Capítulo 13
POV do Fábio
— Okay, então ficou decidido assim, — concluiu um Liam com aparência exausta e algo que parecia ser farelo de pão no seu cabelo. — Eu, Érica e Camila vamos divulgar o J.V. e pedir para as pessoas curtirem o vídeo dele. Nath e Aspen vão ficar encarregadas de fazerem uma lista de músicas e ajudarem o J.V. a praticar. Olívia e Fábio vão preparar os textos de divulgação junto com a equipe de divulgação e os roteiros dos vídeos com o Enzo. O Enzo fica encarregado da produção e edição dos vídeos... Falta mais alguma coisa?
— Podemos não fazer mais reuniões? Nunca mais? — Nath pediu, sendo interrompida por um J.V. que gritou "não, não falta nada."
— Muito bem, tá decidido então. — Liam concluiu, usando a mão para limpar os farelos do cabelo... mas apenas tornando tudo muito, muito pior, já que a mão dele estava suja de suco.
Uma Olívia impressionantemente limpa pegou as suas coisas e deu um sorriso comedido, como ela costumava dar quando se sentia sem graça.
— Bem... acho melhor a gente ir andando. Preciso chegar em casa cedo.
Seu sexto sentido ativando, algo que costumava acontecer com certa frequência com relação à Olívia, Fábio imediatamente se levantou.
— Pois é, eu também. — disse, parecendo um pouco sem graça ao olhar a bagunça ao redor deles. — Se bem que... a gente não precisa arrumar isso?
— Não, não, pode deixar que a Eri e eu damos conta, — Liam respondeu, mal-humorado, parecendo quase como se quisesse bater nele — A gente se vê amanhã na escola então.
Já era tarde quando eles saíram da casa de Liam, o céu já bem escuro e carregado de nuvens que prometiam uma grande pancada de chuva.
— Melhor a gente correr, — Aspen comentou, olhando para o céu com desconfiança. — não trouxe guarda-chuva e não seria nada bom a gente ficar ilhado no ônibus.
Olívia, como sempre, abriu sua mochila calmamente e tirou um guarda chuva de dentro, estendendo o item para Aspen sem dizer sequer uma palavra.
Várias vezes durante a sua vida, Fábio se questionou se a bolsa de Olívia era sem fundos, já que a menina parecia sempre estar pronta para qualquer problema e qualquer situação, por mais imprevisíveis que elas fossem. Aspen, arregalando os olhos de surpresa, meneou a cabeça.
— Não, não, tá tudo bem, Olívia. Daqui a pouco eu tô em casa, você mora mais longe... — afagando os cabelos da amiga, Aspen sorriu. — Não precisa se preocupar não, tá?
— Se você diz... — Olívia assentiu, guardando o guarda-chuva novamente na bolsa. — Até amanhã então...
Depois de despedidas rápidas, eles foram se separando e cada um seguindo seu caminho. Fábio aguardou até que ele e Olívia ficassem sozinhos, algo que não era tão difícil já que eram vizinhos de porta e tinham o mesmo percurso para fazer.
— Tá tudo bem? — perguntou, notando que a menina o olhou de soslaio por um longo minuto antes de assentir às pressas. Notando que ela não queria conversar sobre o que quer que a estivesse perturbando, Fábio decidiu mudar de assunto. — Vai ser divertido né, ajudar o J.V. a vencer o concurso.
Olívia deu um sorriso triste e assentiu, desviando o olhar de Fábio.
Alguma coisa não estava certa com Olívia.
— E como estão as coisas com o Liam? Sabe, eu achei que ele realmente fosse me bater hoje, — riu, mas percebeu o minúsculo tremor nas mãos de Olívia. — Tá tudo bem, Olívia?
Mais uma vez a menina virou na direção de Fábio e sorriu, algo que sempre partia o seu coração de ver. Amava Olívia como uma irmã e desejava do fundo do coração que, algum dia, Olívia finalmente conseguisse expressar o que ela realmente queria.
Ou pelo menos, que ela finalmente conseguisse chorar a vontade.
Porque não tinha nada mais doloroso do que ver Olívia sorrir com os olhos marejados.
— Eu sinto muito, Olívia. — murmurou, afagando os cabelos da amiga. — Você quer conversar?
— Tá tudo bem. — Ela repetiu, quase como uma criança que repetia uma fala no especial de natal da escola: sem convicção e sem emoção. — De verdade.
Não, não estava tudo bem.
Mas Olívia queria fingir que estava.
