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|01| diversão barata

Querido, eu não preciso de grana para me divertir hoje
Eu adoro uma diversão barata
Mas eu não preciso de dinheiro
Enquanto eu sentir a batida
Eu não preciso de dinheiro
Enquanto eu continuar dançando
— Cheap Thrills, Sia

 

●●●

 

Mingi sentou-se no seu cantinho favorito do pequeno palco e abriu o compartimento onde guardava a Dory – nome carinhoso dado por sua irmã mais nova, Minsoo, ao seu violino de cor preta – e se pôs a afinar o instrumento com cuidado. O bar havia levantado as portas há alguns minutos e estava praticamente vazio ainda, e provavelmente a freguesia seria bem pequena considerando que a maioria das pessoas estavam passando aquele dia e noite de feriado com seus familiares, jantando em restaurantes chiques e assistindo programas de variedades juntos no sofá confortável da sala de estar, rindo das palhaçadas que faziam na TV e felizes pela vida boa que levavam.

Mas essa não era a realidade de Mingi.

O Song não tinha muitas aquisições de vida. Era um jovem de dezenove anos, cabeleira negra como uma noite sem estrelas, bolso vazio, roupas rasgadas e coração sempre apertado. De manhã, estudava como um condenado para honrar sua bolsa de estudos em fisioterapia, durante a tarde se esgueirava entre fazer seus trabalhos da faculdade e ajudar seu pai a entregar as marmitas para trazer dinheiro para casa, e a noite dava uma de músico num bar mixuruca que pagava-o mais mixurucamente ainda, mas pelo menos podia se distrair ouvindo as mais variadas histórias de bêbados que faziam-no rir e tocar com a Dory suas músicas favoritas até que seus dedos doessem e seu corpo pedisse arrego por uma noite de sono. Mingi não se lembrava da última vez que havia descansado de verdade com sua família ou não se preocupado com o que Minsoo teria para comer no dia seguinte, não se lembrava de um único dia em que tivesse vivido sem trilhos.

Quando os sons emitidos pelas finas cordas soaram bons aos seus ouvidos, Mingi deu seu trabalho como iniciado. Diferente da maioria dos músicos que conhecia, Mingi não sabia ler partituras ou cifras – reproduzia as músicas que sabia apenas pelo simples ato de ouvi-las. Tinha uma memória auditiva muito perspicaz e depois que escutava e aprendia a sequência e o ritmo de uma canção, nunca mais se esquecia. Isso também se aplicava a outros detalhes do cotidiano, como os pedidos específicos de cada cliente que ligava para o número comercial de seu pai, cada explicação de seus professores ainda que fossem conteúdos extensos e cada nome de cada um dos amigos imaginários de sua irmãzinha.

Mingi então começou a tocar, primeiramente uma música calma, um clássico de Bach que um de seus amigos do curso musical o ensinou uma vez. Não fazia muito o estilo largado do Song, mas não negaria que era uma música linda, com harmonias fortes e marcadas, um conjunto de altos e baixos que liam a alma. O garoto gostava especialmente desta, sempre seria grato a Seonghwa por este ter tirado um tempo para ajudá-lo.

Logo que ouviu a reclamação de um cara já bem alterado – nossa! Como esses velhos eram fracos para álcool – Mingi riu e decidiu tocar algo mais animado, mesmo que um violino, em seus primórdios, tenha sido criado para melodias suaves e emocionantes. Entretanto, deixava que seus braços e dedos se movessem fortes e seu corpo fosse guiado pelo ritmo viciante de Jay Park em uma música nada decente. Ouviu um soar de vozes mais contentes pela escolha e então deixou que estes aproveitassem em um novo brinde. Era até contraditório que, Mingi detestando bebidas alcoólicas, estivesse servindo de distração para bêbados já há quase quatro anos de sua vida. Estava há tanto tempo naquele bar que havia decorado cada fresta de ar e cada madeira solta do palco improvisado, decorado cada um dos principais clientes e o nome de cada bebida que a garçonete oferecia – a garota, como ele, não parecia muito satisfeita de estar ali e também não parecia ter outra opção para ganhar dinheiro. Sabia que seu nome era Junkyan e que em algum momento da vida havia perdido o irmão mais velho, mas nunca havia falado com ela. Não precisava disso, mas sabia que ela gostava de quando tocava músicas do Ed Sheeran, via que seu corpo relaxava mais e podia as vezes reparar em um pequeno sorriso, por isso costumava as vezes terminar seu expediente com esse artista para que ela ficasse mais feliz. Era o mínimo que poderia fazer já que Junkyan sempre lhe trazia uma pequena refeição, fosse um pão com patê ou uma porção de ramén com frango para que pudesse se alimentar ali, e sabia também que não era comida do bar, eles não serviam nada mais do que álcool e álcool; portanto, a garota trazia a comida de sua casa e partilhava com ele, por algum motivo. Empatia, talvez.

