|07| paraíso
N/a: cenas de relações sexuais no início do capítulo e diálogo vulgar ao longo dele.
Eu vou te mostrar o paraíso
Vou deixar você sentir o paraíso
Rindo sem motivo
Você está chorando sem motivo?
O que você está olhando?
Algo está nos incomodando?
Conte-me sobre sua dor
Não existe pessoa sem sentimentos
Conte-me, eu posso entender
E sentir você
— Heaven, Taemin
●●●
As mãos de Yunho subiram novamente pelo corpo de Wooyoung arrancando arfares altos e sofridos do garoto de cabelos roxos, este que ainda rebolava em Jeong, trazendo-o cada vez mais ao limite de ambos. Yunho sentia as unhas de seu amigo perfurarem sua pele em alívio e o interior quente dele apertar seu pau pulsante enquanto gemiam quase que no mesmo ritmo, tomados pelo momento, como em uma música conhecida somente por eles. Não parariam até que não tivessem mais forças. Eram quentes e imortais amantes.
Jung teve seus cabelos puxados para trás com certa força quando sentiu ser tocado em seu ponto sensível. Yunho era incansável. Amava ter o corpo de Wooyoung em suas mãos, contra seu corpo, mordendo, arranhando, tocando, buscando e chamando por si. E Jung fazia questão de o chamar bem alto, o suficiente para que, ao final do ato, estivesse parcialmente rouco. Como estava ficando agora.
— H-hyung... — Wooyoung gemeu. Yunho sentiu seus cabelos sendo puxados e sua pele se arrepiando.
Jeong sentia estarem próximos, sentia Wooyoung tremer sob suas mãos e seus sons cada vez mais audíveis dentro daquelas paredes frias decoradas com discos de pop. Decidiu então guiá-lo até que as costas do garoto se encontrassem com o macio da cama e eles pudessem aproveitar melhor do momento em uma posição mais confortável. Conhecia os limites de energia de Woo, cada tremor característico, cada arrepio, cada área erógena, cada suspiro. Prendeu as mãos do garoto sob a cabeça, tornando o contato entre eles ainda mais quente, o mais próximo que podiam estar, maltratando a pele de seu pescoço enquanto iam fundo. Yunho gostava de ter o controle nessas situações, e Wooyoung se sentia nas nuvens quando dominado por seu hyung. Encaixavam-se bem. Muito bem.
Dada a uma boa preparação e agora a sensibilidade dos dois, não foi necessário muito mais tempo para que, com movimentos rápidos e precisos, os dois se conectassem o suficiente para que se desfizessem em longos e altos gemidos, indicando que haviam chegado em mais um limite. Sim, mais uma vez. A primeira, na cama; a segunda, no chuveiro, quando prometeram que iriam parar. Mas houve esta terceira, quando voltaram para os lençóis recém-trocados, bagunçando tudo novamente.
Ambos caíram na cama, exaustos, mas satisfeitos. Wooyoung deitado sob o peito de um Yunho suado e ofegante, como gostava e também estava. O cheiro mesclado de seus perfumes acalmando os nervos de seus corpos, um pequeno momento de silêncio e troca afetuosa. Yunho buscou pelos lábios de Jung tornando-os somente um, sentindo e apreciando a avidez da língua de Wooyoung, sempre afoita, sempre buscando por mais. Era uma mistura selvagem e perigosa com um doce toque de sutileza.
Wooyoung buscou pelo corpo de Yunho. Ainda estava sensível, muito, muito sensível. Jeong fez questão de tocá-lo novamente, até que este se contorcesse em um longo arfar e tudo se resumisse a um sereno respirar calmo novamente. Jung se encolheu na cama, cansado e satisfeito.
— Yun...
— Hum... — O mais velho ronronou, trazendo Wooyoung para mais perto de si. — Hum. Cansado?
— O que acha, cacete? — Wooyoung cutucou Yunho, sendo cada vez mais apertado no abraço dele. — Yunnie!
