Capítulo 41
POV do J.V.
Respirou fundo e se acomodou no colchonete, se contorcendo até que a posição e o violão em seu colo parecessem simplesmente "certos." Então, fechou os olhos e se focou na sensação de pressão provocada pelo encontro dos seus dedos contra as cordas.
Instintivamente, movimentava a sua mão pelo braço do violão, usando a ponta dos dedos para acariciar as cordas e tirar uma melodia do instrumento.
Era, de certa forma, estranho poder relaxar com o violão em seu colo, não tendo que se preocupar com nada além de qual nota tocar, se o som estava saindo bem e se aquela seria ou não uma boa música para sua apresentação na final.
Estranho, sim, mas não exatamente ruim.
— Mm, gostei dessa, qual é o nome da música?
Não muito distante da onde J.V. estava praticando, estava Enzo digitando em seu celular distraidamente.
J.V. soltou um suspiro.
— É "All of the Stars" do Ed Sheeran. — J.V. murmurou, continuando a tocar a melodia enquanto seus lábios se curvaram em um sorriso, — Mas talvez "Thinking Out Loud" seja melhor para essa apresentação... O que você acha?
Enzo parou de mexer no celular e se virou para encarar J.V. em confusão.
— Não sei. Por que você tá me perguntando?
— Ah, bem. — J.V. sentiu suas bochechas esquentarem. — É que eu tava pensando...
— Hm?
— Ganhando ou perdendo, eu devo a minha participação nesse concurso a Aspen, sabe? Eu queria cantar alguma coisa para ela...
— Tipo uma serenata?
— É... — J.V. franziu o cenho. — É muito cringe?
— Hm, um pouco, — Enzo deu de ombros. — mas tenho certeza que tem um monte de gente que vai adorar esse seu gesto,
incluindo a Aspen, é claro.
— É claro, — dando um pequeno sorriso, J.V. mecheu no cabelo. — você acha mesmo que ela vai gostar?
— A Aspen? Bem, ela pode ficar meio sem graça, mas acho que no fundo, bem no fundo, ela vai gostar sim. — Sorrindo para o amigo, Enzo se virou para o celular mais uma vez. — Quando à música, por que você não faz um story perguntando aos seus fãs qual música eles gostariam de te ver cantando? O voto do público é muito importante nessa última fase, sabia?
— Mas a homenagem–
— Você sempre pode colocar essas duas músicas como opções na lista, ver o que o público prefere... Aí você faz sua serenata E agrada o público, — Enzo aconselhou, digitando no telefone. — acaba sendo bom pra todo mundo.
— Mm, pode ser. Queria fazer uma homenagem para minha mãe também, sabe? E para todos vocês... Não sei como agradecer tudo o que vocês estão fazendo por mim.
— Deixa as homenagens para depois que você ganhar, — A voz de Enzo era calma e direta ao ponto. — ah, e J.V.? A gente vai acabar tendo que falar alguma coisa sobre o caso do seu pai.
— Sério? — J.V. franziu o cenho. — Se tem uma coisa que eu não quero fazer...
— Eu sei, eu sei, — Enzo assentiu, soltando um suspiro. — mas a fofoca tá rolando solta, J.V. Melhor você comentar antes que você acabe como o vilão dessa história.
— O quê? — J.V. questionou o amigo. — Mas como?! Não faz sentido!
— Eu sei, eu sei... — Enzo deu de ombros. — Mas você sabe como são essas coisas... Elas saem do controle.
Soltando um suspiro, J.V. desviou o olhar.
No fundo, ele sabia que o amigo estava certo — mas mais do que apenas não querer se pronunciar, tinha uma parte de J.V. que não queria implicar seu pai ainda mais na situação...
E se ele fingisse que nada estava acontecendo, talvez...
Sabia que aquilo era errado, em especial com Aspen, com sua mãe e com Liam a quem diretamente, ou indiretamente, seu pai tinha machucado — em todo caso, não conseguia evitar desejar que tudo acabasse bem para todo mundo, ainda que fosse impossível.
Não conseguia evitar também de se culpar por tudo aquilo.
Mas será que falar realmente seria a melhor coisa a se fazer?
Enfrentar seu pai era o que tinha dado início a toda aquela confusão, no fim das contas, até onde continuar a enfrentá-lo seria a resposta correta ele não saberia dizer.
— Não precisa ser nada muito explicado, — Enzo explicou, passando a mão pelos cabelos. — Se você quiser, a gente pode rascunhar um pronunciamento e pedir para o delegado dar uma olhada... É só por segurança, sabe?
J.V. suspirou.
— Sim, se for assim, tudo bem, — J.V. concordou, embora se sentisse claramente relutante. — Melhor contar a história com as minhas próprias palavras do que deixar que os outros a contem, né?
— Exatamente, — Enzo disse, se virando para dar um sorriso para J.V. — mas não precisa ser agora, agora. Vou rascunhar alguma coisa e te mostro mais tarde.
Ainda pensativo, J.V. assentiu, deslizando os dedos pelas cordas do violão e tentando acalmar seu coração.
— Tudo bem, — murmurou, fechando os olhos enquanto começou instintivamente a tocar "November Rain".
*
— E você, J.V.? Como estão as coisas?
