151
04
151 dias desde a noite do acidente.
Encaro meu reflexo no espelho. A pele escura disfarça as olheiras, mas sei que elas estão presentes, meu cabelo está bonito hoje, e ao menos com a minha aparência eu me sinto bem.
Por fora, estou ótima. Mas se encarar tempo demais, se focar nos meus olhos, sei que não está tudo bem. Há algo errado.
Sinto falta dele.
Meu pai era quem eu mais amava nesse mundo. E quem mais me amava entre qualquer um.
Depois que ele morreu, não consegui mais manter a mesma vida social, eu me fechei inconscientemente, acho que faz parte do luto. Mas nesse período, acho que me perdi em mim mesma.
Eu parei, o mundo continuou.
Minhas amigas se aproximaram entre si, saíram juntas sem me chamar depois de tantas vezes que eu neguei. Minha irmã não ligava desde soube a causa da morte. Minha mãe não conta. Meus professores pararam de insistir para prestar atenção em alguma coisa. E no fim das contas eu aprendi que sou eu contra o mundo.
Só eu.
Jogo uma trança por cima de cada ombro, pego minha bolsa pequena em cima da cama e bato a porta atrás de mim. Indo para o refúgio que encontrei nós últimos tempos.
Na calçada de casa, depois de caminhar alguns passos, vejo o vizinho andando de skate do outro lado da rua, ele me nota também. Sei porque para de andar e sorri.
Levo alguns segundos para desmanchar a carranca e erguer um dos cantos dos lábios num sorriso educado.
Quebrando o contato visual, eu abaixo a cabeça e ponho as mãos no bolso do casaco, descendo a rua em direção ao parque Firewall.
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