Capítulo 19
POV da Aspen
O amanhecer de sexta-feira trouxe, para Aspen, uma grande onda de ansiedade.
Além da apresentação de J.V. no domingo e das notas das provas que estariam chegando em breve, a data final do concurso de literatura que ela, Olívia e Fábio estavam participando estava chegando e ela mal podia esperar para entregar o texto delas e receber os comentários dos jurados e dos outros leitores.
É como ser uma escritora de verdade!
O entusiasmo de Olívia era tão contagiante que Aspen nem mesmo conseguiu dizer que, na sua opinião, elas já eram escritoras de verdade. É claro, sempre havia espaço para melhorar e aprimorar as suas habilidades, mas isso não as tornava mais ou menos escritoras do que outras pessoas.
Afinal de contas, tinham chegado à final do concurso. Se não agora, quando é que poderiam se considerar escritoras de verdade?
Olívia estava encarregada de entregar a cópia física da sua história ainda hoje no Centro Cultural, enquanto ela havia enviado a cópia digital por e-mail na noite anterior. Estava pronto. Não havia mais nada que elas podiam fazer.
Além de ficar revisando e reescrevendo tudo mentalmente até recebermos o resultado do concurso, pensou, o sorriso que adornava os seus lábios carregado em ironia, mas isso faz parte.
Fábio também precisava entregar o seu conto, então os dois tinham combinado de aproveitar a obrigação para dar uma espiadinha em como o palco do Show de talentos estava ficando, além de, é claro, mandar fotos para o grupo.
Nossa própria equipe de espionagem, Aspen concluiu, prendendo os cabelos em um rabo de cavalo e virando o rosto de um lado para o outro na frente do espelho, para ver se ficou bom. Aprovando o look, se despediu dos pais apressadamente e saiu de casa, ainda se desculpando com sua mãe por não tomar café.
Não era que estivesse com pouco tempo, mas o grupo de borboletas que parecia ter decidido morar no seu estômago e praticar ginástica rítmica não a permitia tomar café.
Vou comprar um sanduíche grande no intervalo, se comprometeu, mais para não preocupar a sua mãe do que realmente por sentir fome.
Mal chegou a escola, descobriu que a professora Karla de literatura – e, teoricamente, sua chefe – estava procurando por ela e a ansiedade aumentou ainda mais.
Será que eu fiz alguma coisa errada?, pensou imediatamente, depois sacudiu a cabeça. Não, não tinha nada.
Mas então por que chamá-la?
Foi apenas quando tinha acabado de dar duas batidas na porta da sala dos professores que Aspen lembrou das provas e engoliu em seco.
Será que J.V. tinha reprovado e ela ia ser demitida?
Mas isso não fazia sentido, pensou, mordendo o lábio inferior. A revisão que ela tinha passado para J.V. tinha tocado em todos os tópicos da prova, contando que ele tivesse dado uma olhada em tudo...
Mas e se ele não tivesse tido tempo?
E quem poderia culpar ele, se não tivesse conseguido? Além do que ele parecia realmente doente no dia da prova, então não seria tão surpreendente se não tivesse ido bem.
Soltando um suspiro conformado, Aspen ergueu o rosto e bateu mais duas vezes na porta.
O que ela poderia fazer? Se J.V. não tivesse conseguido, ela só teria que se esforçar mais da próxima vez. E, bem, não é como se ela precisasse ser a monitora de literatura para ajudá-lo, ela podia continuar o ajudando a estudar e procurar emprego em outro lugar, caso realmente fosse demitida.
Então, era melhor enfrentar tudo de frente.
Estava erguendo a mão para bater na porta mais uma vez quando a porta se abriu, o professor de Química dando um sorriso educado para ela.
— Veio falar com a Karla né? Acho melhor você ir direto na mesa dela, ela parece estar lendo alguma coisa muito boa... ou muito ruim. — concluiu, apontando para a mesa mais próxima da janela, quase no fundo da sala de professores, onde a professora Karla estava sentada lendo o que parecia ser uma prova.
— Ah, tá. Obrigada. — com um sorriso sem graça, Aspen entrou na sala e cumprimentou os professores conforme ia passando por eles. Era realmente muito descômodo andar pela sala dos professores, quase como se ela fosse uma invasora ali, em território inimigo. — Professora Karla?
Como se despertasse de um sono profundo, a professora deu um pulo, derrubando a sua caneta vermelha no chão.
