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|05| fliperama part.1


Tenho medo de tudo que eu sou
Minha mente parece uma terra estrangeira
O silêncio ressoa dentro da minha cabeça
Por favor, me leve, me leve, me leve para casa
— Arcade, Duncan Laurence

  

 

●●●
   

Mingi guardou novamente o celular, cansado. Eram aproximadamente duas da tarde, mais um quente e comum dia de trabalho onde ajudava o pai com a confecção das marmitas, olhava Minsoo com suas atividades escolares no espaço pequeno entre a cozinha e a sala de Somin e saía com Jongho para as entregas. Durante todo o dia, sentia o aparelho vibrar incansável em seu bolso por conta das mensagens insistentes. Na primeira vez que sentiu, vislumbrou o número desconhecido no visor e não precisou de abrir a conversa para saber de quem se tratava: Jeong Yunho. Já se arrependia daquela decisão.

Não soube explicar o porquê de, enquanto esperava pelo tal amigo do Jeong para vir buscá-lo, ter salvado seu próprio número no celular dele. Fazer isso significava dar abertura para que este tivesse acesso à sua vida, que o contatasse sempre que quisesse, e sabia que ele iria querer. Havia cometido uma tolice. Mas, por algum motivo, tinha despertado certa empatia pelo garoto. Empatia suficiente para querer ter a certeza de que ele ficaria bem, de que estava vivo e seguro, de que chegaria em sua casa. Ter a certeza de que aquelas palavras dolorosas não passavam de delírios por conta de boas doses de álcool. E Mingi sabia que Yunho entraria em contato para lhe dar essa resposta. Positiva ou não.

Entretanto, não imaginava que seria bombardeado por notificações a cada meio minuto, por mais que soubesse o quanto o garoto era animado e exagerado. Suspirou. Ele mesmo estava tornando as coisas mais difíceis.

— Hyung! — A voz doce de Minsoo despertou-o completamente de seus pensamentos. Foi como acordar de um sonho. E só então Mingi percebeu que agia totalmente no automático, servindo as colheres de arroz e peixe na porção que já sabia serem as corretas. Parou um instante, para dar atenção à pequenina.

— Hyung, terminei de colorir todos os deveres da titia! Olha! — Ela tinha seu caderno de atividades em mãos e mostrava seu progresso com afobação. Mingi a acalmou para que pudesse ver com mais clareza. Havia um que precisava ligar os pontos, outro que pedia para colorir com as cores indicadas, e um terceiro em estilo livre. Nesse, Minsoo havia desenhado a si mesma em um vestido amarelo, seu pai com um boné azul, Mingi com um chapéu de capitão e, entre as nuvens, uma mulher sorrindo. Yiren. Sua mãe.

Mingi quis abraçá-la com força. Mas não podia. Não agora.

— Uau, Soonye! Ficaram lindos! Com certeza sua professora irá gostar — Minsoo abriu um lindo sorriso. O mesmo sorriso que Yiren sempre dava para ele. Seu peito se apertou. — O que... O que quer fazer agora? Ainda estou terminando esses pedidos então não podemos brincar ainda.

A criança pensou um instante.

— O hyung... Pode me emprestar o celular?

Mingi assentiu e buscou por ele no seu bolso. Ainda havia mensagens de Yunho no ecrã, mas as ignorou outra vez. Veria outra hora.

— Aqui, — e entregou o aparelho para a menina — pode brincar e assistir os desenhos que quiser. Mas não mexa em mais nada, certo, Soonye?

— Sim, hyung! — ela segurou o objeto com cuidado entre seus dedinhos pequeninos.

— Opa! Não está se esquecendo de nada? — Mingi perguntou.

Minsoo estacou no mesmo lugar, se martelando por ter esquecido a parte mais importante. Virou-se rapidamente envolvendo Mingi em um abraço apertado.

— Obrigada, Minnie hyung — disse, e deu-lhe um beijinho na bochecha.

— Agora sim. Vou trabalhar feliz.

