Capítulo 73 | Entre Ternos e Lembranças
Isaque Campbell
A luz do sol batia direto no meu rosto, parecendo que queria incendiar a minha pele enquanto abria os olhos. A janela estava escancarada, ignorando completamente o ar-condicionado que eu tinha deixado ligado, e eu percebi que ele trabalhou em vão. Eu estava exausto, largado na cama, sentindo a brisa da manhã percorrer pelo meu corpo. Faltavam poucos dias para o meu casamento, e, vou ser sincero, a ansiedade estava me fritando por dentro.
Meu coração dava umas aceleradas loucas, e aquele frio na barriga chegava do nada, a qualquer hora. Era só alguém mandar um “Tá chegando, hein, Isaque?” e pronto, meu corpo tremia inteiro. Sim, eu sei que tá perto. Eu sei mais do que qualquer um. Mas parece que minha ficha não tinha caído ainda. Casar. Me tornar marido. Virar um cara de família.
Lá estava eu, ainda deitado, ignorando o relógio, tentando processar tudo isso. Respirei fundo e me sentei na cama, sem camisa, deixando o vento me ajudar a clarear as ideias.
“Eu vou me casar com a Anne”, falei pra mim mesmo, como se estivesse tentando preparar meu próprio cérebro.
“Anne vai ser minha esposa.”
“Prometo amá-la, respeitá-la...”
De repente, meu celular vibrou interrompendo meus pensamentos. Claro, o Marcos.
— Fala, cara — atendi com aquela voz de quem acabou de acordar.
— Esqueceu que temos que estar na alfaiataria daqui a uma hora? — a voz dele misturada com o ronco do motor do carro esportivo me dizia que ele tava em um dos seus brinquedos. Melissa com certeza não estava junto. Ela detesta esses carros.
Eu tinha esquecido, óbvio.
Suspirei fundo e me joguei de volta na cama. A verdade era que eu estava tão ansioso que mal conseguia pensar direito.
— Vou me arrumar, relaxa — disse, encarando o teto como se ele fosse me dar alguma resposta.
— Tô indo aí.
— Não precisa, Marcos. Eu já disse que vou me arrumar — falei, apressado, levantando pra ver pela varanda se via o bendito Jaguar F-Type chegando.
— Já tô subindo, Isaque.
— Não, Mar...
Ele desligou na minha cara. E claro, não demorou muito pra campainha tocar. O porteiro sempre deixava o Marcos subir sem nem me avisar. Inacreditável.
Fui até a porta e lá estava ele, todo sorridente, como se tivesse ganho na loteria.
— Depois que casou, não para de sorrir, não é? — zombei, fechando a porta.
— A alegria de um relacionamento cristão é ser casado — Marcos respondeu, largando-se no sofá. — Mas, cara, vai se vestir logo. Ninguém merece te ver sem camisa, Isaque. Não estrague meu dia — falou, fazendo uma pose dramática, e eu não aguentei segurar a risada.
— Eu não gosto de olhar pra tua cara, mas mesmo assim não mando você cobrir ela — retruquei, enquanto ele fazia uma cara de sarcasmo. — E, convenhamos, não é você que preciso agradar sem camisa.
— Guarda essa pra o casamento, Isaque. Tá mais perto do que nunca — ele disse, sem tirar os olhos do celular.
— Cara, presta atenção aqui — sentei-me no sofá, de frente pra ele. — Eu vou casar, Marcos, da pra entender? Eu. Vou. Casar.
— Sério? Se você não fala, eu nem ia notar — brincou, rindo enquanto bloqueava o celular. — Dias atrás vocês estavam rindo de mim. Agora olha quem está nervoso.
— Não tô nervoso, cara. Só tá caindo a ficha — recostei-me no sofá, tentando digerir tudo.
— Então levanta daí e vai se arrumar pra ver logo esse terno, né?
— Vou tomar um banho — falei, me levantando.
Fui para o banheiro e deixei a água gelada acalmar a enxurrada de pensamentos. Eu mal podia esperar pra ver a Anne no vestido de noiva. Só de pensar nela como minha esposa, a ansiedade me tirava qualquer foco no resto.
Depois do banho, vesti uma roupa casual, ajeitei o cabelo e voltei pra sala. Anne já estava na empresa, focada na reunião com os acionistas que aconteceria à tarde. Eu, por outro lado, não tinha conseguido revisar nem metade do relatório que devia apresentar. Vou na fé — literalmente.