A noite prometia ser longa. Ao contrário do que Mingi pensou, até que havia bastantes pessoas consumindo suas bebidas ardentes sentados largados nas mesas e no balcão. Aparentemente amargurados com a vida, solitários ambulantes e aqueles que só queriam um pouco de paz e algo para ocupar a mente.

Uma, duas, três músicas se deram sequência. Após um tempo, Mingi fez uma pausa exatamente no momento em que a garçonete deixou para si uma porção de macarrão com legumes; agradeceu-a com o olhar tendo como retribuição um sorriso fechado. Nada mais. Colocou Dory e o arco na maleta desgastada e sentou-se naquele mesmo cantinho preferido do palco tirando a tampa transparente do pote e abrindo os hashis de madeira. Comia observando e ouvindo as vozes arrastadas de desconhecidos se desmanchando em vergonha e lamentações, em histórias de traição, aventuras imaginárias e política e filosofia aplicadas em coisas não muito úteis. Estava um pouco cansado. Talvez se alongasse por mais umas cinco músicas e guardasse suas coisas para ir embora, mesmo sabendo que o dono do bar reclamaria consigo no dia seguinte e se recusaria a lhe pagar por aquela noite – de vez em quando o velho barrigudo inventava uma desculpa para negar o dinheiro merecido do Song, mas havia se acostumado com isso –, entretanto, seus olhos estavam pesados e ele ainda teria um seminário para apresentar no dia seguinte. Terminou de comer e foi até o banheiro – diga-se cubículo fedorento – para despertar o sono com uma boa mãozada de água no rosto. Mingi analisou por um momento a imagem refletida naquele espelho embaçado e trincado, não reconhecendo bem o garoto que era. Uma colega de turma havia dito uma vez sobre ele ser bonito, mas não via exatamente isso. Os cabelos caíam compridos pela testa, abaixo dos olhos eram notáveis as olheiras e parecia um pouco mais magro do que deveria para sua altura, mesmo que desde criança fosse um menino franzino. Mingi não se achava atraente. A rotina ao qual havia se submetido não apenas estava fazendo mal ao seu corpo, como também estava lhe tirando tempo para cuidar de si, de seu pai e sua pequena irmã; somente dinheiro no bolso não garantiria uma boa educação a Minsoo, mal garantia seus materiais escolares. Mesmo dando tudo de si, Mingi se sentia impotente. Queria logo se formar, trabalhar na área que estudava e dar à sua família uma condição de vida decente. Dar a eles uma vida mais fácil, dar à sua irmã a sensação de ter a família unida, de brincar livremente com ela, de saírem para comer e de assistirem televisão juntos como a maioria das famílias faziam nesse exato momento em que Mingi desviava do bafo quente de bêbados inconsequentes. Mas não tinha outra opção. Não agora.