Soonye sorriu e correu até o que conhecia ser o quarto de Jongho; era ali que costumava ficar enquanto seu irmão e pai trabalhavam na cozinha de Somin, gostava da cama macia de Jjong – era como havia apelidado o adolescente – e também de brincar com as pelúcias do menino. Considerava Jongho como um hyung muito legal por deixá-la se divertir no seu quarto e as vezes lhe trazer docinhos escondidos dos outros hyungs e de Somin unnie.

A menina então se acomodou na cama de Jongho, logo após ter organizado seu material escolar e seus desenhos para o dia seguinte. Com o celular de seu irmão grandão em mãos, clicou em uma série de botões até abrir o aplicativo de animações para assisti-los enquanto não podia voltar para casa.

Se passou algum tempo. Minsoo podia ouvir ao longe a voz de seu pai e Somin, mas no momento se concentrava nos personagens que faziam coisas divertidas na tela do celular. Havia muitas flores e magia, uma carruagem de princesa e cavalos alados levando os heróis para os céus, entre as nuvens fofinhas. Era tão lindo... Minsoo imaginava se um dia voaria tão alto, se tocaria as nuvens com seus dedinhos e se elas eram macias feito algodão. Se poderia escorregar por um arco-íris e cair em um vale florido, usar um longo vestido presenteado pelas fadas escondidas e se teria uma espada e lutaria para proteger seu mundo especial. Se lutaria bravamente para proteger quem amava. E venceria no final. Minsoo pensava em seu papai como um rei, em Mingi como um príncipe forte, em sua mamãe que nunca pôde conhecer como uma rainha guerreira e em si mesma, como aquela que seguiria seu legado e salvaria a todos com uma demonstração de bravura e coragem. Uma verdadeira heroína.

Foi então que, de repente, a tela de desenho animado deu lugar à uma ligação desconhecida. Um número. De primeira, Minsoo não soube o que fazer. Pensou em correr bem rápido até o irmão, mas sabia que ele estava trabalhando muito. Mesmo sendo uma criança de apenas seis anos, Minsoo tinha noção de como as coisas funcionavam e sabia o quanto Mingi e seu pai trabalhavam duro. Sabia que, enquanto estavam naquela cozinha, não deveria atrapalhar. Portanto, tomou uma decisão. Olhou para o celular e deslizou seu dedo pelo sinal verde como havia visto seu irmão fazer algumas vezes. Ela poderia fazer isso por ele. Daria certo.

— A... Alô?

— Mingi...? — A voz desconhecida disse, baixinho, confuso.

— Ah, não, não! É a Minsoonie! — Minsoo respondeu, animada. A ligação permaneceu estática por alguns milésimos de segundo. — Quer falar com meu irmão grandão? Ele está aqui, em algum lugar.

— Irmão... — Jeong ainda processava as palavras apressadas da garotinha.

— Hyung! Minnie hyung! Tem alguém que quer falar com o hyung! Ai... Onde ele está? — Yunho ouviu a menina chamar por Mingi de uma forma não muito convencional para uma garota, mas não se importou. — O senhor é amigo do irmão? Como é seu nome? — A voz dela exalava curiosidade e Jeong gostaria de poder ver seu rostinho e apertá-la o quanto conseguisse.

— Oh, pequenina, eu me chamo Yunho. Jeong Yunho. A seu dispor.

— Yunho-ssi é amigo do meu irmão?

Jeong pensou um pouco antes de responder. Bem...

— Ainda não, mas quero ser amigo do hyung.

— Ah, ah! Yunho-ssi, seja amigo do irmão, ele é grande e legal e também é o capitão Minnie que luta comigo contra o malvado capitão Jinjin! — Minsoo dizia tudo em um único fôlego, feliz por estar contando sobre suas aventuras.

— Oh, verdade? — E Yunho, logicamente, se mostrava tão animado quanto. — Então vocês lutam juntos contra o mal?

— Sim! Nós temos um foguete enooooorme — Yunho riu com a quantidade de ênfase, mas continuou prestando atenção ao que ela dizia animada — e viajamos por todo espaço pra ajudar quem precisa. Tem o capitão Minnie, o senhor Timóteo, o Willy braço de ferro, e eu sou a senhorita Estrela Cadente! Yunho-ssi, quer se juntar com a gente? Não tem problema se você não tiver poderes, capitão Minnie sempre diz que o importante é fazer o bem.

