Capítulo 37 | Promessa
Anne Green
Meu coração foi a mil quilômetros por hora e eu estava em êxtase, deixando-me sem forças para lutar contra minha própria carne, decidida a sentir o toque dos seus lábios nos meus. Fechei os olhos e senti a sua respiração aquecendo meus lábios, como se estivéssemos em câmera lenta. Seria o beijo mais perfeito em um clima romântico se não fosse o toque da ligação no celular de Isaque nos interrompendo.
Era como se fosse um impedimento para que não avançássemos, pois eu não estava sendo forte o suficiente para resistir e Deus interveio.
— Eu não acredito — disse Isaque prendendo os lábios, respirando fundo. — É o meu pai — ele levantou-se para atender a ligação.
Ele passou a mão livre pelo cabelo, enquanto a outra segurava o celular, contendo sua irritação por termos sido interrompidos, e logo se afastou da sala.
Enquanto Isaque conversava com seu pai pelo celular, eu estava me recuperando de toda aquela agitação dentro de mim e do, novamente, quase beijo. Como consigo ser tão forte assim? Só um beijo, apenas um beijo seria errado? Ah, que tolice! Lógico que seria. Isaque não é cristão, claro que ele iria me seduzir para avançar. E se eu cair? Não, é melhor não beijá-lo!
— Meu pai já pousou, está indo para casa — disse Isaque voltando para o sofá, com o iPhone na mão. — Mas vou deixar para conversar com ele pessoalmente amanhã — ele cobriu-se com a manta.
— Tem certeza de que não quer ir para Londres? — indaguei, tentando ser forte para olhar em seus olhos.
— Nunca estive mais certo — voltou a encarar-me, e eu tive que me esquivar.
— Isaque, eu... — suspirei. — é melhor que isso não aconteça.
— Eu falei que não iria lhe pôr em um jugo desigual e quase fiz isso — meneou a cabeça com um sorriso discreto. — Desculpe, Anne, é melhor focarmos apenas no filme, para que eu não perca o controle e acabe lhe induzindo a fazer o que não quer.
— E o que eu não quero? — retruquei.
— Eu respeito sua crença e seus princípios, não quero quebrá-los. Já deixei claro que sou louco para lhe beijar e queria estar fazendo isso aqui, agora. Mas acima de tudo, eu irei respeitar o seu limite. Só tocarei meus lábios nos seus se você quiser, sem peso na consciência. Mas, se não quiser, irei contentar-me com apenas o seu sorriso que me deixa fascinado — cada palavra sua foi carimbada em meu coração, fazendo-me sorrir com sua declaração.
O sorriso anteriormente presente em seu rosto se fechou, revelando em sua face o olhar profundo que ele exibe sempre que quer expressar algo mais significativo.
— Acho que devo ser honesto com você — ele abaixou a cabeça, pensativo.
Ergui as sobrancelhas, ansiosa com o que Isaque estava tentando dizer, porém, em meu coração, tudo o que eu desejava era que ele tirasse essa confusão que ele criou em minha mente. Uma hora ele diz que é melhor nos afastarmos e que não irá me pôr em um julgo desigual, como costuma dizer. Outra hora, me desequilibra, se aproximando, fazendo-me ansiar pelo seu beijo. Isaque estava me deixando desvairada e não percebia.
— Pode falar — proferi, fazendo-o concentrar em mim novamente.
— Depois do meu último relacionamento com você sabe quem, não gosto nem de citar o nome — ele coçou a ponta do nariz, mostrando desdém ao mencionar sua ex-namorada. — Eu fiquei com um medo absoluto de me envolver com outra mulher. Para mim, todas seriam iguais, visto que depois de Julia Henning eu só conheci mulheres que faziam de tudo para passarem uma noite comigo, se entregavam por pura luxúria, e eu sempre acabava cedendo na tentativa de esquecer a bagunça que Julia me causou — suspirou, encarando qualquer coisa na sala que não fossem os meus olhos. — Eu já fui como você, um homem que valorizava os princípios e defendia isso. No entanto, tudo perdeu o sentido e passei a zombar de quem faz isso, mesmo respeitando — ele voltou a olhar para mim. — Há algo que não posso lhe revelar agora, mas tem a ver com o que sinto por você — articulou fazendo-me levantar as sobrancelhas, ao passo que meu coração disparou mais rápido de ansiedade.
