capítulo vinte e quatro: Mais um dia.
Acordei assustada com o som alto do despertador do celular. Cocei os olhos e, ainda meio tonta, peguei o aparelho e desliguei. Olhei pro relógio: 07:20. Meu Deus, eu estava muito atrasada! Dormi demais. Droga...
Mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim estava feliz por ter dormido bem. Isso raramente acontecia. Pelo menos algo de bom tinha saído daquilo.
Levantei da cama, me despi rapidamente ficando nua, e pulei pro banheiro pra um banho rápido. Lavei o corpo e o cabelo com o maior cuidado possível, mas ainda assim a dor era inevitável. Eu odiava lavar o cabelo! Era uma tortura, mas eu não podia deixá-lo sujo. Que raiva!
Terminei o banho, sequei o cabelo com o secador, deixando ele no seu liso e escorrido habitual. Fiz uma maquiagem rápida, só um corretivo pra esconder as marcas de ontem, um blush e um gloss pêssego. Nada de exagero, só o suficiente.
Peguei uma legging preta bem justa que estava no meu closet e vesti o uniforme da escola: uma camiseta branca simples com o logo da escola. Não tinha muito o que pensar, só queria sair logo. Calcei meus All Star brancos e penteei o cabelo.
Não me arrumei demais. O terceiro ano do ensino médio estava me matando e eu não via a hora de acabar logo com tudo isso. Não aguentava mais as três garotas do meu colégio que viviam me machucando e me tratando como lixo. Eu era o alvo delas, e elas estavam sempre lá, prontas pra me fazer sentir péssima.
Sabe, eu já estava tão cansada disso tudo, que me cortar já era rotina. Uma forma de tentar aliviar um pouco a dor.
Coloquei um suéter branco com bordados de morangos e peguei minha mochila. Eu não queria nem sair de casa, mas eu sabia que não tinha escolha. Sabia que ia ter que lidar com mais um dia de bullying, olhares de reprovação dos meus pais, e todo o resto.
- Que vida infernal...
murmurei enquanto descia as escadas.
A casa estava vazia e silenciosa. As janelas fechadas, a luz do sol mal entrando. Provavelmente meus pais já tinham saído. Na verdade, isso até me dava um alívio. Ao menos eu não teria que encarar o olhar de desprezo deles logo de manhã.
Fui até a cozinha, peguei uma maçã que estava na mesa e saí. A brisa fria do lado de fora bateu no meu rosto, e a dor que ainda sentia na pele me lembrou da noite anterior. As garotas de novo. E meus pais... E aquele homem. Eu ainda conseguia lembrar dos olhos dele. Ele não tinha alma, não tinha emoção. Somente insanidade.
Eu vi ele matar duas pessoas, friamente. Eu fiquei paralisada, sem saber o que fazer. O som dos tiros ainda ecoava na minha cabeça, e tudo o que eu queria era esquecer.
Fora quando Ele me pegou naquela sorveteria, me segurando pra evitar minha queda, as mesmas mãos que também me deram um mata-leão brutal, quase me sufocando.
E pior ainda, quando eu cheguei em casa. fui espancada mais uma vez pelos meus pais.
Minha vida era um pesadelo, e parecia que nunca ia acabar.
Caminhei pelas ruas, vendo o céu cinza e o sol tímido atrás das nuvens. O frio de Nova Jersey me envolvia, e tudo parecia tão vazio, como minha vida. Mas, de certa forma, o mar sempre me trazia uma sensação de calma, mesmo que só por um segundo.
Todo dia eu passava pela Ponte George Washington. A vista do mar quebrando nas pedras era tranquila, quase hipnotizante. Me perdi por um momento, olhando para o oceano, pensando como seria afundar ali, perder tudo e desaparecer naquele mar gelado. Pensar nisso não me fazia sentir medo, mas sim uma estranha sensação de paz.
Foi quando meu celular vibrou, me tirando dos meus pensamentos.
Era uma mensagem de Ethan.
_
Ethan: Clarinha, onde você tá? São quase 8h, você perdeu a primeira aula. Você sabe como a professora Witney é, ela vai te dar falta...