Yunho sorriu mais ainda. Seu coração poderia derreter naquele exato momento.

— Mas eu tenho poderes! — disse, ao que a garotinha reagiu com espanto. — Eu posso enxergar no escuro e eu também posso me esticar para alcançar lugares muito, muito altos...

— Ah, ah! Então Yunho-ssi é um super-herói? Yunho-ssi é o capitão Sombra-elástica! — Minsoo agora batia os pezinhos no assoalho velho em um ato contente.

— Oh, eu gostei desse nome. Realmente, eu gostei.

— Ah! Então Yunho-ssi se juntará a nós? — ela perguntou, esperando por uma resposta positiva.

Yunho não pensou duas vezes.

— É claro! Pode contar comigo, vou auxiliá-los nessa jornada.

— Eba!

Passos mais altos foram ouvidos pelos dois. Yunho se calou e Minsoo olhou para o lado vendo seu irmão parado na porta, o maior estranhando o fato da menina estar falando tão alto a ponto de ouvir da cozinha, apesar de não entender o que era dito. Apesar de saber que sua Soonye tinha uma imaginação extremamente fértil, achou melhor ver o que acontecia, por precaução.

— Minnie hyung! Nós temos um novo tripulante! — Mingi viu sua irmã pular animada com o telefone em mãos. — É o capitão Sombra-elástica!

— Como? — Ainda estava confuso com aquilo, mas tudo pareceu se elucidar quando ouviu um ruído vindo do aparelho. Havia alguém ali. Alguém que falava com sua irmã. — Soonye, está falando com quem?

— Com o Yunho-ssi, amigo do irmão. Ele é o capitão Sombra-elástica porque ele disse que vai bem alto e que alcança as coisas e também...

Mingi congelou. Yunho... Era Yunho no telefone.

— Soonye, me deixe cuidar disso agora, ok? Vá para a sala — Song pediu pelo celular e a garotinha o entregou e assentiu, um pouco receosa. Mingi a observou indo e só quando ela cruzou a porta ele decidiu voltar a falar. — O que você quer?

— Boa tarde pra você também — Yunho cumprimentou-o, com um leve tom sarcástico na voz. — Bom, você não respondeu minhas mensagens o dia inteiro então eu decidi ligar, só queria saber como você está e... Dizer obrigado. Por ontem.

— Estou bem. Me agradeça não me procurando mais.

— O número não está salvo no meu celular à toa — Yunho retrucou. — Você fez isso por um motivo.

— Fiz.

— E qual foi? Vai me dizer?

— Não — não iria. — Eu não sei.

— Você sabe. Você quis que eu falasse com você.

Mingi mordeu o lábio.

— Fiquei preocupado, somente. Se entrasse em contato, saberia que estava tudo bem, nenhuma outra necessidade além dessa — explicou, mas não possuía fé em suas próprias palavras. Preferia se convencer de que havia sido somente por aquele motivo. — E você já me respondeu, então não precisamos mais manter contato.

— Certo. Mas agora temos um problema.

— Problema?

— Sim. Fui intimado a me juntar à uma tripulação interestelar pela senhorita Estrela Cadente. — Mingi abriu a boca, mas nenhuma palavra foi dita. — Sinto muito, Mingi, mas agora também salvo o universo com vocês.

— Você não... — Song pensou em contradizer, porém sabia bem do que aquela garotinha esperta era capaz. E ela, do jeito que era, não se esqueceria fácil desse incidente e ficaria perguntando sobre o tal "amigo do irmão". — Ah, Minsoo... — ele levou a mão livre aos cabelos, bagunçando-os com certa irritação. Ouviu a gargalhada de Yunho do outro lado da linha.

— Provavelmente está irritado, mas bem, eu prometi a ela que faria isso. E eu gosto de cumprir minhas promessas, capitão Minnie — Jeong falou. Mingi estreitou os olhos, mesmo que o azulado não pudesse ver.

— Espero encarecidamente que nunca mais me chame dessa forma.

