Capítulo 69 | Alianças e Desejos
Isaque Campbell
Semanas depois...
Eu estava na frente do espelho do quarto do hotel, lutando para ajeitar a gravata pela milésima vez. O terno slim fit cinza claro parecia que tinha sido feito sob medida — e, na real, foi mesmo. Ajustava perfeitamente nos ombros e na cintura, me deixando com aquele ar elegante que, para ser sincero, eu já estava acostumado. A camisa branca impecável e a gravata bordô completavam o visual, mas o nervosismo não era por estar bem-vestido. Minha cabeça estava em Anne. Não via a hora de encontrá-la.
— Se você ficar mais um segundo nesse espelho, Isaque, vai começar a sair fumaça — soltou Caleb, rindo e dando um tapinha nas minhas costas.
— Deixa ele, Caleb. Tá praticando pra ver se não desmaia quando encontrar a noiva — provocou Samuel, ajustando o paletó com um sorriso travesso.
Eu só revirei os olhos, mas ri junto. Eles sabiam exatamente o que estava se passando. Não era o casamento do Marcos que estava me deixando ansioso, era a expectativa de ver Anne. Ela ia estar deslumbrante, como sempre, e eu me pegava pensando se esse terno cinza ia dar conta de acompanhar.
Marcos, o noivo do dia, estava sentado num canto, tentando fingir que não estava nervoso também. Ele ajustava a gravata com tanta força que parecia que ia estrangular a si mesmo. Daniel, claro, não deixou passar a chance.
— Ei, Marcos, afrouxa aí, cara. Você tem que sobreviver até a igreja, pelo menos — disse ele, rindo alto.
Todo mundo caiu na gargalhada, inclusive o Marcos, que soltou um “vai se ferrar” meio descontraído. O clima no quarto era leve, cheio de piadas e aquele tipo de zoação saudável que só acontece entre amigos de longa data. Mas eu sabia que, no fundo, todos estavam com o mesmo frio na barriga — menos eu, que além do casamento ainda tinha a Anne na cabeça.
Ajeitei o terno mais uma vez, respirei fundo e disse:
— Tá, chega. Vamos logo, antes que o Marcos se case sozinho e eu desmaie de ansiedade.
— Você vai desmaiar de bonito, isso sim — respondeu Samuel, piscando, e todos rimos enquanto nos preparávamos para descer.
— Ei, antes de descer, traz uma água para o Marcos, antes que ele passe mal de tanto nervosismo — disse Caleb, e só então eu reparei no Marcos, suando como se estivesse correndo uma maratona.
Não consegui segurar a risada.
— Cara, tu tá com a Melissa há séculos, e tá nervoso agora, na hora de casar? — provoquei, ainda rindo.
— Fala agora, mas aposto que só de ouvir o nome da Anne, teu coração acelera mais que um carro da Fórmula 1 — zoou Samuel, enquanto entregava um copo d'água para o Marcos.
— Vocês têm noção que, em poucas horas, vou ser oficialmente um esposo? — Marcos perguntou, com as sobrancelhas levantadas e um olhar perdido. Ele se jogou de novo no puff, olhando para o infinito. — Sério, cara, vou ser marido!
— Só não vale surtar e desistir, hein, irmão? — disse Daniel, rindo. — Cara, tá tudo sob controle, por que essa crise do nada?
— Aposto que é por causa da lua de mel — Samuel disparou, e a galera caiu na gargalhada, inclusive o próprio Marcos.
— Irmão, tua vitória chegou! A tão esperada lua de mel... — comentei, tomando um gole d'água enquanto todos continuavam rindo.
— Vocês estão vendo aqui um homem de exemplo — Marcos levantou, caminhando até o espelho. — Eu esperei e agora tô a um passo da vitória! — disse, ajeitando o cabelo meticulosamente arrumado.
— Cara, para de bagunçar esse cabelo, tá perfeito! — Caleb falou, tirando a mão de Marcos da cabeça.
— E vocês? Já têm data pra o casório? — perguntei a Daniel, que balançou a cabeça negativamente.
— Noivamos semana passada, calma irmão — respondeu com um sorriso. — Mas já conversamos sobre o casamento. A Sara quer fazer tudo diferente dessa vez, não cometer os mesmos erros que... — ele suspirou. — Que cometeu com aquele canalha do Micael.
— Nem me fala desse cara... — falei com um tom de desgosto.