— Não vai comer? Você já tá ansioso e ainda quer sair de barriga vazia? — Marcos perguntou, esticado no sofá.
— Só vou tomar uma vitamina com banana e whey — falei, indo até a cozinha.
— Já te conheço, então deixei preparada pra você. Tá lá no liquidificador, é só servir — ele respondeu, me fazendo erguer as sobrancelhas.
— Cara, que benção tua amizade — brinquei, enquanto me servia.
— Quando a gente casa, vira costume preparar as coisas na cozinha — ele comentou, e eu ri, imaginando minha nova rotina de casado.
Engoli a vitamina em tempo recorde, peguei a carteira e o celular, e descemos para o carro do Marcos. Ele foi dirigindo.
— Acho que vou malhar depois de provar o terno — comentei, enquanto seguíamos para a loja.
— Malhar? Tá louco, irmão? A reunião é à tarde.
— São só 10h da manhã, dá tempo. Vou direto do treino pra empresa — respondi, e ele balançou a cabeça em desaprovação.
— Tá ansioso demais pra saber o que tá falando, Isaque — ele riu, e eu sabia que ele tinha razão.
— Eu mato a ansiedade com treino, cara. Já devia saber.
— Beleza, só não vai faltar à reunião. Hoje é um dia importante.
— Tá sabendo de algo que eu não sei? — perguntei, curioso com a insistência dele.
— É uma reunião com os acionistas, o futuro CEO tem que estar presente, né?
Dei de ombros, mas minha mente já tinha voltado para Anne. O aniversário dela estava chegando, e além da lua de mel, que cairia no mesmo dia, eu tinha outro presente em mente. Algo que ela nem imagina. Nem Marcos sabe, só meu pai, e ele gostou da ideia.
Assim que passei pela porta da alfaiataria, senti aquele ar de sofisticação que não deixa dúvidas de que você está num lugar sério. A fachada imponente, com colunas de mármore e grandes janelas de vidro, já dizia muito, mas, ao entrar, o ambiente inteiro te envolvia de uma maneira quase intimidadora. O piso de mármore claro contrastava perfeitamente com as paredes de nogueira, criando um equilíbrio elegante entre o clássico e o moderno, sem exageros.
O aroma sutil de madeira de cedro misturado ao couro dos móveis era o tipo de detalhe que só quem presta atenção notaria. Quando o alfaiate veio nos receber, estava com um terno que parecia ter saído direto da vitrine, cada costura no lugar, como se ele fosse a própria definição de elegância. Ali, cada detalhe fazia a diferença. Desde os tecidos italianos que eu teria que escolher até botões artesanais e o caimento perfeito.
Samuel já estava lá, sentado em um dos puffs pretos, mexendo no celular. Quando nos viu, levantou-se com uma batida de mão amigável.
— Cara, o Isaque tá ansioso pra caramba — Marcos não perdeu tempo em comentar.
— Claro, sempre tem que soltar uma, né Marcos? — revirei os olhos.
Samuel caiu na risada.
— Isaque Campbell, sentindo “borboletinhas no estômago” por causa do casamento — zombou, fazendo um gesto debochado, e Marcos só aumentou a gargalhada.
— Quero ver na noite da lua de mel. Vai aguentar, Isaque? — Marcos provocou, e eu só consegui segurar a risada pra não dar moral.
— Acha mesmo que eles vão esperar a noite? Olha pra o cara, ele tá pronto pra começar logo que chegar! — Samuel disse, gargalhando.
— Vou aguentar mais do que vocês dois juntos, pode anotar — respondi, empurrando Marcos de leve, que fingiu perder o equilíbrio de maneira exagerada.
Samuel continuou, sem piedade.
— Tá se achando o garanhão, hein? Só porque já tem o terno pronto. Não esquece que ainda tem que conquistar a patroa, viu?
— Ah, essa parte já foi conquistada faz tempo. Agora é só manter — retruquei, piscando.
Foi quando o velho Giacomo, o alfaiate da família, apareceu com aquele jeito formal de sempre, mas com um brilho nos olhos de quem estava contente em nos ver. Ele já conhecia nossa bagunça, estava habituado, quase fazia parte da história.
— Isaque Campbell, sempre trazendo esses bagunceiros pra minha loja — disse Giacomo, com um meio sorriso. — Mas hoje é algo importante, pelo menos.
— Sempre importante, Giacomo. Sem você, esses dois não estariam nem perto de apresentáveis — brinquei, apontando para Samuel e Marcos, que fingiram estar ofendidos.
