Capítulo 28
POV do J.V.
– Ah, oi tia Júlia.
A voz de Olívia soou como o que J.V. imaginava que soava o canto dos anjos do céu, salvando J.V. de uma situação extremamente desconfortável.
Angela, que parecia pronta para dar um soco na autoproclamada rainha do hospital de Felicidade, se virou para encarar Olívia com surpresa e J.V. se perguntou, por um momento, se as duas se conheciam...
Antes de concluir que era impossível já que a silenciosa e tímida Olívia dificilmente teria esbarrado em Angela antes, mesmo Felicidade sendo tão pequena. Era como dizer que óleo e água se misturavam com facilidade.
– Ah, Olívia. – O rosto da mulher se encheu de alegria ao vê-la, o que fez J.V. arregalar os olhos. – É sempre um prazer te ver por aqui, minha flor. Voltou para ver se já temos notícias do seu amigo?
– Sim, e trazer algo para todo mundo comer, – disse, mostrando a sacola plástica que carregava. – se virando, encarou J.V. e Angela. – Vocês já se identificaram? Podemos subir todos juntos?
Antes que J.V. pudesse explicar toda a situação, a senhora tainha da portaria, que aparentemente se chamava Júlia, finalmente entregou etiquetas de identificação e as identidades para ele e para Angela e abriu um largo sorriso.
– Claro, claro. Já podem ir! E diga aos seus pais que estou ansiosa pelo jogo dessa terça-feira, florzinha!
– Vou dizer. – Olívia assentiu, acenando para a mulher e se virando para os dois. – A "tia" Júlia estava causando problemas para vocês?
Eu avisei a Nath que era para você tomar cuidado quando vir visitar o Liam. Ela é meio... esquisita.
J.V. deu um sorriso carregado de desconforto.
– É, ela não gostou muito da Angela também.
– Ah, ela tende a ser mais implicante com mulheres em geral, mas ela não vai implicar com você de novo não. Agora ela sabe que a gente se conhece e vai ser mais cuidadosa. – Olívia explicou, antes de se virar para J.V. mais uma vez. – Mas sério. Cuidado. Ela não é uma boa pessoa.
– É, ela parece gostar de você... ? – J.V. começou, querendo perguntar exatamente como alguém como Olívia conhecia alguém como Júlia.
– Infelizmente. – Olívia disse, com um sorriso triste. – Bem, estamos quase chegando. Liam vai ficar feliz quando souber que você está aqui.
Antes que J.V. pudesse acrescentar qualquer outra coisa, a porta do elevador abriu e ele foi atacado por uma Natália em prantos.
*
– Oi? Sabe, eu estou aqui também, – Angela resmungou, o ciúmes claramente falando mais alto do que a necessidade dela de consolar a namorada.
Sem saber muito bem o que fazer, ainda atônito com Olívia que tinha desaparecido misteriosamente – ela era estranhamente boa nisso – e com tudo o que tinha acontecido com Liam – seja lá o que tivesse sido, – ele deu uns tapinhas sem jeito nas costas de Natália.
– Vai ficar tudo bem, Nath.– murmurou, esperando do fundo do coração que estivesse falando a verdade. – Tá bom?
– É claro que vai, ninguém vai matar aquele idiota fácil assim. – Érica, sua voz e palavras ácidas em completo contraste com a cara inchada e o nariz vermelho de tanto chorar disse, seus tapinhas nas costas de Nath muito menos gentis do que os de J.V. – Se ele morrer, eu mesma vou atrás dele no inferno, trago de volta, só pra poder matar ele de pancada.
– ÉRICA!
– Desiste, Mila, tô chegando a conclusão que violência é como a Érica demonstra afeto. Só come o seu pastel e respira fundo antes que sobre pra você também.
– E O QUE É QUE VOCÊ FALOU, ENZO?
Julgando pelo longo silêncio que se seguiu a Enzo, que claramente prezava a vida mais do que a razão, decidiu seguir o seu próprio conselho e focar em seu próprio pastel.
– Mas... o que exatamente aconteceu, gente? – J.V. perguntou, olhando ao redor, meio sem jeito.
Atrás dele, a porta do elevador finalmente fechou com um alto estalo, fazendo ele dar um pulo de susto.
Embora aquela fosse a primeira vez que ele estivesse pisando dentro da parte de internação do Hospital de Felicidade, não podia deixar de achá-la familiar, de certa forma. Talvez fosse pelo odor, uma mistura de desinfetante e álcool tão comum a hospitais em geral.
Talvez fosse a combinação de cores, uma mistura de verde-claro e branco desbotado, já descascando em algumas partes, que dizia que aquele hospital já tinha visto dias melhores, em contraste com o chão de mármore branco, tão limpo que parecia reluzir em baixo das fortes luzes fluorescentes.
