Capítulo 36
POV do J.V.
— Boa noite Felicidade! — uma grande onda de palmas e ovações foi ouvida da plateia. — Estamos muito felizes e gratos em ter vocês presentes aqui conosco hoje! Como vocês sabem, nosso Show de Talentos é um evento anual, onde nós aqui do Centro Cultural queremos valorizar os talentos da nossa cidade e dar uma chance a esses talentos maravilhosos que conquistarem o mundo! — O diretor fez uma pausa dramática, aguardando até que os aplausos parassem antes de prosseguir. — É claro que sempre damos o nosso melhor para fazer cada edição do nosso Show de Talentos melhor do que a edição anterior, mas dessa vez eu tenho que dizer que nós realmente nos superamos!
— Humilde ele né? — Angela revirou os olhos, arrancando uma gargalhada de Nath.
— Shhh. — Aspen resmungou. — Prestem atenção, poxa.
Mas é claro que o pedido de Aspen só serviu para que as duas tirassem ainda mais sarro de cada palavra do diretor, o que fez com que J.V. tivesse que se esforçar para conter o riso. Já acostumado com Nath e Angela, J.V. só conseguia se sentir grato pela presença das duas e seus esforços para que ele não se sentisse nervoso enquanto a revelação do resultado da votação se aproximava.
E, é claro, isso não tinha nada a ver com o fato de que ele achava as caras de revolta de Aspen a coisa mais engraçada e divertida do mundo.
— Você não vai fazer nada? — Ela disse, se virando para ele com nítida indignação na voz.
Meu Deus, mas ela é muito fofa quando tá com raiva, pensou, se esforçando para conter um sorriso — o que claramente falhou, já que a menina ficou vermelha e deu um tapa com força em seu ombro.
— Desculpa, — pediu, embora não conseguisse realmente se sentir mal com toda aquela situação. — é o jeito delas...
— Não adianta pedir desculpas se você não se sente realmente mal com a situação, — Aspen retorquiu, cruzando os braços na frente do corpo. — além do que eu me sinto mal pelo diretor. Ele teve todo o trabalho de preparar um discurso enorme, mas ninguém tá prestando atenção.
Depois disso, Nath e Angela — aparentemente não querendo irritar a Aspen — permaneceram em silêncio assistindo o resto do discurso do diretor.
Para J.V., as próximas cenas aconteceriam quase que como em uma mistura indistinta de cenas.
— E, o nosso último finalista... Victor! — As palmas da plateia, os gritos, tudo era muito semelhante a quando ele vencia uma partida de futebol, mas a sensação era muito diferente.
Ainda sem acreditar, J.V. caminhou de volta até o palco para aceitar o envelope do diretor, confirmando que ele havia passado para a próxima (e última) fase do concurso e se virou para encarar aquela multidão de gente.
Olhando para seu lado, seus concorrentes, apenas duas pessoas: uma menina que havia apresentado o monólogo de Hamlet e um rapaz que havia feito um show de mágica. Talentos tão diferentes, mas de certa forma tão bons, que ele ainda estava de certa forma surpreso por estar entre os finalistas.
Ele estava entre os finalistas...
Instintivamente, seus olhos procuraram os de Aspen na plateia, os encontrando fixos nele, como faróis o guiando pelos mares de confusão e alegria que sua vida havia se tornado. Ele... por mais que tivesse se esforçado, por mais que tivesse esperado...
A verdade é que J.V. nunca realmente achou que chegaria tão longe assim.
Agora iria para a capital do estado, se apresentaria em rede nacional... como faria isso? Como esconderia tudo isso de seu pai, como protegeria sua mãe de sua fúria quando ele descobrisse? E se ele fizesse algo com ela? E se esse sonho seu que parecia estar se formando em sua frente cobrasse um preço alto demais?
E, enquanto pessoas aplaudiam os vencedores, tiravam fotos e filmavam, enquanto J.V. sorria e acenava para todos, sua postura aparentemente tranquila e confiante, ninguém parecia notar o turbilhão de questões que surgiam, uma atrás da outra em sua mente.
E se ele decepcionasse os seus amigos? E se seu pai estivesse certo, no final das contas?
Ele podia fazer todo esse esforço, sacrificar tudo, apenas para, no fim das contas, provar que ele estava certo. Era seu pai, no fim de tudo...
