Capítulo 24 | Namoro de Corte
Isaque Campbell
— Esse é, sem dúvidas, o melhor chocolate quente que já provei em toda minha vida! Você estava certo, Isaque — exclamou Anne, visivelmente animada, enquanto saboreava a bebida quente.
Observá-la assim, radiante, despertava em mim uma sensação de leveza indescritível. Cada minuto que eu passava ao seu lado aumentava ainda mais a minha admiração pela sua beleza. O brilho em seus olhos e o sorriso espontâneo faziam meu coração bater mais rápido.
— Eu sempre estou certo — retruquei com um sorriso autoconfiante.
Ela revirou os olhos de maneira divertida.
— Nem sempre. — respondeu com uma pitada de desafio.
Levantei uma sobrancelha, intrigado com sua audácia.
— E quando é que eu estou errado, Anne? — provoquei, esperando o que ela diria.
— Geralmente, quando você insiste em ser teimoso. — falou com convicção, cruzando os braços.
Fiquei sem palavras. Anne tinha o dom de me desarmar, e naquele momento, eu sabia que ela tinha razão.
A cafeteria estava calma, com poucas pessoas. Anne, por sua vez, estava encantada com a decoração predominantemente azul. As paredes, os móveis, tudo ali parecia feito para agradá-la, e foi então que descobri que o azul era sua cor favorita. Isso me fez sorrir, e eu me lembrei do vestido que ela experimentou há pouco tempo — justo o tom que mais me fascinava — parecia feito sob medida para deixá-la ainda mais irresistível.
Quando estávamos no estacionamento, uma luta interna se travou em mim. Eu desejava beijá-la com toda a minha força, mas sabia que não era o momento. Cada passo que dávamos juntos fazia meu desejo aumentar, mas eu me contive, até que, num ímpeto, a segurei pelo braço. Por um breve segundo, pensei em ceder à tentação, mas logo me lembrei de quem ela era e do que significava.
Anne não era uma mulher qualquer. Ela não era alguém que eu poderia beijar casualmente, apenas para saciar meu desejo. Ela era especial. Por mais forte que fosse a vontade de estar mais próximo dela, eu sabia que não podia brincar com seus sentimentos. Eu sabia que, se não pudesse ser o homem que ela precisava, correria o risco de magoá-la, e isso era algo que eu jamais faria. Além disso, Anne era cristã. Ela ia à igreja, e eu? Eu mal conseguia pensar em pisar em uma novamente. Nós pertencíamos a mundos diferentes, e eu não quero me envolver em mais nenhum relacionamento. Estou decidido quanto a isso.
— Vou pensar no que quero que você faça e amanhã te falo. — declarei, aproveitando o fato de ter ganhado a aposta.
Ela sorriu, bebendo um gole do seu chocolate.
— Nem quero imaginar o que vai ser — respondeu, desconfiada.
— Eu sou bonzinho, confia em mim.
— Está certo... mas pela sua cara, acho que não vai ser nada bom.
— Vou pegar leve, prometo. — brinquei.
— Veremos... vou lembrar dessas palavras.
Percebi então um pequeno detalhe: um pouco de chocolate havia ficado no canto da sua boca.
— Você tem um pouquinho de chocolate bem ali... — apontei, e ela rapidamente limpou.
Aquela simplicidade, o jeito como suas bochechas coravam toda vez que ficava tímida, eram detalhes que me faziam apreciá-la ainda mais. Sua pele clara deixava tudo ainda mais evidente, e eu amava ver aquele rubor surgir sempre que eu a elogiava.
— E aí, Isaque, como foi no Mexican ontem? — perguntou, mudando de assunto com uma risada.
— Uma maravilha — respondi com ironia. — Não tem lugar melhor.
Ela balançou a cabeça, sorrindo.
— Sério, eu prefiro passear pela cidade a ir a um bar mexicano imoral como aquele.
Lembrei-me então de quando convidei Gabi para passear pela cidade, sem saber que Anne gostava tanto disso. Talvez tivesse feito o convite à pessoa errada.
— Você gosta de andar pela cidade? — perguntei, curioso.
— Claro! É uma das melhores coisas.
Pensei em convidá-la, mas hesitei. A linha entre o que era seguro e o que me aproximava demais dela era tênue.
