Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 58 | No Fio da Navalha

Isaque Campbell

Sentei-me na sala de reuniões da filial em Londres, cercado por olhares atentos que pareciam pesar cada palavra não dita. O ar estava denso, impregnado de expectativas, enquanto o futuro que eu construíra na sede da Califórnia pendia na balança. A oferta que me colocavam à mesa era, para muitos, o auge de uma carreira: assumir o comando das operações europeias. Mas, para mim, era uma curva perigosa no caminho que eu não estava disposto a seguir.

Respirei fundo, controlando cada gesto, e comecei:

— Eu entendo que, do ponto de vista estratégico, essa transferência pode parecer a escolha lógica. Londres é uma das nossas principais bases, e estar aqui seria, sem dúvida, uma grande responsabilidade. Mas quero que vocês considerem o que estamos construindo na Califórnia. Nos últimos dois anos, a sede se fortaleceu de uma forma surpreendente, e isso não aconteceu por acaso. Criamos uma cultura que vai além dos resultados: ela é parte essencial do nosso sucesso.

Alguns diretores se inclinaram nas cadeiras, observando-me atentamente, enquanto outros mantinham expressões impenetráveis. Eu sabia que precisava ser claro.

— A Califórnia não é apenas uma sede. É o núcleo do nosso crescimento, um ecossistema único que exige uma liderança próxima, alguém que entenda profundamente o mercado local e as dinâmicas específicas que construímos lá. Minha transferência para Londres enfraqueceria esse ambiente. Não é sobre mim, mas sobre manter algo que está funcionando.

Apontei para o relatório que estava à minha frente.

— Vocês podem ver aqui os resultados: nosso crescimento tem superado as expectativas de forma consistente. A equipe está motivada, alinhada com os objetivos da empresa, e mudar essa estrutura agora traria riscos. Acredito que o melhor lugar para eu continuar gerenciando é na Califórnia.

Eu sabia que recusar uma oportunidade como Londres poderia ser visto como ingratidão, ou pior, um erro de carreira. Mas meu foco era inabalável.

— Além disso — acrescentei, baixando um pouco o tom, mas sem perder a firmeza —, minha vida está na Califórnia. As conexões que criei, o envolvimento com a comunidade e com a equipe... tudo isso impacta diretamente o meu desempenho. Se eu fosse transferido para cá, isso seria prejudicado. A Califórnia é onde eu estou no meu melhor, e é lá que posso continuar contribuindo de forma mais significativa para a empresa.

A sala ficou em silêncio por alguns instantes. Um dos diretores mais experientes finalmente se manifestou:

— Você sabe que recusar essa transferência pode limitar suas oportunidades futuras na empresa, certo?

Assenti, sem hesitar.

— Estou ciente disso. Mas acredito que meus resultados continuarão falando por mim.

Após um momento de troca de olhares entre eles, o CEO, sentado à cabeceira da mesa, se inclinou um pouco para a frente e disse com um leve sorriso:

— Vamos reconsiderar.

Naquele instante, soube que havia conseguido. Uma sensação de alívio tomou conta de mim, mas me contive, mantendo a postura firme.

— Isaque, — um dos diretores começou, depois de ter conversado com o CEO e mais outros diretores entre si. — Iremos cancelar a transferência. Acreditamos que você dará o seu melhor na sede e irá superar as nossas expectativas. Estamos confiando em você.

— Obrigado, irei honrar com a minha palavra.

Quando a reunião terminou, saí da sala com a certeza de que havia conseguido o que queria. Caminhei até o térreo, onde ficava a sala de café. O espaço era amplo, com balcões de madeira clara e aroma de café recém-passado. Pedi um café com leite à atendente e me sentei, observando o movimento ao meu redor. O gosto quente e reconfortante do café trouxe a confirmação do que eu já sabia: a Califórnia continuaria sendo meu lugar.

Eu havia acabado de pegar o celular para ligar para Anne, ansioso para contar a ela sobre o resultado da reunião, quando fui interrompido. Uma mulher sentou-se ao meu lado, embora houvesse vários lugares vazios ao redor. Ela vestia um terno feminino, seu cabelo negro escorria pelos ombros e seus olhos verdes faiscavam, como se tivessem algo a dizer. Parecia óbvio que ela queria minha atenção.

— Bom dia, Sr. Campbell — disse ela, com um sorriso que carregava algo mais do que mera cortesia.

Franzi o cenho, tentando lembrar se já a tinha visto antes. Não consegui evitar a sensação de que havia algo premeditado em sua aproximação.

