Capítulo 10
POV do J.V.
O que é que ele estava pensando?
Respirando fundo, J.V. ergueu a folha de questões que ele estava tentando responder do chão e a trouxe para mais próximo do seu rosto, como se, por aproximar o papel, ele fosse finalmente conseguir se concentrar no que ele estava tentando fazer.
O que é que ele estava pensando?
Oito horas tinham passado desde que ele cantarolou uma música para Aspen no telefone rezando para que o seu pai não escutasse e, por algum motivo, J.V. ainda sentia o rosto queimando.
Não tinha coragem de olhar o telefone por medo de ver uma notificação de Aspen no WhatsApp, então estava aproveitando a companhia de Nath, que estava sentada no chão e encostada na porta do quarto, para estudar e não ter que treinar no fim de semana.
Mas de que adiantava? O dia em que ele realmente podia rever a matéria e adiantar o dever de casa, o único dia que realmente podia se dedicar para estudar, e ele só conseguia revisitar a conversa com Aspen do dia anterior e se xingar por ter cantado para ela no telefone.
Quem ele achava que era? Aspen tinha sido gentil e falou que ele tinha uma voz... relaxante, mas isso não é um pedido por uma serenata, ou seja lá o que ele tinha feito. Abaixando a cabeça, ele tentou mais uma vez se focar no enunciado do problema de física que ele estava tentando resolver.
Mas ela nem ao menos disse que a minha voz era bonita., pensou J.V. mordendo o lábio inferior. Por que raios fiz aquilo? Como é que eu vou encará-la na escola na segunda?
— Ok, ok. Isso já é demais. — Nath disse de súbito, e J.V. deu um pulo de susto. — O que raios aconteceu para você ficar com essa cara de besta?
— Cara... de besta?— J.V. questionou, franzindo o cenho. — Eu não tenho cara de besta, não senhora, dona Nath.
— Ah, tem sim. — apontando para J.V., Nath se inclinou na sua direção. — Eu estou aqui no seu quarto há quase meia hora. Nesse meio tempo, eu já fiz quase que toda a tarefa de biologia, e você tá encarando o mesmo problema de física por todo esse tempo. Eu até diria que te entendo, porque Deus sabe que física é o carma da minha vida e até eu às vezes tenho vontade de chorar quando preciso estudar, mas honestamente, essa cara aí eu nunca fiz para física não.
— Não, Nath, não tem nada de mais não, –— soltando um suspiro, J.V. passou a mão pelos cabelos.— foi mal. É que eu acho que foi meio imbecil ontem no telefone com a Aspen e eu tô morrendo de vergonha, é só isso.
— Ué, e qual é a novidade? Você é sempre meio imbecil. — Nath disse, rindo quando J.V. pegou o travesseiro que estava atrás dele em sua cama e o jogou em sua direção. — Tá, tá, desculpa. O que aconteceu?
Incapaz de encontrar os olhos de Nath, J.V. narrou todo o acontecido - desde o encontro dos dois no parque até as mensagens trocadas pelo telefone. Parecia que cada palavra que ele dizia apenas tornava a situação mais e mais real, e só aumentava o seu desejo de querer cavar um buraco, se esconder dentro dele, e nunca mais sair de casa.
— AHHHH! — Nath exclamou, explodindo em risinhos enquanto batia palmas. — mas que FOFINHO!
— É, eu sei, fui um idiota. — J.V. murmurou, escondendo o rosto atrás das suas mãos.
— Não, não, fofinho, você foi fo-fi-nho.— Ela pronunciou lentamente, dando tapinhas de leve no ombro de J.V. — Aw, meu, nem acredito que finalmente chegou a minha vez.
— Sua vez? — J.V. questionou, arregalando os olhos. — Sua vez de que, Nath? Isso não tem nada a ver com você...
Colocando a mão no peito como se tivesse sido mortalmente ferida, Nath encarou o amigo com falsa indignação.
— Como assim não tem nada a ver comigo? É claro que tem a ver comigo. — Um sorriso anormalmente largo apareceu no rosto de Nath. — Você se lembra do quanto me zoou quando eu descobri que estava apaixonada pela Angela?
— Ah, mas isso é porque você ficava fazendo aquela cara de peixe morto, era muito idio–, ele se interrompeu, ao notar a expressão irritada do rosto de Nath. — quero dizer, era muito engraçada.
— Pois é né? Ai, a vingança realmente tem um gosto delicioso. — Nath riu, esfregando as mãos. — A sua carinha de apaixonado também é bem idiota.
— Carinha de apaixonado?— J.V. arregalou os olhos. — Você tá louca? Não tô apaixonado pela Aspen não, eu só fiquei sem graça, só isso.
