a plateia — embora no fundo, não fizesse a menor ideia do que tinha sido dito. Cada passo do apresentador, cada respiração dele o trazia mais perto de mudar o seu destino para sempre...
— Grupo Mischief!!
Foi como se um balde de água gelada tivesse sido jogado em suas costas. Em seguida, o barulho de aplausos foi ensurdecedor; talvez fosse por isso que, subitamente, J.V. não conseguia mais ouvir nada.
Todos os seus piores medos, dúvidas e incertezas tinham se confirmado; o seu pai estava certo, no fim das contas. Ele não tinha talento, acabou decepcionando todos os seus amigos que tinham acreditado nele e causado tanto problema e confusão, tinha se esforçado tanto... por nada.
Absolutamente nada.
Falou alguma coisa com o pessoal do grupo de dança, deu um sorriso, acenou para a plateia. Ficou no palco até receber o sinal de que podia sair e enfim saiu em direção ao seu camarim, incapaz de procurar o olhar de sua mãe ou até mesmo de seu amigo.
Sentou-se na cadeira da penteadeira, encarando o seu rosto no espelho mas se sentindo incapaz até mesmo de chorar.
— O que eu faço agora? — murmurou, abaixando o rosto nos braços, como se tentasse escondê-lo. — como é que eu vou encarar todo mundo agora?
Como se tentasse responder suas perguntas, seu telefone começou a vibrar em seu bolso, então J.V o retirou de lá, meio convencido a ignorar a ligação.
— Aspen... — murmurou, gemendo ao reconhecer o nome piscando no visor e colocando o telefone de volta na mesa. É claro, Aspen e os outros tinham assistido a vergonha de camarote... como é que ele poderia encarar os outros novamente? Como ele diria a eles que todo seu trabalho não tinha sido para nada?
Pelo menos ele não tinha se humilhado ainda mais...
Pelo menos ele não tinha falado nada sobre a carta para Aspen, não tinha contado como ela o tinha inspirado a entrar no concurso e a mudar a sua vida, não tinha comentado sobre como ela tinha mudado a forma como ele olhava para as coisas ao seu redor e... pelo menos...
Jesus, pelo menos ele não tinha se declarado, como tinha planejado inicialmente.
Respirando fundo, J.V. abaixou a cabeça e fechou os olhos, tentando controlar o rápido ritmo do seu coração.
Era tão errado assim desejar que uma das pessoas que ele mais admirava olhasse para ele com um pouquinho de admiração?
Era tão errado assim desejar que Aspen olhasse para ele como um homem que era capaz de ficar ao seu lado, e não com pena?
Ele estava cansado de receber olhares de pena.
Não que ele odiasse isso — pelo menos ela olhava para ele, e, pensando dessa forma, ele finalmente entendia por que Liam se comportava feito um idiota na frente de Olívia.
E o quão humilhante é isso? Querer ser notado a ponto de não se importar em ser olhado com pena?
Mas o problema era que ele se importava, e tinha um gosto amargo em sua boca que simplesmente não parecia ir embora, independente de quantas garrafas de água ele bebia.
*
Estava tão distraído afogando as mágoas em uma garrafa de água morna que tinha encontrado no camarim que não notou que havia alguém batendo na porta até que ela se abriu.
— Então, eu tô entrando... — Era Aninha do Vale, cujo sorriso se transformou em uma careta no momento em que ela olhou para a cara dele. — Hm, vou pedir pra alguém trazer gelo pra você.
— Hã? Ah, não precisa não... — J.V. disse, encarando a garrafa e, Aninha sacudiu a cabeça.
— Acredita em mim, precisa sim. — Ela disse, se virando para falar alguma coisa com alguém que estava passando por ali e se virando rapidamente de volta para J.V. — Olha, queria te dizer que gostei bastante da apresentação. É o que eu te disse mais cedo, às vezes só não é a nossa hora.
J.V. franziu o cenho enquanto tentava lembrar do que ela tinha dito, mas só lembrava de um monte de analogia confusa envolvendo frutas.
— Hm, eu sei. — mentiu, desistindo de entender. — Mas obrigado.
— Affe, não me agradece ainda. — A menina sorriu, procurando alguma coisa nos bolsos. — Aqui, mandei o vídeo da sua apresentação de hoje para um cantor amigo meu e ele gostou bastante. Disse que quer fazer uma música com você, me pediu pra te dar o contato dele, então anotei nesse guardanapo... e esse outro cartão aqui é do meu empresário, ele ficou interessado em te contratar e, no nosso meio, é importante ter gente de confiança.
Arregalando os olhos, J.V. aceitou o cartão e o guardanapo.
— É... sério?
— E eu lá tenho cara de quem está brincando? — a menina riu, meneando a cabeça. — o Mano Lo ficou interessado também, mas ele disse que ia entrar em contato com você pelo direct do Instagram. Se eu fosse você, arrumava um bom advogado e ficava de olho...
— Mas... mas eu nem ganhei o concurso e—
— E daí? Isso não quer dizer que você não seja bom. — Sorrindo, Aninha do Vale deu um sorriso. — Só peço que lembre de mim quando precisar de uma atriz para fazer um clipe.
J.V. acabou soltando uma risada.
— Vou lembrar. — prometeu, pensando que ia ter que adicionar mais um nome na sua lista de agradecimentos.
— É tudo o que eu peço. Isso e... bem... — olhando ao redor, Aninha se inclinou em sua direção, como se tivesse meio sem graça. — Aquele loirinho que veio com você. Cê sabe se ele tem namorada?
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