— Bem-vindo a Londres — continuou, sem hesitar.

Meu olhar endureceu, e a desconfiança subiu à superfície.

— Como sabe quem eu sou? — perguntei, medindo cada palavra.

Ela se inclinou um pouco mais, o sorriso agora mais evidente, quase desafiador.

— Quem não te conhece? — Sua voz baixa e convidativa deixava claro que ela não estava apenas interessada em uma conversa formal. Era o tipo de interação que eu, há algum tempo, talvez não tivesse resistido. Mas agora, as coisas eram diferentes.

Tomei um gole do café, sem me deixar afetar.

— Vai ficar muito tempo em Londres? — insistiu ela, os olhos presos aos meus enquanto sorvia um pouco de seu café. Sua postura se ajustava, sutilmente provocativa, buscando uma brecha.

Minha resposta veio afiada:

— Estou partindo em alguns minutos.

Ela não recuou, apenas se aproximou um pouco mais, como se minhas palavras não tivessem efeito algum.

— Que pena... Estava pensando que poderíamos almoçar juntos. O que me diz? — A sugestão veio carregada de charme, suas intenções estavam mais do que claras. Em outro tempo, talvez, aquilo teria funcionado.

Mas não hoje.

Ergui-me um pouco na cadeira, ajustando a postura e mantendo o olhar fixo nela, sem vacilar.

— Na verdade, preciso embarcar logo para me encontrar com a minha namorada.

Houve um instante de hesitação, um breve vacilo em seus olhos. Ela tentou disfarçar o constrangimento, mas era tarde demais.

— Não sabia que tinha uma namorada — disse ela, a voz agora menos confiante.

— Agora sabe. — Meu tom foi cortante, e dei o último gole no café antes de me levantar. — Com licença.

Sem olhar para trás, ajeitei o terno e caminhei para fora da empresa. Coloquei meus óculos escuros e segui em direção ao carro que me esperava. O motorista me levou direto ao hotel. Assim que entrei no quarto, tirei o terno com uma sensação de alívio e fui direto para o chuveiro. A água quente escorria pelo meu corpo, levando embora a tensão daquele encontro estranho e do que poderia ter sido um desvio perigoso.

Já vestido com roupas confortáveis para o voo, caminhei até a varanda. O céu de Londres estava nublado, mas a cidade parecia menos densa vista dali. Apoiei-me no parapeito de vidro e deixei que o vento fresco trouxesse um pouco de clareza.

"Pai, obrigado por me dar força hoje. Obrigado por guiar meus passos nessa cidade e por me conduzir com paz. Agora, te peço que continue comigo, levando-me de volta para a Califórnia sob Tua proteção. Amém."

Enquanto a brisa acariciava meu rosto, a sensação de alívio misturava-se com uma necessidade crescente de voltar logo. Anne. O desejo de vê-la de novo crescia a cada instante. A excitação, a saudade, e a ansiedade de estar perto dela tomavam conta de mim de uma maneira avassaladora. Era algo que nunca havia sentido por ninguém antes.

Eu sabia que precisava manter o foco, mas era difícil conter a vontade de tê-la por perto, de sentir seus lábios de novo, de não perder mais nenhum segundo longe dela. Cada fibra do meu corpo clamava por forças, lutando contra um desejo incontrolável que me consumia cada vez mais. Eu estava completamente atraído por ela, e essa atração intensa me deixava à beira da loucura. Cada pensamento, cada batida do coração, era tomado por essa ânsia de tê-la. Mas, no fundo, havia um consolo poderoso: sabia que tudo isso, toda essa espera e esse desejo avassalador, valeria a pena. Porque no final, eu a teria ao meu lado para o resto da vida, e nada, absolutamente nada, seria mais importante do que isso.

Desci para o saguão, e o motorista me levou direto para o aeroporto. Pronto para embarcar, pronto para mais algumas horas de voo. Cada milha percorrida me levava de volta ao que realmente importava.

Assim que cheguei ao meu apartamento, a primeira coisa que fiz foi tomar um banho longo, deixando a água gelada aliviar a tensão acumulada. Depois, vesti apenas uma bermuda e me joguei na cama, sentindo a brisa fresca que entrava pela porta de vidro aberta, vinda da sacada. O vento trazia um pouco de calma, mas a ansiedade ainda me acompanhava. Para passar o tempo, abri o Instagram e decidi atualizar o feed com uma nova foto. Era uma distração enquanto esperava, impaciente, que Anne retornasse minhas ligações. Foi então que lembrei: ela estava à frente de uma reunião importante, me representando. E eu sabia que, com ela no comando, tudo estava em boas mãos.