E quem era ele para forçá-la a derrubar as mesmas paredes que a estavam mantendo de pé?
Era parte do motivo pelo qual ele torcia muito para que Liam conseguisse conquistar o coração de Olívia, para que ele conseguisse fazer com que Olívia não precisasse mais se esconder atrás de paredes tão resistentes.
— Eu tô aqui se quiser conversar. — murmurou, oferecendo o pouco que podia. — Você sabe onde eu moro.
Olívia assentiu e, com outro sorriso triste, desviou o olhar para o céu.
— Os pássaros estão voando. — Ela murmurou, soltando um suspiro. — É tão bonito né? Eles são... tão livres. — Soltando um suspiro, ela acrescentou, sua voz pouco acima de um sussurro. — Queria poder voar também.
Colocando um braço em seus ombros, Fábio soltou um suspiro.
— Um dia, todos nós vamos poder voar, Olívia... Todos nós.
*
— Ela é boa moça, de boa família...
Ela é minha bisavó. Eu tenho que ser respeitoso com a minha bisavó. Eu amo a minha bisavó, ela faz os melhores takoyakis do mundo.
Aquela era uma cena normal na casa dos Yukimura, uma família comum de classe média. Quando a noite chegava, a pequena família de três se reunia na mesa da cozinha, onde passavam algum tempo em família.
Esse tempo podia ser gasto jogando algum jogo de mesa, em especial o shogi, um favorito do seu pai, para o qual Fábio nunca havia tido muito talento. Por sorte, a sua mãe era boa no jogo, e Fábio ficava feliz em assistir as intermináveis partidas enquanto tomava o seu chá e comia alguns biscoitos ou, se tivesse sorte, mochi.
Era um tempo precioso para ele, algo pelo qual ele esperava todo o dia. Adorava ouvir as histórias dos seus pais e compartilhar novidades sobre a sua vida com eles. Também adorava quando algum dos seus tios, ou primos, ou qualquer pessoa que fazia parte da grande família Yukimura ou Nunes vinha visitar.
Eles eram barulhentos, bagunceiros e muito divertidos...
E, bem, ele estava feliz com a visita da sua bisavó.
— Tenho certeza de que é, Bisa. — Fábio forçou o sorriso, repetindo o mantra mental 'Eu amo a minha bisavó.
— Muito tradicional. Séria. Quer casamento, filhos...
Eu amo a minha bisa, é só que ela é de outra geração. Preciso lembrar de que ela é de outra geração, mas é sábia a sua própria maneira e eu preciso respeitar isso.
— Certo, Bisa, é só que–
— Bom, bom, então pensei em casamento para primavera. Que acha de conhecer ela?
Eu amo a minha Bisa, mas pelo amor de Deus, alguém me salva desse suplício.
Olhando ao redor, pôde notar que sua mãe tinha levado a mão para a frente da boca para disfarçar, mas seus olhos deixavam claro que ela estava contendo o riso.
Nenhuma ajuda viria dali.
Seu pai, que naquele momento estava pegando o saquê para servir para a Bisa, estava prestando muita atenção ao rótulo da garrafa.
O que ele está procurando, a forma que o saquê foi produzido, Fábio pensou, contrariado.
Era claro que ele estava por si só ali.
— Bisa, — Fábio disse, forçando o melhor sorriso que pôde — é que eu só tenho dezesseis anos e–
— E? Dezesseis bom para namorar. Dezoito fica noivo e casa vinte.— A Bisa explicou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Bom saber que ela já planejou a minha vida até os vinte anos, Fábio pensou exasperado. A quem eu tô enganando, ela provavelmente já planejou até a minha morte.
Afinal de contas, Mizuki Yukimura não era a matriarca da família por nada.
Usando todos os seus dotes artísticos, Fábio desconversou e, fingindo estar morrendo de sono, foi para a cama dormir.
Às oito e meia da noite.
Mas eu amo a minha Bisa, pensou, ainda mal-humorado.
O dia seguinte começou muito cedo para Fábio, provavelmente por ele ter ido dormir muito mais cedo do que o costume. Estava de ótimo humor quando se sentou na mesa com a família para tomar café, mas quando a Bisa decidiu retormar o assunto da noite anterior, ele quase chorou de frustração.
Bisa, eu não quero casar com alguém que eu nem conheço só porque ela é de família 'tradicional japonesa', gritou em sua cabeça, se esforçando para manter o sorriso compreensivo no rosto.
