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Eu não sei mais a quantos dias meu pai morreu.

Não porque eu parei de me importar, ou esqueci de contar. Mas porque não faz sentido eu me apegar a uma coisa que me martiriza tanto.

Por isso, depois de uma conversa franca com Leon um mês atrás, eu me convenci de tentar superar o meu trauma, e aceitei ir ao psicólogo que Nádia pagará para mim, em Nova York, porque sim, eu terminarei meu ensino médio lá, e morarei com ela nesse tempo.

O sol está se pondo quando olho para a janela transparente da sorveteria, os feixes alaranjados banham o céu azul. Está tão bonito. Pela primeira vez em muito tempo, eu me sinto verdadeiramente feliz.

Leon para ao meu lado quando volta do caixa e guarda a notinha no bolso traseiro. Nós passamos a última semana grudados, o último verão, na verdade, mas nos superamos nesses dias. Acho que só estamos com saudades demais um do outro. Eu vou para Nova York, ele para a Flórida.

Não é como se nunca mais fôssemos nos ver, até porque já criamos planos quanto a isso, mas levará um bom tempo até acontecer.

Nosso último destino, tanto da noite quanto das férias, é o parque Firewall. Ele foi reinaugurando a mais ou menos uma semana, o negócio está tão cheio que conseguimos ingressos apenas para hoje.

Nós atravessamos a faixa de boas vindas com um sorriso rasgando o rosto, fomos em todos os brinquedos disponíveis. Quando enfim veio a vez da roda gigante, já estava a noite. Eu suspirei em alívio assim que sentei na cabine porque meus pés já estavam doendo da fila.

Leon segura minha mão quando estamos lado a lado, seu olhar capturando o meu.

— Eu amo você. Estou feliz por ter te conhecido — ele diz, meu sorriso se alarga e meu coração fica quentinho.

— Eu também, para ambos. Amo você e agradeço por esse verão, apesar de tudo.

Ele também sorri, Leon beija o topo da minha cabeça e passa a olhar para baixo quando a roda gigante começa a girar. Há uma felicidade genuína englobando a nós dois.

Aprecio seus traços por um tempo antes de erguer o olhar para as estrelas.

Não sei descrever como, mas sinto meu pai. Aqui comigo, com Leon. É quase como se estivesse esperando por nós lá em baixo.

Quando fecho os olhos por alguns segundos, eu penso pela primeira vez na possibilidade dele estar certo.

Penso que, talvez, meu pai é a estrela que cuida de mim e, quando for a hora, irei para o seu lado, e cuidaremos juntos de outra alma-perdida.

Sorrio com o pensamento.

Ainda não me sinto no topo do mundo, mas sinto a paz aflorar dentro de mim como a muito tempo não sentia.

E por hora, isso é o suficiente.

Fim.