— Me conta, por favor — implorei, totalmente tomada pela curiosidade.
Ele meneou a cabeça em negativa.
— Ainda não posso — franziu os lábios. — Mas o que quero dizer com tudo isso é que eu sempre soube que você não é como as outras, na verdade, você é totalmente diferente. E hoje eu percebo que o bloqueio que criei em meu coração de não confiar em mais ninguém, você desbloqueou com sucesso — ele soltou um riso, fazendo-me rir também, porém eu estava tímida, totalmente avermelhada.
Abaixei a cabeça, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Isaque, delicadamente, tocou no meu queixo, fazendo-me olhar para ele.
— Eu posso estar lhe deixando confusa, porque eu mesmo estou confuso. Há muita coisa em mim que você ainda não sabe, Anne, e não posso revelar agora. Mas quero que confie em mim quando digo que não quero brincar com os seus sentimentos.
— E o que quer fazer com eles então, Isaque? Se toda vez que tento me afastar, você me chama para perto? E quanto ao que acabou de dizer? O que você sente por mim? E o que não posso saber? — indaguei com mil interrogações na cabeça.
À essa altura, posso ter dado a entender que também sinto algo por ele por ter me importado tanto, mas, assim como ele, eu não tinha mais o que esconder. Já estava claro que eu me apaixonei por Isaque, e eu vou precisar aprender a lidar com isso.
— Sinto o suficiente para não querer que se afaste — fitou-me, com um olhar sincero e intenso. — Confia em mim, Anne, no momento certo você vai saber.
Certo, eu não quero saber no momento certo, quero saber agora!
— Não há chance de você me contar agora?
Ele balançou a cabeça em negativa.
— Isso tudo que você me disse... — fiz uma pausa. — Como quer que eu reaja? O que quer ouvir de mim?
— Quero que não se afaste — respondeu, alisando uma mecha do meu cabelo e colocando-o atrás da minha orelha.
— E o que pretende? Quer que eu espere você voltar para Cristo para que possamos... — segurei seu pulso, na tentativa de me esquivar do seu carinho. — Para que possamos... — titubiei, constrangida em ter chegado nesse assunto.
— Esse é o problema — suspirou, desviando o olhar novamente. — Não quero que tenha esperança que eu volte. Simplesmente eu não me enxergo mais vivendo para Ele, me dedicando ao Todo-poderoso e recebendo frustrações em troca. Desde que conheci Yahweh e Ele se revelou a mim, eu acreditava com toda a minha alma em tudo o que Ele dizia. E aquele versículo que diz que os que confiam no Senhor não serão decepcionados, não tem lógica na prática, até porque tive decepções em toda a minha vida — respirou fundo, enquanto lutava contra as lágrimas. — Não quero te sobrecarregar com isso, Anne, só não quero bagunçar sua mente, por isso decidi me abrir com você.
Automaticamente, levei meu dedo até seu olho e enxuguei uma lágrima que estava se formando para cair. Ao mesmo tempo, deslizei meus dedos até a sua barba, acariciando-a, e subi novamente para o seu cabelo, contendo dentro de mim a vontade que eu estava de lhe abraçar como um refúgio para aquele sentimento que penetrou em seu coração. Eu queria saber o que há por trás de toda aquela revolta de Isaque, e eu sinto que não tem a ver apenas com a morte do seu avô e do término do seu relacionamento. Consigo enxergar em seus olhos o amor que ele sente por Deus ainda, mas seus traumas não permitem que ele volte para onde nunca deveria ter saído.
— Não vou me afastar de você — minha boca se abriu em um sorriso acolhedor, fazendo com que ele retribuísse. Ele me surpreendeu com o seu braço forte, puxando-me para perto, beijando minha testa e me fazendo estremecer quando senti seu abraço. Seu perfume ficou impregnado no meu nariz e eu não queria, nunca mais, sair daquele abraço.
— Vou tirar a pausa — disse pegando o controle, depois de nos acomodarmos no sofá.
Eu assenti, tentando focar no filme, todavia eu estava reflexiva, lembrando de todas as suas palavras e, principalmente, do seu abraço.