Yunho sorriu contra sua pele descoberta.
— Acho que devia lavar essa boca.
— Nhe nhe. Pensasse duas vezes antes de gozar nela.
— Você quem pediu — o azulado retrucou.
— Meros detalhes — Jung deu de ombros, afundando o rosto na curvatura do pescoço de Jeong. — Anda, mortal, temos que tomar banho de novo. E estou com fome.
— Levanta, então.
Yunho se desprendeu do abraço e observou a falha tentativa do amigo em lhe provar o contrário do que já sabia. Wooyoung mal conseguiu se erguer na cama tamanho cansaço. Não conseguiria. Desistiu.
— Yunnie... Me leva? — Jung pediu da forma mais convincente e doce que conseguia, completamente oposto ao que havia demonstrado segundos antes.
Yunho riu daquela atitude, mas sendo o mais forte e disposto entre eles, pegou Wooyoung no colo e levou-o novamente para o banheiro para se limparem. Jung se aninhou ao corpo grande, costumava ser bem carente após o sexo entre eles e Jeong gostava de cuidar do amigo, de mimá-lo como podia. Independente de que tipo de relação possuíam, sempre mantinham o cuidado e sinceridade um com o outro. Era algo pelo qual prezava.
Há quase dois anos Wooyoung e Yunho haviam estabelecido aquela amizade colorida. O típico clichê "do terceirão para a vida" que havia dado muito certo. Eram colegas de turma, que se tornaram amigos de encrenca, e então, parceiros sexuais. Tiveram suas primeiras vezes um com o outro, aprenderam juntos. Nenhum dos dois saberia dizer quando exatamente o sentimento de atração havia surgido entre eles, mas de qualquer forma, não era um detalhe importante. Apenas que o que sentiam um pelo outro era mútuo e recíproco. Era bom. Era confortável. Mesmo que não tivessem o hábito de falarem muito sobre a desordem de suas vidas pessoais, Jeong estava lá para apoiá-lo quando Wooyoung se assumiu homossexual para a família. Mesmo não tendo o hábito de se meterem nos problemas um do outro, Jung estava lá para apoiá-lo quando Yunho saiu surrado por uma gangue ao qual havia desafiado sem medir consequências. Mesmo que parecesse uma relação fria de interesses e suporte, estavam lá um para o outro. Estavam um pelo outro. E isso era mais do que poderiam pedir ou do que achavam que mereciam. O sexo fluido era somente um brinde do qual usufruíam quando desejavam. E costumavam sempre desejar.
— Lembra do Hanson? — Yunho balançou a cabeça enquanto se enrolava na toalha. Wooyoung prosseguiu — o babaca do segundo, cabelo no ombro, que andava com o Hyuk e o Juyeon.
Um estalar soou na mente de Jeong quando a figura do garoto citado se formou.
— Ah, aquele que eu quebrei o nariz. O que ele fez?
— Me mandou mensagem.
Yunho encarou o mais novo, desacreditado.
— Mentira.
— Verdade, e parece que o hétero top não é assim tão hétero, meu caro — Jung disse. — Ele tá super mansinho pro meu lado achando que vai conseguir alguma coisa.
— Quem diria... Logo o Park. E o que pensa em fazer? — Mal a pergunta saiu dos lábios de Jeong e Wooyoung sorriu de canto, saindo do recinto sendo acompanhado por Yunho. Este ainda se encontrava em dúvidas. — Woo... Conheço essa cara. Cara de quem vai aprontar.
Wooyoung sorriu de verdade, os olhos estreitos faiscavam. Andou até o guarda-roupa e tirou dele uma camisa e uma box. Yunho preferiu vestir novamente suas roupas, mas tinha passe livre para escolher as peças que quisesse do amigo e quando quisesse; Jung não ligava.
— Acho que vou brincar um pouco.
— Wooyoung... — Yunho alertou.
— O quê? Nada como uma vingancinha pra movimentar nossas vidas, não acha, hyung?
