Capítulo 18 | Jantar
Anne Green
À medida que o horário do jantar se aproximava, meu estômago parecia repleto de borboletas. Receber Esther, o pastor Jean e sua esposa em casa era algo que me deixava tranquila, mas o pensamento de que Isaque também estaria ali, conversando com a minha família em poucos minutos, me deixava nervosa.
Escolhi um vestido preto básico até os joelhos, com um toque de elegância, e combinei com um tênis branco. Fiz uma maquiagem leve, ondulei meus cabelos loiros e me olhava no espelho a cada instante, tentando garantir que estava bonita.
— Se arrumando para o Isaque, né? Por isso está tão nervosa, se olhando o tempo todo no espelho? — brincou Layla.
Eu havia insistido para que Layla viesse ao jantar. Na verdade, nem precisei insistir tanto. Ela queria conhecer Isaque pessoalmente, então aceitou logo de cara.
— Claro que não, só quero estar bem arrumada para receber as visitas — respondi, enquanto passava perfume.
— Sei... — ela disse, jogando-se na minha cama. — Nem acredito que seu futuro marido vem conhecer seus pais hoje.
Quando ela disse isso, meu coração disparou. Layla estava completamente equivocada. Isaque e eu não tínhamos nada a ver.
— Layla! — repreendi com o olhar.
Eu ainda não havia contado a Layla sobre Daniel. Por mais que isso me apertasse o coração, não sabia como lidar com a situação e, sinceramente, ainda não tinha coragem de orar sobre isso.
— Calma, estou só brincando — disse ela, levantando-se.
Do meu quarto, ouvi a campainha. O relógio marcava 17:55 e o jantar estava marcado para 18h. Eu tinha certeza de que já eram eles.
— O coração já acelerou, amiga? — Layla provocou, sorrindo maliciosamente. Ela adorava me provocar.
— Se você continuar, vou chamar o segurança para te tirar da minha casa — brinquei. Ela riu, levantando as mãos em rendição.
— Você está linda, amiga. Maravilhosa, aliás. Então, se puder parar de se olhar no espelho e retocar o batom toda hora, eu agradeço, porque estou ansiosa para conhecer meu cunhado — ela tapou a boca. — Oops, quero dizer, Isaque.
Revirei os olhos.
— Anne? — meu pai deu duas batidinhas na porta entreaberta. — Está pronta, querida? As visitas chegaram.
— Não, tio Ethan, ela ainda está se certificando se está bonita. Diz para ela que está linda! — Layla falou, e meu pai sorriu.
— Você está linda, minha princesa — ele disse, com um sorriso caloroso.
— Obrigada, pai. Mas a Layla está me estressando, será que pode levá-la embora do meu quarto? — bufei.
— Vocês cresceram, mas continuam parecendo duas adolescentes — ele riu. — Estamos esperando vocês lá embaixo.
— Já estamos indo — respondeu Layla.
— Vamos? — perguntei.
— Finalmente! Glória a Deus — suspirou ela, aliviada.
Minhas mãos estavam suadas, o estômago revirava em festa e meu coração batia acelerado. A cada passo em direção à escada, parecia que eu esquecia como andar. Enquanto isso, Layla parecia estar no auge da felicidade.
Respirei fundo, ajeitei a postura e desci as escadas, degrau por degrau, tentando manter a calma. Quando cheguei ao último degrau, já com a sala à vista, nossos olhares se cruzaram. Ele não desviou os olhos de mim por um segundo.
Ao pisar no chão da sala, notei que ele coçava a ponta do nariz, enquanto a outra mão permanecia no bolso da calça branca. Ele usava uma camisa preta e um tênis preto, quase como se tivéssemos combinado de usar preto e branco.
— Paz do Senhor, pastor Jean — cumprimentei ao me aproximar.
O pastor Jean e sua esposa, Luisa, estavam de pé ao lado do sofá, conversando com meus pais sobre a casa.
— Paz do Senhor, meninas — respondeu o pastor, apertando nossas mãos.
— Paz do Senhor, queridas — disse Luisa, nos abraçando calorosamente. — Vocês estão lindas! — sorriu com doçura.
Luisa sempre foi uma pessoa amável, gentil e cheia de conselhos. Meu pai adoraria que minha mãe fosse mais próxima dela, mas minha mãe é um tanto reservada.
— Obrigada — disse Layla.
— Obrigada, você também está maravilhosa — completei, e ela sorriu ainda mais.
— Fico feliz que tenha vindo, Esther — disse, enquanto nos abraçávamos.
— Também estou feliz em te ver — respondeu ela, animada.
Esther e Layla se cumprimentaram, trocando algumas palavras enquanto Isaque se aproximava de mim com um sorriso meio tímido, meio galante.
— Molly não vai participar do jantar? — perguntou ele, com um brilho nos olhos e um sorriso que se desenhava lentamente em seus lábios.
— Se você tivesse trazido o Duque, quem sabe ela participaria — respondi, entrando no jogo, sentindo a conexão entre nós. Ele soltou uma risada suave, balançando a cabeça, e por um segundo, nossos olhares se prenderam, deixando o ar ao redor de nós mais denso.
— Isaque, vem aqui contar um pouco sobre sua conquista no Japão para o pastor Ethan — chamou o pastor Jean, claramente orgulhoso do filho.