— Uhum, e ficou cantando música para ela dormir por quê? Por que 'tava entediado? — questionou, arqueando uma sobrancelha. — Ah, J.V., me poupe né?
— Eu cantei para ela por que... por que... — e ele não adoraria saber o que tinha dado nele para cantar para Aspen daquele jeito?— Ai, sei lá! Mas não foi porque eu gosto dela! Quero dizer, a gente mal se conhece!
— Uhum, e daí?— Nath questionou, dando de ombros. — Nunca ouviu falar de amor a primeira vista não?
— Já, mas não é nada disso. Quero dizer, eu acho a Aspen bonita, e ela claramente é muito inteligente... e eu admiro o fato dela correr atrás dos seus sonhos, e eu acho legal a forma como ela aceitou meu pedido de desculpas e eu achei fofo como ela fica vermelha quando fica com raiva... e eu fiquei um pouco feliz que ela gostou da minha música e que ela me ouviu quando eu contei a história da carta para ela... e eu acho legal que, quando ela te escuta, ela realmente se vira na sua direção e fica totalmente focada em você, sabe? E–
— E você não gosta dela nem um pouquinho né?— Nath interrompeu, o riso nítido nos seus olhos. — Tem certeza?
— Sim! Quero dizer,— J.V. tossiu um pouco para clarear a voz. — eu acho ela legal. Uma boa pessoa. Certamente uma boa amiga... então eu gosto dela. Só não gosto... gosto, sabe?
— Uhum. — Nath concordou, ainda rindo abertamente. — claro que não gosta.
—Nath!
Rindo ainda mais alto, Nath pegou o travesseiro que J.V. havia jogado nela e lançou de volta nele.
— Ai, J.V. o que é que eu vou fazer com você? — sacudindo a cabeça, Nath soltou um suspiro. — Você pode não estar loucamente apaixonado por ela, mas que tá interessadinho, isso o senhor está!
— Nath! — jogando o travesseiro de volta na amiga, o rapaz tentou desviar o olhar. — Não estou não!
— Não, é claro que não! — rindo, Nath meneou a cabeça. — É por isso que tá todo preocupadinho se ela gostou da serenata ou não...
— Não foi uma serenata!
— E tá todo desconcentrado, nem consegue fazer a tarefa de física... — a sua voz estava claramente risonha, Nath definitivamente estava gostando disso tudo.
— Consigo sim! — retorquiu, de súbito se voltando para a tarefa e se focando em responder às questões. Em menos de trinta minutos, J.V. havia concluído todas as vinte questões de física e esfregou o papel na frente de Nath. — Viu? Eu consigo!
Nath estava a ponto de responder quando o telefone de J.V. vibrou, anunciando a chegada de uma nova mensagem de texto. Encarando o celular como se fosse ligado a uma bomba e pudesse explodir a qualquer momento, J.V. hesitou em se aproximar para ler.
Foi apenas um segundo, mas, infelizmente para J.V., esse segundo foi mais do que o suficiente.
Pulando em direção ao celular, Nath o pegou, subiu na cama de J.V. e imediatamente abriu a nova mensagem.
— Bom dia, J.V. — ela leu, desviando quando J.V. tentou pegar o celular das suas mãos. — Desculpa não ter falado nada sobre o vídeo ontem. Hm, teve até vídeo heim, que safadinho!
— Natália, me devolve esse celular agora ou eu juro por Deus! — subindo na cama atrás de Nath, ele quase conseguiu pegá-lo, mas Nath pulou para fora e correu até a porta do quarto.
— Gostei muito da sua voz, mas acabei dormindo no final das contas. Acho que o seu plano funcionou muito bem, então obrigada, ai, que decepcionante, J.V. A menina dormiu?
— Natália Simas, me devolve essa porcaria de celular agora!
— Espero que o seu dia seja bom, até semana que vem. — Nath concluiu, desviando mais uma vez de J.V., antes de dar um sorriso diabólico na sua direção —Hm, que tal a gente responder para tornar essa conversa mais interessante?
— Natália, eu juro por Deus...–
— Nossa, tá bom, tá bom, seu chato! Aqui, seu telefone. — estendendo o telefone de volta para ele, Nath revirou os olhos. — Você nem deixa eu brincar.
— Ai, graças aos céus. Achei por um momento que você ia me matar de vergonha. — J.V. soltou um suspiro de alívio, abraçando o telefone por um momento antes de decidir responder à mensagem.
— Você quer dizer que eu não te matei de vergonha? Putz, eu tô falhando na minha missão de melhor amiga. — Nath sacudiu a cabeça, voltando a se sentar no chão do quarto de J.V. — que decepcionante...