Subitamente, era como se não tivesse ar dentro do ambiente, o que era ridículo, pois J.V. conseguia ver perfeitamente que havia pequenas janelas abertas para ventilação. Além disso, os ventiladores pareciam estar funcionando, então não havia motivo para se sentir assim.
Levou uma das mãos para a gola da blusa, afastando-a do pescoço de uma forma que ele esperava ser discreta, enquanto sorria para os jurados que estavam falando alguma coisa com ele e tentava respirar pela boca... mas engasgou, e logo começou a tossir, se sentindo um pouco sem graça quando notou que os outros finalistas o encaravam com curiosidade.
Não saberia dizer quando aconteceu, mas sentiu o instante que alguém segurou uma de suas mãos com força.
— Desculpa interromper, mas vou precisar roubar o Victor de vocês. — Era Aspen, e embora J.V. não conseguisse ver seu rosto, havia alguma coisa na voz dela que fez com que J.V. sentisse como se uma janela tivesse sido aberta dentro da sala. — Nós queremos tirar algumas fotos para comemorar com ele!
Ela falou mais algumas coisas com os jurados, e J.V. notou que haviam mais algumas pessoas com ela, embora ele não conseguisse definir quem era — seus rostos estavam embaçados, suas vozes um misto de cacofonias que ele simplesmente não conseguia compreender; naquele momento, ele só conseguia focar em tentar capturar o pouco oxigênio que parecia ter retornado e também em seus membros, que estavam começando a formigar.
— Pronto, vem cá, vamos sair daqui... Liam, Enzo, pega uma água pra ele, — ela murmurou, o puxando pela mão até que eles saíssem do Centro Cultural, finalmente encontrando a brisa fresca da noite.
Colocando as duas mãos nos joelhos, J.V. hiperventilou por alguns minutos antes de se voltar para Aspen com um sorriso sem graça, notando que, como sempre, ela parecia estar em perfeito controle da situação, calma, embora o seu olhar e a sua postura expressassem que ela estava preocupada com ele.
E, apenas uma vez, ele desejou conseguir destruir um pouquinho aquela postura calma e controlada dela.
— Você tá melhor?
A voz dela era suave, baixa, e J.V. soltou um suspiro enquanto se erguia e assentia.
— Sim, é só... acho que comecei a pensar em como vou fazer para participar da final e esconder do meu pai e—
— Hm, entendi. — Aspen assentiu, se aproximando e apertando a mão dele gentilmente. — Mas acho que devemos nos preocupar com isso amanhã... Afinal de contas, é importante celebrar as nossas vitórias sabia? E hoje, você ganhou.
Incapaz de conter um pequeno sorriso, J.V. assentiu.
— É, bem, nisso você tá certa, por mais incrível que pareça...
— E eu sei que não foi fácil. Quero dizer, você até veio cantar machucado, — Aspen apontou para o pé de J.V. — e teve toda a questão de não conseguir ensaiar também...
— É, bem, isso é verdade... mas--
— Mas você superou tudo isso, e ainda conseguiu vencer. — Aspen sorriu, erguendo os olhos para fitá-lo. — Acho que você devia se orgulhar de você mesmo, sabe?
J.V. deu um pequeno sorriso e estava abrindo a boca para responder Aspen quando ouviu uma voz que fez todo o seu sangue gelar.
— Isso só prova que você não sabe nada do que está falando mesmo, mas também, do que uma mulher que ainda nem tem idade para ser chamada de tal pode falar mesmo né, — a risada debochada foi acompanhada por outras risadas mais discretas, mas J.V. se viu se aproximando de Aspen instintivamente e a puxando para trás dele.
— Pai. — J.V. disse, sua voz baixa trêmula e hesitante. — O que... o que você tá fazendo aqui?
— Olha aí, o menino querendo cantar de galo! — ele disse, rindo, parecendo achar aquilo tudo muito engraçado. — Escuta aqui, eu vou onde eu quiser, tá me ouvindo? Você não tem o direito de me cobrar nada, muito menos depois da vergonha que você me fez passar lá dentro!
É, J.V. pensou, olhando discretamente para Aspen, que reciprocou o seu olhar preocupado. Parece que o segredo não é mais segredo... E agora?
Ele sabe.
FELIZ (véspera da véspera de) NATAL MEUS LINDOOOOOS!
Obrigada por lerem minha história <3 Vocês fazem minha vida mais feliz.
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