O inicio de algo
O dia nasceu tranquilamente, ainda chovia, mas com menos intensidade que no dia anterior. Taehyung sentou-se no sofá desconfortável, onde havia passado a noite, espreguiçou-se sentindo sua coluna levemente travada e dolorida. É um novo dia e já estava cansado só de imaginar o que faria e ainda tinha o jovem tritão, que estava dormindo no único quarto da casa.
Preferiu deixá-lo o mais confortável possível, já que o mais novo havia passado por muitas coisas no dia anterior e precisava de um tempo para pensar em todos os acontecimentos e o que iria fazer dali em diante, ainda tinha que descobrir muitas coisas sobre ele mesmo e a vida.
Se sentia como um peixe fora d'água, mas sabia que o Kim iria lhe ajudar como pudesse, além de lhe ensinar tudo o que precisava saber sobre como viver em terra firme.
Taehyung alongou bem o seu corpo e andou até o banheiro, onde fez questão de se limpar muito bem. Na noite passada, estava tão cansado que ao apoiar a cabeça contra a almofada, o mundo dos sonhos simplesmente lhe nocauteou. Nunca havia dormido tão bem e tão mal ao mesmo tempo.
Se secou bem, mas tinha esquecido de pegar roupas limpas que pudesse usar, então acabou por sair do banheiro apenas de toalha. Não via problemas nisso, afinal, era apenas o seu corpo e Jeongguk ficava geralmente com boa parte do corpo exposta também quando estava em sua forma de tritão, que por sinal, Taehyung achava muito belo, sentia ser quase mágico quando a cauda se transformava em duas pernas.
Saiu do cômodo consideravelmente grande e andou até o único quarto, onde Jeongguk estava descansando, por isso foi tentando fazer o mínimo de barulho possível. Segurou firmemente o tecido em volta de seu quadril antes de entrar no quarto, com passos delicados foi até um dos baús que estavam encostados na parede, o abriu e pegou as primeiras roupas que viu.
Caminhou cuidadosamente para sair do quarto e deixar o mais novo descansando tranquilamente, mas antes que pudesse sair do quarto, o Jeon acabou acordando, entrando em um estado entre estar acordado e dormindo, por isso a confusão em sua mente.
— Mamma? — murmurou com a voz levemente fanhosa, sentou-se atordoado na cama e colocou uma mão na cabeça dolorida. — Sjung för mig igen.
Taehyung não entendeu o que Jeongguk murmurou, por isso se aproximou da cama, principalmente quando notou a agitação do mais novo e o choro baixo, que havia se iniciado logo quando o Jeon despertou completamente.
Com os olhos azulados e algumas mechas azuis em meio a cabeleira negra, Jeon se aconchegou contra o corpo desnudo do mais velho, que havia o abraçado em uma tentativa de acalmá-lo, ignorando completamente o fato de estar sem roupas. Continuaram juntos por um tempo, até que o choro de Jeongguk se transformou em fungadas constantes e em suspiros baixos, ele apertou o corpo do mais velho levemente, ação essa que incomodou Taehyung, por se sentir vulnerável pela falta de vestimentas.
— Jeongguk, você pode me soltar? Preciso ir me vestir... — Taehyung se remexeu sobre a cama, tentando se soltar do mais novo delicadamente, sentiu o tecido de sua toalha subir muito quando Jeon mexeu suas pernas de forma desordenada, já que ainda não sabia como as controlar, rapidamente agarrou o tecido e ao máximo tentou usá-la para se tampar. — Por favor, estou só de toalha aqui. Prometo voltar aqui para ficar com você quando eu estiver completamente vestido. Que situação constrangedora...
Suas palavras só foram combustíveis para Jeongguk lhe prender mais a si, como uma criança carente buscando carinho dos pais, mas o Jeon não podia mais ir atrás de seus progenitores, então tentaria buscar um pouco de carinho com o Kim.