— Enfim... Estamos indo bem — Daniel continuou. — Depois daquele dia em que vi a Sara de um jeito diferente, não consegui mais tirá-la da cabeça. Eu tinha um medo imenso de estragar a nossa amizade confessando pra ela, mas eu não conseguia vê-la apenas como amiga. Ela mexe comigo de um jeito que eu nem imaginava. Ela me ganhou com o jeito dela, a personalidade, a beleza... tudo. E agora, tô completamente fascinado por ela — confessou, e o silêncio tomou conta do quarto por uns segundos. Todo mundo absorveu o que Daniel disse, até que Caleb quebrou o clima sério do momento.
— Pera aí... Isso tá parecendo aqueles discursos de filmes de romance. “Sara, você despertou algo dentro de mim”, cara? — disse Caleb, fazendo uma voz exageradamente dramática e colocando a mão no peito, como se estivesse num palco.
Todo mundo explodiu em risadas, até o Daniel, que balançou a cabeça, meio envergonhado, mas rindo junto.
— Cala a boca, Caleb. Tô tentando ser profundo aqui — Daniel respondeu, tentando manter a compostura, mas claramente se divertindo com a zoação.
Samuel, que estava ajustando a gravata no espelho, entrou na brincadeira.
— Fascinado, hein? Olha só o poeta que a gente tem aqui. Eu só espero que a Sara goste de poesia, senão você tá ferrado.
— É, porque o Daniel é bom de falar, mas na hora do “vamos ver” ele trava, né? — completou Marcos, jogando uma almofada na direção dele. Daniel desviou e fez um gesto como se estivesse se defendendo.
— Beleza, beleza, podem rir. Mas eu garanto que vocês vão estar tudo chorando no meu casamento com ela. — Daniel levantou as mãos, tentando manter a dignidade no meio das piadas.
— Opa, eu já estou emocionado só em ouvir sua declaração de amor, irmão — falei, me aproveitando da deixa pra jogar mais lenha na fogueira.
— Vocês são impossíveis! — respondeu Daniel, rindo, mas deu pra ver que ele estava falando sério. Aquela expressão meio boba, típica de quem está completamente apaixonado, estava estampada no rosto dele.
Enquanto Samuel e Caleb continuavam a zoar, eu voltei a pensar no que Daniel tinha dito. De um jeito meio desajeitado, ele tinha aberto o coração ali no meio da galera. E, apesar das brincadeiras, dava para perceber que a gente entendia, de uma forma ou de outra. Eu mesmo, pensando em Anne, sabia exatamente o que ele queria dizer. A gente podia rir agora, mas, no fundo, todos nós tínhamos nossos próprios momentos de “filmes de romance”.
— Certo, vocês notaram uma coisa? — perguntou Marcos, chamando nossa atenção.
— Fala logo, cara — disse Samuel, curioso.
— Todo mundo aqui tá noivo, menos o Caleb. Que demora é essa, hein? — provocou, enquanto todo mundo caía na risada.
Eu olhei pra o Caleb com um sorriso ardiloso, tentando colocar um pouco de pressão, e ele começou a ficar sem jeito.
— Tá enrolando minha irmã, cunhado? — perguntei, só pra provocar mais.
— Vocês são apressados demais! Claro que vamos nos casar, mas tô respeitando o tempo da Esther. Ela quer passar na OAB primeiro e só depois focar no noivado. Não quer se distrair da prova, cara — respondeu sério, e eu me segurei pra não rir vendo ele se justificar.
— Calma aí, Caleb, não precisa ficar nervoso só porque o irmão mais velho da sua namorada tá aqui — zoou Samuel, e a galera caiu na risada de novo.
— Desde quando eu tenho medo de enfrentar o Isaque? — Caleb respondeu, tentando segurar o riso.
— Nos últimos treinos de boxe, quem ficou no chão foi você, lembra? — provoquei, e ele soltou um suspiro.
— Eu tava exausto do trabalho, cara!
— Ah, claro, conta outra. Quantas vezes eu já te enfrentei depois do trabalho e nunca caí? — continuei provocando, com um sorriso desafiador.
— Uuuuuh! — a galera provocou em coro, colocando lenha na fogueira.
— Fechado, essa semana tem revanche. Depois do trabalho, sem desculpas — Caleb desafiou, e eu aceitei de imediato.
— Só não vale correr pra Esther quando apanhar — provoquei de novo, rindo.
