Capítulo cento e noventa e seis: Desespero.
Eu devo acreditar nela? Devo acreditar que ela não fará nada contra a própria vida?
Não, é claro que não! Jamais!
Claire, desde que a conheço e do que entendo sobre sua vida, têm se auto-mutilado, e ainda mais agora em um momento como esse...
Quem me garante que ela não irá se machucar?
Eu não sei ainda, não sei mesmo oque houve com ela... E aquele maníaco do Rafael...
Mas sei que coisa boa não aconteceu.
Droga, não, é óbvio que não!
Eu vi bem o estado em que minha doce garota estava, chorando mais do que eu já havia visto em toda a minha vida, suja de... Sangue, e com a mente completamente frágil e insana.
Vi de perto sua pele, e ela não havia se machucado naquele momento, e em prantos me disse que aquele sangue não era seu...
E também, me contou que não estava mais namorando com aquele doente.
... Mas que merda tinha acontecido?
Minha mente estava ao ponto de cozinhar pra tentar entender toda aquela situação, mas eu não conseguia, e tudo oque eu podia fazer era acolhê-la naquele instante e abraça-la até ela parar de chorar.
Tentei distrair sua mente com um filme, e comidas gostosas, e eu até consegui por algum tempo.
Mas o amor que eu sentia por ela falou alto novamente, e eu acabei a beijando...
E droga, foi tão bom...
Mas isso a irritou, e muito.
Porém, ela estava certa.
Claire havia acabado de terminar um relacionamento tóxico e doentio, e eu nem sequer coloquei a mão na consciência pra rever isso.
Foi muito, mas muito idiota da minha parte, eu sei.
E eu me senti mais culpado ainda quando ela me disse que precisava sair pra transparecer os pensamentos, que precisava ficar em qualquer lugar, menos enfurnada naquele quarto, comigo.
Naquele momento pude ver o quão triste e desolada ela estava, com os olhos cheios de lágrimas, alegando que não faria nada contra si mesma, que só queria andar um pouco pela noite fria e se acalmar...
E eu até que assenti por um momento, mas depois que ela pisou os pés pra fora...
Uma sensação matadora corroeu meu peito de dentro pra fora, me fez arrepiar, perder o ar...
E eu pensei em tudo que poderia acontecer com ela, se eu a deixasse sozinha.
E é lógico que os piores cenários possíveis me trouxeram memórias, e junto com elas, uma dor no peito que piorava a cada milissegundo.
Parecia que eu iria morrer se não fosse atrás dela! Parecia que... Algo muito, mas muito ruim iria acontecer!
E eu... Eu tinha, tinha que evitar!
Droga... Droga!!! Mil vezes droga!!!
Peguei rapidamente meu moletom preto, que eu sempre trazia junto comigo pra onde quer que eu fosse, já que nova jersey era muito frio, e sai o mais rápido que pude da casa dela, pela porta da frente.
Vesti meu moletom quando senti a brisa gelada e cruel bater em meu rosto, me fazendo estremecer, e rapidamente peguei minha bicicleta, olhando pros dois lados da rua, até achá-la.
E como não fazia muito tempo que ela havia saído, apenas alguns minutos, eu logo a vi.
Caminhando na direção contrária da cidade, indo para a rodovia vazia onde só se podia ver florestas, e mais nada.
Caminhando devagar, sem nenhum agasalho pra cobrir seu corpo.
Naquele momento, tudo oque eu queria era puxá-la contra mim e dar meu moletom pra ela, e aquecê-la enquanto a acaricio nesse frio, aqui mesmo, no meio da estrada.
Mas ela havia implorado por um tempo sozinha, e eu deveria respeitar isso é claro.
Então vou deixá-la, mas não vou parar de cuidar dela de longe.
Não mesmo.
Então continuei a seguindo, imperceptivelmente, andando devagar com minha bicicleta naquele frio terrível e cortante, embaixo do céu escuro e neblinoso, sem tirar os olhos dela.
Até que ela se virou, e entrou em uma trilha na floresta densa e escura.
Não... Não pode ser...
Ela está indo... Pra casa do Rafael?
Merda... Isso me deixa ainda mais nervoso.
Porquê droga ela vai lá??
Eles não haviam terminado??
Que.. droga!!
Naquele momento parei um pouco, e pensei se continuaria a seguindo...
Rafael já me ameaçou inúmeras vezes, se ele me vesse ali... Com toda certeza eu seria morto.
Mas quer saber? Que se dane! Eu preciso cuidar dela!! Minha Claire precisa de mim, ela... Está tão desolada e triste que não posso deixá-la sozinha de jeito nenhum.
