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147 dias desde a noite do acidente.

Apesar de não lembrar direito, conheço um ditado que diz que tem pessoas que sentem inveja até da grama do vizinho. Sei porque Nádia, nossa vizinha em Nova York, vivia dizendo isso quando ia tomar um vinho com meu pai numa sexta a noite.

Nunca pensei que um dia seria literalmente uma dessas pessoas.

Enquanto olho para casa ao lado, onde um casal de idosos recebe o neto (ou filho), noto o quanto estão felizes pela chegada dele, noto o quanto aquela família parece normal e atenciosa, como a casa parece em ordem e arrumada, como a grama deles é verde e bem polida enquanto a minha só tem plantas mortas e secas.

Continuo recostada na varanda de casa, observando. O sol já está indo embora, se procurar bem, posso ver algumas estrelas no céu.

O garoto já levou para dentro uma caixa e um skate, agora entra com uma mochila nas costas, é grande, mas duvido que ele esteja se mudando para morar.

Antes de entrar, seus avós (ou pais) percebem que estou encarando e distribuem sorrisos e acenos na minha direção. Sorrio sem jeito por educação. Eles entram em casa e são acompanhados pelo neto (ou filho), que percebe que estou ali graças ao show de acenos.

O garoto ainda se demora alguns segundos na porta, encarando, um canto dos seus lábios se erguem em um meio sorriso antes de, enfim, entrar na sua casa.

Fico na varanda até escurecer completamente. Meu olhar parece ser automático para o céu.

A única coisa boa nesse lugar são as estrelas, o fato de ser uma cidade pequena sem tanta industrialização, luzes artificias e poluição me possibilita ver uma imensidão azul com vários pontos brilhantes. Era difícil isso acontecer em NY.

Respiro fundo e foco todos os meus sentidos em um único som, um zumbido que algum bicho está fazendo, eu vasculho dentro de mim para achar qualquer coisa boa.

Qualquer sentimento ou sensação que me deixe em paz.

Não encontro nada.