— E você pra Anne! — devolveu, e eu ri junto.
— Até eu quero ver essa luta — comentou Marcos, rindo. — Mas, por enquanto, foco no meu casamento! Bora lá, galera!
— Isso, vamos logo — disse Samuel, saindo apressado do quarto.
Saí do quarto onde estávamos nos arrumando e, ao invés de seguir direto para a igreja com os outros, dei um jeito de desviar o caminho. Não tinha como evitar. Eu precisava ver Anne antes de todo mundo. Só de pensar nela, meu coração acelerava. O casamento de Marcos era importante, claro, mas naquele momento, minha mente estava tomada por uma única coisa: Anne.
Os corredores do hotel estavam tranquilos, e eu caminhei rápido até o quarto onde sabia que ela e as meninas tinham se arrumado. Eu queria encontrá-la ali, só por um segundo. Quando cheguei na porta, parei, respirando fundo, e chamei baixinho:
— Anne... Anne...
Para minha sorte, a porta se abriu devagar, e lá estava ela. O mundo pareceu parar quando nossos olhos se encontraram. Anne apareceu no batente, meio surpresa, meio divertida, como se soubesse exatamente o que eu estava fazendo ali.
Ela estava absolutamente deslumbrante. O vestido bordô fluido abraçava seu corpo de um jeito que parecia desenhado para ela. O tecido leve se movia com graça, e a cor profunda fazia contraste perfeito com sua pele clara. A cintura marcada, o decote em V elegante... tudo nela exalava uma sofisticação que só aumentava minha atração. Seus cabelos loiros caíam soltos, brilhantes, e os olhos azuis me prendiam de um jeito que sempre me deixava sem ar.
Ela me olhou por um segundo, avaliando, e um sorriso brincou em seus lábios.
— O que você tá fazendo aqui? — sussurrou, quase rindo.
— Eu precisava te ver — confessei, minha voz mais baixa do que o normal, como se aquela atração que eu sentia não me deixasse falar mais alto.
Anne deu um passo para fora, se aproximando, e eu senti o calor do corpo dela de imediato. A forma como ela me olhava, com aquele misto de surpresa e desejo, me fez esquecer completamente onde estávamos. Cada centímetro que ela avançava parecia criar uma tensão que fazia meu sangue ferver. Quando ela parou na minha frente, o perfume suave que sempre me enlouquecia se misturou com a sensação da seda leve do vestido roçando meu braço.
— Queria me ver, é? E o que achou? — Ela deu um meio sorriso, provocante, como se soubesse exatamente o impacto que tinha sobre mim.
Olhei-a de cima a baixo, sem esconder nada. Meu olhar percorria cada detalhe do vestido, da pele exposta, do jeito que o tecido se ajustava ao corpo dela, e eu sentia um desejo crescente. A proximidade era eletrizante, e o jeito como ela também me olhava só aumentava a tensão. Anne era magnética, e a cada segundo ali, o impulso de tocá-la, de beijá-la, ficava mais forte.
— Acho que você tá me matando — falei, finalmente, sorrindo de leve, mas era verdade. Eu mal conseguia respirar com ela tão perto.
Ela riu baixinho, um som que me deixou ainda mais louco. Tocou de leve meu peito, seus dedos deslizando pelo tecido do terno, um gesto sutil que me fez arrepiar.
— Você deveria estar indo pra igreja, sabia? — sussurrou, mas o olhar dela me dizia o contrário. O jeito que seus olhos azuis me examinavam, aquele brilho nítido de atração, deixava claro que ela sentia o mesmo.
— Só vou se você me der um bom motivo pra ir — retruquei, minha voz rouca com o desejo que me consumia. Meus olhos não conseguiam desgrudar dos lábios dela, tão perto e tão tentadores.
Anne inclinou a cabeça de leve, e por um segundo, achei que fosse me beijar. Mas ela sorriu, aquele sorriso que sempre me desarmava, e se afastou um pouquinho, apenas o suficiente para deixar o gostinho da expectativa no ar.
— Acho que vai ter que esperar até a igreja pra isso, porém, no nosso casamento — disse, piscando, enquanto dava mais um passo para trás.
Eu ri, derrotado, mas totalmente encantado.
— Vou lembrar disso, e não vou deixar passar — avisei, dando um último olhar para o vestido esvoaçante que ela usava.