Não me importo se aquele doente mental vai me ver ou não.
Eu só quero proteger a minha garota.
Então, vendo que ela já não estava mais ao alcance dos meus olhos, pedalei o mais rápido que pude, cansando meu corpo e fazendo o ar frio torturar minhas narinas, já que eu estava ofegante, enquanto eu adentrava também aquela trilha na floresta.
Quando cheguei na mesma, desacelerei, pedalando mais devagar para que ela não pudesse me notar, e logo vi aquela casa...
Tão grande e sofisticada, mas, totalmente escura, eu mal a enxerguei em meio a toda aquela escuridão.
E também não vi Claire.
Ela não estava em lugar nenhum.
É óbvio, ela deve ter entrado na casa, por isso não estava aqui fora.
....
Parei em frente a casa, atrás de algumas árvores, e fiquei do lado de fora, esperando Claire sair dali.
Se eu entrasse, ela com certeza iria me notar, e talvez iria até mesmo brigar comigo.
Ela poderia se irritar, dizendo que eu não fui respeitoso com sua decisão...
Então por hora, resolvi ficar ali, encarando aquela casa de longe.
Me encostei sob a árvore enquanto ainda olhava pra cima, pro segundo andar da casa, e percebi que o vidro da sala estava totalmente quebrado, e que os cacos tomaram conta do jardim da frente.
E então, ao perceber aquele detalhe estranho, encarei mais aquele vidro quebrado e vi algo pior.
Sangue...
Que droga...
Engoli em seco enquanto arregalava os olhos, olhando pra baixo, para os cacos caídos no jardim frontal.
Eu vi... Eu vi algo estranho ali, e também muito mais sangue.
Comecei a me arrepiar todo, sentindo a cor de meu rosto ir embora, e então, eu me desencostei da árvore onde eu estava, e fui até aquilo.
Em passos lentos e trêmulos, até que dei um pulo de susto, sentindo meu coração pular pela boca.
Eu vi uma garota morta, caída com o rosto contra o chão, seu corpo estava todo cheio de cacos de vidro, grandes e pequenos, e pelo que vi, oque pode ter causado sua morte foi um caco maior que atravessou sua garganta...
Ela parecia ter sido jogada de lá de cima.
... Quem é essa garota??
E Que droga aconteceu aqui??
Senti meu coração bater mais forte, e a falta de ar me tomar por completo.
merda de ansiedade!!!
E estava ainda pior, já que conforme eu me aproximava, eu parecia conhecer a garota morta que ali estava.
Mas que se dane!! Eu preciso ver!!
Me aproximei ainda mais, mesmo ainda tremendo muito, e me abaixei.
O cheiro ruim e forte, parecido com ferrugem tomava minhas narinas, e eu engoli em seco, tomando coragem para virá-la e descobrir de vez quem era ela, e o porquê eu estava sentindo tanta familiaridade ao olhá-la.
Levei minhas mãos frias e trêmulas até seu ombro, e a virei devagar, seu corpo já estava rígido e gelado, ela já estava realmente morta.
E então, assim que a virei devagar e vi sua feição ensanguentada e deformada por tantos cacos de vidro, no mesmo instante eu a reconheci, mesmo naquele deplorável estado...
Minha pele toda gelou, e eu senti o ar ser roubado de meus pulmões novamente, por conta da droga da ansiedade.
- Laurie... Que... Merda... Que... MERDA.
Me levantei e me afastei aos poucos do cadáver dela, enquanto imaginava mil coisas, do porquê ela estava aqui, na casa desse doente mental do namorado da Claire, e porquê ela estava morta?
que droga é que havia acontecido???
Meu cérebro parecia estar se dissolvendo com tantas perguntas, ele parecia derreter e escorrer pelos meus ouvidos, e se juntava com o aperto no peito que eu sentia, gerando uma mistura terrível e dolorosa de sentimentos.
Droga... A Claire!!!
Arregalei os meus olhos e entrei em desespero, sabendo que ver o cadáver de Laurie havia me desviado do meu propósito original, que era cuidar de Claire.
Que se dane!!! Eu vou entrar e vou procurar por ela!!!
Então, sem mais nem menos, abri a porta da frente, que só estava encostada, e subi a mesma, desesperado a procura dela.
Até que parei assim que senti o mesmo cheiro que vinha de Laurie, tomar minhas narinas novamente.
Droga... Com toda certeza é sangue!
A casa estava escura, nenhuma luz acesa, apenas a luz da lua e mais nada, então eu mal conseguia ver.