— Acho melhor você se concentrar no cursinho ou adeus Wooyoung gamer hacker programador e mecânico de computador pra consertar meu PC de graça — brincou. Wooyoung riu. — Inclusive, por que não foi hoje?
— Eu fui, mas liberaram mais cedo. Aí fiquei sem nada pra fazer e te chamei.
— Ah, sim. E então nós fodemos até você não aguentar mais — comentou, trazendo mais risadas altas ao amigo. — Mas é isso aí, muito estudioso mesmo, esse menino.
— Nhe. Mas volta pro foco — Wooyoung se sentou na cama. — Quero atingir ele de alguma forma, podia ser com o Hyuk, mas ele é legalzinho e não merece. Vou procurar a lista de amigos próximos pra ver quem melhor se enquadra. Talvez o Sungki. Acha que o Sungki seria uma boa?
— Se me lembro bem, Sung já ficou com uma ex do Hanson, seria divertido pra ele ver o amigo cometendo o mesmo erro. E sentindo vontade. E quebrando o Sungki na porrada, nunca gostei dele mesmo — Yunho pegou uma das loções de Wooyoung na cômoda. Quer dizer, uma das loções que não estivesse caída por terem esbarrado no móvel com força enquanto transavam.
— Adoraria ver a cena.
Yunho então lembrou-se de algo.
— Hum, tem o Seonghwa também.
— Quem?
— Irmão do Hanson, pelo que sei. Mas não conheço ele direito, o cara é meio fechado. Só vi ele uma vez.
— Hm. O amigo e o irmão, então? — Jung ponderou. Yunho negou.
— Você não tem limites...
— Não mesmo. Mas eu nem sabia que Hanson tinha irmãos.
— Pois é, eu também não. Ouvi por aí, mas nem sei — Jeong terminou o que fazia e se sentou junto a Wooyoung, que encarava um canto qualquer do quarto, pensativo. O cutucou. — Woo?
— O quê?
— Nada. Você ficou em um silêncio...
— Ah. Estou pensando se a foda com os dois vale a pena pra minha vingança — explicou. — Eu só tenho uma bunda, sabe?
— Sei muito bem. Bem demais — Yunho riu. — E como eu sei. Já falei o quanto eu sei-
— Cala a boca! — Wooyoung se levantou, jogando um de seus travesseiros em Yunho, protestando contra sua audácia. O azulado somente se deixou ser agredido de forma tão fofa, rindo de como Jung ficava quando se sentia envergonhado.
Yunho seguiu o amigo pela casa. Não era tão grande ou organizada quanto a de Yeosang e Hongjoong onde ficava, mas era exatamente a alma de Wooyoung expressa ali. Há certo tempo Jung havia alugado aquele lugar, depois de decidir não morar mais com seus pais por tudo o que infelizmente precisava ouvir deles: provocações, injúrias, mentiras e mais mentiras. Era melhor. Apesar de todas as dificuldades, ele se mantinha bem. Trabalhava como barman em uma casa noturna da cidade, as vezes como tradutor de jogos online para renda extra e quando tinha vontade, se aventurava como player profissional e conseguia algum dinheiro com as lives que fazia; quando precisava, Yunho fazia questão de lhe dar suporte. Era um dos destinos da quantia que Moongyu era obrigado a depositar para si e o Jeong mais novo definitivamente não ligava. Odiava a seu pai, sim, mas era hipócrita o suficiente para continuar com aquilo, continuar sendo pago – e até muito bem – para manter sua imagem, seu silêncio e um status superior quando solicitado. Yunho era como um cão domado, ao qual agia por trás escondendo seus ossos no fundo de um quintal bem cuidado e se deitava inocente assim que os donos chamassem por seu nome.
E ele odiava isso.
— Oh, falando nele — seus pensamentos se dissiparam ao ouvir o amigo falando consigo. E Yunho nem mesmo percebera isso — ai, ai.
— Hum?
