Capítulo 7
- Por que está me tratando dessa forma? - Pergunto curiosa.
Meu pai faz uma cara feia, e cochicha:
- Cale a boca.
- Mas...
- Me obedeça Lina. - Ele me corta. - É bom que pareça uma filha amorosa ou então vai se arrepender.
Ele fala tão baixo, provavelmente para o seu convidado não escutá-lo. Já percebi que ele está apenas atuando, e quer parecer um pai amoroso.
- Sente-se querida.
Ele pega minha mão e começa a andar em direção a mesa, puxa uma cadeira para mim, então me sento.
- Obrigada. - Agradeço cabisbaixa.
- Cumprimente nosso convidado. - Meu pai fala.
- Boa no... - Quando levanto meu olhar me deparo com Mateo sentado em minha frente.
Ele não parece nem um pouco surpreso com a minha presença, o que faz surgir milhões de perguntas em minha mente.
- Olá Lina. - Ele exibe um sorriso misterioso.
- Olá. - Digo apenas.
- Que surpresa nos encontrarmos novamente.
- Tenho quase certeza que não é surpresa alguma para você. - Retruco.
Não tenho ideia do que está acontecendo, mas de uma coisa tenho total certeza, ele não está nem um pouco surpreso.
- Você está certa. - Ele sorri abertamente.
- O que está acontecendo pai? - Me viro para ele.
- Vamos jantar primeiro, depois conversamos.
- Mas...
- Você deve estar com fome querida. - Ele me corta novamente.
Surgem algumas pessoas que não conheço e começam a colocar as refeições sofre a mesa.
- Obrigada. - Agradeço quando uma moça me entrega um prato.
- Me lembrei que você ama hambúrguer. - Meu pai fala.
Fico surpresa por ele lembrar disso, mas logo me lembro que é tudo fingimento apenas para seu benefício próprio.
- Obrigada. - Sorrio fraco.
- Já faz tanto tempo que minha pequena não vem em casa. - Meu pai faz um biquinho ridículo. - Deveria visitar seu velho pai com mais frequência.
- Desculpe. - Peço. - Não tenho muito tempo por causa do trabalho.
Entro no seu jogo já que ele me ameaçou. Mas a minha vontade é de fugir o mais rápido possível, para não olhar mais na sua cara falsa.
- Aproveite enquanto tem seu pai vivo Lina. - Mateo diz. - Nunca se sabe o dia de amanhã.
Vejo algo sombrio em seus olhos, e me pergunto o que realmente se passa na mente desse homem.
- Você tem razão. - Afirmo com a cabeça.
Se ele ao menos soubesse como meu pai é, e se eu pudesse dizer, mas prefiro me manter em silêncio não porque sou covarde, mas para meu próprio bem e o da Luane.
Pode ser cruel uma filha pensar isso do pai, mas para mim não faria diferença ele estar vivo ou morto. Apesar de querer sua mudança, acho bem improvável que isso aconteça algum dia.
- Não está com fome querida? - Meu pai pergunta. - Está tão magra.
Provavelmente percebeu que estou apenas revirando a comida, e aproveitou para se passar por um bom pai.
- Comi um pouco antes de sair de casa. - Falo.
Não faço ideia do que ele está planejando com Mateo, mas tenho a impressão que não irei gostar nem um pouquinho.
- Precisa se cuidar meu amor. - Ele diz com a voz melosa.
- Sim senhor. - Aceno com a cabeça.
Minha vontade é de rir, mas me seguro ou estaria bem ferrada. Continuo de cabeça baixa dizendo sim senhor e não senhor, pois sei que é o melhor que faço.
- Qual o motivo do jantar? - Pergunto. - Estou curiosa.
- Espere um segundo. - Meu pai se levanta da cadeira. - Vou ao toalete.
Ele sai e me deixa sozinha com Mateo. Provavelmente está estampado no meu rosto meu nervosismo, pois ele sorri de canto ao me ver nervosa.
- Relaxe Lina. - Ele fala.
- Estou bem. - Digo apenas.
Com toda certeza meus dedos então brancos por baixo da mesa, de tanto que estou apertando minhas mãos.
- Parece que vai fugir a qualquer momento.
- Se ao menos eu pudesse. - Murmuro baixinho.
- O quê? - Ele pergunta.
- Não é nada. - Desconverso.
Me mexo desconfortávelmente no meu lugar, pois ele não para de me encarar, e isso está me deixando ainda mais nervosa.
- Provavelmente achou que não nos veríamos novamente não é?
- Sim. - Concordo.
- Diga algo mais que não seja meias palavras. - Ele fala irritado.
- O que quer que eu diga? - Retruco. - Respondi sua pergunta.
Ele suspira alto e parece impaciente, em seguida se levanta do seu lugar e caminha em minha direção.
- Como está seu rosto? - Ele pega minha mão e me levanta.
- Est... está bem. - Gaguejo.
