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177 dias desde a noite o acidente.
Eu não controlo as lágrimas insistentes que caem dos meus olhos. Nem mesmo tento limpá-las, porque sei que meu rosto está molhado demais para tentar secá-lo com as mãos.
Meu queixo está trêmulo e eu tenho que respirar fundo para tentar controlar mais.
Saya está aqui, nunca achei que diria isso, mas preferiria se não tivesse, porque eu não aguento mas ouvir ela dizer o quanto me odeia por ter feito nosso pai morrer. E é claro que minha mãe estaria ao lado dela.
Sei que preciso sair daqui, e no fundo da minha cabeça tem um bilhete dizendo aonde devo ir, mas hesito.
Suspiro, tentando recobrar algum controle da respiração descompassada. Apesar de convivermos bem, Saya e eu nunca fomos próximas, só que isso não ajuda a digerir as palavras que ouço dela.
Quando nossos pais se separaram a anos atrás, continuei com ele em Nova York, enquanto isso, minha mãe se mudou com minha irmã para Ginwest, mas logo ficou sozinha quando Saya foi para a faculdade.
Minha mãe sempre culpou Nádia pela separação, mas na verdade, a culpa não foi de ninguém além dela e do meu pai. Minha vizinha não passou de uma ótima amiga, para o meu pai e para mim.
— Queria que fosse você ao invés do papai — Saya diz, aquele é o estopim para mim.
Em prantos de choro, deixo aquela casa e atravesso o gramado, batendo incansavelmente na porta do meu vizinho. Acabo me desequilibrando quando a senhora O'Fear abre a porta, o olhar de espanto na minha direção é nítido.
— Está tudo bem com você, querida?
— O Leon tá em casa? — Ignoro sua pergunta em meio a soluços.
— Tá sim. No quarto.
Ela abre espaço, eu não perco tempo ao sair correndo para dentro da casa, não me importando como pareceria aquela atitude.
De frente para o quarto do meu amigo, eu abro a porta com tudo. Dando de cara com Leon sentado no chão, escorado na cama, jogando videogame. Quando me vê, ele reage rápido em jogar o console ao lado e se por de pé.
— Tasha? O que...
Eu corro na sua direção, abraçando Leon o mais forte que consigo.
— Eu não aguento mais. Quando eu tento por na minha cabeça que meu pai ter morrido tentando me salvar não foi minha culpa, parece que tudo conspira para eu acreditar que sim. E tudo o que eu queria era o apoio de Saya mas ela parece pior que antes. Minha mãe prefere me manter presa a ela do que me deixar ficar com a única pessoa que se importaria comigo e eu não aguento mais essa merda toda. — Despejo de uma vez só.
Leon leva um tempo para absorver tudo o que disse, envolvendo meu corpo com seus braços quando enfim consegue ter alguma reação.
Pela primeira vez nesse verão, eu choro tanto que sinto alívio quando termino, sinto também que estou sendo apoiada porque, de fato, eu estou.
Eu e Leon permanecemos abraçados no meio do seu quarto iluminando apenas pela televisão pausada num jogo violento pelo tempo que minhas lágrimas duraram.
Ele me leva até o telhado, no mesmo canto que ficamos juntos na noite que jantei com seus avós. Deitamos lado a lado, com a minha cabeça apoiada no seu peito e seu braço em torno do meu corpo.
Pelos próximos minutos, eu contei tudo.
Contei sobre a tarde que meu pai e eu fomos velejar depois de tanto insistir para irmos (quase um ano implorando até que finalmente ele cedeu). Contei que nesse mesmo dia, enquanto estava no mar, eu me sentia invencível com o vento batendo contra o meu rosto e a água respingando no meu corpo.
Eu disse como tudo estava perfeito até o céu se fechar e meu pai não conseguir assumir o controle do barco, quando eu caí na água agitada e minha garganta começou a arder com a quantidade de água que engoli, eu avisei sobre como foi angustiante ficar sufocada porque, depois de um tempo, meu cérebro tentava buscar fôlego a todo custo, apesar de estar em baixo da água.
Por fim, disse que acordei numa cama de hospital, com Nádia ao meu lado, os olhos vermelhos por conta do choro, que voltaram a derramar lágrimas quando me contou que meu pai morreu enquanto tentava me ajudar, que me ele levou até um dos barcos de um dos seus amigos, mas não conseguiu subir, porque aquela altura, a correnteza já o afastava cada vez mais de ser salvo.
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