Fazia pouco tempo que havia deixado a adolescência para trás, uma época de rebeldia, não que tenha mudado muita coisa desde seu aniversário de dezoito anos, afinal, tinha apenas envelhecido mais um pouquinho, lembrava-se de como tratava seus pais quando estava em seus piores dias, era tão grosseiro e era tão insensível, dias atrás havia tido uma atitude deste tipo. Se arrependia tanto... Se soubesse que seus pais seriam tirados de si tão cedo, com certeza teria sido um filho melhor.
Não estavam mortos, mas sinceramente, preferia que estivessem, porque saber onde estão e não poder ir até eles lhe doía tanto.
— Por que é constrangedor? Imagino que tudo o que você tem, eu também tenho, apesar de ser a minha primeira vez com pernas e o negócio entre elas. — Riu, finalmente soltando o mais velho de seu aperto, este que soltou o ar de seus pulmões que nem havia percebido segurar. — Pode ir, mas depois vai ter que voltar para me ajudar a ir até o banheiro, eu não consigo nem sentir as minhas pernas.
Taehyung se segurou para não rir, mas ao ver a careta dolorida do Jeon junto aos olhos avermelhados e inchados, mas sua gargalhada logo se espalhou pelo cômodo, riu tanto que quase chegou a cair da cama.
Balançou a cabeça, concordando que voltaria para ajudá-lo. Levantou-se da cama agarrando fortemente o tecido da toalha que usava, esta que deslizava lentamente em direção ao chão, mas ainda tapava a parte importante para não o deixar ainda mais constrangido.
Voltou ao banheiro e se vestiu rapidamente, não queria demorar ao ponto do mais novo urinar na cama velha, ele já era velho o suficiente para fazer isso. Voltou para o quarto, encontrando Jeongguk já sentado sobre a cama enquanto massageava as próprias coxas, tentando fazer com que a circulação voltasse ao normal e suas pernas parassem de formigarem.
— É melhor fazer isso em pé, a circulação volta ao normal mais rápido — disse, andando calmamente até estar ao lado do Jeon.
— Certo... — Levantou os braços em direção do mais velho, para que ele lhe ajudasse a ficar em pé, igual a uma criança quando quer colo. — Meu corpo só não está acostumado com essa forma e eu mal consigo movê-las direito.
Taehyung suspirou, de certa forma, sentia pena do Jeon, mas também sentia muito orgulho. Era incrível ver uma pessoa mais nova que si, se esforçar tanto para se adequar às mudanças que ocorreram tão repentinamente em sua vida, mesmo que tenha desabado após acordar, ele era muito forte. Chorar não significa fraqueza, significa que você está no limite, mas seu espírito ainda quer lutar de alguma forma, então o choro é uma forma de eliminar tudo o que sentimos para continuarmos lutando dia após dia.
Jeon Jungkook se tornou a pessoa mais forte que conhecia em apenas um dia, estava ansioso para descobrir mais o que o mais novo lhe mostraria futuramente.
Segurou seus braços o impulsionou para que ficasse de pé, o ajudou a balançar as pernas até que a sensação passasse e em seguida o ajudou a caminhar até o banheiro. Jeongguk estava concentrado em cada ação que fazia com as pernas, para que aprendesse mais rápido a utilizá-las e assim pudesse rapidamente andar sem precisar de ajuda do Kim. Não queria atrapalhar sua rotina, já que ele ainda tinha uma tribo, uma família que ainda esperava por ele.
— Taehyung, pode esperar na sala, não precisa ficar na porta, acho que entendi como controlá-las — falou quando pararam na porta do banheiro. Com esforço, deu leves chutes, que mais pareceram uma dança estranha. — Não se preocupe, vou ser rápido.
Entrou cambaleando no banheiro, fechando a porta rapidamente em seguida, sem deixar com que o Kim lhe respondesse algo, mas pôde ouvir um resmungo alto.
Como o pedido, Taehyung foi até a sala, onde se sentou no sofá e passou a mexer em algumas coisas jogadas sobre a mesa de centro. Se lembrou de quando esteve na casa pela primeira vez, ainda estava do mesmo jeito, apesar de vez em quando fazer uma limpeza para tirar o excesso de pó nas coisas, mas tudo continuava organizado da mesma maneira de quando seus pais deixaram a cada e ainda lhe dava a impressão de que saíram às pressas do local. Quando entrou na capa aos quinze anos, ainda pôde encontrar uma caneca usada largada sobre a pia, a jogou fora por estar cheia de coisas estranhas crescendo dentro.