Andei pela casa, procurando pela origem do cheiro, já me tremendo todo, louco pra gritar por Claire, e tirá-la daqui.
Até que olhei pra baixo, e mais uma vez o ar sumiu do meu peito.
Eu dei um passo pra trás, ainda sentindo muita falta de ar, e vi de onde vinha aquele cheiro.
E por incrível que pareça, ver aquela pessoa naquele estado, não me chocou, nem nada, só me assustou um pouco.
Sim, era ele.
O desgraçado do namorado dela.
Ele estava caído, e pelo pouco que pude ver, muito machucado, com muitas marcas fundas pelo seu corpo.
Que pareciam ser... Golpes de faca.
O sangue estava seco ao seu redor, e o corpo dele parecia rígido e congelado pra sempre.
Ele... Estava morto?
Droga... Pelo menos era oque parecia.
Enquanto olhava aquele doente naquela situação, me lembrei de quando fui até a casa de claire hoje mais cedo e a vi ensanguentada, e chorando muito.
De primeiro momento, eu pensei que ela tinha se machucado, mas depois... Eu chequei seu corpo e não havia nada, nem sequer um arranhão, e então... ela me olhou nos olhos e disse de forma fria e baixa.
" Se eu estou suja de sangue, mas não estou machucada, eu com certeza machuquei alguém... Não é óbvio?"
Merda... Então foi ela que fez isso??
Ela que matou lizzie? E... Matou ele ???
Claire... Droga!!
Logo me voltei as minhas intenções originais, que eram procurá-la, e corri pela casa em total desespero? A procurando em todos os lugares, até que passei pela sala e tropecei em algo mole e escorregadio.
Merda... Que merda... QUE MERDA!!!
Olhei pra baixo, já sentindo o medo me dominar e minhas mãos ficarem trêmulas, e vi mais um cadáver...
Droga...
Era Lizzie....
Ela estava ainda pior que laurie, suas costas estavam abertas e totalmente expostas, ela foi morta de forma brutal e parecia ter sofrido muito quando foi atacada daquela maneira.
Foi ela... Com toda certeza foi...
Claire...
Ela sujou suas mãos de sangue, dessa vez...
Não foi o dela...
Ela...
Falando nela... Porque merda eu não estou a encontrando??
- CLAIRE!!! PODE FICAR COM RAIVA DE MIM SE QUISER!! EU TE SEGUI ATÉ AQUI SIM!!! MAS FOI PRA CUIDAR DE VOCÊ!!! ONDE VOCÊ ESTÁ????
gritei pela casa, a procura dela, mas não tive retorno algum.
Até que, um som estrondoso me assustou naquele momento, era um trovão, que deu inicio a uma chuva forte e fria.
Droga, que susto.
- SE ESTIVER ESCONDIDA POR VERGONHA, SAIBA QUE NÃO VAI ADIANTAR !!! EU VI TUDO OQUE VOCÊ FEZ... E... E-EU NÃO TÔ COM MEDO! MUITO MENOS RAIVA DE VOCÊ!!
Gritei, e mais uma vez. Tudo oque eu ouvia era o eco da minha própria voz e o som da chuva forte que vinha lá de fora.
Onde ela está???
Eu a vi entrando aqui, então ela tem que estar aqui!!!
Pensando bem... Eu olhei em todos os lugares... Menos... No banheiro.
Não, não, não...
Não...
Ela não vai estar no banheiro...
Não vai...
Não...
Engoli em seco, sentindo meu coração se retorcer dentro do meu peito, de medo e preocupação, enquanto procurava pelo banheiro em toda a casa.
- Minha pequena... Onde... Onde você está...
As lágrimas escorriam dos meus olhos como cachoeiras enquanto eu imaginava o pior, e a dor em meu peito se intensificava a cada instante. Eu não me importava com os três mortos ali; eles fizeram mal a ela e, portanto, mereciam o que tiveram. Mas ela... Ela precisava estar bem! Ela precisava estar... viva.
Percorri o corredor do andar de cima e entrei no quarto que parecia ser daquele crápula. Era um espaço grande, provavelmente uma suíte. Em desespero, vasculhei o quarto e logo avistei uma porta entreaberta. O cheiro de sangue me incomodava novamente.
Sem pensar, corri para o banheiro e empurrei a porta. Minha respiração falhou ao encarar meu pior pesadelo.
-CLAIRE!
gritei entre lágrimas, um grito de dor e desespero total, enquanto me ajoelhava ao seu lado, ao encontrá-la.