— Mensagem do Hanson.
— Você responde isso depois, estou com fome — Jeong reclamou. — Vai pedir hambúrguer? Vontade de comer hambúrguer. Com muito, muito molho — disse, a saliva se enchendo em sua boca ao imaginar um enorme hambúrguer de carne com queijo e molho. — Saudade de um bom molho.
— Pensei em um almoço mesmo, sabe? Proteínas, carboidratos e vitaminas, saladinha, macarrão e carne, não sei se você conhece — Yunho revirou os olhos e se jogou no sofá. Wooyoung prosseguiu: — tem um lugar que entrega, e é barato. E gostoso. Comi na casa de uns amigos há uns dias e eles me deram o número, vou pedir de lá e você me diz. Se não gostar eu te compro batata frita.
— Tá. E com molho.
— Sem molho, Yunho.
— Por quê?
— Não gosto de comidas muito molhadas.
— Hum.
Yunho ficou encarando o teto sem dizer mais nada. Wooyoung então se aproximou dele. Havia algo de errado. Decerto por seu silêncio concentrado em um único ponto sem relevância, a forma como suas mãos não paravam quietas, o fato de não ter sequer tentado envergonhar o Jung usando palavras baixas como sempre fazia em qualquer situação, e aquela dava uma ótima piada sobre "coisas molhadas que Wooyoung com certeza gostava".
Havia algo de errado.
— Hum, hyung, tem algo te incomodando — Wooyoung comentou o silêncio absoluto de seu amigo. Yunho franziu as sobrancelhas, incitando confusão. Era tão... Óbvio? — Não adianta fazer essa cara, eu sei que tem. Você sabe que pode me contar, não é?
Yunho virou o rosto. Talvez estivesse mais óbvio do que conseguia esconder ou ele era realmente péssimo em esconder, ou Wooyoung o conhecia tão bem a ponto de enxergar por detrás de cada ato. Não duvidava.
— Eu sei. Mas também não sei o que é, é confuso.
Jung se sentou no braço do sofá, lado oposto aonde Yunho repousava sua mente conflitante.
— Você é confuso, Yun — disse.
— Não está ajudando.
— Não disse que ajudaria — Wooyoung deixou dois tapinhas em suas pernas. — Mas isso pode ser bom, use ao seu favor.
— E eu ser uma pessoa confusa me ajuda em que? — Perguntou, captando rapidamente o olhar do amigo em si. — Já não era legal antes, agora parece estar pior. Eu... Estou obcecado, eu acho.
— Alguém em específico?
— Sim.
— Por acaso o amigo que te fez o milagre de acordar cedo e ir à Hanyang? — Wooyoung levantou a dúvida.
— Certeiro, meu chapa.
— Hum — concordou, — você tá ferrado.
— Sim. E o pior é que nem nos conhecemos direito, mas ele me atrai de uma forma que... Eu não sei. Ele é todo difícil. Sabe aquela aura misteriosa de mafioso gostoso que fala pouco mas fala pra pegar lá no fundo da sua alma? Nossa, Woo, você não sabe o poder daquela voz, toda vez que ele fala eu só tenho vontade de pedir de joelhos pra ele me socar com a boca. De verdade.
— Ele sabe disso?
— Sabe... Sabe até demais — suspirou. Ainda era bem recente em sua mente como tudo havia acontecido, por mais que na última vez que esteve naquele bar suas memórias se entrelaçassem de tal forma a não serem nítidas. Mas sabia que havia feito algo, algo que talvez tenha impactado Mingi de alguma forma – positiva ou negativa é que não saberia dizer, apesar de que, se tratando de Jeong, provavelmente era a segunda opção. — Mas se ele não me afastou ainda, é por que também deve querer, não é? Ou está com pena? — Yunho de verdade não queria a resposta para essa pergunta. — Espero que não esteja, porque vou me esforçar muito pra beijar aquela boca.