— Ah, só porque vai casar, agora se acha o James Bond, né? — Marcos retrucou, cruzando os braços.
Giacomo deu uma risada discreta.
— Isaque, você vai ser um noivo digno do nome dos Campbell. Seu avô ficaria orgulhoso. Sempre disse que você era o mais detalhista da família. Agora, vamos ao trabalho. Esse terno não vai se ajustar sozinho — falou, puxando sua fita métrica dourada com toda a classe de sempre.
Quando ele mencionou meu avô, senti uma onda de lembranças me inundar. Um nó se formou na minha garganta, e por um breve momento, parecia que tudo ao redor havia perdido o sentido. Aquele lugar, a alfaiataria, era quase uma extensão dele. Meu avô gostava de vir aqui, sempre elegante, sempre refinado. Enquanto Marcos e Samuel riam, zombando de algo que eu já nem prestava atenção, minha mente vagou para uma das últimas conversas que tive com ele.
Lembro-me perfeitamente. Estávamos sentados na varanda de sua imponente casa, ele com sua sabedoria tranquila, e eu ainda ferido pelas cicatrizes de um relacionamento frustrado:
🔓 Tempos atrás...
— Deus vai te dar a mulher certa, Isaque — ele disse com a serenidade de quem já viveu e viu muito. — Não perca seu tempo com Julia. Ela não te merece.
Eu, com a revolta jovem ainda queimando, retruquei:
— Não quero mais saber de relacionamentos, William. Cansei. Já me decidi. Pra que me envolver? Para ser traído de novo? A partir de agora, só quero viver a vida, sem compromissos.
Ele sorriu, aquele sorriso sábio, e colocou a mão sobre a minha. O café, forte e amargo como meus sentimentos na época, ainda esfumaçava na xícara.
— Você fala assim porque está machucado, meu filho. Mas um dia você vai entender. Quando encontrar a mulher que Deus está preparando para você, todas essas dores vão fazer sentido. Julia foi apenas uma lição, uma preparação. Mas a moça que cruzará seu caminho vai te trazer uma alegria que você ainda não conhece.
Eu bufei, cético. Minha mente vagou para longe, para memórias de um campo missionário na África. Lembrei-me de uma jovem de olhos azuis, cabelos loiros, e do desejo que eu sentira de que, talvez, um dia ela fosse a mulher certa para mim. Mas, naquela varanda, com meu avô ao lado, eu apenas meneei a cabeça, percebendo o quão impossível seria encontrá-la novamente.
— Julia foi uma experiência — ele continuou, interrompendo meus devaneios. — Não só por ser a sua primeira experiência, mas porque você deu a ela o que deveria ser reservado para quem Deus está preparando para você. Esse amor, Isaque, foi desperdiçado, mas não em vão. Ele vai te ensinar o valor de esperar.
— Como sabe que me envolvi intimamente com ela? — franzi o cenho, tentando esconder a surpresa. Meu avô, com aquele riso calmo e sábio, apenas me olhou como quem já conhecia as respostas antes de eu perguntar.
— Tenho muitos anos nesta vida, filho. Sei bem como é difícil, nos dias de hoje, um jovem como você se guardar. Mas você se entregou à pessoa errada. Não falo só da intimidade, falo dos sentimentos — ele colocou a mão sobre o peito, como se sentisse o peso daquelas palavras junto comigo. — Todo o amor que você deu a Julia, que ela desperdiçou, era um presente que deveria ter sido guardado para aquela moça que ainda vai cruzar seu caminho.
Eu o ouvi, mas a amargura ainda estava lá, como uma sombra constante.
— E como tem tanta certeza que essa “moça” vai aparecer? — perguntei, tomando outro gole de café. — Deus te revelou algo, William?
Ele sorriu com uma tranquilidade que parecia inabalável.
— Tenho essa certeza aqui dentro — disse ele, batendo de leve no coração. — E a levarei comigo até o meu último suspiro.
— Não fala assim, vô — tentei brincar, levantando a caneca. — Você ainda vai ensinar meus filhos a andarem a cavalo — falei, sorrindo. Ele riu, mas o riso era abafado, carregado de uma sabedoria que eu ainda não podia entender.