Quando voltou ao palco, reparou em pessoas novas que haviam chegado enquanto estava fora, ainda falavam normalmente, mas era questão de tempo até se juntarem aos chorões que faziam sua baderna. Pegou Dory e o arco, e querendo esquecer toda a arcada de responsabilidades que possuía, respirou fundo começando a trilhar seus dedos pelas cordas e com sua outra mão, conduzir o arco em uma daquelas de Michael Jackson que faziam todos vibrar. E vibraram. Mingi construiu seu repertório de início da madrugada movido à Ariana Grande, Lady Gaga, Shawn Mendes, Bruno Mars e vez ou outra se aventurava em uma música latina ou em alguma desconhecida dos Beatles. Também se deixava ir por atemporais de seu país, como Psy e Rain, ou com as mais recentes de grupos novatos que ouvia com seus colegas as vezes. Gostava de como as músicas alegres soavam ao estilo de Dory, gostava de como as melodias traziam tanta paz e energia para si, gostava e achava engraçado quando os presentes beberrões riam e cantavam atrapalhados e sem tom, se divertia com eles. Era sua forma de esquecer o que lhe esperava do lado de fora, no mundo. Provavelmente se, não tivesse Dory consigo, seria como aqueles caras que se derramavam em uma boa dose de bebida barata visando fugirem de suas dores. Mingi se derramava na música. Não sabia quem estava mais ferrado, se ele ou os bêbados.

Quando terminou de tocar Animals do Maroon 5 e percebeu que a grande maioria já estava bêbada demais para reparar no músico ali, Song decidiu que essa seria sua deixa. Respirou fundo, sentindo o amargor do cheiro de destilados com cigarro, sabendo que em algum momento da vida isso lhe causaria problemas respiratórios, talvez quando tivesse cinquenta ou sessenta anos. Riu. Nem mesmo se imaginava chegando nessa idade.

Mingi então desceu do palco velho, juntando suas coisas e ajeitando o que havia de bagunçado. Não era muita coisa, somente a maleta de Dory e sua mochila que usava desde o ensino médio.

— Ei, sabe tocar Cheap Thrills, da Sia? — de repente, ouviu alguém perguntar.

Mingi se virou para o dono da voz, mas não o identificou de imediato. Havia algumas mesas e em todas elas, pessoas conversando e se lamentando – era difícil manter a concentração dessa forma, mas Mingi até que se saia bem. Entretanto, diria que quem quer que tivesse perguntado, tinha uma voz firme e bonita, não parecendo pertencer àqueles homens de meia idade chorando com suas cabeças apoiadas na madeira fria. Diria até se tratar de um dos que havia chegado há pouco tempo, não sentia o balançar no timbre causado pela bebida, a oscilação de quem já havia se mergulhado em cerveja.

Independentemente de quem era, Mingi decidiu responder àquela pergunta iniciando a melodia composta pela cantora, criando com seus pés as batidas e deixando seu coração viajar enquanto se lembrava da letra que a compunha. Não pensava em continuar seu show, mas não conseguiu conter seu impulso de levar a música a quem havia pedido.

Foi quando, então, um garoto se levantou e começou a dançar, sozinho.

Mingi simplesmente riria e continuaria a tocar sem se importar com as atitudes de quem quer que fosse, não era de sua conta. Mas algo naquele garoto chamou sua atenção. Devia ter mais ou menos sua idade e não parecia alguém daquela área da cidade, suas vestes mais arrumadas, o cabelo tingido de azul e sua pele bem cuidada denunciavam ao menos bons produtos – e caros – que deveria usar e uma boa alimentação. Era desconhecido para si o motivo que uma pessoa como ele teria para estar em um lugar caindo aos pedaços como aquele e dançar tão alegremente. De qualquer forma, não era de sua conta.

Mas era inegável que havia se contagiado pela boa energia vinda dele.