— Confia no seu potencial, parceiro, duvido que ele resista por muito tempo a esse seu charme — Wooyoung saiu do sofá em direção à cozinha, que era separada daquele cômodo somente por uma bancada. No caminho, indagou: — Já experimentou miar pra ele, gatão?
Yunho se segurou para não rir com aquela sugestão.
— Essa ideia é tão absurda que eu estou considerando.
Wooyoung negou.
— Você precisa parar de me ouvir.
— Mas assim não tem graça, Woo.
— Não é pra ter graça, é pra você não passar vergonha — apontou.
— Logo o que mais faço da vida.
— Ai, olha, eu vou ligar pro restaurante que eu ganho mais viu — Jung massacrou as têmporas em uma massagem rápida. Ao menos, era seu Yunho ali. — Vamos ver se passa a vontade de socar sua cara.
— Também te amo, Wooy.
Yunho então observou Wooyoung ligar para o tal lugar enquanto se mantinha no sofá, ainda refletindo aquelas palavras e também suas ações. Não havia parado para pensar no que exatamente poderia ter dito aquele dia, no que teria realmente levado Mingi a querer notícias suas sendo que eram praticamente desconhecidos. Temia ter dito demais. Feito demais. Sentido demais. Não que Yunho vivesse controlando cada rajar que sua mente emitia a seu corpo, contudo algumas coisas deveriam permanecer somente em seu interior – não queria ferir ninguém além de si mesmo. E além de tudo... Havia o que não deveria ser dito, nunca. Toda aquela carga, todos os gritos e o desespero de ver quem mais amava se desfazer em sua frente, de quem mais deveria o amar sendo o causador de sua maior dor. Moongyu nunca teria perdão, independente do plano que estivesse. Dongpyo havia morrido, por um motivo que ninguém sabia, como um indigente. Moongyu era perigoso demais para que Yunho o confrontasse, Chaewon não demonstrava qualquer medo ou angústia de viver ao lado daquele abutre, Yeosang e Hongjoong eram silenciados pelo horror e Wooyoung era um anônimo ao qual Yunho havia conseguido esconder essa sua parte podre. E não era como se seus pais verdadeiramente se interessassem por com quem ele andava ou conversava, somente em ter uma boa aparência e não colocar o nome dos Jeong em qualquer beco imundo. E principalmente, se manter nas cortinas. Yunho não tinha qualquer opção se pretendia manter vivo a quem amava.
De toda forma, não havia como voltar atrás e desdizer o que poderia ter dito. Mingi e ele teriam que lidar com isso se iriam conviver – pois sim, Yunho estava motivado a se aproximar do violinista, motivado a entender o porquê de se sentir tão... Diferente perto dele. Motivado a decifrar o que lhe prendia naquele olhar. Chegava a ser até obsessivo, era como ser puxado por um fio invisível e inquebrável, como ser arrastado pelo destino para que o tocasse devidamente, como desejava, como queria, como idealizava. Yunho não entendia, mas sabia não ser coincidência. Mingi havia salvado sua vida naquela droga de noite, ao qual havia acabado de sair daquela maldita casa onde ouviu malditas coisas e se sentiu maldito por infelizmente fazer parte daquela enfadonha relação de poder onde era somente um vassalo ameaçado por uma mente asquerosa. Yunho estava decidido, e aquele violinista, em sua maneira de criar o som, de dar vida a melodia, de sentir a música, de viver o momento, havia mudado isso. Jeong, pela primeira vez, havia se sentido realmente vivo. Havia se levantado e dançado, esquecendo todas aquelas recentes memórias que perturbavam seu coração, esquecendo todo e qualquer plano que possuía para tornar sua vida colorida o suficiente para perder a consciência – e com sorte, não mais acordar. Mas Mingi havia mudado isso. Havia dançado com ele, mesmo com uma vida tão miserável ao lado daqueles velhos bêbados jogados em um chão pútrido e acolhidos por um teto mofado. Mingi havia compartilhado com ele, ainda sem o conhecer, uma dor que não se lembrava de ter compartilhado com alguém de forma tão livre. Dançar... Como se não tivesse amanhã. Sentir a música. Pisar sem medo de cair. Fora como um transe, Jeong percebeu, muito mais intenso do que imaginava sentir. Mais intenso do que havia experimentado de outras formas, alternativas erradas escolhidas pelos motivos também errados.