Ethan: Você tá bem? Por favor, responde logo, tô preocupado.
_
Fiquei paralisada, olhando para o relógio. 07:46. Eu estava MUITO atrasada. A aula já tinha ido pro espaço, e minha professora de português não ia me ajudar.
Mas eu não tinha escolha, eu precisava ir.
Nem respondi a mensagem. Só andei o mais rápido que pude, descendo a ponte e já quase chegando à esquina. Parei um segundo na frente da escola, naqueles bancos onde eu costumava sentar antes de entrar, só pra respirar. Eu já estava exausta, mas tinha que ter alguns segundos de paz antes de entrar naquele inferno.
Eu perdi a primeira aula, mas dane-se. pretendia inventar alguma desculpa depois. Eu nem queria ter vindo mesmo.
Se fosse só por mim, eu com toda certeza teria faltado.
Mas meus pais iriam acabar comigo se soubessem que faltei aula, por isso, tive que vir.
Tudo que eu pudesse fazer pra evitar sofrer mais, eu faria.
Me sentei no banco, com a mochila sobre o colo, e deixei o vento frio bater no meu rosto, tentando me acalmar um pouco antes de entrar. Mas aí... algo aconteceu. Algo que me congelou.
Eu o vi.
Ele estava do outro lado da rua atravessando a mesma, se aproximando. Aquele homem... o assassino de ontem a noite.
Ele saiu de um carro preto, com aquele sorriso perverso no rosto. Ele estava me observando, com aqueles olhos azuis, como se tivesse me encontrado por acaso...
Ele veio até mim e, com aquele sorriso malicioso, disse.
- Olha só quem eu encontrei... Não pretendia te encontrar aqui, não mesmo.
Minha espinha gelou, o coração disparou. Eu sabia que a partir daquele momento, nada mais seria como antes.
Na verdade, desde quando me encontrei com ele da primeira vez, eu já sabia disso.
- V-você... Oquê está fazendo aqui...?
Eu disse entre gaguejos, a presença dele me fazia sentir tão pequena, tão impotente, que eu que já gaguejava devido a timidez, acabava gaguejando mais ainda.
- Vim te ver, meu bem. Não posso?
Ele disse em um tom sarcástico, e se sentou ao meu lado, me fazendo suspirar fundo, tentando associar se aquele momento era real ou não.
- Sem brincadeira agora, você sabe muito bem o porquê eu estou aqui. Não se faça de desentendida.
Ele disse enquanto me olhava por inteira, com aqueles olhos azuis como a água do mar, me devorando indiretamente. Parte por parte.
- M-Mudou de ideia e decidiu me matar...?
Perguntei, com um sorriso fraco, desejando que fosse isso mesmo.
Mas, ele então deu uma risada grave e baixa, que me deixou encolhida e intimidada, ainda olhando diretamente pra mim.
- Tenho em mente coisas mais interessantes pra fazer com você.
Ele deu um sorriso de canto, ainda me olhando, e naquele momento, nossas iris se encontraram.
Eu então, pude olhá-lo com mais clareza agora, a luz da manhã.
Ele era... Droga, lindo...
Alto, usando roupas sofisticadas e sociais, seu cabelo preto estava perfeitamente penteado pra trás, com gel ou apenas molhado, eu não soube distinguir.
Tinha uma tatuagem do lado esquerdo do pescoço, eu mal pude ver oque estava escrito na mesma, já que sua camisa social a cobria um pouco e ele usava uma corrente de prata que dificultava mais ainda.
Sua pele era clara, e o ápice de tudo...
Era aqueles olhos azuis frios e sem brilho algum. Inclinados e desafiadores.
Sua expressão parecia congelada em um sarcasmo eterno, ou perversão.
Ou seja...
Céus....
- E-Espero que alguma delas me levem á morte...
Eu disse bem baixo, em um tom quase inaudível.
- Você é estranha, garota. Gostei de você.
Ele disse, ainda sem tirar seus olhos de mim, como se... Eu fosse a única na face da terra.
Estranha...?