— Vou me esforçar, mas confesso que gostei do seu nome de capitão. E de sua irmãzinha também. Ela é doce, gentil e animada, um completo oposto do irmão grandão — ele provocou, risonho.

Mingi ergueu a sobrancelha.

— Se pensa assim, então eu deveria não agir com muita gentileza a partir de agora. Portanto...

Desligou.

Entretanto, nem dois segundos se passaram até que o celular vibrasse novamente. Mingi pensou em apenas deixar que a ligação caísse, mas seria engraçado presenciar a reação do outro garoto. Imaginava a cara irritadiça e as orelhas ficando avermelhadas como havia observado sem querer uma vez.

Atendeu.

— Mingi-ssi! Isso foi bem cruel — Mingi sorriu, mesmo que minimamente, mesmo que apenas em seu interior. Sentia que o garoto com quem conversava também tivera vontade de sorrir. — Você tem um coração gelado.

— É o que dizem.

Yunho suspirou. E Mingi ouviu.

— Por que age dessa forma comigo? Sou tão chato assim?

— Não — respondeu.

— Eu sou feio?

— Não — mais uma vez. Uma pausa.

— Eu te intimido?

— Não mesmo — e outra vez.

— Então por que dificulta as coisas?

— Nós não nos conhecemos.

— Estou tentando fazer com que nos conheçamos, mas o problema é que você mal deixa eu me aproximar. Tem algo de errado comigo? — A voz havia saído mais baixo do que nas outras vezes. Mingi sentiu que estavam caminhando por uma estrada perigosa. Não sabia de qual dos lados vinha a sensação de insegurança, mas sabia que ela estava ali com eles.

— Por que é tão insistente?

— Eu quero ser seu amigo — disse e as mãos de Mingi vacilaram e sua garganta secou. — Não posso?

Houve um breve silêncio de sua parte.

— Não pode — respondeu, por fim.

— Está mentindo. Eu sei... Que está mentindo.

Yunho se resumia aos sons de sua respiração, sincronizada com a sua própria que sabia que ele também escutava. Mingi não sabia o que dizer, ou melhor, sabia que se tentasse dizer algo acabaria dizendo o que não queria, acabaria dizendo que era sim um bom mentiroso. Ele não queria se entregar. Havia feito o suficiente deixando seu número no celular de Yunho, sabia que aquilo era motivo o bastante para que este entendesse. Song também não se entendia. Havia feito de tudo para não sentir uma mínima curiosidade pelo garoto de cabelos azuis desde que o conheceu para simplesmente pedir nas entrelinhas que ele falasse consigo por meio desse ato. Mas era inseguro. Sentia medo. Por si, por sua família, por toda a carga emocional que carregou durante aqueles anos e que não queria que fossem tocadas, e sentia que ao deixar esse garoto misterioso se aproximar, estaria dando brecha para que uma varinha cutucasse aquela caixinha esquecida no fundo de seu coração. Algo nele sabia que aconteceria se permitisse. Algo nele lia as linhas do outro garoto. Havia linhas em Yunho, linhas que sabia serem tão complexas e emaranhadas quanto às suas, e mesmo que ele fosse tão resplandecente, por trás de seu sorriso Jeong era tão distante quanto Song. E se ele pedia para ser seu amigo... Se insistia tanto... As palavras do dia anterior ainda martelavam a mente de Mingi.

— Não naquele bar — disse, simplesmente.

— O que?

— Em frente a universidade Hanyang, onze e meia da manhã. É mais seguro, mas não teremos muito tempo porque tenho trabalho. E preciso buscar minha irmã.

— Está me dizendo que...

— Não vou esperar por você. Esteja lá — e novamente desligou. Contudo, não houve uma ligação de retorno. Não tinha mais o que ser dito. Mingi... Havia mesmo feito isso. Havia permitido.

[...]