Yunho queria Mingi. O conhecer, o tocar, o entender. Ser entendido, da forma que podia e se deixava entender. O queria perto, mesmo que soubesse que... Poderia estar colocando também a ele dentro dessa sua maldição. Era egoísta. Mas esperava que, como fez Wooyoung, conseguisse manter tudo a salvo. Mingi não precisava mergulhar naquele abismo.
Wooyoung voltou e ligou a televisão, se acomodando por cima de Yunho, entre suas pernas, entre seus braços. O beijou docemente nos lábios, esvaindo sua tensão em sua calma. E ficaram assim, imersos, era um silêncio afetivo ao qual estavam acostumados. Havia um universo inteiro dentro de suas cabeças, se expandindo, martelando, explodindo o tempo todo. Eram como caos, mas nenhum deles precisava entender como funcionavam quando tinham sua própria companhia. Eles se permitiam não falar sobre suas cicatrizes. Em vez disso, preferiam somente mantê-las ali, no conforto do calor e do abraço um do outro.
E nas brigas também.
Algo perturbou o equilíbrio naquela conjuntura. O toque da campainha.
— Ah, que legal, na melhor parte do filme... Já vai! — Wooyoung gritou para quem quer que fosse, se remexendo para que Yunho o soltasse. Se levantou. — Yun, atende a porta, deve ser o almoço. Vou lá dentro pegar o dinheiro — disse, mas não obteve resposta de Jeong, que se mantinha preguiçoso em seu sofá. — Vai logo, inferno!
— Vai você! — O respondeu no mesmo tom. — E eu sou visita!
— E daí?
— É assim que você trata seus amigos queridos de visita?
— É, agora vai.
Yunho fez bico.
— Por que eu que tenho que atender?
— Vai logo, puto! — Jung esbravejou.
— Me chama de puto de novo e você vai ver...
— Já vi tudo que eu tinha pra ver, querido — Wooyoung piscou para ele antes de ir para o quarto — agora anda.
— Corno maldito — Yunho também se levantou, se arrastando para a entrada. E reclamando, logicamente.
— Eu ainda tô te ouvindo, filho da puta — Jung se manifestou.
— Chato!
Yunho então abriu a porta. E não era exatamente como esperava.
— Boa tarde, senhor! — Yunho analisou o garoto parado em sua porta brevemente. Não lhe dava mais do que quinze anos, era moreninho e usava um corte de cabelo bem típico de quem transitava do fundamental para o médio, com uma franja escura bem aparada em um formato de tigela. Apesar disso e de ter olhos grandinhos e bochechas fofas, o menino aparentava ser bem forte carregando sua bolsa térmica de entregador e estava suado, até porque, fazia calor e ele estava de bicicleta.
Diferente de Jeong, ele parecia ter um propósito maior para seu esforço, pois estava sorrindo. Era verdadeiro.
— Ah, olá — Jeong o cumprimentou, depois de tudo. — É o entregador, certo?
— Sim, senhor — e imediatamente ele retirou a bolsa de suas costas e a abriu, pegando o que deveria. — E aqui estão seus pedidos: dois tteokbokki sem pimenta e com adicional extra de porção de anéis de cebola — o garoto lhe entregou uma embalagem com as refeições.