Ela deu uma última olhada para mim, os olhos cheios de desejo, antes de desaparecer pelo corredor, me deixando ali, completamente tomado pela vontade de tê-la nos braços.
Caminhei, ainda com o coração pulsando forte e o frio dominando minha barriga, e fui em direção ao carro para ir à igreja.
O carro parou na frente da igreja, e eu saí junto com Samuel, Daniel, Caleb e Liam, que, como sempre, tinha chegado por último, só pra se juntar a nós na última hora. Todos de terno, conversando e rindo, tentando esconder qualquer sinal de nervosismo. Afinal, éramos os padrinhos do casamento de Marcos, e a pressão estava em alta.
— Isaque, você tá com cara de quem esqueceu as alianças — brincou Samuel, dando uma risada.
Eu balancei a cabeça.
— Pior que não, mas se o Marcos souber que a Anne tá mais bonita que a noiva, acho que vai dar problema.
A gente riu, mas, pra ser sincero, eu mal conseguia pensar direito. Anne também era madrinha, e eu estava contando os minutos pra vê-la de novo. Mesmo tendo visto ela antes no hotel, a ansiedade ainda estava lá, como se cada detalhe fosse novo.
A igreja estava impecável. Grande, com portas e janelas de vidro que refletiam a luz do fim da tarde, um tapete vermelho impecável que guiava o caminho até o altar. Flores por todo lado, dando um ar sofisticado, mas sem perder o toque acolhedor. A decoração estava simplesmente perfeita, digna de um evento marcante como aquele. Os convidados já estavam lá dentro, acomodados, e nós, os padrinhos, ficamos do lado de fora, esperando as madrinhas chegarem.
Daniel, com aquele jeito descontraído de sempre, falou:
— Vai dizer que você não tá nem um pouco nervoso de ver a Anne chegando.
Eu dei um sorriso. Claro que estava. Ela sempre me deixava meio fora de órbita, ainda mais em ocasiões como essa.
Foi então que ouvi o som de outro carro chegando. As madrinhas haviam finalmente chegado. Layla, Gabriela, Esther, Sara, e, claro, Anne. Eu dei um passo para frente, tentando disfarçar o nervosismo, mas meus olhos procuraram imediatamente por ela. E quando ela desceu do carro, o tempo pareceu parar. Anne estava simplesmente... incrível.
Anne desceu do carro com a leveza de quem sabe que está arrasando, mas sem exagero, sem esforço. Ela tinha aquele jeito natural de chamar atenção. Mesmo no meio de toda aquela agitação, ela conseguia me deixar sem palavras.
— Ela tá vindo, Isaque — Liam cutucou meu ombro, me tirando dos meus devaneios.
Eu sorri.
— Cara, se só como madrinha você já tá babando desse jeito, imagina ela de noiva — o comentário de Samuel foi como um golpe direto no meu coração, que começou a bater ainda mais rápido.
— E não sou só eu, hein? Você também não para de olhar pra Layla — retruquei, e ele sorriu, sem nem tentar esconder.
— Ela está maravilhosa — disse ele, enquanto a via se aproximar. Ele a recebeu com um beijo carinhoso na testa e um olhar apaixonado, e eu sorri assistindo a cena.
Esther e Caleb trocaram um beijo, e eu fingi que não vi minha irmã grudada no namorado. Sara e Daniel também estavam em clima de romance, se cumprimentaram com um toque nos lábios e logo entrelaçaram as mãos. Gabriela tinha um sorriso diferente, algo havia mudado nela. O olhar pesado de antes tinha sumido, e agora havia um brilho novo. Sua barriga já começava a aparecer. Liam a cumprimentou, e eu percebi que a interação entre eles tinha algo a mais. O jeito que ele falava com ela não era só um "oi". Conhecendo o Liam desde a adolescência, era nítido que ele estava interessado. Eles se conheciam das poucas vezes que Gabriela visitou nossa igreja.
Foi aí que minha atenção foi completamente capturada: uma loira de olhos azuis surgiu na minha frente com um sorriso encantador. Ah, o sorriso mais lindo do mundo!
— Você está tão lindo, amor — ela disse, e eu tentei encontrar as palavras enquanto sorria feito bobo.
— Obrigado, mas você está uma princesa — respondi, dando um beijo suave em sua testa, me segurando pra não descer até seus lábios perfeitamente cobertos por batom.