Tantas pessoas me chamam assim, que eu até mesmo perdi as contas.
Mas ele...
Ele disse isso com um tom diferente, não parecia algo ruim, parecia... Bom aos olhos dele.
- J-Já me disseram isso, mas... O-o jeito que você falou foi... Diferente...
Eu abaixei a cabeça, fugindo daqueles olhos azuis e penetrantes por um segundo, minha franja longa caiu delicadamente sob meus olhos, cobrindo o mesmo, enquanto ele se aproximava um pouco mais.
- Que bom que você notou.
Ele disse, levando uma mão até minha franja, que cobria meu olho direito, e a colocou devagar com um toque delicado, atrás da minha orelha.
Suspirei fundo e senti minhas bochechas corarem, enquanto ele me olhava, agora mais próximo a mim.
- Quero saber seu nome, me diga.
Ele disse próximo a meu rosto, sua respiração quente me tocando ali, e o cheiro do seu perfume forte e masculino invadindo minhas narinas.
- M-Meu nome é... Claire... Claire Alisson...
Eu disse novamente, em tom baixo e ambiente.
Ele então deu um sorriso de canto, se afastando um pouco.
- Belo nome, combina com a sua aparência.
Naquele momento, meu rosto esquentou e eu senti minhas pernas bambearem... Droga...
- O-Obrigada... E.... O seu...? Qual é?....
Perguntei, ainda sem olhá-lo.
E ele então me olhou de canto, de forma agora séria e fria.
- Não é algo que você precise saber por agora, gatinha. Mas na hora certa, você saberá.
Ele me olhou por inteira, ainda de maneira inexpressiva.
Droga, isso me deixou... Ainda mais curiosa...
Qual seria o nome desse homem tão... Sombrio?
Então, naquele momento, apenas engoli em seco e encarei o chão, tentando não olhá-lo, tentando não ser pega por seus olhos tão perversos e ríspidos.
- Uh... Você tem aula agora, não tem? Está fazendo o que sentada aqui fora?
Ele perguntou, em um tom frio, mas ao mesmo tempo, com um pouco de curiosidade.
Eu então suspirei fundo e o respondi, ainda sem olhá-lo.
- E-Estou aproveitando meus últimos minutos de paz antes de entrar no inferno que é esta escola...
Ele então, se virou pra mim e arqueou uma sobrancelha.
- É tão ruim assim?
Sua voz grave e seu tom de sarcasmo me fizeram olhá-lo naquele momento, e eu assenti.
- Sim, na verdade.. é b-bem pior do que você imagina...
Sussurrei em um tom mais baixo, olhando para o lado, e vendo que alguns alunos do ensino fundamental estavam descendo para a quadra.
Normalmente, eles descem as 8:00!!
Ah, que inferno, eu já estava muito, mas muito atrasada...
- Droga... V-vou ter que ir...
Eu disse ainda em tom baixo e tímido, e ele então se aproximou de mim, levando sua mão até a minha, a subindo até meu pulso.
- Espera, Claire. Olha pra mim.
Sua voz agora soou ameaçadora, mesmo que indiretamente.
Ele subiu sua mão um pouco mais e segurou um pouco acima do meu pulso com uma força bruta, e chegou mais perto de meu rosto, sussurrando em um tom grave perto de meu ouvido.
- Não pense que eu esqueci do que aconteceu ontem. Só pra que entenda, não sou do tipo que perdoa ou que finge que nada aconteceu.
Sua mão soltou meu pulso com rispidez e ele me olhou, como um predador faminto olha uma presa indefesa.
Mas então, naquele momento, sentindo a raiva de ter que enfrentar tudo oque enfrento diariamente, de novo. Eu o olhei e de forma séria, sentindo meus olhos lacrimejarem, de tristeza, de dor, sussurrei de volta.
- Se está tão irritado comigo, m-me mate logo...
Eu disse, implorando pelo meu fim mais uma vez, e me levantei do banco, e ele rapidamente se levantou também, ele era o dobro do meu tamanho... Alto e forte, seu toque parecia demais pra que eu suportasse.