— Ah, Aspen, me desculpe. — pediu, sorrindo enquanto pegava a caneta de volta e colocava a prova que ela estava corrigindo na mesa. — Me distraí corrigindo provas... Aqui, por que você não se senta um pouco? Queria conversar com você.
Aspen assentiu, sentando na cadeira que ficava na frente da mesa da professora enquanto ela guardava as provas que ainda estava corrigindo em uma pasta e pegava outra pasta, onde ela puxou um planilha.
— Eu queria te parabenizar pelo seu ótimo desempenho, — ela disse sorrindo distraidamente, enquanto parecia anotar alguma coisa em uma planilha. — a nota do J.V. quase dobrou! Você está se saindo uma ótima professora.
Aspen sentiu suas bochechas ficarem quentes e desviou o olhar, sem saber se devia aceitar o elogio.
— Hm, bem, obrigada, — disse, sem graça. — mas sabe, ele se esforçou bastante também...
— Sim, com certeza. E eu planejo conversar com ele depois também, — Karla meneou a cabeça, mas manteve o sorriso em seu rosto. — Mas sabe, você também contribuiu para isso, Aspen. Deveria se sentir orgulhosa de si mesma.
Uma pontinha de orgulho começou a surgir no coração de Aspen, e ela mal podia esperar para contar aos pais que, claramente, tinha herdado o dom de ensinar da família.
E essa era uma boa notícia para J.V. também.
— Sim, obrigada professora.
— Então, eu estava pensando... — professora Karla disse, olhando mais uma vez para suas anotações. — O que você acha de aceitar mais alguns alunos? Acha que está pronta para essa responsabilidade?
Os olhos de Aspen se arregalaram.
— Mas... a senhora acha que eu consigo?
Professora Karla deu um sorriso.
— Bem, eu acho, mas quem vai poder me dizer mesmo é você. Por que você não pensa, e me dá uma resposta hoje depois da aula?
*
Saindo da sala dos professores completamente animada, Aspen mal podia acreditar que J.V. tinha conseguido se sair bem na prova.
Determinada a fazer alguma coisa para parabenizar seu "aluno", Aspen estava cantarolando uma música baixinho quando entrou na sala de aula com alguns minutos de antecedência.
Olívia, como era de se esperar, já estava sentada em seu lugar com um velho caderno aberto, escrevendo furiosamente sem parecer perceber o mundo do lado de fora. Camila estava olhando fixamente para Fábio embora, oficialmente, estivesse conversando com a menina sentada ao lado dele. Érica, Enzo, Liam e J.V. ainda não pareciam ter chegado, e Aspen estava a ponto de se conformar com o fato e se sentar sozinha na sua cadeira quando viu, de canto de olho, que Natália parecia estar tentando chamar a sua atenção.
Colocando a mochila em seu lugar, Aspen foi até o final da sala, onde Natália se sentava, tentando entender o que será que a menina queria falar com ela.
Será que alguma coisa deu errada com o plano?
Um calafrio percorreu seu corpo mas, respirando fundo e sacudindo a cabeça, Aspen tentou afastar os pensamentos pessimistas... Afinal de contas, as coisas não tinham dado certo ao encontrar a professora? Ela não tinha achado que ia ser demitida e tinha acabado recebendo um elogio e uma oferta de mais trabalho? Talvez essa fosse apenas mais uma notícia boa...
Ou talvez você tenha usado toda a sua sorte do ano logo hoje pela manhã, Aspen.
Sacudindo a cabeça mais uma vez, Aspen forçou um largo sorriso em seu rosto.
— Bom dia, Natália. — cumprimentou, se sentando na carteira na frente da dela. — Tá tudo bem?
Olhando ao redor para se certificar que ninguém a ouvisse, Natália se inclinou na direção de Aspen.
— Tudo certo. — olhando ao redor delas mais uma vez, Natália adicionou. — Enzo me mandou as fotos da roupa do show de amanhã.
Aspen arregalou os olhos.
— E aí? Deu tudo certo? — Questionou, sentindo a sua ansiedade se esvair quando a menina assentiu lentamente.
— Eu acho que sim, mas tô doida para ver a cara do J.V. quando ver isso. — mordendo o lábio inferior como se estivesse tentando segurar o riso, Natália continuou. — Vai ser impagável.
Aspen franziu o cenho.