— Podemos fazer isso qualquer dia — deixei escapar, sem conseguir me conter.
Ela sorriu e concordou, e naquele momento, soube que esse simples convite poderia ser o início de algo que eu talvez não pudesse controlar.
Eu me divirto ao ver Anne corar, e ela sempre fica ainda mais bonita quando o rosto dela toma aquela cor de cereja. E dessa vez eu tinha algo em mente.
— Anne, me tira uma dúvida — capturei sua atenção. — Como cristã, se você tiver um namorado, você só vai beijá-lo no altar ou acha tranquilo beijar durante o namoro?
Ela quase se engasgou com o chocolate, e eu não consegui segurar a risada. Claro, fui direto na pergunta, mas era algo que realmente queria saber. A reação dela foi ainda melhor do que eu esperava, seu rosto ficou mais vermelho que um tomate.
— Você é bem direto, caramba! Como consegue? — respondeu, ainda rindo e se recuperando do engasgo.
— Perdão, Anne, não queria provocar isso — disse, rindo também. — É que realmente queria ouvir sua opinião.
— Isso é algo bem pessoal — ela começou a explicar, ainda visivelmente constrangida. — Algumas pessoas acham errado beijar durante o namoro, outras não veem problema, desde que tenha limites. É muito particular.
Eu mesmo nunca concordei com esse negócio de namoro de corte, sempre me pareceu exagero.
— E você, o que acha? — insisti, curioso.
Ela hesitou antes de responder.
— Bom... Eu já tive um namorado e não foi um namoro de corte, mas, como eu disse, com limites.
Aquilo me deixou intrigado. Será que estava falando de Daniel?
— Daniel? — perguntei, tentando entender.
— Daniel, o quê?
— Seu ex-namorado?
— N-não! Daniel e eu nunca... Não! — ela gaguejou, claramente nervosa. — Somos só amigos desde a faculdade, nada mais.
— Pensei que tinha algo entre vocês.
— Não! — ela reafirmou, dando mais um gole no chocolate. — Daniel é só um amigo.
O silêncio pairou por alguns instantes, e eu aproveitei para observá-la. Anne era incrivelmente linda, e enquanto olhava para seus lábios, senti aquela atração forte, mas também algo mais profundo. Não era apenas um desejo físico, havia algo nela que despertava sentimentos em mim que eu nem conseguia explicar. Ela não era como as outras mulheres. Com Anne, eu sentia que precisava ter cuidado, não só para não me envolver fisicamente, mas para não deixar crescer um sentimento que poderia mudar tudo.
Quando ela percebeu que eu a encarava, desviou o olhar, envergonhada, fingindo não dar importância. Mas eu sabia que ela sentia algo, mesmo que tentasse disfarçar. Mesmo conhecendo-a há pouco tempo, percebo que ela fica nervosa quando está comigo.
— Qual é a sua profissão dos sonhos? — perguntou de repente, quebrando o silêncio.
— Como assim?
— Sei que você é administrador, mas se pudesse escolher outra profissão, qual seria?
— Arquitetura — respondi, sem hesitar.
— Sério? — ela parecia surpresa.
— Sim. Tenho uma casa que chamei de Casa de Pedras. Fui eu quem desenhei cada detalhe dela. Cheguei a cursar um semestre de arquitetura, mas o caminho mais fácil para a empresa da família me levou a escolher a administração.
— Uau, Isaque! Você já desenhou uma casa e a concretizou! Tenho certeza de que seria um arquiteto de sucesso.
Eu sorri, surpreso com o seu entusiasmo.
— Talvez... — respondi, ainda pensando no que poderia ter sido.
Travei o maxilar ao ver quem acabava de entrar na cafeteria. Seus olhos imediatamente encontraram os meus, e um sorriso sutil se formou em seus lábios. Ela caminhava em minha direção com passos firmes.
— Isaque! — chamou, rompendo o silêncio ao meu redor.
O clima entre nós três ficou pesado, e eu me sentia congelado entre ela e Anne, sem saber como reagir.
— O que você está fazendo aqui? Que coincidência te encontrar logo aqui, num lugar que você detesta — ironizei, tentando disfarçar o incômodo.
Ela nunca foi fã de cafeterias, e eu sabia que só estava ali porque me viu com Anne.