Eu amo a minha Bisa, repetiu o mantra, fingindo estar escutando atentamente todas as qualidades que sua Bisa via na moça que tinha sido escolhida para ser sua futura noiva.
A campainha tocou, om som estridente anunciando que era hora de Fábio sair de casa e ir para a escola, algo pelo qual ele agradeceu aos céus.
Olívia não podia chegar em melhor hora.
Dando um beijo apressado no rosto da sua Bisa, da sua mãe e do seu pai, Fábio pegou a sua mochila e saiu correndo, ainda mastigando o resto da sua torrada matinal.
Como sempre, encontrou Olívia esperando por ele no portão e, a passos largos, arrastou a menina no caminho por uns bons quinze minutos antes de soltar um suspiro.
— Deus, eu achei que ia morrer e não são nem sete horas da manhã.
Rindo baixinho, Olívia meneou a cabeça.
— Sua bisavó veio visitar né?
— Pois é, vai passar o mês aqui em casa, — Fábio soltou um suspiro, passando a mão pelos cabelos. — vai ser um milagre se eu terminar o mês solteiro.
— Ela não é tão ruim assim, — Olívia defendeu e Fábio arqueou uma sobrancelha.
— Você esqueceu do dia que ela disse que ia levar a gente no cinema, e ao invés disso, nos levou no templo e praticamente arranjou o nosso casamento?
Olívia deu um sorriso amarelo e assentiu, lembrava muito bem daquele dia, assim como Fábio. Oito anos de idade e noivos.
Os vexames que o amor pela família fazem a gente passar...
— Pois é, eu nunca entendi... Ela não quer que você case com alguém de descendência japonesa?
Fábio deu de ombros, fingindo não saber o que tinha levado a bisavó a abrir uma exceção para Olívia.
Mas a verdade era que a bisavó tinha provavelmente se visto em Olívia.
— Acho que ela gostou de você. — Fábio disse se consolando com o fato de que não tinha contado uma mentira, a bisavó adorava Olívia.
Ela provavelmente já tinha planejado os próximos anos da vida de Olívia também, pensou dando um sorriso meio a contragosto. Não que eu vá contar isso para ela.
— Então...— Olívia começou, parecendo meio desconfortável com o que quer que estivesse passando pela cabeça dela. — como você recusa uma coisa que você sabe que vai dar errado sem ser cruel ou mal-educado?
— Hm? — Fábio se virou para encarar a amiga, curioso. — O que você tem que recusar?
— Vai ter uma partida de futebol daqui a algumas semanas, a primeira da temporada, — Olívia explicou, olhando cuidadosamente para os pés. — Liam quer que eu vá assistir.
Ah.
Fábio mordeu o lábio inferior, preocupado com Olívia.
— Você já tentou dizer que não pode ir?
— Já, mas as meninas disseram que eu não ia fazer nada mesmo... e agora, não importa quantas vezes eu recuse, ele continua pedindo.
— Você pode tentar... contar a verdade para ele. — Fábio tentou, cautelosamente. A verdade, a verdade sobre Olívia que só ele sabia.
Como esperado, a menina imediatamente recusou a ideia.
— Não! Nem pensar! — Olívia recusou, soltando um suspiro.— Eu já sou esquisita demais, não quero piorar as coisas.
— Você não é esquisita, — Fábio respondeu, coçando o queixo. Será que tinha algo que ele pudesse fazer para ajudar Olívia? — você quer que eu converse com ele? Se eu explicar–
— NÃO! VOCÊ NÃO PODE! — Olívia explodiu se virando para ele de súbito. — Não pode, não pode!
— Tudo bem, só quero ajudar, — Erguendo as mãos em defesa, soltou um suspiro. — se quiser, eu posso falar que você detesta futebol ou algo assim também.
Respiração voltando ao ritmo normal, Olívia soltou um suspiro.
— Mas aí ele não vai me convidar mais... e talvez não fale mais comigo... e... — engolindo as lágrimas, Olívia respirou fundo e ergueu a cabeça. — talvez seja melhor assim. — disse, uma firmeza que ela claramente não sentia transparecendo na sua voz.
Ah, Olívia.
— Vai ficar tudo bem, Olívia. — Fábio murmurou, colocando um braço em torno dos ombros da amiga e a abraçando. — Tenho certeza.
Mas quando ergueu os olhos, Fábio deu um sorriso amarelo.
Na direção deles, mais rápido que um foguete, vinha Liam com sangue nos olhos.
Será que eu vou ficar bem no fim das contas?
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