Mingi não voltou a subir no palco, mas sim, tocava ali, entre as mesas, seguindo os passos do garoto e praticamente dançando com ele, vendo a alegria dele se tornar também sua toda vez que ele sorria e fechava os olhos, deixando que suas pernas e braços criassem uma coreografia confusa e estranhamente libertadora. Mingi não sabia dançar, porém seu corpo também bailava nas ondulações da música enquanto sua mente tentava se concentrar para não errar nenhuma nota. Entretanto, em algum momento tudo se apagou e deu lugar a um campo vazio, uma sensação de leveza e calma habitante que não se lembrava de ter sentido algum dia – mesmo que lhe fosse extremamente familiar. As notas músicas fluíam de seus dedos como água e tudo o que via em sua frente era o garoto de cabelos azuis que remetiam-no a um céu de verão. Mingi não costumava reparar nas pessoas, para ele todos que passavam ali não lhe valiam muita coisa – isso também incluía a si – mas algo naquele jovem lhe causava uma sensação estranha. Não sabia distinguir. Talvez fosse apenas curiosidade por se tratar de alguém tão diferente de seu convívio, talvez inveja de sua provável vida sem tantos empecilhos, talvez admiração por ele demonstrar tanta felicidade irradiando por seus olhos que insistiam em encontrar com os seus próprios em meio à melodia. Mingi desconhecia a profundidade daquele olhar.

Song terminou a canção, recebendo uma risada contagiante e palminhas animadas do garoto com quem "dançava". Nunca havia visto tal reação, por isso acabou sorrindo também, desprevenido por seus sentimentos confusos. Havia gostado daquela experiência.

— Pode tocar outra vez? — o garoto perguntou, ainda sorrindo. Mingi reconheceu-o.

Era a mesma voz que havia pedido da primeira vez.

Song não pôde reagir de imediato. Não somente porque havia sido pego de surpresa, mas também porque o pedido havia soado tão... Natural, sincero. Mesmo que conhecesse algumas das músicas que os beberrões mais curtiam e soubesse um pouco do gosto pessoal de Junkyan e a visse sorrir quando tocava, era a primeira vez que alguém lhe pedia por uma música, e que repetisse essa música. Era o mais perto que alguém havia chegado de gostar verdadeiramente do que ouvia vindo de si. Sabia que, para aquelas pessoas, ter ou não um violinista ali não as impediria de beber ou se distrair com qualquer coisa, Mingi era apenas mais uma das inúmeras distrações com o que aquelas pessoas podiam passar seu tempo; ninguém ali realmente se interessava pelo que estava tocando. Mas... Aquele garoto... Ele havia pedido por mais, havia pedido bis, havia pedido para ouvi-lo novamente.

— O que quer aqui?

Mingi não temeu ter soado rude ou frio, naquele momento ele apenas queria uma resposta, uma garantia de que aquilo era realmente verdadeiro, de que não estava ouvindo coisas demais, fantasiando demais. O menino somente sorriu um pouco mais.

— Quero apenas me divertir — respondeu.

— Se... Divertir? Aqui? — questionou, novamente.

— Sim. Você também não quer? — o garoto lhe devolveu e Mingi não respondeu, não sabia como fazer isso. — Essa noite, tudo o que quero é me divertir, não tenho nada a perder. Não quer vir comigo?

Ainda incerto, Mingi segurou Dory próximo ao seu pescoço e levantou o arco à altura dela, iniciando novamente o toque conhecido de Cheap Thrills e vendo o garoto de cabelos azuis voltar a dançar todo largado e sendo caçoado pelos bêbados que ainda não haviam perdido a consciência. Ele não parecia estar ligando para os gritos e assobios pretensiosos, Mingi conhecia bem o que aqueles olhares diziam por suas entrelinhas. Desprezava-os fortemente. Mas decidiu fazer o mesmo que o garoto e aproveitar a sensação de liberdade que a música dita da Sia trazia à sua alma, como percebia que trazia também ao desconhecido de cabelos azuis.

A música se repetiu, uma, duas, três vezes mais. Mingi não se cansava e a cada vez que recomeçava o garoto sorria mais, imergindo em seu próprio mundo de diversão. Por vezes e momentos, Song também se percebia sorrindo, mesmo que bem pouco, ao ver o estado que se encontrava: tocando pop em seu violino em um bar velho com suas calças rasgadas e dançando desajeitado com um garoto aparentemente de sua idade que parecia saído de uma revista de modelos e idols. Era um pouco cômico para si estar nessa situação. Song Mingi, dezenove anos, inexpressivo, violinista de garagem e agora dançarino honorário com um desconhecido. Bem que poderia receber um pouco mais por isso, mas duvidava que o dono do bar sequer apareceria aquela semana para lhe pagar o que faltava da semana anterior.