— Não vai me apresentar sua namorada? — perguntou, o tom cheio de provocação.
— Não sou namorada dele — Anne se apressou a responder, direta. — Sou Anne, prazer.
Ela fez uma pausa, o suficiente para gerar expectativa antes de se apresentar.
— Sou Helena, amiga de Isaque — falou com um olhar que me atravessava. — Amiga íntima, se é que posso dizer assim — acrescentou com aquela voz insinuante que sempre me irritou.
Revirei os olhos, enquanto Anne arqueava as sobrancelhas, claramente se divertindo com a situação.
— Já está de saída? — perguntei, tentando encerrar a conversa.
— Eu imaginei que você estaria em casa, trabalhando, como disse que faria.
— Como pode ver, estou aqui — respondi, tentando manter a seriedade.
Helena adorava brincar com limites, e isso era algo que eu detestava nela.
— Já estou indo. Foi um prazer lhe conhecer, Anne — disse com um sorriso enviesado, que não me enganava. Havia ciúmes ali, e eu sabia disso.
— O prazer foi todo meu — Anne respondeu educadamente, mas com uma pitada de ironia que não passou despercebida.
Helena saiu, encontrando sua amiga que a esperava na porta. Anne então murmurou algo, quase como se quisesse que eu não escutasse:
— Essa é igualzinha à Gabi.
— Igual à Gabi? — perguntei, curioso.
— Não percebeu que Gabriela morre de ciúmes por eu trabalhar com você? Ou acha que foi por acaso que ela quis me realocar para a sala dela?
Nunca havia pensado nisso. Não achava que Gabriela fosse capaz de chegar a tal ponto, mas agora tudo parecia fazer mais sentido. Eu sabia que precisava ter uma conversa séria com ela, especialmente depois da mensagem que recebi dizendo que eu não conseguiria me afastar tão facilmente. Precisava pôr um fim definitivo, sem deixar margem para dúvidas, e isso incluía terminar o que ainda existia entre mim e Helena.
— Não tinha percebido — admiti, sinceramente.
— Vejo que seu gosto para mulheres é... interessante — Anne comentou com uma pitada de ironia, me fazendo apertar os olhos.
Ela era mais direta do que eu imaginava, e o pior é que estava certa. Desde Julia Henning, minhas escolhas eram baseadas mais na aparência do que nas qualidades. Mas Anne... Anne era diferente. Ela estava me fazendo reconsiderar minhas prioridades.
— Eu vou pagar os chocolates — anunciei, pegando minha carteira.
— Acho justo dividirmos a conta — ela disse, tirando o cartão.
— Não! — exclamei rápido. — Eu te convidei, então eu pago.
— Cavalheiro — ela brincou, e eu não pude evitar um sorriso.
Depois de pagar, voltamos juntos para a saída da cafeteria. Anne parecia mais relaxada, seus olhos brilhavam com uma segurança que não tinha antes.
— Já está tarde, e amanhã acordo cedo — comentou quando nos dirigíamos ao elevador.
— Vamos então — concordei, enquanto seguíamos para o estacionamento do shopping.
Quando chegamos, ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ela se virou para mim, já ao lado da sua BMW.
— Obrigada por hoje, Isaque — disse suavemente.
Me aproximei um pouco mais, percebendo como sua respiração mudou. Ela estava nervosa, e embora isso me desse uma certa satisfação, eu não queria que ela se sentisse desconfortável.
— Eu que agradeço por sua companhia — respondi, olhando diretamente em seus olhos.
Ela corou imediatamente.
— E pelo vestido também, obrigada — disse, ainda mais corada.
— Bom... Ele teve sorte de ter sido escolhido por você — brinquei, fazendo-a sorrir e desviar o olhar, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Até amanhã, Isaque — afastou-se, abrindo a porta do carro.
— Te vejo amanhã — respondi.
Antes de ligar o carro, ela disse:
— Ah, eu convidei Layla e Samuel para o cinema amanhã. Espero que não se importe.
— Samuel? Ele vai me bombardear com perguntas — ri.
Ela sorriu.
— Boa sorte — falou, dando partida. — Boa noite, Isaque.
— Boa noite, Anne.
Enquanto a observava se afastar, pensei comigo: Anne Green, ou eu me afasto, ou vou querer você cada vez mais perto. E isso me assusta.
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