— Você encontrará muitas mulheres, Isaque — disse ele, com a voz séria novamente. — Mas aquelas que você conseguir se envolver intimamente sem estar casado, nenhuma delas será a mulher que Deus preparou para você. A moça que será sua esposa, você terá que cuidar dela como se fosse uma rosa rara — ele fez o gesto delicado de segurar uma flor invisível nas mãos. — Ela não será como as outras. Haverá pureza, mas não se preocupe, o amor de vocês será como uma brasa que nunca se apaga. Contudo, antes disso — ele ergueu um dedo, enfatizando — Deus vai te moldar, te preparar, para que você seja o homem certo para tê-la ao seu lado.
Eu o encarei, intrigado, sem saber se levava aquilo a sério.
— Deus te falou tudo isso?
— Ele falou ao meu coração, e agora eu estou te dizendo — respondeu, colocando a caneca sobre a mesa com firmeza. — Olhe para os meus erros e não os repita, Isaque. Eu me casei com uma mulher que não queria saber de Deus, e pequei muito. Deus tentou me mostrar que ela não era a certa para mim, mas eu insisti. Olha essa casa — ele apontou para trás, e eu segui seu gesto. — Ela está aqui?
— Não — respondi, percebendo a casa vazia, como um eco das palavras dele.
— Porque ela me abandonou. E esse é o preço de não ouvir a Deus. Mas você, meu filho, Deus te poupou de sofrer mais à frente. Agradeça por isso.
Suas palavras eram sábias, mas ainda assim, eu resistia a acreditar.
— Entendo, vô, mas não sei se consigo acreditar nessa história de que Deus colocará alguém no meu caminho. Julia foi a primeira e a última.
Ele balançou a cabeça, com um sorriso cheio de compreensão.
— Não diga isso, meu filho. Você é jovem ainda. Acha que pode viver sem uma companheira para sempre? Tudo acontece no tempo certo, no tempo de Deus.
Eu suspirei, levantando-me.
— Não quero mais saber de relacionamentos.
Meu avô, sempre buscando a leveza nas coisas, sorriu e sugeriu:
— Que tal um pouco de golfe, então?
Revirei os olhos, mas ri com ele.
— Golfe, vô? De novo?
E lá estávamos nós, no gramado, com o cheiro fresco da grama cortada e o sol brilhando no horizonte. Ele me entregou o taco e disse: “Vamos ver do que você é capaz.” Dei uma tacada forte, e a bola voou longe, muito longe do buraco. Ele riu, me deu um tapinha nas costas e disse: “Golfe não é sobre força, Isaque. É sobre controle.” E, como sempre, cada jogada com ele era uma lição que eu levaria para o resto da vida.
🔒 Hoje...
— Isaque, meu irmão! — chamou Marcos, enquanto eu dava uma última olhada no terno. Giacomo tinha feito um trabalho impecável.
Foi impossível não pensar no meu avô. Um turbilhão de sentimentos me atingiu, mas eu estava ali, provando o terno para me casar com a Anne, a mulher que ele tanto falou, sem nem imaginar que Deus ia cumprir essa promessa. Eu andava perdido, cego espiritualmente, procurando respostas que já estavam bem na minha frente, e meu avô foi o cara que Deus usou para falar comigo... só que eu demorei para entender. Mas agora eu precisava focar, porque estava prestes a casar com a mulher dos meus sonhos.
— Olha só, Samuel, não disse que ficaria melhor que vocês? — brinquei com Samuel, e eles riram. Tanto ele quanto Marcos já estavam prontos também. Quando me olhei no espelho, o frio na barriga só aumentou. A imagem da Anne entrando na igreja não saía da minha cabeça.
— Melhor que a gente? Só se for na ansiedade! — provocou Samuel, ajeitando a gravata e rindo. — Tá suando mais que quando a gente jogava bola, Isaque!
— Respira, mano! — disse Marcos, dando um tapinha no meu ombro. — O mais difícil já passou. Agora é só aproveitar.
Tentei disfarçar o nervosismo e olhei para os dois no espelho. Eles estavam tranquilos, mas eu? Parecia que o coração ia sair pela boca.
— Tô de boa, só... pensando na Anne. — Sorri, soltando um suspiro. — Não consigo parar de imaginar ela entrando na igreja.
— Vai ser épico — disse Samuel, com um tom mais sério dessa vez. — Do jeito que ela te olha, irmão, você sabe que já deu tudo certo.
— E você vai desabar quando ela entrar — completou Marcos, rindo e cruzando os braços. — Pode anotar.
Olhei para o teto, respirando fundo, tentando organizar os pensamentos.
— Não sei se desabo, mas que vou travar, vou. Ela me deixa assim, sem palavras.
