capítulo vinte: Destruída
Eu estava chegando em casa, correndo pelo asfalto gelado, a chuva batendo forte, fria e constante, como se o mundo quisesse me afogar naquela noite sombria. assustada, com o coração disparado, parecia que o medo não me deixava respirar. Cada passo era uma tentativa de escapar de algo que eu não sabia definir, mas que me consumia por dentro.
Eu sentia uma ansiedade horrível, uma sensação de que minha alma estava se esvaindo. Queria que algo acontecesse, que ele mudasse de ideia e me matasse logo, que a dor finalmente me tomasse por completo. Eu só queria acabar com tudo. Queria que ele me matasse de uma vez, para que eu pudesse, enfim, descansar em paz. Mas, por que ele não me matou?
O mundo ao meu redor já não fazia mais sentido. Tudo parecia um ciclo repetitivo, vazio e frio. Eu não via razão para continuar, não via beleza em nada. O que restava em mim?
Sou apenas uma casca...
Parei na esquina de casa, com a visão turva pela chuva e pelas lágrimas que eu já não conseguia segurar. A rua estava silenciosa, vazia. A casa diante de mim parecia um reflexo do que eu sentia: desabitada, sem vida. Talvez meus pais tivessem desistido de mim, talvez tivessem largado a chave e ido embora. Eu não me surpreenderia. Eu já esperava isso.
Meu vestido estava encharcado, grudado em meu corpo, e meus cabelos loiros, pesados pela água, caíam sobre meu rosto, cobrindo meus olhos. A cada passo em direção à porta, um peso maior se formava no meu peito, como se cada movimento fosse mais difícil que o anterior. Quando coloquei a chave na fechadura e girei, algo me fez hesitar. A porta abriu sozinha, com um rangido que fez meu coração saltar de susto.
Mas quem estava ali? Meus pais me haviam mandado mensagens pedindo pela chave. Então, quem poderia ter entrado antes de mim?
Ainda sem entender, entrei na casa e caminhei pelos corredores escuros, sentindo o peso da solidão em cada passo, o eco de minha respiração abafada. A casa estava silenciosa, mas logo, o som de algo caindo no chão cortou o ar. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, senti uma dor insuportável. Alguém me puxou pelos cabelos, com força. Fui arrastada, sem conseguir reagir. A dor no meu couro cabeludo era tão forte que parecia rasgar minha pele, e eu podia sentir os fios sendo arrancados de minha cabeça sem piedade alguma.
Eu gritava, mas minha voz era fraca, quase inaudível, vencida pelo medo e pelo cansaço.
- P-PARA!!!
As palavras saíam trêmulas, mas a violência não parava. Me debatia, mas estava tão exausta, tão destruída, que era como se minha força tivesse se dissipado. De repente, fui lançada contra a parede com um impacto brutal. A dor foi imediata e lancinante, como se minha pele e meus ossos tivessem se partido ao meio. Gritei, mas o som era abafado pelo choque, pelo desespero.
- P-Por favor... Está doendo!
Eu estava tão machucada, que a dor física se misturava com a dor emocional. Tudo doía. Cada palavra, cada gesto, cada olhar de condenação me dilacerava por dentro.
Quando olhei para cima, vi a luz de um dos corredores acender. Meus pais estavam ali, parados, me observando com uma expressão que eu conhecia bem: desaprovação. Meu coração afundou ainda mais. Eu não aguentava mais aquilo.
As lágrimas caíam sem controle, mas eu sabia que não importava. Eles sempre estariam ali, a me ver como um fardo, como algo que nunca seria bom o suficiente. Eu era lixo para eles, nada mais.
- Até quando vamos ter que te tratar assim para você aprender? Você não faz nada certo, só traz problemas!
A voz de Rosie cortou o silêncio, fria e implacável. Eu não sabia o que responder. Não conseguia mais lutar contra isso.
- Vocês me tratam mal porquê gostam de me humilhar!!! Parem de jogar a culpa em mim!! E eu não... e-eu não iria demorar...
As palavras saíram trêmulas, quase um suspiro. Mas antes que eu pudesse terminar, Rosie me deu um tapa no rosto. O impacto foi brutal, fazendo-me virar a cabeça com força. Eu gaguejava, entre soluços, sem conseguir processar o que estava acontecendo.
- Nos obedeça, sua inútil! O que você tem na cabeça, hein? Sua boca parece uma privada do tanto que sai merda! Se eu fosse você ficava calada!!!
Ela continuou a me insultar enquanto eu permanecia no chão, com a mão sobre o rosto queimando de dor. Eu não conseguia parar de chorar. O choro me consumia, o sofrimento tomava conta de mim, como uma tempestade sem fim.
Meu pai, Adam, se aproximou, seu rosto sem expressão.
- Vai pro seu quarto e só sai de lá quando for sua hora de aula. Não queremos ver sua cara imunda até amanhã. Ou as coisas vão piorar pro seu lado.
Aquelas palavras cortaram como lâminas afiadas. Eu sabia que não era nada além de um saco de pancadas.
Nada do que eu fizesse nunca seria o suficiente.
E então mesmo com dificuldade, me levantei e fui até meu quarto. Cada passo era uma luta, cada movimento me lembrava das feridas que mal cicatrizaram hoje de manhã.
E Quando subi pelas escadas, olhei para trás, meu olhar vazio, se encontrou com o de meus pais.
"Piorar?" O que poderia piorar? O que poderia ser mais doloroso que isso? Será que realmente havia algo pior que aquilo tudo?
Eu dei um sorriso frio, sem vida, sem esperança. Meu coração estava se despedaçando, mas eu não podia mais chorar. O que viria agora? A dor de um chute no estômago? A dor de mais um golpe físico ou psicológico? Eu não sabia, e não me importava.
- P-Piorar... Bem, Rosie me deu um chute no estômago que me fez perder a menstruação por dias... O que poderia ser pior que isso, pai? Me diga, porfavor.
O silêncio que se seguiu foi pesado, denso. Eu não esperava resposta. Eu já sabia o que viria: mais uma noite de solidão e sofrimento. Sem a piedade e o amor deles, que nunca havia existido.
- Eu imaginei... b-boa noite.
As palavras saíram baixas, entre as lágrimas que pareciam nunca parar. Entrei em meu quarto, em meu refúgio vazio. O lugar onde o luxo e a aparência não significavam nada. Onde o dinheiro não comprava o que mais eu queria: felicidade. Amor. Algo que valesse a pena. Algo que me fizesse sentir viva, ao menos por um momento. Mas eu sabia, isso nunca aconteceria.
A noite, lá fora, estava fria, e eu via o vento balançar as árvores. A neblina cobria o mundo, como se ele estivesse me escondendo de tudo, de todos, até de mim mesma.
E naquela noite, quando tudo parecia tão quieto, tão imutável, eu me entreguei ao meu sofrimento. Encharcada, suja de sangue e poeira, caí na cama, meu corpo pesado, meu coração mais uma vez esmagado pela dor. Eu não me cortei. Já havia sentido dor o suficiente.
O único desejo que restava em mim era o de desaparecer. De não acordar. De ser apagada de uma vez.
E assim, adormeci, com a certeza de que a morte era a única amiga que eu ainda tinha.
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