Recebendo uns trocados a mais ou não, não negaria que foi divertido o que havia feito, que havia sido legal marcar o ritmo da música enquanto tomava cuidado para não tropeçar em bêbados junto a um garoto de cabelos azuis chamativos que dançava adoidado e passeava pelas mesas incomodando quem estivesse nelas ao tentar cantar a música e fazer também as vozes de fundo e os instrumentos restantes. Durante muito tempo Mingi não se divertia assim, livre.

A música se estendeu até que o luar de meia noite desse lugar ao quase silêncio da madrugada, aos cães latindo ao longe e ao relógio da parede que tic-taqueava indicando que há muito já deveriam estar em suas casas. A maioria dos bêbados já dormiam ou estendiam sua embriaguez nas calçadas sujas das ruas, andando cambaleantes com suas inseparáveis garrafas naquele breu, tateando os muros em busca de um lugar para encostarem. Mingi e o garoto viam, em meio à melodia, o lugar se tornar cada vez mais vazio. Dois jovens cansados, leves, pouco suados. Era uma noite quente, e o ar abafado do estabelecimento não ajudava para que se refrescassem, mas nem se importaram muito com isso. Estavam felizes.

Quando finalmente seus dedos pediram por descanso, Song recostou-se em uma das paredes descascadas, baixando Dory e o arco, entorpecido demais com as notas musicais ainda ecoando por sua mente e o sorriso bonito ainda preso em seus olhos. Foi quando então ele veio ao seu encontro, tirando os cabelos meio molhados de suor de sua testa para enxergar melhor. Mingi pôde reparar melhor nos olhos amendoados, algo neles lhe trazia à tona uma sensação de mistério envolvido a uma inocência quase infantil, era como um precipício, não sabia onde terminaria o castanho daqueles olhos. Podia acabar em um profundo oceano, ou nas rochas mais íngremes que cairiam sobre si ao mínimo tremor de seus lábios.

— Jeong Yunho — ele se apresentou, sorrindo. Mingi, inconscientemente, começava a decorar suas linhas de expressão ao ato de sorrir. — Me desculpe se pareci invasivo ao te pedir uma música. E te fazer dançar também — sorriu ainda mais. Song em momento nenhum desviou seus olhos dele, não ousava.

Yunho falava firme, mas com uma tranquilidade aparente, além de um sorriso cativante que contagiaria até mesmo o mais frio dos ursos polares de armadura que Mingi lidava todos os dias, era como sua irmãzinha denominava os orientadores do irmão que costumavam passar enormes trabalhos para que lhe fossem entregues no dia seguinte. Minsoo veria Mingi se desdobrar em quinze cavaleiros e andar capotando pelo resto do dia, se afogando em café e desembainhando Dory para lutar contra os caras maus que o deixavam cansado e triste.

— Está tudo bem, fico... Feliz que tenha gostado do meu trabalho — respondeu, a respiração forte tornando sua voz baixa, mas compreensível. Yunho ainda tinha o olhar queimando sobre si, tão bagunçado quanto, esperando por algo mais dele. Seu nome. Quem ele era. — Song. Song Mingi.

— Song... É até coincidente que seu sobrenome signifique música em inglês, acho que combina com você — observou, secando o violinista da cabeça aos pés e vendo-o corar um pouco por isso. Ao ver de Yunho, era fofo.

— Obrigado — foi a única coisa que Mingi conseguiu raciocinar para responder. Não sabia o que pensar sobre aquele incômodo que sentia ao ter o outro garoto tão perto de si observando-o com uma curiosidade genuína. Mingi nunca havia visto alguém como ele, não em sua frente como ele estava agora.

— Seria atrevido da minha parte querer te ver e ouvir seu som mais vezes? — Jeong questionou deliberadamente. Mingi viu perigo brotar naquele olhar.