Pessoas andavam de um lado para o outro em uma marcha incômoda aos ouvidos de Yunho. Ele estava exatamente em frente àquele lugar. Universidade Hanyang. Quem diria que um dia voltaria a colocar os pés nos limites da instituição. Moongyu ficaria até surpreso, mas com toda certeza Jeong ocultaria esse encontro de seu pai, como tudo o que vinha fazendo da vida nos últimos dois anos. Mesmo que infelizmente sustentado pelo dinheiro de seus progenitores, não devia nada a eles. Eles não ligavam o suficiente para se importarem. E que bom que não o faziam.

Onze e meia. Alunos começavam a sair do recinto, alguns acompanhados de seus respectivos amigos, outros de seus fones de ouvido, outros indo para o estacionamento buscar seus veículos. Yunho poderia ser um deles se, há um ano, tivesse seguido as orientações do Jeong mais velho e entrado na vaga que este tinha lhe garantido – diga-se comprado – em engenharia mecânica. Yunho não chegou a frequentar nem mesmo um único horário. E seguia sendo o filho perdido, o herdeiro irresponsável e descartável da JJ Company. Era melhor e mais seguro assim.

— Jeong.

Yunho se virou para a voz que o chamou. E lá estava ele: o garoto ao qual não saía de seus pensamentos nos últimos três dias. Mingi parecia diferente daquele cara com quem conversou e chorou amargamente. Talvez fosse pela luz do dia que fizesse Yunho enxergar melhor e mais detalhes presentes nele, em vez de uma lâmpada amarronzada e suja de um bar igualmente sujo. Mingi, naquele momento, parecia somente um estudante normal. Calça jeans, uma camisa leve, cabelos repartidos e tênis gastos. Levava uma mochila nos ombros e olheiras visíveis em um rosto quase pálido. Como uma mancha de tinta na neve.

— Song. — Cumprimentou-o, com dificuldade. Tudo o que havia pensado em falar fugiu de sua mente como vapor. Suas mãos, pela primeira vez, tremiam. — Eu... Eu realmente não imaginava que falasse a verdade, — Mingi tombou a cabeça para o lado — mas você está aqui. É bom te ver também.

— Espero que seja breve. Se tiver algo a me dizer, claro — falou. Os dedos levemente cortados friccionando na alça da mochila. Yunho imaginou quanto estrago aquelas cordinhas finas do violino preto poderiam fazer.

— Eu tenho, mas... Também não sei. Talvez pedir desculpas pelas coisas que eu disse — pôs ambas as mãos nos bolsos, tentando controlar seu nervosismo. Era mais fácil falar quando não estavam ali à luz do dia, aos olhos escondidos entre as beiras, completamente visível ao garoto de cabelos escuros. — Não lembro direito o que eu disse, mas imagino não ter sido bom de ouvir.

Mingi desviou o olhar. Evitava pensar nisso.

— Foi razoável.

— Você não mente assim tão bem — disse Yunho, atraindo a atenção de Mingi. Pensou se ele falaria algo por seu comentário que havia saído mais alto do que deveria, mas Song se manteve em silêncio. Yunho então decidiu continuar: — Bom, se não estiver atrasado, quer tomar alguma coisa? Descobri um carrinho de lanches aqui no fim da rua, é mais provável que você já conheça, mas por favor finge que não, quero parecer legal e te pagar uma bebida. Não alcoólica — deixou bem explícita a última parte. Mingi olhou para ele, algo de indecifrável lhe pairava. Poderia ser desdém ou pena ou uma risada silenciosa; nunca saberia.

— Você não deveria se esforçar pra isso — falou. — Não quero nada, estou bem.

— Mas eu quero. Quero me redimir. Pelas duas vezes que eu tentei me aproximar de você e falhei.

— Miseravelmente — Yunho não soube dizer se Mingi estava mesmo brincando ou não. Mas era provável que sim. Era difícil saber quando este tinha sempre uma expressão de mármore frio. Mas sentia que, lá no fundo, havia um quê de divertimento. — Mas eu também tenho culpa nisso. Não sou muito sociável.

— Jura? Não tinha notado — brincou, modulando sua voz em uma falsa descoberta.

— Ser sarcástico não ajuda, Jeong — Mingi abaixou o olhar. Yunho apertou suas mãos em punhos nos bolsos. Se estava estragando tudo de novo...

— Desculpa. Não consigo evitar.