Para minha infelicidade sempre tropeço nas palavras quando ele está tão próximo de mim.
Ele cheira a loção pós-barba e algo amadeirado. Está vestido com um terno azul, e uma camisa preta por baixo. Estou parecendo uma mendiga perto dele, o que me causa ainda mais desconforto.
Me assusto quando ele passa a mão pelo meu rosto, mas no instante seguinte me distancio do seu toque. Ele parece não gostar da minha atitude mas não fala nada.
- Se eu soubesse que estaria aqui teria trazido seu pijama. - Falo.
- Não é necessário. - Ele sorri de canto. - Pode ficar com ele.
- Não...
- Jogue fora se não quiser. - Ele me corta.
- Ok. - Digo apenas.
- Você parece diferente. - Ele me observa.
- Diferente como?
- Não sei. - Estala a língua.
Deve estar admirado deu estar parecendo uma cachorrinha perto do meu pai. Quando nos conhecemos fui ousada e até gritei com ele, mas aqui estou eu sendo o fantoche do meu pai mais uma vez.
- Talvez seja as roupas. - Falo.
- Não. - Ele nega com a cabeça. - Tem algo errado...
- Está imaginando coisas. - O corto.
Ele ainda continua me encarando, mas por sorte não toca mais no assunto.
- Gosto de como está vestida. - Ele fala de repente. - Mas terá que mudar isso.
- Mudar isso por quê? - Pergunto.
Ele exibe um sorriso misterioso e não responde minha pergunta.
- Você gosta da vida que tem Lina?
- Sim. - Minto.
Quando eu tinha minha mãe ao meu lado era tudo perfeito, depois que ela se foi virou um inferno, então não posso dizer que sou feliz com a vida que tenho, mas faço de tudo para sobreviver.
- Algo que me diz que está mentindo.
- Por que eu estaria? - Retruco.
- Você não parece a Lina que conheci. - Nega com a cabeça.
- Você não me conhece Mateo. - Falo. - Apenas viu um pouco de mim.
Uma parte que não gostaria de mostrar para ninguém. Ele me viu sendo fraca e instável, mas depois do que aconteceu era bem difícil me manter forte ou fria.
- Quero ver um pouco mais. - Ele sorri abertamente.
- Por quê? - Pergunto. - Tenho certeza que não está interessado em uma mulher sem graça como eu.
- É aí que se engana Lina. - Ele pega meu queixo e levanta minha cabeça.
Deve ser algum tipo de piada ou alguma pegadinha de mal gosto. Provavelmente eu seria a última mulher no mundo que ele se interessaria.
- Pare de brincar com coisa séria Mateo. - Tiro sua mão do meu rosto.
- Estou falando sério Lina. - Ele insiste no assunto. - E acho que você tem algum interesse em mim ou não teria me beijado.
- Aquilo foi um acidente, nada mais. - Falo.
- Eu sei que não pensa assim realmente. - Fala confiante de si.
- Eu...
Antes que eu diga mais alguma coisa meu pai volta para a sala de jantar e pergunta:
- Estou atrapalhando?
- De maneira alguma. - Mateo fala. - Só estávamos conversando.
- Vamos ao meu escritório. - Meu pai diz.
Vou me sentar a mesa novamente mas ele me interrompe.
- Você também Lina.
Não digo nada e apenas aceno com a cabeça. Sigo os dois até o escritório do meu pai em silêncio.
Depois de alguns segundos ele abre a porta e adentra o ambiente, Mateo o segue e eu faço o mesmo.
- Sente-se. - Ele aponta para duas poltronas.
Meus olhos vão direto para uma fotografia da nossa família em um quadro na parede.
Meus olhos se enchem de lágrimas ao ver minha mãe tão sorridente comigo ainda criança nos braços. Essa foi a única foto que meu pai tirou conosco, mas por algum motivo ele sorria sincero ao olhar para a esposa.
- Sente falta dela não é querida? - Meu pai pergunta.
- Sim. - Respondo.
- Eu também.
Pela primeira vez na noite ele foi sincero, mas pelo que me lembro essa foto não estava no seu escritório antes.
Provavelmente ele pendurou esse quadro na parede apenas para parecer um homem de família, ou ele colocou depois que fui embora, o que acho bem improvável.
- Sente-se Lina.
- Ok.
Meu pai e Mateo me observam em silêncio enquanto me sento em uma das poltronas.
- Recebi uma proposta do Senhor Carter...
- Só Mateo por favor.
- Tudo bem. - Meu pai sorri bajulador. - Como estava dizendo, recebi uma proposta de Mateo...
- Que proposta? - Pergunto.
- Estou ficando velho, e não quero morrer sem ter netos querida.
- Que proposta? - Começo a ficar ainda mais nervosa.
Os dois se entreolham, em seguida o olhar de ambos se voltam para mim.
- Eu quero me casar com você Lina. - Mateo do nada joga a bomba.
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