— Sim, — respondeu — mas não vejo problemas nisso.

Yunho sorriu. Algo se acendeu em Mingi.

— Preciso ir.

— Vou te encontrar se eu vier aqui amanhã? — Mingi sentiu as mãos de Yunho tocarem seu braço. A pele do local pareceu se sensibilizar o suficiente para que sentisse o calor emitido pelos dedos ossudos, mesmo com a camisa bloqueando boa parte do contato.

— Talvez — respondeu.

— Você é um cara de poucas palavras — Yunho balançou a cabeça com a constatação. — É sempre assim ou é por culpa minha? Eu sou tão chato assim?

Mingi acabou sorrindo de canto com a expressão sofrida do garoto, mas não respondeu sua pergunta. Yunho, ao contrário de si, falava pelos cotovelos e guiava as palavras por caminhos tortuosos, ramificando seus pensamentos a ponto de perder a linha de raciocínio. Talvez o silêncio fosse uma resposta melhor para que ele compreendesse.

Song andou até o palco, onde havia deixado suas coisas, para enfim terminar de arrumá-las e poder ir para casa. Guardou Dory e pegou seu casaco, chacoalhando-o um pouco para que a poeira o abandonasse. Yunho, decidido, seguiu-o, e observou cada mínimo movimento do violinista.

— Isso pode parecer estranho, mas se já está indo, posso te dar uma carona se quiser — a voz grave voltou a invadir os tímpanos de Mingi, que se virou para ele.

O olhar de Song percorreu todo o seu corpo parando em seus olhos em averiguação, e Yunho sabia que ele tinha todos os motivos do mundo para nunca depositar confiança em si. Ele mesmo não depositaria. Entretanto, não conseguia controlar seus impulsos, não conseguia olhar para o garoto de cabelos escuros e descobrir mais sobre a sombra que pairava sobre ele.

— Você bebeu — Mingi disparou. Yunho negou com a cabeça, se aproximando.

— Não, não bebi. Por incrível que pareça, minha língua não sentiu nenhuma gota de álcool, pode cheirar meu hálito pra ter certeza — sugeriu, e Mingi pensou que aquilo seria pura loucura. Mas também engraçado. Jeong realmente faria isso se ele pedisse? O quão longe iria para provar sobriedade em um lugar em que até o próprio Mingi as vezes duvidava se estava sóbrio? — Ou se preferir uma forma menos constrangedora e mais gostosa...

— Não precisa. Pra nenhuma das duas — respondeu, ainda duvidando da veracidade das palavras do garoto de cabelos azuis. Estava claro que Yunho havia sim tomado alguma coisa, mas não era como se precisasse se preocupar com ele. Era só mais um garoto por aí. Só mais um garoto. Mingi soltou o ar de seus pulmões. — Não preciso de ajuda, Jeong.

— Nunca disse que precisava — o garoto retrucou, colocando as mãos nos bolsos. — Bom, já que não quer, talvez te veja amanhã e...

— Por quê? — Mingi se atreveu a questioná-lo. Suas mãos seguravam a alça da maleta e da mochila simultaneamente com certa força, e seu olhar, visto por outros, era frio e profundo como sua voz. — Por que se dar ao trabalho?

Mingi não estava irritado, de forma alguma. Porém, sabia que aquela conversa, aquelas palavras, elas escondiam mais do que transpareciam. Jeong Yunho, da forma como Song já havia observado, não tinha justificativa nenhuma para estar em um lugar como aquele, entre aquelas pessoas, perto de si.

— Eu não sei — Yunho deu de ombros, desviando seus olhos de Mingi pela primeira vez desde que chegara ali. — Não tenho motivos para querer estar aqui, mas estou. Não tenho motivos para querer sair da minha vida sem graça, mas eu saí. Não tenho motivos para querer passar a madrugada em claro com um desconhecido, mas eu quero — levantou o olhar, e Mingi pôde deslumbrar ondas de mágoas iminentes transbordando por aqueles olhos. Yunho, mesmo tendo se exposto mais do que deveria, não recuou. — O que fará quanto a isso?