— Não evite.

O peito de Yunho estremeceu quando o garoto voltou a olhar para si. Não havia estragado. Ainda estava tudo bem.

— Aceite, por favor — pediu, mas Mingi continuava irresoluto. Decidiu então baixar a guarda. — Por... Favorzinho? — Jeong se empenhou em fazer a voz mais adorável que conseguia.

Mingi suspirou. Era quase patético um garoto daquele tamanho e porte tentando parecer fofo como uma criança pedindo doces. Yunho parecia até mesmo mais velho que ele, e mais alto. E agora estava fazendo beicinho e mexendo os ombros de um lado para o outro em uma estranha dança convincente. E inconveniente. E perturbadora.

Cedeu.

— Tudo bem. Temos quinze minutos.

Os dois garotos andaram até o final da rua onde Jeong vira o carrinho de lanches, Mingi as vezes parava lá com seus colegas de turma quando precisavam organizar trabalhos fora da instituição, mas nunca pedira nada. Não podia ser dar ao luxo. E pensava que não era uma boa ideia seguir Yunho até lá, visto que não havia planejado e nem iria pedir nada, como sempre. Entretanto, ia. Com o garoto de cabelos azuis andando ao seu lado, passos largados, soltos como vento. Olhar distante. Mãos nos bolsos. Alguns arranhados leves nas bochechas. Havia problemas.

— Quando começou a tocar violino? — Mingi ouviu-o perguntar assim que pararam em frente ao carrinho. Se sentaram nos banquinhos disponíveis. Enquanto Song pensava em como responder, Yunho pediu por dois sucos naturais de melancia. Dois. Não demorou para que este voltasse sua atenção ao estudante.

— Aprendi quando mais novo, com minha mãe. Ela era musicista.

— Sério? Bem, é de se imaginar de onde você pegou tanto jeito pra isso. É realmente legal te ouvir tocar, esse negócio de talento de família é muito foda — Jeong não percebeu quando Mingi deixou um leve sorriso escapar. Ele se sentia bem falando sobre sua mãe, e feliz pelos elogios direcionados a ela. Ela merecia todos eles e mais ainda. — Então está no curso de música?

— Fisioterapia.

Yunho franziu as sobrancelhas. Mingi achou graça de sua expressão confusa.

— Por essa eu não esperava.

— Ninguém espera — deu de ombros. — E você?

— Eu? Eu sou um verdadeiro vagabundo. Não sou pra essa vida universitária. Acho que nem vou precisar, do jeito que as coisas andam, mesmo não querendo que fosse assim — Yunho suspirou. Não sabia como contar que provavelmente viveria do dinheiro claramente sujo do pai e que talvez, só talvez, fosse forçado a liderar os negócios da família, ou que este seria administrado por sua mãe e ela se responsabilizaria por controlar sua mesada até que também morresse e só então Yunho estaria à completa mercê do mundo. Não gostava de imaginar isso, mas não era como se pudesse evitar. Havia se compenetrado o suficiente em seu teatrinho para que seus pais o achassem inútil para qualquer coisa que envolvessem suas empreitadas, e isso duraria até que fosse possível durar. Mas sabia que em algum momento não conseguiria mais fugir desse fardo, o fardo do qual imaginava que seu irmão também tinha fugido enquanto vivo. Por vezes ouviu Dongpyo falar sobre isso, com desprezo e amargor. Mas o Yunho jovem não queria crescer feio, portanto, evitava escutar conversas escondido. Um ensinamento com bons propósitos, mas do qual se arrependia de ter seguido. Sabia que teria respostas mais sólidas se tivesse prestado atenção nas entrelinhas.

As bebidas foram servidas pelo homenzinho que trabalhava no carrinho. Dois copos médios de suco natural com gelo, e um canudinho reciclável em cada um. Yunho entregou um deles a Mingi. De primeira, Song não soube o que fazer com a bebida, não sabia se deveria mesmo aceitar aquilo, não teria como pagar ou restituir sua parte para Yunho. Infelizmente, não podia se deixar ter essas regalias quando havia pessoas em sua casa que dependiam de cada minuto de seu dia, de cada gota de suor que derramava.