— Obrigado. Meu amigo já está trazendo o valor, ele-
— Fala camaradinha! — Wooyoung despontou por detrás de Yunho, sorrindo. — Tudo certo? Quer tomar uma água? — O menino nem mesmo teve a chance de dizer algo, já que Jung desatou a falar. — Aqui ó, quinze, dezesseis... — Jung então parou de contar, abruptamente. — Ah, esqueci de dois mil wons. Droga de cabeça. Você pode esperar um pouco? Yun segura ele mais um pouco aí! Não deixa o guri ir embora! — Wooyoung correu para dentro, deixando Yunho e o menino sozinhos sem entenderem tanto alarde. Mesmo de dentro da casa, os dois garotos conseguiam ouvir ao terceiro, que ainda gritava desesperadamente. — Amarra ele no jardim! Cava um poço e enterra ele! Usa arma de choque pra paralisar ele!
A cada sentença proferida, o garotinho ficava cada vez mais pálido. E trêmulo. Yunho quis rir de seu desespero.
— N-não acho que o-o moço vá precisar disso tudo, e-eu espero e-
— Relaxa, cara. Ele é exagerado assim mesmo, está só brincando. Woo não seria doido de esconder um corpo no próprio quintal, ele procuraria um terreno baldio ou colocaria fogo — disse e o menino então assentiu, mas ainda permanecia assustado. Yunho também não ajudava em nada.
— Isso... É... — Antes que pensasse no que responder, um som diferente invadiu o diálogo entre eles. O celular do menino tocava algo parecido com o que Yunho conhecia como jazz. — Oh, perdão. É importante, preciso atender — Jeong somente o observou pegar o velho celular. — Alô, Mingi hyung — atendeu, e algo em Yunho se acendeu. Aquele nome... — Sim, estou terminando, faltam somente mais duas e logo volto. Sim. Certo. Minsoo? Oh, Minsoonie é esperta... Não sabia que ela estava preocupada com isso. Sim, tenho filtro solar aqui na mochila, diga a ela que ela tem um hyung preparado — o menino disse, os olhos transbordando um sorriso tenro. Yunho permanecia estático. — Tudo bem, chegarei logo. Dê um abraço adiantado em Minsoo por mim. Certo. Até depois, hyung.
— Cheguei — Wooyoung se pôs ao lado de Yunho, se apoiando nele, cansado por ter corrido até ali. Yunho não se moveu. — Aqui, parceiro, o que está faltando. E também um acréscimo por ter feito você esperar, está fazendo um ótimo trabalho.
— Oh, muito obrigado aos senhores, muito mesmo — o menino se curvou a eles em sinal de respeito. — Espero que possam ser retribuídos com o dobro de sua boa ação. Uma ótima tarde!
Yunho observou o garoto os agradecer novamente com um aceno e montar em sua bicicleta, indo em direção ao que sabia ser o centro da cidade. Provavelmente suas outras duas entregas que havia mencionado na ligação.
E sobre a ligação... Será que aquele com que o menino falava era... Não, seria muita coincidência serem o mesmo Mingi e Minsoo. Entretanto...
— Ele é tão formal para alguém tão jovem — Wooyoung fechou a porta. Yunho balançou a cabeça e andou até a bancada, deixando as sacolas sobre ela.
— Eu... Também achei — disse. Mas sua mente estava presa em outra informação.
— Ouvir ele me chamando de senhor faz eu me sentir velho.
— Mas você é velho.
— Você é mais velho que eu — Jung retrucou.
— Somos dois idosos — concluiu.
Jung sorriu. E Yunho decidiu se concentrar apenas nisso.
— Vem, Yun, vamos comer.
●●●
Oi gente! Estão todes bem? A nossa primeira atualização de 2022!!! (sim, eu aparecendo como quem não sumiu por semanas sem dar qualquer notícia direitokk)
Perdão se o capítulo não atendeu muito as expectativas, esse é um daqueles capítulos de amarra entre os acontecimentos, então pode ter sido um pouco chato. Ainda assim, espero que tenham gostado e que tenha ficado claro a relação dos wooyun. Eu amo demais os wooyun :(
Bom, que esse novo ano seja cheio de boas conquistas e boas histórias, vou fazer o meu melhor por vocês!
Até breve♡
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