— Fugir de você não te trará uma resposta — retrucou.

— Então, por que está aqui?

Mingi, novamente, não soube responder. E, de qualquer maneira, não quis.

Song odiava pensar nisso, em como era fraco por se submeter àquela situação, por escolher... Estar ali. Não responderia. Pôs a mochila nas costas e, segurando firme a maleta de Dory, andou em direção à saída, deixando o garoto de cabelos azuis para trás. Não era da conta dele os motivos para estar naquele ambiente. Não era da conta dele os motivos de frequentar aquele lugar desde seus quinze anos, desde aquele fatídico dia. Não era da conta dele entender o que era a vida de Song Mingi.

Yunho, não convencido de não ser respondido mais uma vez, correu atrás do garoto e parou-o novamente, e novamente aquela sensação de ardência e dormência em cada lugar que ele tocava de si, cada mínimo contato era como uma chama consumindo sua carne e despertando-o. Não apenas a Mingi, Jeong sentia seus dedos formigarem toda vez que estes tocavam a pele fria do moreno, atraídos por um imã imaginário, uma vontade incessável de se manter perto dele. De entendê-lo.

Ambos se entreolharam, buscando respostas que não encontrariam ali, neles, naquele momento. O tempo pareceu parar por um instante, apenas para se entregar aos dois garotos de onde o silêncio gritava.

Não sabiam da vida um do outro, ou quais cicatrizes havia em seus corpos, mas elas estavam ali, abertas, escancaradas e prontas para jorrarem em desespero. Não sabiam da vida um do outro, e não precisariam mais do que isso para entenderem que ambos estavam sofrendo demais, mais do que podiam e queriam imaginar. Não havia necessidade de palavras quando, tanto Mingi quanto Yunho, sabiam interpretar muito bem suas dores internas e enxergá-las nas pupilas transparentes de ambos.

Yunho soltou-o, as mãos trêmulas se prendendo aos bolsos de sua jeans, mas respirou fundo, vendo que não havia mais necessidade de chamar sua atenção por medo de que ele fosse embora sem ouvi-lo pela última vez. Ele ouviria uma última vez.

— Esteja aqui amanhã, eu... Gostei de te ouvir tocar.

Mingi continuou em silêncio, tentando compreender. Havia um tom em sua voz que ele não saberia dizer ao certo o que era. Um tom... De súplica. Algo naquelas palavras esboçavam um pedido silencioso de socorro. Soavam oscilantes, como uma escala musical tocada pela primeira vez por uma criança ao aprender sobre tonalidades.

— Não deveria voltar, — Mingi deixou de orbitar naqueles olhos e fitou o chão, ajeitando a alça da mochila que insistia em cair — esse não é seu lugar, sabe disso.

— Eu sei — Yunho respondeu, soltando uma risada pouco amarga vendo o violinista lhe dar as costas em seguida. Mingi não olharia para trás. Jeong seguiu-o com o olhar, vendo sua silhueta alta e confusa desaparecendo na rua por entre as sombras da madrugada alta. Suspirou. — Eu sei...  

 
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Olá! Sinceramente, não sei onde isso vai dar, mas vou aproveitar a onda de inspiração que me veio pra mergulhar de cabeça aqui. Espero eu que consiga fazer algo legal...

E a propósito, httaee, obrigada soul♡ você me dá forças todo dia e me aguenta, muito guerreira mesmo viu. Presentinho adiantado pra tu meu amor minha vida meu coração meu pãozinho com presunto meu doce de leite minha panqueca com queijo *insira mais 172918282 adjetivos aqui*

Ademais, para quem caiu de paraquedas aqui, seja bem vindo/a/e! Sinta-se em casa. Não garanto que essa obra (diga-se também delírio) chegará a algum final, mas a gente tenta né? É. As atualizações acontecerão devagar pois quero pensar bem com calma no que irei fazer, e por ainda estar ajustando meu tempo com a rotina nova. Bom, espero ver vocês logo♡.

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