Ao postar a foto, mal tive tempo de relaxar. Foi quando o inesperado me atingiu como um golpe baixo: uma notificação do laboratório. O resultado do teste de DNA.

Meu estômago deu um nó instantâneo. A cama que antes parecia um refúgio agora se transformou em um campo minado. Sentei-me, sentindo um frio percorrer minha espinha, e meu coração vacilava como se estivesse à beira de uma queda livre. A coragem para abrir o e-mail simplesmente não aparecia. Me levantei de um salto, andando de um lado para o outro, passando as mãos pelo cabelo desgrenhado, o suor frio brotando nas palmas das mãos. Era como se todo o meu corpo estivesse se preparando para algo que, no fundo, eu não queria enfrentar.

Engoli em seco, tentando afastar a sensação de pânico que apertava minha garganta. O celular estava ali, brilhando, o ícone do e-mail pulsando como um farol. A cada segundo, parecia gritar comigo, exigindo que eu encarasse a verdade. Mas eu hesitava. Queria ignorar, apagar, fingir que nunca o vi. No entanto, sabia que não podia fugir. Não por muito tempo.

Respirei fundo, o ar entrando com dificuldade, e deslizei o dedo para desbloquear o aparelho. O e-mail se abriu, e ali estava ele, o resultado. Frio, direto. As palavras na tela eram como lâminas afiadas, cortando minha alma sem piedade. O impacto foi imediato, brutal. Um soco no estômago, tão real que quase perdi o fôlego. Li e reli aquelas palavras, mas cada vez que os meus olhos passavam pelas mesmas linhas, o choque não diminuía. Pelo contrário, aumentava.

O mundo ao meu redor pareceu desaparecer. Tudo ficou em silêncio, exceto pelo martelar do meu coração no peito, rápido e pesado. Era como se o chão sob meus pés estivesse se desintegrando, e eu tentava desesperadamente me agarrar a algo que me mantivesse em pé. Mas não havia nada. Só o vazio.

Deixei o celular cair no chão e cobri o rosto com as mãos, tentando recompor meus pensamentos. Mas eles vinham desordenados, uma enxurrada de dúvidas, de medos. Como eu ia lidar com aquilo? Como aquilo mudaria tudo que eu conhecia? E, pior, como eu poderia continuar como se nada tivesse acontecido? Sabia que a partir daquele momento, nada seria o mesmo.

Me levantei de supetão, como se ficar parado ali fosse sufocante demais. Vesti uma camisa branca qualquer, puxei-a pela cabeça com um movimento brusco, ainda de bermuda e chinelos. Dane-se o que os outros iam pensar. Peguei a chave da Lamborghini e saí sem olhar para trás. O motor rugiu enquanto eu dirigia pela cidade, mas minha mente estava a mil, presa na turbulência que aquela descoberta havia causado.

Cheguei à empresa com passos firmes, mas o peso das minhas emoções ainda me puxava para baixo. Entrei, sentindo cada batida do meu coração ecoar nas paredes frias do prédio. Por fora, eu parecia no controle, mas por dentro, eu sabia. Sabia que estava em guerra. Eu estava em paz com Deus, sim, mas esse resultado abalou as fundações da minha alma. Era como se uma tempestade estivesse se formando dentro de mim, e eu precisava lutar para não vacilar, para não deixar que isso me desviasse do caminho certo.

Cada passo que eu dava dentro daquela empresa era um lembrete: nada mais seria como antes. E eu precisaria de toda a força para não perder quem eu era, para não deixar que essa verdade me destruísse por completo.

Caminhei até o elevador, ignorando os olhares que queimavam em minha pele. Nada mais importava além do que estava prestes a acontecer. Quando as portas se abriram no andar administrativo, senti o sangue pulsar mais forte. Lá estava ela. Gabriela. A última pessoa que eu queria ver. Seus olhos me encontraram com uma mistura de apreensão e provocação, e naquele instante, tudo em mim gritava para eu manter o controle. Mas como?

Respirei fundo, o ar saindo em labaredas invisíveis, e avancei. Sem pensar, segurei seu braço com firmeza e a arrastei até a sala mais próxima. Bati a porta com força, a madeira tremendo no batente, e vi o medo rapidamente substituir a ousadia nos olhos dela.