Tudo nele, na verdade. Eu me senti tão pequena, tão inútil e tão sem forças perto de alguém tão grandioso...
Ele então se aproximou de mim, levando sua mão até meu rosto, o apertando.
Sua mão era grande, e apenas uma, já segurava toda a minha bochecha, sem precisar se esforçar.
Ele então deu aquele sorriso perverso e frio, mais uma vez, e disse próximo aos meus lábios.
- Não vou te matar tão cedo, gatinha. Ainda tenho que te foder muito...
Ele disse em um tom mais baixo, enquanto olhava diretamente nos meus olhos.
Naquele momento, me afastei dele, me livrando do seu toque enquanto sentia meu rosto esquentar e arder de tanta vergonha.
Em que... Em que sentido ele quis dizer isso?
- M-Mas v-você nem me conhece direito!!
Me afastei dele, e ele então me olhou por inteira novamente, da cabeça aos pés, me deixando ainda mais nervosa, sem controle do meu próprio corpo.
- Não foi esse o sentido, meu bem... oque eu quis dizer é que vou foder sua vida, você pensou em outra coisa é? Bom saber.
Não!! Que droga, droga!! Eu não deveria ter expressado tão rapidamente oque eu habia pensado, não mesmo...
Mas ainda bem... Que o significado da coisa era outro...
Droga...
- N-não pensei em nada... v-você deve ter ouvido errado...
Aquele homem então se aproximou novamente de mim, e levou sua mão até meu rosto novamente, o apertando, o puxando pra mais perto dele, que se inclinou pra sussurrar em meu ouvido, me fazendo estremecer mais uma vez.
- Eu sei muito bem oque eu ouvi, gatinha. Não sou bobo, muito menos surdo.
Ele então se aproximou mais de mim, pude sentir sua respiração quente tocando meu pescoço, e o ouvi dar um riso baixo e grave
- M-mas é um pervertido...
Sussurrei baixo, evitando olhá-lo, enquanto dizia a primeira impressão que tive dele, ao levar pro sentido sexual oque eu havia dito...
Se bem que... Ele não estava errado, mas ter dito que foi "interessante" ouvir aquilo com toda a certeza é coisa de um... doente tarado...
Ele então deu risada mais uma vez.
Aquela risada fria, insentimental, grave e ao mesmo tempo, rouca, que me assustava e me arrepiava dos pés a cabeça.
Droga...
Eu sou muito sem sorte...
Me encontrei com um assassino...
Que tem a beleza de um anjo...
De lúcifer talvez, mas ainda assim, um anjo.
- Pervertido, é? Uh... Meu bem, se você soubesse oque eu fiz ontem a noite pensando em você...
Ele deu um sorriso de canto enquanto me soltava, sem tirar seus olhos de mim. Mas que agora, não estavam mais nos meus.
Eles pareciam... Descer mais e mais...
Como se ele estivesse vendo uma presa fácil a sua frente.
Oque ele quis dizer com isso? Pensando... Em mim?
- V-Você é doente... Nós nos vimos ontem...
Eu disse baixo, enquanto a coragem de encarar seu rosto nunca chegava.
- E desde ontem mesmo eu me vislumbrei pelo doce anjo que você é, gatinha.
Ele levantou meu queixo me fazendo olhá-lo, droga... Eu estava vermelha como um Pimentão, e agora olhando-o nos olhos.... Parecia que meu rosto iria se incendiar...
- M-Mas eu sou estranha... E...
- E eu gostei.
Ele disse, parecendo completar oque eu estava dizendo, em um tom grave.
levando seu dedo até meus lábios, os acariciando devagar, me fazendo continuar olhando em seus olhos azuis e malignos
Vislumbrado?
Anjo?
Todos me chamavam das piores maneiras possíveis...
Porquê é que um homem como ele viu tantas qualidades em mim?
- Bom, Claire... Pra encerrar nossa conversa, saiba que logo vamos nos encontrar novamente. Não vai demorar, pode acreditar.
Ele disse em um tom firme e frio, enquanto me soltava.
- E Comece a rezar pra que eu tenha piedade de você, antes de te encontrar de novo.
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