— E é isso que importa — disse Samuel, ajeitando o paletó uma última vez. — Se esquecer as palavras, só diz “eu aceito”. O resto é detalhe.
Rimos todos juntos, e por um momento o nervosismo deu lugar à leveza. Com esses caras do meu lado, eu sabia que tudo ia ficar bem.
Depois de todos os ajustes, saímos da alfaiataria. Samuel tinha que ir direto para o escritório, onde está terminando um projeto gigante de um edifício comercial. O cara tá nas últimas fases e precisava revisar umas plantas antes da reunião com os investidores. O cara é fera.
— Vai treinar ainda hoje, Isaque? — perguntou Marcos, ligando o carro. — A reunião tá logo mais.
— Bora passar na empresa. Você tá me deixando mais ansioso do que eu já tava com essa reunião. Mas antes preciso passar numa loja e pegar um chocolate pra Anne.
— Olha o Isaque, hein — riu Marcos, virando a esquina. — Acho que vou pegar um pra Melissa também.
— Pô, depois do casamento nem chocolate você comprou pra ela, Marcos? Tá vacilando, hein!
— Lógico que comprei, mano! Chocolate, flores, acessórios... Tudo aquilo que elas amam e a gente fica sem entender o porquê! — ele brincou, e eu ri, concordando.
Logo que chegamos na loja de chocolates, eu e o Marcos já sabíamos que aquilo ia ser uma missão cheia de distrações. Parecia que a gente tinha entrado numa vitrine da tentação: bombons de todos os tipos, ursos de pelúcia exagerados, buquês de rosas que pareciam saídos de um filme de casamento real. Olhei para o Marcos, e só pelo sorriso dele eu sabia que a confusão estava prestes a começar.
— Foco, mano. A gente entra, pega o que precisa e sai — eu disse, tentando soar sério, mas sabendo que aquilo não ia dar muito certo.
— Cara, a Melissa vai pirar quando eu aparecer com tudo isso — ele respondeu, levantando uma caixa de bombons que parecia mais pesada que qualquer treino que já fiz.
— E a Anne? — eu ri. — Vai achar que fiz alguma besteira só de aparecer com rosas, chocolates e um urso gigante.
Decidimos que as rosas eram a prioridade, afinal, não dava pra sair dali só com os chocolates. Enquanto o Marcos discutia com a atendente qual arranjo transmitia mais amor, me peguei encarando um urso de pelúcia gigante que ocupava metade da loja.
— Vai pegar isso mesmo, Isaque? Parece mais um segurança do que um presente! — Marcos riu ao me ver analisando o urso.
— Pô, vai ser hilário, mano. Imagina a cara da Anne quando abrir a porta e dar de cara com isso.
Rimos como se estivéssemos planejando uma pegadinha épica. Com as rosas, os chocolates e o bendito urso, a atendente já nos olhava com uma expressão de “esses aí estão até o pescoço na encrenca”.
— Melhor a gente fechar a compra logo, antes que inventemos mais moda e saíamos daqui com um estátua de chocolate — falei, ainda rindo.
Saímos da loja equilibrando tudo que compramos. O Marcos carregava as rosas e os bombons, e eu lutava pra enxergar com o urso bloqueando minha visão.
— Se elas não gostarem disso tudo, pelo menos sobra chocolate pra gente — disse ele, gargalhando.
— É, parceiro. E o urso vai ser um bom companheiro de sofá se precisar.
Nosso próximo destino era o escritório. No elevador, encontramos uns funcionários que seguravam o riso ao verem a gente segurando o urso, as flores e os chocolates. Coloquei os óculos escuros tentando disfarçar o constrangimento.
— Como o futuro CEO aparece com um urso gigante no meio dos funcionários? — Marcos zombou enquanto chegávamos ao “apartamento” no andar executivo.
— Dane-se, cara. O que importa é que elas fiquem felizes — respondi, tirando os chocolates das sacolas. — Vou tomar um banho enquanto você organiza tudo pra levar pra sala delas.
Depois de colocar um terno à altura e passar um perfume para impressionar a Anne, voltei para sala.
— Esquece de levar as coisas pessoalmente — falei para o Marcos. — Vamos distrair as meninas e deixar o Ezra organizar a surpresa nas salas delas.
Ele assentiu, e a missão parecia finalmente estar completa.
Marcos saiu do apartamento, e eu fiquei, ajeitando a gravata, tentando parecer tranquilo. Mas a verdade é que o nó no meu estômago começou a apertar quando abri a porta e dei de cara com o par de olhos azuis mais hipnotizantes que já tinha visto na vida.