Claire estava caída no chão, com o pulso direito cortado em marcas profundas e largas, que pareciam letras, formando uma poça de sangue ao seu redor. Seu rosto, antes tão vibrante, estava frio e pálido, e seu corpo estava enfraquecido, quase rígido. Não... Não!!!!
Me aproximei dela, e a puxei para meu colo, chorando e sentindo meu coração se partir com a mínima possibilidade de que ela pudesse estar... morta.
- Meu anjo, por favor, volta para mim! implorei, a abraçando com força, enquanto seu sangue se misturava ao chão frio.
O sofrimento que eu sentia era tão imenso e doloroso que eu mal sabia o que fazer. Meu peito doía, me enfraquecendo ainda mais. Mas não... Eu não podia deixar a ansiedade me dominar! Eu Precisava ser forte para cuidar dela, encontrar socorro, pedir ajuda, qualquer coisa. Eu precisava salvá-la! Não podia deixar minha pequena morrer!!!
De jeito nenhum!!!
- Eu... Eu vou te trazer de volta, meu anjo! Vou cuidar de você, eu prometo! Você vai voltar para mim!
Gritei, minha voz embargada pelo choro enquanto a apertava contra meu peito. Cada lágrima que escorria parecia pesar toneladas, e a dor imensa que sentia quase dilacerava meu coração ao ver o estado em que ela se encontrava.
Ela vai sair dessa, eu sei que vai! Eu vou fazer tudo o que for necessário para que ela se recupere. Minha pequena não pode morrer aqui. Não pode, não deve!
Apesar da fraqueza e do tremor que tomavam conta do meu corpo devido a ansiedade, tomei a coragem necessária e a ergui do chão frio e coberto de sangue. A cada movimento, o peso da responsabilidade e do medo quase me paralisava, mas a determinação de salvar sua vida era mais forte.
Corri para fora da casa, desesperado, com ela em meus braços. As lágrimas continuavam a rolar sem parar, misturando-se ao sangue em minhas mãos e ao chão frio que eu deixava para trás. Eu precisava encontrar ajuda, qualquer socorro, e rápido, para que minha pequena pudesse ser salva. A vida dela estava em minhas mãos e eu não descansaria até que ela estivesse salva...
Finalmente, meus pés estavam fora daquela casa, tocando a grama fria que se estendia ao redor. A chuva agora se intensificava, caindo com força e nos encharcando a cada segundo. Mas nada disso importava para mim naquele momento. Meu único pensamento era em socorrê-la.
Desesperado, segui pela trilha estreita que se perdia na floresta, os galhos das árvores se estendendo como se quisessem me deter. Senti a umidade da terra e o frio da chuva penetrando minhas roupas, mas continuei sem hesitar. Ao sair da trilha e alcançar a estrada, a visão era limitada pela cortina de água que descia do céu.
Caminhei ao longo da estrada, com Claire nos braços, a chuva batendo em nossos corpos e tornando o caminho ainda mais escorregadio. Gritava e implorava por ajuda a cada carro que passava, minha voz carregada de desespero e esperança. As luzes dos veículos piscavam na chuva, mas o barulho do movimento e da tempestade parecia abafar meus gritos. Mas eu estava determinado a fazer qualquer coisa para chamar a atenção, sabendo que cada segundo contava para salvar a vida dela.
Mas finalmente, após o que pareceu uma eternidade de desespero, um carro parou ao nosso lado. Senti um alívio profundo, como se um peso imenso tivesse sido retirado de meus ombros. Agora, finalmente, poderia levá-la ao hospital, onde receberia os cuidados necessários e se recuperaria. Minha pequena, ela vai ficar bem. Eu tinha que acreditar nisso.
- O que aconteceu, meu amigo? Está tudo bem?
perguntou o motorista, sua voz carregada de preocupação.
- Por favor, só me leve ao hospital! Ela está perdendo muito sangue!
Implorei, as lágrimas se misturando com a chuva que continuava a cair incessantemente. E então, o motorista rapidamente destrancou a porta do carro, permitindo que entrássemos.
- Pode deixar, eu a levo. Não se preocupe, vamos.
respondeu ele, tentando acalmar minha ansiedade.
Entrei no carro com Claire ainda em meus braços, apertando-a contra mim com toda a força que me restava. Enquanto me acomodava no banco, meu coração clamava silenciosamente por um milagre, desejando que meu anjo não tivesse que voltar para o céu. Enquanto a chuva continuava a bater no vidro do carro, uma sinfonia de desespero e esperança enquanto eu lutava para seguir forte, até chegarmos ao hospital.
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