— Tome — mas Yunho insistiu. E ele deu seu primeiro gole. O sabor doce agregando o seu paladar. Mingi viu Jeong depositar a quantia na mão do homem. E suspirou.

Yunho percebeu o desconforto dele, mas decidiu não entrar em detalhes. Havia coisas que fugiam de sua dominância e ele tinha conscientização que teria uma resposta ruim caso ousasse indagar sobre. Mingi não trabalhava naquele bar à toa, sabia disso.

— Sabe, as vezes eu penso sobre isso — Yunho voltou ao assunto anterior. Seus olhos passeavam pelas pessoas que cruzavam por eles, atentos sempre. Mingi reparou nisso. — Penso se sou bom em algo. Gosto de música e de conversar, as vezes danço e faço uns desenhos na parede quando estou inspirado. Talvez devesse seguir alguma área que envolva as artes. Mas talvez eu devesse virar agiota — disse, levando então mais suco à boca e engolindo lentamente em seguida. Mingi olhava-o com seriedade. — Quem sabe, não é?

— A primeira opção parece mais segura — respondeu.

— Acredite, não é — Yunho riu, mas não tinha qualquer humor na modulação de sua voz. — Não fique muito surpreso, não. Eu sou um completo perdido, caro Mingi.

E então, mais um longo gole. Mingi analisou-o por um instante. Cada detalhe. A camiseta de banda de rock, a jaqueta amarrada à cintura, a calça jeans rasgada e os sapatos meio gastos, mas ainda de marca. Os cabelos azuis bagunçados, as perfurações da orelha com caveirinhas e correntes, as marcas de arranhões nas bochechas, os olhos fundos e cansados, as mãos pálidas ostentando uma grande quantidade de anéis. Não se lembrava de ter visto tais adereços em Jeong quando se conheceram. Parecia agressivo demais para aquele sorriso amável e divertido.

Em outras circunstâncias não daria abertura a alguém como ele, sabia que eram os tipos que traziam enormes problemas e que causariam danos maiores do que poderia lidar. Mas Yunho... Jeong exalava rebeldia, porém, não da forma livre como imaginava, na verdade, este fugia completamente daquilo que esperava. De primeira, pensaria em Yunho como alguém que gostasse disso, de estar em meio ao caos, de ser o motivo dele. Contudo, havia mais, muito mais. Podia ver, claramente. Os olhos sóbrios e atentos não conseguiam esconder. Mingi via demais nele, via e sentia demais nele. Uma aura desconhecida e conhecida ao mesmo tempo, alguém que se esforçava para fugir da realidade tanto quanto ele. Talvez não pelos meios legais, mas ainda assim como ele. Era um jogo perigoso. Mesmo que Yunho tivesse tal descrição descabida e se mostrasse exatamente da mesma forma que havia pensado anteriormente, havia algo mais afundo, havia uma linha que, se puxada, revelaria mais do que somente uma aparência rebelde e personalidade abusada. Talvez revelasse algo que Jeong queria esconder. E Mingi entendia. Entendia muito bem o que ele escondia.

— Você parece triste — disse, sem pensar ou medir suas palavras. No instante seguinte se arrependeu, mas Yunho somente olhou para frente. Encarou qualquer lugar que não fosse seus olhos.

— É? — Aquela pergunta mais soava como resposta. — Bem... — houve um suspirou da parte de Yunho — Talvez eu seja. Isso tira meus pontos com você?

Mingi mudou de expressão.

— Não trato isso como uma competição.

— Hm, entendi — e mais um gole. Jeong chegava ao final de sua bebida. E Mingi mal havia começado.

— Você trata? Como uma competição? — perguntou — Está aqui para isso?

— Estou aqui porque você me despertou interesse. E é legal. Não é todo mundo que têm paciência pra me ouvir ou estar comigo, e se você ainda não me bateu ou enxotou, talvez possamos ser ao menos amigos, eu acho. Não é como se você fosse ganhar muito com a minha presença — Yunho terminou o suco de uma vez. Não estava chateado, mas notava-se que havia algum incômodo. Mingi sentiu isso. Entretanto, Song não conseguia não se sentir meramente recluso, havia um imenso abismo entre o que eles poderiam ser e como poderiam conviver. — E você?