Às vezes pensava em teorias de como seus pais morreram e como eram, não é como se duvidasse da versão de seu líder, mas gostava de criar histórias com eles, lhe dava uma estranha sensação de conhecê-los.
Sua atenção logo foi voltada para um certo acastanhado de mechas azuis, que caminhava agarrado às paredes.
— Notei que há um tipo de ofurô no banheiro — disse, Jeongguk, ao voltar do banheiro.
Andava e girava na sala de forma desengonçada, sendo observado pelo Kim.
Taehyung sabia que em algum momento Jeon falaria sobre isso, afinal, é praticamente um minúsculo lago, só que dentro de casa, onde ele poderia se aproveitar da presença da água, esta que é tão importante para o tritão.
— Há sim, nunca usei. Como já sabe, tenho certos problemas com a água — disse folheando um livro qualquer, que havia encontrado na prateleira perto dos dois quartos presentes na casa. Viu Jeongguk tropeçar nos próprios pés em um giro mal-sucedido, Taehyung rapidamente levantou-se do sofá rapidamente e o amparou segurando seus braços cuidadosamente. — Tome cuidado. Ainda precisa treinar mais as suas pernas, caminhe perto das paredes para ter onde se apoiar, como fez para vir até aqui.
— Certo, obrigado... — Arrumou sua postura e sorriu. Ainda notava que o mais velho era um pouco indiferente consigo, como se vivesse em um casulo, gostaria e tentaria ao máximo quebrar aquela armadura envolta de si, para que pudesse conhecer o verdadeiro Kim Taehyung, mas imaginava que nem Taehyung soubesse quem era verdadeiramente. Lembrou da gargalhada que ouviu no quarto, foi um momento de descontração muito gostoso em sua opinião. — Queria saber se posso usar de vez em quando... Andar até o lago aqui próximo em dias como esse é perigoso.
Jeon notou, por estar próximo do Kim, o colar que usava. O pingente parecia ser uma pena de suas asas, era muito bonito e lhe encantou de primeira. Aproximou sua mão para tocar, mas foi rapidamente impedido pela mão grande de Taehyung, rapidamente entendeu que aquele colar não era algo simples, assim como o colar que usava.
— É o seu totem de identificação, né? — O viu concordar, se afastando de si logo em seguida. — É muito bonito, combina com você e com suas asas. O meu só lembra a água e agora nem faz mais sentido eu continuar usando, afinal, não faço mais parte desse cardume.
O Kim lhe encarou com mais cautela e se aproximou lentamente, segurou seus ombros, em uma forma de carícia.
— Mas continua sendo um tritão, um dominador de água e um mentor. Um ex tritão do cardume Cristais d'água, continua sendo um filho, um jovem de dezoito anos, continua sendo Jeon Jungkook. Você continua sendo você, apesar das circunstâncias. — Sentiu os ombros do mais novo tremerem e assim notou que na verdade seu corpo todo tremia. — Está tudo bem?
Jeongguk concordou rapidamente e empurrou o Kim, logo se jogando contra o estofado do sofá, seus músculos dos membros inferiores ardiam. Mal tinha se exercitado e já estava com exaustão muscular. Suspirou aliviado quando sentiu as mãos grandes acariciarem suas panturrilhas.
— Sabe que temos que fazer muito hoje, né? Planejei muitas coisas e quero voltar para a minha vila sabendo que você conseguirá se virar sozinho. — Apertou mais firmemente um ponto em específico, o que causou um baixo arfar do Jeon, que acenou em concordância, ignorando um pouco da decepção que sentia ao saber que o Kim iria lhe deixar.
Não poderia cobrar Taehyung de algo, ele já estava fazendo muito por si. Ele lhe está dando um abrigo, comida, formas de poder se transformar e muito apoio. Julgava ser muito mais do que merecia, estava extremamente grato por Kim Taehyung existir.
--💜--
1. Mamma --> Mãe;
2. Sjung för mig igen --> Cante para mim novamente.
Até a próxima!
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