Enquanto Isaque se juntava a eles, Layla se aproximou de mim e sussurrou no meu ouvido:
— Como alguém consegue trair uma formosura dessas?
— Você acha ele bonito? — perguntei, também em voz baixa.
— É claro! Quem não achar um homem desse bonito ou é louco ou tem inveja. E se vocês se casarem, os filhos vão ser perfeitos — brincou, rindo.
Por um instante, me peguei imaginando a cena. Crianças com cabelos ondulados e olhos claros, azuis ou mel. Sem querer, fiquei encarando Isaque, perdida nos meus pensamentos. Quando ele voltou o olhar para mim, percebendo que eu o observava, virei o rosto depressa, tentando disfarçar. Mas foi inútil — ele sorriu, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando, e eu não consegui evitar sorrir de volta, mesmo que discretamente.
Meu pai levou o pastor Jean e Isaque para o quintal, aparentemente para mostrar alguma instalação ou algo assim, e ficamos apenas nós, mulheres, na sala, conversando.
Enquanto eu me preparava para sentar no sofá, minha mãe passou ao meu lado e, em tom discreto, sussurrou no meu ouvido:
— Eu vi a troca de olhares, e ele não tira os olhos de você — piscou para mim, com um sorriso antes de ir se juntar a Luisa.
Eu só consegui balançar a cabeça, negando, sem tempo para responder.
— Anne, como está indo o congresso? — perguntou Luisa, gentilmente.
— Está quase tudo pronto — respondi com um sorriso educado. — Amanhã vou levar as doações e terminar de distribuir as camisas para quem não pôde pegar ontem.
— Ouvi dizer que algumas pessoas da empresa vão participar também — ela comentou.
— Daniel, Sara, Melissa e Marcos confirmaram presença — disse Esther.
— Gabi não vai? — perguntei, apenas por curiosidade.
— Não, ela não gosta dessas coisas. É um Isaque da vida, por isso até acho que eles combinam — brincou Esther.
— Você não devia falar assim — repreendeu Luisa. — Já aconselhei Isaque a se afastar dela. Ele precisa de alguém que o aproxime de Deus, não de alguém que o afaste ainda mais.
— Ele realmente não quer mais se aproximar de Deus? — minha mãe perguntou, preocupada.
— Isaque sempre teve um relacionamento íntimo com Deus, mas depois do namoro com Julia, ele começou a se distanciar — explicou Luisa, pegando um copo d'água da mesa de centro.
— Mas não foi só por causa dela que ele se afastou — completou Esther, olhando para a mãe com uma expressão compreensiva.
— Não. Depois de um tempo, ela o decepcionou, e eles se separaram. Ele sofreu muito com o término, e quem o consolou foi William, o falecido pai de Jean. Isaque era muito apegado ao avô, como se fosse um segundo pai. Quando ele estava começando a se reerguer, William faleceu de forma inesperada. Foi um baque para todos, mas Isaque até hoje não superou a perda. Desde então, ele acredita que Deus tirou William sem razão, apenas para fazê-lo sofrer. Por isso, ele se afastou de relacionamentos e, principalmente, de Deus, o que é muito triste.
— Eu sinto muito por isso, Lu — lamentou minha mãe, com pesar.
— Meus pais tentaram ajudá-lo, aconselharam, mas ele estava tão revoltado que decidiu sair de casa, comprou um apartamento e se afastou — Esther explicou, com uma expressão de tristeza. — Ele já esteve pior, mais rebelde, jurou nunca mais voltar à igreja. Hoje ele está mais tranquilo, mas ainda guarda muita frieza e amargura em relação a Deus.
— Anne, sei que você está trabalhando com ele, e conheço a mulher cristã que você é, admiro muito sua fé. Por isso, gostaria de pedir um favor, querida — Luisa disse com delicadeza, seus olhos transmitindo esperança.
— Pode pedir, se estiver ao meu alcance, farei o possível.
— Sei que vocês vão se aproximar, já que trabalham juntos. Então, se você tiver alguma oportunidade, tente aconselhá-lo — ela pediu com um tom de súplica. Engoli em seco, já imaginando a dificuldade de me aproximar de Isaque para falar sobre fé. — Você é uma ótima líder de jovens, já vi você aconselhando tantos deles, e se puder ajudar meu filho a reencontrar seu caminho, serei imensamente grata.
Como poderia dizer não a Luisa? Ela era tão amável, e tudo o que queria era ver o filho de volta a Cristo.
— Farei o meu melhor — respondi, com um sorriso gentil, e percebi que ela ficou aliviada.
Fiquei pensativa depois dessa conversa, refletindo sobre Isaque. Não sabia ao certo como ajudá-lo. Já aconselhei e evangelizei pessoas que estavam fracas na fé, mas nunca lidei com alguém que tivesse abandonado completamente sua fé e estivesse com o coração tão endurecido. Não sei se Deus me colocou no caminho de Isaque com algum propósito especial para trazê-lo de volta a Cristo, ou se há algo mais que ainda não compreendo. O que sei é que vou precisar de muita paciência e, principalmente, de muita oração. Também preciso cuidar para que meu coração não se envolva sentimentalmente, enquanto tento ajudá-lo a se reconectar com Deus.
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