Ela sorriu, e eu sorri de volta, engolindo em seco, com medo dela querer entrar no apartamento e estragar a surpresa.
— O que você está tramando, Isaque? — Anne cruzou os braços, a voz doce, mas com um sorriso divertido. — Eu conheço esse olhar.
— Nada demais, meu amor. Por que eu tramaria alguma coisa? Eu? Nunca — respondi, fingindo ajeitar a gravata com um sorriso despreocupado. — Aliás, você está perfeita.
E eu não estava brincando. Meu olhar percorreu cada centímetro dela, sem pressa. O blazer preto ajustado moldava seu corpo de um jeito sutil, mas irresistível, e a saia lápis destacava suas pernas como uma obra-prima. Os saltos, elegantes e precisos, apenas completavam a imagem de uma mulher que sabia exatamente o impacto que tinha. O cabelo preso deixava seu rosto impecável, e aquele perfume... Aquele perfume que fazia minha cabeça girar. Era leve e delicado, mas poderoso o suficiente para me derrubar.
Meu olhar demorou-se mais do que devia em cada detalhe, desde o contorno suave de seu pescoço até o brilho provocante em seus lábios. Eu sabia que tínhamos uma reunião importante em questão de minutos, mas naquele instante, nada parecia mais relevante do que o magnetismo que ela exercia sobre mim. Meu corpo estava à beira de perder o controle. Fui tomado por uma vontade quase instintiva de puxá-la para perto e ignorar todas as promessas que fizemos de manter as coisas no lugar certo até o casamento.
Anne arqueou a sobrancelha, percebendo claramente o efeito que causava em mim. Ela era inteligente, sabia o poder que tinha sobre mim, e parecia estar se divertindo com isso.
— Você parece distraído, Isaque. — Sua voz tinha uma suavidade provocativa que só aumentava meu desejo.
Eu dei um passo em sua direção, deixando a porta se fechar lentamente atrás de mim. Meu olhar encontrou o dela, intenso, e havia uma tensão no ar. Tudo em mim gritava para me aproximar ainda mais, tocá-la, sentir sua pele contra a minha. Mas segurei firme, apenas a alguns centímetros de distância, meu rosto próximo ao dela, meu coração disparado.
— Você não faz ideia de como é difícil manter a compostura perto de você, Anne — sussurrei, com uma voz rouca, os olhos fixos nos seus, enquanto minhas mãos apertavam os lados da gravata, buscando uma maneira de desviar a atenção.
Anne mordeu o lábio, divertida, e eu pude ver o brilho de satisfação em seus olhos. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Sua postura firme, a confiança no jeito que me olhava... Ela era irresistível. Minha vontade de agarrá-la ali mesmo só aumentava.
— Você está a um passo de quebrar a nossa promessa, Isaque — disse ela, sua voz baixa e controlada, mas eu conseguia sentir a faísca de desafio por trás de suas palavras. Era como se estivesse testando meus limites, me provocando de propósito.
Eu ri de leve, um riso curto e tenso, sem conseguir tirar os olhos dela. Minhas mãos ainda seguravam a gravata, mas era inútil fingir que estava focado nisso.
— E como você quer que eu mantenha a cabeça no lugar com você assim? — retruquei, baixando o tom da voz, cada palavra saindo devagar, como se fossem puxadas de dentro de mim pela atração que me tomava. Me aproximei mais um pouco, apenas o suficiente para que ela pudesse sentir minha respiração tocar seu rosto. — É você que me faz perder o controle, Anne.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, os olhos me examinando com um brilho de satisfação, antes de dar um passo para trás, ligeiramente, mantendo a distância entre nós. Sua expressão mudou para uma leve seriedade, mas o sorriso brincalhão ainda estava lá.
— Vai precisar de muito mais controle agora — disse ela, ajeitando a bolsa no ombro e lançando um último olhar cheio de significado. — A reunião vai começar em cinco minutos, senhor diretor.
Ela deu uma piscadela rápida e se virou, começando a caminhar na direção do elevador. Fiquei parado por um momento, observando-a se afastar, o som dos saltos ecoando no corredor, e tive que respirar fundo para tentar me recompor.
— Senhor diretor… — murmurei para mim mesmo, com um sorriso no canto dos lábios. Ela sabia como me deixar completamente fora de mim, mas era isso que me fazia querer ainda mais aquele momento em que ela seria minha por completo.
Ajustei novamente a gravata, desta vez com firmeza, e segui em frente.
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