— Não sei, você acha que ele vai ficar desconfortável com a roupa? — questionou, se inclinando na direção de Natália para sussurrar o resto. — Não é melhor trocar o figurino então? Se ele ficar desconfortável, vai ter dificuldade de se apresentar...
— Bom, pelo menos ele vai ficar irreconhecível, disso você pode ter certeza. — Natália disse, seu sorriso largo deixando claro que ela estava achando a situação toda muito divertida. — Ele pode querer morrer de vergonha, mas, no fundo, ele ficar irreconhecível é mais importante do que qualquer coisa agora.
— É, eu sei, mas...
— Além do que, ele vai ficar bem gato. — Natália disse, mexendo as sobrancelhas sugestivamente. — Tenho certeza de que, se você disser para ele o quão gato ele vai estar, ele nem vai ficar tão sem graça assim.
Aspen arregalou os olhos e, quase imediatamente, desviou o olhar, sentindo suas bochechas ficarem quentes.
— E-eu? — ela disse, engasgando com a saliva e tossindo por alguns instantes. Quando se recuperou, limpou as lágrimas dos olhos e encarou Natália com determinação. — Não sei porque você está falando isso, não faz o menor sentido.
Dando um largo sorriso, Natália se encostou na sua cadeira.
— O que, mas como assim não faz sentido, Aspen? E eu aqui achando que estava sendo perfeitamente clara...
— Bem, não está. — Aspen disse, se ajeitando na cadeira e corrigindo a sua postura. — Quero dizer, entendo que a gente dizer que ele está bonito, bem, pode ajudar um pouco... mas não vejo por que eu poderia ajudar mais... Quero dizer, você deve ajudar mais né? Vocês não namoraram um tempo?
O sorriso de Natália se alargou ainda mais, se é que era possível.
— Nãão, quer dizer que a senhorita 'eu não acompanho fofocas' sabe da minha história com o J.V.? — batendo palmas como se estivesse absurdamente alegre com a notícia, Natália soltou uma risadinha. — E agora está tentando descobrir se a gente ainda tá junto em primeira mão?
Olhando ao redor, desejando ardentemente que o chão se abrisse para que ela pudesse pular lá dentro, Aspen soltou um suspiro quando não notou nenhuma forma de sair daquela situação.
— Nã-não é bem assim, — ela tentou se corrigir, olhando para a porta da sala e implorando para que o professor aparecesse e, assim, ela tivesse que ir para seu lugar. Nada aconteceu. — e-eu só quis dizer que---
— Sim? — Natália disse, parecendo achar o desconforto de Aspen superdivertido. — O que você quis dizer, Aspen?
— Qu-que ele provavelmente preferiria ouvir isso de você e na-não de mim!
Rindo abertamente, Natália meneou a cabeça.
— Bom, já que você tá tão interessada nesse assunto, — Natália riu quando viu Aspen sacudindo a cabeça veementemente. — deixa eu esclarecer. J.V. e eu somos amigos de infância, nunca namoramos... bem, não de verdade. Mas ele mentiu que era meu namorado para me ajudar em uma situação... bem... uma situação que foi meio-complicada para mim. — sorrindo com afeição, Natália acrescentou. — Mas, na verdade, ele é como um irmão que a vida me deu e... eu superapoio vocês dois.
Aspen sorriu sem graça e assentiu, grata que J.V. e Natália tivessem uma amizade tão bonita assim e pudessem sempre contar um com o apoio do outro, mas, ao mesmo tempo, se sentia de certa forma aliviada ao saber que a relação deles nunca tinha sido daquele jeito e que tinha o apoio de Natália.
Aliviada?
— N-não, acho que você entendeu errado. — Aspen sentiu o seu rosto queimar mais uma vez, tentando desesperadamente encontrar as palavras certas para poder convencer Natália que ela estava tirando coisas da cabeça dela.
Antes que ela pudesse abrir a boca, porém, a porta se abriu e um grupo de alunos entrou na sala seguido pelo professor de geografia, que vinha carregando uma pilha de papéis em seus braços.
— Bom dia, pessoal! Hoje eu trouxe para vocês as provas corrigidas e eu decidi que vou devolvê-las para vocês e nós vamos corrigi-las juntos, pode ser? — alguns muxoxos foram ouvidos pela sala, enquanto Aspen corria de volta para seu lugar. — Ótimo, então vamos começar... Ana Beatriz.
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