As bochechas dela ficaram vermelhas como cerejas, e o sorriso se abriu ainda mais. Quando eu estava prestes a dizer algo, fomos interrompidos pela cerimonialista, que anunciou para nos organizarmos. A cerimônia estava prestes a começar.
Tudo estava em silêncio, exceto pelo leve som do violino e piano que começavam a tocar, suave e emocionante, enquanto os convidados se ajeitavam nos bancos, aguardando os protagonistas daquele momento.
Marcos, o noivo, foi o primeiro a entrar, caminhando ao lado da mãe de Melissa. Ele estava visivelmente emocionado, mas com um sorriso de quem sabia que o dia pelo qual esperou tanto finalmente tinha chegado. A mãe de Melissa, elegante, segurava o braço de Marcos com orgulho. Juntos, seguiram pelo tapete vermelho, avançando até o altar enquanto os olhares seguiam cada passo deles.
Logo atrás, vieram os padrinhos. A primeira dupla, Gabriela e Liam, cruzou as portas de vidro da igreja. Eles caminhavam com naturalidade, mas com a postura e seriedade que o momento pedia.
Em seguida, eu entrei com Anne ao meu lado. Mal conseguia conter a emoção de estar ali com ela, ainda mais sabendo que, em alguns dias, seríamos nós que estaríamos nos casando. Cada passo parecia fazer o tempo desacelerar, e o perfume suave de Anne me deixava ainda mais extasiado. A gente trocou um olhar rápido, e o sorriso dela fez tudo valer a pena.
Sara e Daniel vieram logo depois, sorrindo discretamente para os convidados. Daniel mantinha o olhar fixo no caminho à frente, enquanto Sara estava com uma elegância natural, sem parecer afetada pelo nervosismo.
Layla e Samuel foram os próximos. Samuel, como sempre, disfarçava a ansiedade com um sorriso, enquanto Layla, em um vestido impecável, andava com confiança. Eles também foram bem recebidos pelos olhares dos convidados.
Por fim, Esther e Caleb fecharam a fila dos padrinhos, ambos tranquilos. Esther estava radiante, e Caleb, com seu jeito mais sério, parecia totalmente concentrado na importância do momento.
Então, o momento mais aguardado: as portas de vidro da igreja se abriram uma última vez. Melissa, a noiva, entrou ao lado de seu pai. Todos os olhares se voltaram para ela. O vestido dela era de uma beleza singular, longo, com detalhes delicados que brilhavam sob as luzes da igreja. O véu caía suavemente sobre os ombros, e o pai dela a guiava com orgulho evidente. Ela estava com uma expressão calma, mas seus olhos brilhavam de emoção. Era o grande momento.
Os passos dela no tapete vermelho traziam uma expectativa inconfundível. Marcos, no altar, a observava com os olhos marejados, e eu, do meu lugar, não pude deixar de sorrir. Era o início de uma nova etapa, e todos nós estávamos ali, vivendo isso com eles.
A cerimônia seguiu em frente: os votos emocionados, as palavras sábias do meu pai, que tinha a honra de realizar o casamento, e, finalmente, o momento das alianças. Quando os priminhos da Melissa entraram para trazê-las, foi impossível não se derreter. Com trajes formais, os dois seguravam a almofadinha com uma seriedade quase profissional, mas a inocência no olhar e a curiosidade com o ambiente mostravam que, para eles, aquilo era uma grande aventura. A plateia sorriu, e não faltaram risinhos ao ver a doçura do casal de crianças.
Depois da troca das alianças, veio a oração, e então o momento mais esperado: o beijo no altar. Aplausos explodiram, e a felicidade no ar era evidente. Marcos parecia não conseguir parar de sorrir, e Melissa refletia essa mesma alegria. Meu melhor amigo estava finalmente casado.
Ao sairmos da igreja, o clima de festa começou a tomar conta. Fomos até um campo próximo, onde aconteceria a recepção, e a celebração se iniciou de verdade.
A festa estava rolando a todo vapor, e o clima era perfeito. O campo aberto, as luzes penduradas entre as árvores, a música suave de fundo... tudo contribuía para uma celebração inesquecível. Os risos e as conversas animadas se misturavam ao som das taças tilintando, mas, para mim, era como se o mundo estivesse desfocado. Eu só conseguia prestar atenção em uma pessoa: Anne.