Pressionou o telefone contra a orelha levemente, assistindo enquanto Enzo desmontava toda a sua mala e começava a montá-la mais uma vez.
— Tudo bem, nós vamos para o Rio sexta feira agora, — explicou, animado. — o senhor Michael disse que vai dirigindo, e eu, Enzo, a senhora Filipa e a minha mãe vamos de carona. Você tem certeza de que não quer ir também? Parece que vai ser divertido...
Aspen deu uma risada, fazendo com que J.V. alargasse ainda mais o sorriso.
— E eu vou sentar aonde? No colo da sua mãe?
J.V. pensou 'pode ir no meu, se quiser', mas se forçou a respirar fundo antes que pudesse falar alguma coisa errada e acabasse deixando Aspen zangada.
— Então, a gente pode se espremer um pouquinho, certeza de que você cabe, — pediu, e Aspen soltou um suspiro.— sua presença ia significar muito para mim.
— Eu sei, eu sei, mas não vai dar e eu sinto muito. Meus pais ainda estão muito preocupados, ontem mesmo minha mãe veio tirar meu pulso umas duas vezes durante a madrugada. — Existia uma certa exasperação na voz de Aspen, mas era nítido o carinho e a afeição que ela tinha por eles. — Eu vivo insistindo que estou bem, os exames provam que estou bem, os médicos dizem que estou bem mas... sabe como é...
— Bem, pelo menos você sabe que eles realmente se preocupam com você, né? — J.V. deu um sorriso sem graça.— É melhor do que a alternativa.
— É, e... — Aspen engoliu em seco. — E a sua mãe? Como é que ela tá?
— Tá bem, mais calma agora que as coisas estão se acertando, — explicou, pensando que talvez 'mais calma' não fosse exatamente a melhor escolha de palavras para expressar o que,exatamente, sua mãe estava sentindo.
E ele entendia perfeitamente bem, afinal de contas, tinha sentido seu coração parar de bater por alguns minutos também quando tinham dito para ele que havia uma chance dele não poder morar com sua mãe.
— Mas a culpa não é dela, — ele tinha argumentado, ao que a assistente social não parecia querer escutar.
— Até ficar provado que ela não é conivente com as atitudes do marido, a sua guarda não pode voltar para ela.
Nesse ponto,a assistente social e o juiz tinham sido irredutíveis — até que ficasse provado que J.V. estaria seguro em casa com sua família, sua guarda pertenceria a senhora Filipa — ou ao estado, caso ela decidisse não ficar mais responsável por ele por qualquer motivo.
Era um pouco desesperador, mas compreensível — seria irresponsável da parte deles fazer qualquer outra coisa.
Em todo o caso, depois da sua última reunião com o advogado que a família de Liam tinha conseguido para defender o seu caso, sua mãe parecia estranhamente otimista, então J.V. assumia que eles teriam boas notícias em breve.
— Que bom, e com ela indo com vocês vai dar para você passar um bom tempo com ela... vai te dar sorte.
J.V. sorriu.
— É, mas você vai estar me assistindo em casa né? Promete?
Aspen deu uma risada.
— Claro! Estamos programando de nos reunir na casa do Liam, vamos assistir todos juntos! Pode ficar tranquilo que se puder votar por telefone a gente vai estar preparado!
J.V. sentiu o seu sorriso se alargar ainda mais.
— Bom, vou estar contando com isso! Não vai me deixar na mão heim! Até porque eu vou fazer uma surpresa para você.
— Surpresa? — a voz de Aspen soava alarmada. — J.V., do que você está falando?
— Não sei...— ele riu, achando graça do desespero da menina.— você vai ter que ver para descobrir...
— Mas pelo amor de Deus, não me faz passar vergonha não, heim? — Aspen fez uma pausa. — Não é nada embaraçoso não, né?
— Claro que não, Aspen, você acha mesmo que eu faria você passar vergonha?
Aspen fez uma longa pausa.
— Ai meu Deus, — a ruiva soltou um suspiro. — J.V. não me faz passar vergonha não...
Rindo abertamente agora, J.V. assentiu.
— Eu não vou te fazer passar vergonha não, Aspen,
— Não de propósito, não vai, — Aspen gemeu. — mas sem querer...
— Você vai gostar. — J.V. afirmou, convicto. — Eu acho.
— Jesus. — Aspen riu, meneando a cabeça. — Tá bom, né. Qualquer coisa, pelo menos dá tempo de eu mudar de identidade antes de você voltar para casa.
J.V. estava se preparando para falar mais alguma coisa quando um grito chamou sua atenção para Enzo, que começou a soltar uma bela seleção de palavrões ao seu lado.
— O que foi, cara? — Perguntou, em choque. — Por que você tá gritando?
— Cara, olha o canal sete!
E, com o telefone em mãos, J.V. assistiu enquanto Enzo ligava a televisão no canal sete apenas para reconhecer com um misto de susto e horror a imagem de seu pai.
— E estamos aqui hoje com o senhor Jorge Azevedo que está vivendo um pesadelo nos últimos dias mas encontrou um tempinho para prestigiar nosso programa. Obrigada, senhor Jorge.
— Obrigado a você, Cecília. — oferecendo um grande sorriso à repórter, o homem se volta para a câmera e dá um sorriso simpático e J.V. sente o seu estômago se contorcer.
O que seu pai estava fazendo na televisão?
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