Voltei meus olhos para o pedaço de mau caminho ao meu lado e, realmente, ele estava vidrado no filme. Enquanto ele assistia, fechei os meus olhos e, dentro do meu coração, comecei a conversar com Deus, pedindo resposta para tudo o que estava acontecendo na minha vida. Por que Isaque? Por que um homem não cristão? E quanto a Daniel, o congresso está se aproximando e eu não faço a mínima ideia do que dizer a ele! E quanto a Isaque novamente, todas as vezes que nos aproximamos, algo nos interrompe. Primeiro no cinema, um bombardeio no filme, agora, o celular tocando. O que devo fazer? Me afastar de Isaque de uma vez por todas? Orar por ele? Qual o propósito do Senhor na vida dele? E, também, há um propósito para nós dois? Por que Isaque? Essas foram as palavras que tomaram conta do meu coração, como uma oração silenciosa, ansiosa por uma resposta.
Isaque levantou-se do sofá para buscar alguma coisa e eu fiquei lhe observando. Nesse exato momento, senti um arrepio em minha espinha e uma agitação em meu peito. Fechei os olhos para respirar fundo e, dentro de mim, uma voz começou a ministrar em meu coração:
"Eu estou impedindo porque conheço a fragilidade humana. Preciso que mantenha-se firme, para que Eu possa lhe usar como instrumento que o trará de volta para mim. Pois Eu nunca o deixei, nunca o desamparei. Ele é o meu filho, e Eu o mostrarei que sempre serei o seu Deus. Isaque será cooperador do meu evangelho e ganhará almas para mim. Ele terá sede e será saciado. Ele terá fome da minha Palavra e será satisfeito. A mesma promessa que fiz para ti também fiz para ele, e assim sucederá."
Ao soltar o ar pelas narinas, senti a paz tomar conta de mim. No entanto, arregalei os olhos quando percebi que Deus disse que a promessa que fez a mim também fez a Isaque. Quando eu tinha 14 anos de idade, Deus prometeu que eu seria usada para levar a Sua palavra às nações, o que é o principal motivo de eu ser poliglota. Além disso, Ele me disse que não iria sozinha, mas sim com um companheiro.
E-então o-o c-companheiro que me prometeste é...
— Voltei.
Isaque? — completei a minha pergunta a Deus, pensando alto, percebendo que Isaque ouviu. Seu cenho franzido entregou isso.
— Está bem? — indagou, preocupado.
Talvez eu estivesse pálida, ou estática, ou até mesmo trêmula, não sei. Era como se eu tivesse visto um fantasma, mas, na verdade, estava apenas vendo um talvez futuro esposo. Pensar nisso foi o bastante para me desestabilizar completamente.
— Anne! — Isaque sacudiu a mão na frente do meu rosto, fazendo-me despertar dos devaneios. — O que aconteceu? Só fui beber água e quando volto parece que viu um fantasma! Está pálida — ele tocou o meu rosto, acariciando-o com o polegar.
Respirei fundo e tentei voltar a si, disfarçando ao máximo o que eu acabara de ouvir de Deus e juntando as peças do quebra-cabeça. Porém, eu já não conseguia olhar para Isaque apenas como uma tentação impecável, mas sim como um possível futuro esposo, fruto de uma promessa.
Será que é essa a promessa que ele me disse que Deus fez a ele na África?
Meu coração disparou mais forte quando lembrei que Isaque me disse isso, porém lancei para bem longe esses pensamentos, ajeitando a postura para "focar" no filme.
— Toma água — ele me deu o copo de vidro com água que trouxera da cozinha.
— Obrigada — respondi depois de secar o copo.
— Vai me dizer o que aconteceu?
— N-nada — titubeei. — Só tomei um susto com um raio que vi através da janela.
De fato, houve um raio, não menti, visto que estava trovejando. Mas não era isso, e eu não poderia lhe confessar, até porque nem eu sei se são apenas devaneios da minha cabeça ou se tudo faz sentido.
— Tudo bem. Deita aqui no meu ombro — ele suspendeu a manta para que eu me aproximasse dele, fazendo o meu coração quase sair do lugar de tão forte que palpitava.
Fiz o que ele pediu. Deitei em seu ombro e ele ficou acariciando o meu cabelo com sua mão, descendo para o meu rosto e voltando para a cabeça. Era como se eu estivesse sonhando, e eu não queria que esse sonho acabasse nunca mais. Quanto mais eu me deleitava em seu carinho, mais minhas pálpebras iam se fechando, e quando eu menos percebi, adormeci em seu peito.
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