— Fique tranquila, Nath. Você cumpriu o seu papel de melhor amiga muito bem, eu é que já estava esperando o pior mesmo.
— Uhum, isso por que você nem gosta dessa garota. — Nath sorriu arrogantemente, como se tivesse acabado de provar o seu ponto. — Quero dizer, você nunca se incomodou de eu responder os seus amigos antes.
— Porque você nunca tentou me fazer morrer de vergonha antes.
— Ah, deixa de ser exagerado, viu? Nem ia ser tão ruim assim. — rindo, Nath bagunçou o cabelo do amigo. — Às vezes, eu até desenrolava um encontro para você.
— Vou ter que recusar a ajuda, Nath, obrigado. — retorquiu mal-humorado, torcendo para que Nath não notasse como o seu rosto subitamente ficou quente. — Se eu quiser um encontro, pode deixar que eu mesmo me viro.
— Oookay, vou confiar em você garanhão, — zombou Nath, levando mais uma travesseirada na cara. — Mas então. Vamos acabar logo com a lição?
— Claro, eu só... — começou, tossindo um pouco para que a sua voz ficasse mais alta. — só vou responder aqui.— concluiu, arrancando uma bela gargalhada de Nath.
Bom dia, Aspen. Fico feliz que o vídeo tenha ajudado, se precisar de mais é só falar! Hahaha
— Muito idiota, — murmurou, apagando imediatamente a mensagem.
Bom dia, Aspen. Que bom que gostou do vídeo. Se precisar dormir então, é só avisar.
— Argh, o que é que eu to pensando? Hm..
Bom dia, Aspen. Como está sendo o seu fim de semana? Fico feliz que tenha gostado do vídeo.
— Formal demais...
— Ah, pelo amor de Deus, J.V. — Nath se levantou, pegou o celular da mão de J.V. e, sob protestos do melhor amigo, digitou:
Oi Aspen. Que bom que gostou do vídeo, conto com o seu apoio para o show de talentos! Até segunda.
— Pronto, agora podemos, por favor, focar no dever de casa.
— Desde quando a senhora é tão estudiosa, heim, dona Nath?
Nath revirou os olhos e jogou o travesseiro de volta em J.V.
— Não sou, é exatamente por isso que eu precisava que você terminasse o dever de física. — disse, pedindo a folha respondida para J.V. — Eu quero copiar.
— Nath!
*
Algumas horas mais tarde, J.V. observava enquanto Nath enviava o link do seu vídeo para os avaliadores responsáveis pela pré-seleção de todos os que participariam do show de talentos.
— Bom, tá pronto.
J.V. soltou um suspiro e assentiu, olhando para sua cara na tela do computador.
— Você não acha que eu tô parecendo meio idiota?
— Bem, eu sou uma editora de vídeos iniciante, não uma cirurgiã plástica.— Nath disse, dando de ombros. — Fiz o melhor que pude... e, bem, voz você tem.
— Você acha que eles vão me aceitar?
— Se não tiverem mau gosto, é claro! — dando um sorriso, Nath se virou na cadeira e bagunçou os cabelos do amigo. — Vai dar tudo certo, J.V..
— E o meu pai não vai ver?
— Bem, considerando que as chances do seu pai procurar especificamente por "João Vítor Aerosmith" são bem baixas e que, se ele fizer, devem ter pelo menos outros cinco J.V.s mais famosos que você, eu acho difícil. — ela soltou um suspiro. — A gente pode se preocupar com isso mais tarde... por enquanto a gente devia focar em escolher algumas músicas para você praticar para quando for se apresentar.
— É, eu pedi para a Aspen me enviar algumas que ela gosta, e--
— Ah, a Aspen né? — Nath disse, rindo, e movendo as sobrancelhas sugestivamente.
— Ah, pelo amor de Deus, Nath! Eu pedi para você e a minha mãe fazerem a mesma coisa!
— Uhum, sei... — Nath disse, se levantando da cadeira e se espreguiçando. — É, parece que eu vou ter que perguntar para a senhorita Aspen quais são as intenções dela com o meu J.Vezinho querido.
— Nath...
— Que foi? — Questionou Nath, fazendo uma expressão de pura inocência. — Que cara é essa?
— Natália...
— Que foi?
— Só não me faça passar vergonha, tá? Por favor? Eu preciso continuar me encontrando com ela para passar em literatura...
— Que? Mas eu nunca te faria passar vergonha, meu amigo! — Nath disse, se fingindo de ofendida diante do olhar cético de J.V. — Até porque você já passa o suficiente sozinho.
— Nath!
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