Em um longo corredor, cadeiras de plástico claramente improvisadas tinham sido colocadas ali para acomodar o grupo de adolescentes. Enzo e Camila estavam sentados mais distantes deles, com Fábio e Olívia em pé ao lado deles, Olívia oferecendo pacotinhos de ketchup para colocar nos pastéis – que provavelmente haviam sido o motivo pelo qual a menina havia saído de seu posto, pensou. Ao lado de Camila havia uma cadeira vazia com uma mochila que parecia ser de Érica, mas esta parecia muito agitada para ficar sentada e estava andando de um lado para o outro igual a um tigre enjaulado. Aspen estava sentada ao lado da mochila, olhando para tudo com uma expressão de cansaço e havia uma última cadeira vazia ao lado de Aspen que ele deduzia ter sido de Nath até alguns instantes atrás.
– Dois rapazes, ainda não identificados pela polícia, viram o Liam sair do Show de talentos no domingo, não sei se eles chegaram a assistir a apresentação ou não, – A voz calma de Aspen explicou, e J.V. soltou um suspiro de alívio. – mas eles decidiram seguir o Liam quando ele saiu de lá com a Nath. Mas, segundo ela, eles foram atacados não muito longe dali.
– Eu queria ter visto, – Érica disse, cerrando os punhos. – queria ter seguido eles de longe, porque se eu tivesse, me deixa te contar! Se eu tivesse eu ia ter dado uma baita surra neles! – soltando um suspiro, a menina abaixou a cabeça. – O Liam podia ter feito isso, mas o idiota é um inútil que não sabe machucar nem uma mosca! – Érica grunhiu algo que J.V. não entendeu, mas teve quase certeza de que era ofensivo. – Mas eu só fiquei sabendo pela mensagem da Nath... Então eles já tinham fugido e o que eu vi foi uma poça de sangue enorme e o meu irmão em um quarto de hospital. Isso foi... tão enfurecedor!
– Eu sei, Eri, eu sei. – Aspen murmurou, se aproximando de Érica e abraçando a amiga. – Mas que bom que você chegou, J.V.. E imagino que você seja a Angela?
– Sim, – Angela respondeu, ainda encarando Nath com irritação.
– É um prazer te conhecer, obrigada por ter procurado o J.V. pra gente. – Aspen sorriu e estendeu a mão, apertando a mão de Angela num cumprimento que parecia excessivamente formal e estranhamente desconfortável.
Finalmente soando mais calma, Nath deu um passo para trás e limpou o rosto com as costas das mãos.
– Desculpa, – pediu, parecendo subitamente incapaz de encará-lo nos olhos. – é só que tudo isso aconteceu quando o Liam tava fingindo ser você e-e-e-e você não atendia o telefone e-e-e nem respondia às mensagens e-e-e --- – Os soluços de Nath subitamente ficaram um pouco mais altos, e J.V. abraçou a amiga mais uma vez.
– Desculpa Nath. Eu esqueci de colocar para carregar ontem, e--
– Viu, eu disse que provavelmente tinha sido alguma coisa assim, – Aspen disse, com um sorriso calmo. – o que aconteceu com o Liam foi algo horrível, mas não acredito que tenha sido nada planejado... Tudo que precisamos fazer agora é cuidar para que ele fique bem e acompanhar isso com a polícia para que eles punam quem agrediu.
– Ah, mas se eles não punirem, minha amiga, pode ficar tranquila que eu vou resolver o problema. – Érica respondeu, voltando a andar de um lado para o outro, irritada.
– Ah meu Deus, agora temos uma vigilante entre nós. – Enzo gemeu, atraindo o olhar extremamente irritado de Érica em sua direção.
– E você tem um problema com isso?
– Não, se você quer parar na cadeia e passar os próximos vinte anos da sua vida atrás da grade, tudo bem por mim!
– Desde que eu faça justiça e consiga umas tatuagens maneiras, tá legal por mim!
– Gente, vocês esqueceram de que estamos no corredor de um hospital? – Aspen colocou as mãos na cintura e chamou a atenção dos amigos. – Vocês querem que as enfermeiras venham aqui reclamar que estamos fazendo barulho de novo?
– Não, Aspen. – Érica e Enzo responderam em uníssono, fuzilando um o outro com o olhar. – Desculpa, Aspen.
– Não é para mim que vocês têm que pedir desculpa. – Aspen disse, revirando os olhos e soltando um suspiro. – Enfim. Liam levou dez facadas e esteve entrando e saindo do Centro Cirúrgico o dia inteiro. Ainda não pudemos vê-lo, mas os médicos acabaram de passar por aqui e autorizar os pais dele a entrarem um pouquinho. Os médicos disseram que, se a recuperação dele continuar boa, vão deixar a gente passar para dar uma olhadinha nele antes do fim do horário de visitas, embora o Liam mesmo provavelmente só vá acordar amanhã.
– Acho que eu não vou poder ficar até tarde, – Olívia voltou com Fábio, mordendo o lábio inferior. – Meus pais não gostam que eu volte tarde para casa.
– Tudo bem, Olívia. Ele vai estar dormindo mesmo, – Aspen deu um sorriso e afagou os cabelos da amiga. – além do que, você chegou aqui bem cedo e não parou hoje o dia inteiro. Vai para casa, a gente te informa tudo pelo telefone... só mantenha ele carregado.
O grupo inteiro deu uma risadinha, até mesmo Nath, que finalmente parecia estar conseguindo se acalmar.
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