Ela estava radiante naquela noite. O vestido leve dançava com a brisa, e o jeito como ela me olhava, com aquele sorriso sutil, fazia minha cabeça girar. O fato de estarmos noivos, tão perto de nos casarmos, só tornava tudo mais intenso. E havia aquele detalhe: o nosso propósito de não nos beijarmos até o casamento. Isso estava me deixando louco. Já tínhamos nos beijado algumas vezes, sim, mas a decisão de esperar agora deixava cada toque, cada olhar, cheio de uma tensão indescritível.
— Tá tudo bem aí? — Anne perguntou, me lançando aquele olhar esperto, sabendo exatamente que eu estava pensando nela.
— Tá, mas... você tá me matando, sabia? — respondi, tentando manter a voz leve, mas, por dentro, a atração estava me consumindo. — Já te disse isso hoje?
Ela sorriu, sabendo muito bem o que eu queria dizer.
— A gente combinou, Isaque — ela me lembrou, com uma piscadela.
— Sei disso, mas você acha fácil? Eu olho pra você e fico pensando... se o casamento fosse hoje, eu nem sei se aguentava até o final da festa — confessei, rindo de leve, mas completamente sério.
Ela riu, e o som daquela risada só aumentou minha vontade de encurtar os dias até o nosso casamento. O fato de não podermos nos beijar agora, de termos feito essa promessa, tornava tudo instintivamente tentador. Cada segundo ao lado dela era como andar na beira de um precipício.
Então, veio o momento do buquê. Melissa, já animada, se posicionou para jogar, e as garotas correram para o centro. Anne me deu um sorriso rápido antes de ir, e eu fiquei ali, observando de longe. O buquê voou pelo ar e, de repente, Gabriela o agarrou. A festa explodiu em aplausos, mas, de onde eu estava, vi algo diferente. Os olhos de Gabriela estavam marejados, e foi nesse instante que percebi: ela também estava mudando. Havia algo diferente nela, algo que se acendeu naquele momento.
Anne voltou ao meu lado, sorrindo.
— A Gabriela pareceu emocionada, né? — comentei.
— Acho que tá chegando a vez dela também — Anne respondeu, ainda sorrindo, mas os olhos fixos nos meus.
Eu dei um passo mais perto, ficando ao lado dela, mas não tão perto quanto eu queria. O desejo de beijá-la estava queimando dentro de mim. Eu a queria mais do que qualquer coisa, e essa espera só me fazia ficar mais louco.
— Se dependesse de mim, Anne... a gente se casava aqui e agora — sussurrei, sem desviar o olhar.
Ela mordeu o lábio, lutando para não rir, e respondeu baixinho:
— A gente vai chegar lá. Falta pouco.
Eu sabia disso. Mas, cada vez que eu olhava pra ela, cada vez que eu lembrava que não podia beijá-la, parecia que o tempo se arrastava.
Depois de um tempo, com a festa bombando e dando a impressão de que não ia acabar tão cedo, Marcos e Melissa finalmente se despediram, prontos para embarcar rumo à Grécia para a lua de mel.
— Estamos indo, irmão — Marcos disse, se aproximando de mim com aquele sorriso largo.
— Boa viagem pra vocês, mano! Tenho certeza de que Santorini vai estar em festa nos próximos dias — brinquei, com um sorriso travesso. Ele suspirou, rindo.
— Não vai ser só Santorini, irmão — ele respondeu, com aquele sorriso cúmplice que só quem é próximo entenderia. Me deu um leve tapa no ombro e foi se despedir de mais alguns convidados.
Me aproximei de Melissa, que conversava animadamente com Anne e Layla, se despedindo delas.
— Parabéns de novo, Mel, e boa viagem — disse, abraçando-a. — Cuida bem do Mark, hein?
— Obrigada, Isaque, e você cuide bem da Anne — ela respondeu com aquele jeito doce, lançando um sorriso tanto pra mim quanto para Anne. — Até mais, gente.
Ela saiu com Marcos, e a festa continuou com aquela energia contagiante. Mas, enquanto eu caminhava em direção aos rapazes, senti um arrepio inesperado percorrer minha espinha. Em meio ao barulho e à agitação da festa, uma voz suave, quase como um sussurro, parecia falar direto ao meu coração, capturando completamente minha atenção:
“Isaque, chegou o momento de você continuar o que começou no passado: usar os dons que Eu lhe concedi para ministrar a Minha palavra. Não quero que perca tempo; Eu quero usar você na propagação do Meu evangelho.”
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