— O que você quer, Isaque? — Gabriela perguntou, a voz vacilando.

— Satisfeita, Gabriela? — rosnei, minha voz grave reverberando pela sala vazia. — O que você pretende agora, hein? — Me aproximei, cada passo ecoando com o peso da raiva que eu mal conseguia conter, encurralando-a contra a mesa.

Ela abriu a boca para responder, mas a porta se escancarou de repente. Marcos entrou, me segurando pelos ombros com uma força inesperada.

— Você ficou louco, Isaque? Ela está grávida! — ele me empurrou levemente para trás.

— Grávida de quem? — Minha voz saiu mais grave que de costume. — Eu sou o pai? Ou aquele biomédico que fez o teste? Como vou saber se isso tudo não é uma mentira? — Eu estava à beira de perder completamente o controle, sentia o calor da raiva me consumindo.

Antes que alguém pudesse reagir, Melissa entrou apressada e fechou a porta.

— Isaque, está todo mundo ouvindo! Você tem que se acalmar! — pediu, tentando me acalmar, mas as palavras pareciam faíscas jogadas em um incêndio.

Gabriela então, com aquela expressão falsa, falou com veneno nos lábios:

— Ele quer me fazer perder o bebê, não perceberam?

Cerrei os punhos e respirei fundo, buscando um controle que me escapava a cada segundo.

— Cadê Anne? — Minha voz estava rouca, pesada. — Já saiu? — perguntei, o desespero misturando-se à raiva.

— Saiu agora pouco, mas você precisa se acalmar, Isaque. — Marcos se aproximou novamente.

— Eu preciso ver Anne. — Eu esfregava a testa, tentando aliviar a pressão que latejava em minha cabeça.

— Não nesse estado, não com essa raiva. — Melissa cruzou os braços, se colocando no caminho.

Foi então que Gabriela explodiu.

— Para de fugir da realidade, Isaque! Aceita que esse filho é seu! — gritou, avançando para cima de mim com uma voz que me perfurava como uma faca.

Permaneci imóvel, apenas observando enquanto Melissa a segurava e Marcos ficava ao meu lado, pronto para me conter.

— Eu já disse que só me envolvi com você, e esse filho é seu, idiota! — Gabriela gritava, o rosto vermelho de fúria. — Para de fugir da responsabilidade!

— Cala a boca, Gabriela. — Minha voz saiu fria, cortante. — Quanto mais você ficar em silêncio, melhor será para nós dois.

Ela me encarou com uma fúria incontida, os olhos ardendo.

— Você só quer me ver sofrer, covarde! Só quis me levar pra cama e agora que me engravidou está fazendo isso comigo! Canalha! — Gabriela esbravejou, os olhos brilhando de ódio enquanto seu dedo tremia, apontado diretamente para mim.

Senti minha mandíbula se contrair, o controle escapando pelos meus dedos como areia. Cada palavra que saía da boca dela era como uma faca afiada, cutucando uma ferida que eu me recusava a admitir.

— Gabriela, para! — Melissa gritou, sua voz cheia de urgência. Ela se colocou entre nós, tentando conter o caos, mas o fogo já estava fora de controle.

Os olhos de Gabriela estavam fixos em mim, esperando alguma reação, qualquer coisa que provasse que eu estava tão fora de controle quanto ela queria que eu estivesse. E por um momento, quase cedi.

— Não faça nada, Isaque, não faça nada — Marcos sussurrou ao meu lado, a voz baixa e firme, quase como um aviso. Seus olhos me encaravam, tentando me segurar na realidade antes que eu fosse consumido pela raiva. Relutante, assenti, mas cada músculo do meu corpo estava tensionado, prestes a explodir.

Quando olhei para Gabriela, sua expressão já não era só de provocação, mas algo mais sombrio, algo manipulado. Eu sabia que ela não estava agindo sozinha. Tinha algo mais por trás daquele olhar. Um jogo sujo, uma armação. Aquilo não era apenas sobre mim ou sobre o que aconteceu entre nós. Era maior, mais cruel.

Ela sorriu de leve, um sorriso cheio de malícia e confiança, como se tivesse certeza de que me tinha nas mãos. O estômago revirou, mas engoli em seco. Não podia dar a ela o que ela queria. Não dessa vez.

Então, de repente, Gabriela recuou, colocando a mão sobre a barriga e encostando-se na mesa. Seus lábios tremeram.

— Ai... o bebê...

— Gabi? — Melissa se apressou até ela, a preocupação estampada no rosto, enquanto Marcos a segurava.