— Estou aqui... Igualmente, eu acho — respondeu, sem olhá-lo. — Me desculpe se fui grosseiro. Não sei como encarar essa situação. Você oscila entre calmaria e tempestade, mas parece ser alguém legal e gentil. Nunca quis que duvidasse disso, me desculpe.

— Você viu isso tudo em mim? — Song não precisava olhar para Yunho para saber que este segurava um sorriso. — Uau... Sincero. Ganhou pontos comigo.

— O que acabamos de falar sobre competição? — Mingi encarou-o de canto.

Yunho riu.

— Falávamos sobre isso? Não me lembro.

— Yunho... — Mingi mencionou repreendê-lo pela ironia. Não seriamente.

— Você me chamou pelo nome, gostei. Mais um ponto. — Jeong sorriu ao ver Mingi revirando os olhos. Foi o mais livre que o viu se sentir em sua companhia. — Quem chegar à dez primeiro tem que tomar a iniciativa de beijar.

Mingi também se permitiu sorrir por ele. E não fugiu.

— É um jogo injusto, você sabe.

— Mas aí não teria graça, certo? — Yunho levantou as sobrancelhas, divertido com a situação.

— Você não se cansa.

— Não mesmo.

Mingi sorriu e encarou a bebida inacabada em mãos. Minsoo gostava de melancia. E não poderia dar isso a ela.

— Preciso ir — avisou, bebendo tudo de uma só vez. Yunho piscou os olhos, um pouco desnorteado pela recenticidade. Ambos se levantaram, então.

— Quando poderei te ver de novo? — Indagou. — Talvez-

— Não naquele bar, — Mingi interrompeu antes que ele terminasse — por favor.

— Não gosta de lá?

— Sabe a resposta — disse, somente. Yunho entendeu.

— Tudo bem, tudo bem. Talvez aqui, então?

Mingi pôs a mochila nas costas. Começaram a andar, pelo caminho que vinham antes.

— Quer mesmo se dar ao trabalho de vir aqui todas as manhãs?

— Não é como se eu tivesse mais coisas a fazer. Ver você é mais legal do que ficar jogado no sofá — Yunho podia sentir o olhar inóspito de Mingi em sua direção. — Pode falar, eu sou deprimente.

— Você quem diz isso — Yunho evitou sorrir. Mingi parou de andar e se virou para ele. — Preciso me apressar, minha irmã sairá logo. Você ficará bem?

— Sim. Me deixe conhecê-la um dia, se puder.

— Pensarei nisso — afirmou.

— Promete?

— Eu não faço promessas. Mas pensarei.

Foi o suficiente para Yunho.

O garoto então se aproximou, o bastante para que Mingi ficasse à centímetros de si, o bastante para que este pudesse sentir o quanto Yunho se segurava, o bastante para que sentisse o toque quente de sua mão deslizando por seu rosto e parando na curva do pescoço, acariciando a região com cuidado. Tudo isso apenas para que Jeong tivesse confiança o suficiente para recostar seus lábios brevemente na bochecha esquerda do garoto de cabelos escuros. Song não se moveu um milímetro. Aquilo pareceu durar anos e um arrepio involuntário tomou conta de seu corpo. Um arrepio que sabia que não deveria em hipótese nenhuma ter sentido. As unhas curtas pareciam abrir fendas em sua pele, que queimava forte; a maciez de Yunho permanecia como se cada segundo equivalesse a uma vida inteira, como se um momento fosse tudo, absolutamente tudo. E ele vislumbrou então o sorriso de Jeong se afastando de si, uma mistura de cores doces e atrevidas pairando sobre ele. Isso era ruim. Muito ruim.

— Até amanhã, Mingi-ssi. Te esperarei.

 

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Olá terráqueos e não-terráqueos. Espero que estejamos todos bem♡

Obrigada pelas 100 leituras nesse bebê! E não se esqueçam de dizer o que estão achando :)

Nos vemos logo!

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