— Me levem para o hospital... antes que eu perca o meu filho... — A voz dela agora era um fio, carregada de desespero.

Eu respirei fundo, lutando contra a sensação avassaladora de indiferença que me dominava. Não sentia pena. Não havia espaço para isso. Mas, por algum motivo, fiz o que deveria ser feito. Pelo bebê. Peguei o telefone e liguei para o médico.

— Dr. Ramos está vindo. — As palavras saíram frias, secas, sem emoção.

— Eu quero ir para o hospital! — Gabriela praticamente implorou, a voz dela um grito abafado de dor e medo.

— Eu levo ela. — Marcos a pegou nos braços, seu rosto tenso de preocupação. — E você... se controle. — As palavras saíram como uma ordem, e eu apenas assenti enquanto ele passava por mim, carregando Gabriela para fora da sala.

Assim que a porta se fechou, tudo o que restou foi o silêncio sufocante e a minha raiva, ainda borbulhando, pronta para explodir.

"Acalma-te, e Eu falarei com você".

Aquelas palavras fizeram meu coração estremecer. Saí da sala de reunião em um impulso, sem dar atenção aos olhares inquisidores que me seguiam. No estacionamento, entrei no carro e dei partida, acelerando para longe da empresa. Dirigi quase no automático até meu apartamento, onde a urgência de me recompor me dominava. Bebi um copo d’água, sentindo o líquido gelado descer pela garganta, enquanto meu corpo ainda pulsava com inquietação. Sentei-me no sofá, tentando encontrar um resquício de paz. Chamei Donna, minha empregada, e pedi um chá. Quando ela trouxe, caminhei em direção à varanda, segurando a xícara quente como se fosse um ponto de ancoragem.

Lá fora, o crepúsculo tingia o céu, e as nuvens desapareciam lentamente, engolidas pela escuridão que chegava. Fechei os olhos, sentindo o peso do mundo sobre mim, e deixei escapar um sussurro:

O que queres falar comigo?

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.

Meu olhar voltou para o céu, desesperado por um sinal, qualquer coisa que rompesse o vazio. Mas havia apenas o nada. Voltei para o quarto, tomado por um turbilhão de pensamentos, e me enfiei debaixo do chuveiro. A água gelada batia forte no meu corpo, mas não conseguia aplacar a fervura dentro da minha cabeça. Encarei o frigobar, lembrando dos dias em que o álcool era minha válvula de escape, mas desta vez, minha arma era outra. Caí de joelhos, com o coração pesado, e comecei a orar, quase implorando por uma direção.

Ao terminar, me joguei na cama. Peguei o celular e liguei para Anne. As palavras ficaram presas na garganta, um nó que não conseguia desatar. Contei sobre a transferência, e sua resposta foi um grito de alegria, um som que trouxe um calor inesperado ao meu peito. Queria prolongar a conversa, mas as palavras sumiram, então apenas pedi para vê-la no dia seguinte. Desliguei, sentindo a pressão da dor de cabeça aumentando. Meus olhos se fecharam quase contra a minha vontade, arrastando-me para um sono que não podia evitar.

De repente, estava em outro lugar.

Me vi em um parque, as cores eram vivas, mas algo parecia fora do lugar. Duas crianças — uma menina ruiva e um menino loiro — corriam e brincavam no parquinho. Eu as observava, sentado em um banco, e ao meu lado, Gabriela. Ela também olhava as crianças, serena. Meus olhos vagaram, e do outro lado do parque, um homem loiro e alto, de jaleco branco e óculos, parecia procurar por alguém. Tudo parecia tão familiar, mas ao mesmo tempo inquietante.

Foi então que senti uma presença ao meu lado. Um homem estava ali, mas sua face era impossível de discernir. Mesmo assim, sua voz... a voz dele... ecoou como um trovão, com a suavidade de uma correnteza que pode arrastar tudo em seu caminho.

Ela está mentindo.

Franzi o cenho, sem entender.

Quem está mentindo?perguntei, olhando em volta.

— Gabriela. Convide-a para jantar amanhã no Ravello. Lá, Eu revelarei a verdade.

Num piscar de olhos, despertei do sonho. Meu peito arfava, mas ao mesmo tempo, sentia algo diferente: clareza. O que eu acabara de vivenciar não era um devaneio qualquer. Deus havia falado comigo. E agora, tudo fazia sentido. A esperança, que antes parecia distante, voltou a pulsar em meu peito com força.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro